sexta-feira, 29 de maio de 2009



TICUN DA VIRADA- SHAVUOT NA CIP
SÁBADO PARA DOMINGO - 30/31 MAIO 2009
10 horas ininterruptas de PROGRAMAÇÃO
obs-1: há eventos paralelos, para públicos e interesses variados
obs-2: não se preocupem, haverá comes e bebes a noite inteira!
Segundo o calendário judaico, só faço 40 anos na 4a feira que vem
Ontem no jantar de Shavuot houve uma situação curiosa. Menashe, marido da Ariela, comentou que comemorava 44 anos. Então eu, que não havia dito nada, disse que completava 40, e que surpresa os dois termos nascido no dia 28 de maio. "28 de maio nada, eu nasci na primeira noite de Shavuot!"

Verifiquei quando nasci segundo o calendário judaico: 11 de Sivan de 5729, uma quarta feira.
Neste ano, 11 de Sivan de 5769 cairá tb numa quarta feira, na próxima semana. Que bom, o lapso de tempo entre os calendários garante quase uma semana de comemorações.

chag sameach e shabat shalom!

quinta-feira, 28 de maio de 2009



E no dia 1 do mês 1 dos 40 anos, Deus disse a Uri para fazer: (Urim, 1:1)
No vale do Rio Lam, em Ashkenaz, eu me sentei e meditei (Reflexões 4:0)
No Talmud se diz que todos devemos escrever um livro, plantar uma árvore e ter filhos.
Destas, até agora, da primeira, já traduzi vários e escrevi um monte de contos, histórias, interpretações e comentários. Mas ainda não escrevi um livro. Árvores plantei, várias, de todos os tipos. Filhos ainda estão nos planos. Estou em débito comigo mesmo e com Deus. Há coisas, muitas coisas a corrigir. Letaken olam bemalchut Shadai, melhorar o que for possível neste mundão de Deus sem porteira.
Segundo a tradição, cada um deveria ter o seu próprio livro da Torá.
Cada um deveria ter a sua própria Torá.
Cada um deve ter a sua própria história, o seu próprio relato, os seus próprios modos de interpretar os sinais da vida.
Fico imaginando um livro escrito à moda da Torá. Com a vida pessoal de cada um.

Martin Buber fez um pouco disso, ao escrever Eu e Tu. É o livro com estilo, ou melhor, com o espírito mais próximo com o da Torá que eu conheço.

Como seria a minha Torá ou meus livros?

Já pensei em escrever um romance inspirado em fatos reais que presenciei, digamos, entre meus 21 e 39 anos. Buscas, encontros, desencontros, judaísmo, busca por judaísmo, arremedo de judaísmo, falsificação do judaísmo, gente se jogando pela janela ou ameaçando se jogar, gente buscando, gente enganando, gente ensinando, maluquices e situações de todo tipo.

Já pensei em um livro de contos. E num livro para crianças, ou vários livros para crianças.
Se fosse escrever um livro todo baseado no post abaixo, a partir do dia em que conheci uma mulher que tem 14 filhos e se chama Emuná (emuná é crença, uma mulher que acredita - esta é Emuná), poderia escolher o pseudônimo de Shalom Hashafan (algo como Paulo, o Coelho - em hebraico), que iria bem. Pois ali estaria gente que acredita na sua lenda pessoal, estariam danças e cantos ao redor da fogueira em algum lugar perdido e deserto do mundo, ali provavelmente estariam bebidas mágicas e fumaças coloridas.
Se eu fosse Shalom Hashafan, lá estariam os mestres Baal Shem e Nachman e Shlomo (talvez Zalman, talvez), mas não fariam parte dos meus mestres nem Menachem, nem Ovadia, nem Norman. É preferível o êxtase, o otimismo, a música e a poesia do que messianismo, vaidade ou desejo de rezar o Kadish por dois terços dos judeus do mundo (chas veshalom). Não, poderia ser tentado a escrever uma Guerra nas Estrelas com os lados bom e mau da idishekop - mas acredito piamente que não existem lados assim definidos no geral. Os tefilin são um par, cheios de curvas, traços, letras, e se movimentam em todas as direções.

De volta à terra (ló bashamaim hi, diria Tevye citando a Torá, que não está nos céus...)

Ontem tive um dia longo e intenso. Pareceu-me mais longo do que os demais, como se, em comemoração, Deus tivesse concedido ao dia de ontem 40 horas. Assim como imagino que será hoje também, e até sábado.

Ontem recebi alguns presentes: um técnico me mostrou como resolver um probleminha no meu computador que não me permitia usar um programa chamado Chavruta Lalomed, uma maravilha para se estudar Talmud. Um probleminha de configuração, não era nada demais. Quando perguntei quanto devia, me disse: "Tihiê bari", fique com saúde. Às vezes o que parece ser um monstro, é só um probleminha de configuração, de como encarar e enfrentar as coisas. Espero que eu aprenda melhor isso nestes meus próximos 40 anos! Aí poderei fazer mais do que plantar árvores.

Outra boa notícia: o ministério do interior resolveu um probleminha, um erro de configuração deles mesmos, e minha situação voltou a estar regularizada. Já fui toshav olê, toshav chozer, voltei a ser toshav olê. Já imigrei em outubro, depois em março, voltei no tempo e imigrei novamente em outubro, para finalmente os anjos da burocracia israelense definirem que imigrei em março.

E ontem também fui buscar meu novo talit, com tsitsit tendo alguns fios na cor "tchélet", como descrito no terceiro parágrafo do Shemá - um lindo azul celeste. Lemos no Talmud que um dos modos de se saber se já se pode fazer as orações matutinas é quando se consegue discernir o azul do fio de cor tchélet (e não vê-lo como cinza escuro, como se ainda fosse noite). Talit tamanho gigante - agora é possível lehitatef, envolver-me inteiramente com ele. Agora faz sentido. 40 anos é um momento propício para finalmente se envolver completamente em um manto de orações.

E por fim, finalmente comprei meu programa eletrônico Talmud Hamevoar, a versão eletrônica do Talmud Steinsaltz (sim Theo, ele existe!). Como programa em si mesmo, não é nenhuma maravilha - os programas do Bar Ilan são muito mais intuitivos e completos - mas só de ter as páginas do Steinsaltz no meu computador, vale o preço salgadíssimo. Outro presente de aniversário que irá me ajudar muito nos estudos, em Israel, e quando estiver no Brasil precisando preparar trabalhos (sem precisar levar 30 kg de livros para onde estiver) e acredito, mais tarde para dar aulas, ensinar Talmud.

Afinal, são quarenta anos de alguém que combina nos genes um pouco da paisagem de um campo de rosas ao lado de uma plantação de grãos adocicados, de alfaiate, um verdadeiro shteitl no Vale do Rio Lam, onde fico a ensinar e a aprender. Mais ou menos como ser rebe em um ishuv em Visconde de Mauá ou Mirantão.

Caramba, que viagem... bom, chag Matan Torá sameach, chag habicurim sameach, chag hashavuot sameach, iom huledet sameach! Só simches.

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Emuná - "Carlebach era como um avô para nós"
Hoje, andando pelas ruas do meu bairro, fixei os olhos em um cartaz muito bonito, com desenhos em pastel. Anunciava cursos para mulheres. Segui em frente - afinal, não era para mim - quando a porta se abriu e uma mulher me chamou:
"Olá querido, seja bem vindo! Entre, entre!"
"Obrigado, vi que é um curso para mulheres."
"Mas eu também tenho grupos de homens e mulheres, nos reunimos todas as 4as feiras aqui em casa. Eu adoro ensinar!"

Assim seguiu a conversa com uma mulher que me parece ter uns 50 anos. Ortodoxa sem dúvida, com um lenço na cabeça, mas o vestido colorido apontava para algo que eu já sabia, tinha ouvido falar, vi de longe - mas ainda não havia tido contato direto: os ortodoxos "freaks", algo entre chassidismo e movimento hippie. Imagino que seja o mais próximo dos sonhos do Baal Shem Tov.

Ela fez questão de me servir um chá de jasmim. A casa antiga, móveis antigos, pintura desgastada, estantes de livros em todas as paredes com livros judaicos do teto ao piso. Um leve odor de ambiente fechado com incenso. Uma das filhas deitada no sofá, lendo jornal. Fotos na parede: Carlebach, o rabino Carlebach, cercado de crianças e uma jovem muito bonita ao seu lado.
"Esta sou eu e estas são minhas crianças."
"Parabéns, Baruch Hashem", completei, "Quantos filhos você tem?"
"Quatorze".
Quase caí prá trás. Achei que não havia compreendido direito, que meu hebraico havia me traído.
"Como? Está falando dos seus alunos, é uma turma de 14 alunos às quartas feiras?"

Ela riu - aliás, um riso arrastado e suave, quando então notei os olhos caídos e brilhantes. Me senti por um momento em Arraial D´Ajuda, Visconde de Mauá, Chapada dos Guimarães, mas estava em JerusaWoodstock. E ela se divertia com a minha surpresa.

"Tenho várias filhas casadas, três filhos no exército, outros quatro em diferentes yeshivot, estão por aí... e os demais moram comigo. E depois que eles se foram me sentia sozinha, e decidi dar aulas! São aulas de chassidut, é lindo, você vai gostar. Bom, você está certo, também são meus filhos! Hoje não darei aulas porque uma das minhas alunas irá se casar, e casamento é mais importante do que aulas!!!"

E sorri, e ela sorriu de volta e riu suavemente, o mesmo riso arrastado, leve, "alto". A tranquilidade e a doçura em pessoa. O incenso, ou o que seja, era levemente adocicado.
"E o que você está fazendo em Israel, passeando?"
"Estou cursando meus estudos rabínicos."
"Baruch Hashem!!!" os olhos brilharam.
"No HUC, conhece?"
"Ah sim, Yahadut Mitkademet (judaísmo progressista/reformista), que bom, quantos anos são?"
"4 anos".

Eu me surpreendi por ela não ter se surpreendido que eu estudava para ser rabino reformista. Não se irritou, não virou a cara. Apenas sorriu e os olhos brilharam, e agradeceu a Deus.

Pensei: mais alguém que entende que somos todos iguais, todos judeus, que há mais de um modo de ser judeu, e que apesar de sermos diferentes, podemos estudar juntos, sermos amáveis juntos.

"Puxa, então nos encontraremos muito ainda! Já tive alunos do Schechter (conservador) e do HUC, fiquei tão feliz com a doçura e com o conhecimento deles. Enfim, graças a Deus todos estudando Torá, não é lindo?"

Ela parecia definitivamente ter vindo de Visconde de Mauá. Uma idishe Visconde de Mauá.

"Meu nome é Uri, prazer, e o seu?"
"Emuná".
"Este é Carlebach, você conhece?"
"Claro, adoraria ir a uma sinagoga com rito Carlebach".
"Tem uma aqui perto, é maravilhoso! Ele vivia por aqui sabia? Éramos muito próximos. Era como da família, um avô para todos nós." E me mostrou várias fotos na parede com o rabino Carlebach.

Nunca me senti tão próximo de Carlebach. E pela primeira vez vi uma mulher com quatorze filhos, e pela primeira vez vi que isto não era um peso para ela. Para Emuná, a simplicidade, os filhos e os estudos eram uma benção. Puro chassidismo. Ah, se todos os que se dizem chassidim fossem como Emuná...


TOM JOBIM, VINÍCIUS DE MORAES... E SHLOMO CARLEBACH

Frase atribuída ao rabino Shlomo Carlebach z´l (acima)

A fim de manter vivo o Yidishkeit, necessitamos desesperadamente de sinagogas que não dêem aliot a mulheres, e também precisamos desesperadamente de sinagogas que dêem aliot a mulheres.


De que lado do desespero nós, judeus liberais e nossas comunidades, estamos?
Shavuot é um ótimo momento para nos perguntarmos sobre isso.

Eu estou do lado Carlebach que diz que precisamos de mais sinagogas que dêem aliot às mulheres, que contem as mulheres no minian, que garantam o seu direito a ler na Torá, que tenham rabinos e rabinas, tornando mais coerente e significativa a nossa vida religiosa judaica. E, sem me importar em ser redundante (afinal, 40 anos é uma redundância dos 20...), defendo que todas as nossas comunidades judaicas liberais defendam desesperadamente este lado Carlebach de ser, que eu chamaria do lado Yakarlebach (para bom entendedor...).

Desesperadamente, como nas almas de Vinicius e Tom Jobim:
"Eu sei que vou te amar, desesperadamente...."

Carlebach é brilhante, não apenas em suas canções, mas em seu modo tão dialogicamente judaico de ver o mundo.
Cantamos Carlebach e citamos Carlebach muitas vezes sem saber que o fazemos.

portanto, em vez de Na-Na-Nachman Meuman (a la "festa no ape"), proponho um novo hit:
Shlo-Shlo-Shlomo, Shlomo Carlebach, Shlomo Carlebach
Harav Shlomo Carlebach!
Shlo-Shlo-Shlomo...
IMPERDÍVEL - 2º TICUN DA VIRADA NA CIP (POS SHAVUOT)

terça-feira, 26 de maio de 2009

Uma rabina ortodoxa, por outro nome
24/05/2009
Anthony Weiss
fonte: The Forward
Tradução: Uri Lam

(o texto é longo mas vale à pena)

Os planos para uma nova escola de formação de mulheres ortodoxas como líderes religiosas estão empurrando o tema do papel das mulheres no Judaísmo Ortodoxo para uma fronteira nova e não experimentada.

Avi Weiss, principal defensor de uma ortodoxia mais liberal, e Sara Hurwitz, uma protegida de Weiss, estão realizando entrevistas e avaliações para a Yeshivat Maharat, um programa de quatro anos que está para abrir no próximo outono em Israel (outubro), cujo objetivo é preparar mulheres como “membros plenos do rabinato”, de acordo com um anúncio de e-mail. Mas por enquanto elas não serão chamadas de rabinas. “Nós estamos preparando as mulheres para serem rabinas”, Hurwitz contou ao Forward (centenário jornal da comunidade judaica americana). “Como elas serão chamadas é algo em que estamos trabalhando.”

O movimento surge para colocar Weiss e Hurwitz no precipício do que é possível sob a lei ortodoxa tradicional sem de fato saltar para fora desta. Ao atacar este equilíbrio, eles estão arriscando a possibilidade de afastar aqueles à esquerda (do movimento ortodoxo) que desejam um papel rabínico igual para mulheres, e aqueles à direita cujo argumento é que a liderança espiritual é incompatível com o lugar de mulheres na sociedade ortodoxa. “Minha melhor suposição é que estamos vendo a conseqüente evidência de uma divisão a caminho na ortodoxia entre esquerda e direita”, afirmou Jonathan Sarna, professor de história judaica americana na Brandeis University. Porém ele destacou que “o rabino Weiss não só é capaz de abrir o envelope, mas de fazê-lo de modo muito bem-sucedido”.

Embora os movimentos Reformista, Reconstrucionista e Conservador já venham ordenado mulheres como rabinas há décadas e há muito tempo homens e mulheres já têm os mesmos direitos em assuntos religiosos, o mundo ortodoxo continua mantendo limites nas funções comunitárias que as mulheres podem executar. De acordo com a Halachá, a lei judaica tradicional, uma mulher não pode assinar um certificado de matrimônio ou de divórcio, não pode presidir um processo de conversão nem ser contada como parte de um minián (quorum mínimo para um serviço religioso público). De fato, os rabinos ortodoxos destacam que não é somente o título de “rabina” que é tão controverso, mas também os papéis que atualmente as mulheres podem ou não exercer na comunidade.

Diversos defensores dos direitos das mulheres ortodoxas têm se esforçado continuamente há várias décadas para ampliar a formação educacional e o papel das mulheres na ortodoxia. Uma tendência principal nos últimos anos tem sido uma maior ênfase na educação judaica para mulheres ortodoxas em programas como o do Instituto Drisha para Educação Judaica, que oferece programas intensivos em estudos de Talmud para mulheres. As mulheres também têm assumido papéis de instrutoras de maior relevância nas escolas judaicas do tipo day-school e algumas têm assumido papéis espirituais formais dentro das sinagogas.


Embora existam apenas alguns poucos exemplos conhecidos, algumas mulheres inclusive já foram ordenadas rabinas ortodoxas de modo particular. Na verdade o novo programa já provocou a crítica de que tornará o papel da mulher no judaísmo um tema mais conturbado. “Eu não vejo como isso pode promover o crescimento no aprendizado das mulheres”, disse o rabino Yossef Blau, conselheiro espiritual do seminário rabínico da Yeshiva University (Nova York, EUA, de orientação ortodoxa moderna). “Isto torna mais controverso e mais difícil para as mulheres que estão prontas e comprometidas com o aprendizado.” Ele acrescentou: “Já há programas de estudos avançados para mulheres. Se alguma mulher demonstrasse interesse ou se os shuls (sinagogas) demonstrassem interesse em algo assim, eles estariam fazendo isso.”

Mas Weiss tem experiência em empurrar de maneira bem-sucedida os limites do liberalismo ortodoxo ao mesmo tempo em que ainda permanece sendo um respeitado, ainda que controverso, membro do mundo ortodoxo. A sua recém-estabelecida Yeshivat Chovevei Torá tem se tornado um importante campo de formação de rabinos ortodoxos progressistas e ativistas sociais que, apesar da resistência de diversos líderes proeminentes, têm encontrado trabalho e funções em populares instituições ortodoxas.

Weiss contou à Forward que ao contrário das instituições existentes, a nova Yeshivá para mulheres irá focar no desenvolvimento de habilidades religiosas práticas, incluindo o estudo textual em temas comunitários comuns, psicologia e prática religiosa, além de estágios em escolas e sinagogas. O programa será modelado após o curso de cinco anos de estudos que Hurwitz completou recentemente sob a tutela de Weiss, após o qual conferiu a ela o recém-inventado título de “Maharat”

(obs: Maharat é um acrônimo para Manhigá Hilchatit Ruchanit Toranit, algo como Líder Haláchica Espiritual em Torá - não seria mais simples assumir de vez, rabina? - Uri).

Weiss enfatizou que seriam observadas as limitações haláchicas em relação às mulheres, e assim algumas funções ainda precisariam ser executadas por homens. Mas isso não significa que as mulheres estariam cumprindo nada menos do que um papel de liderança, segundo ele. “O modelo Ortodoxo não é o Conservador nem o Reformista, onde em geral os papéis de homens e mulheres em liderança são idênticos”, Weiss afirmou à Forward. “Na ortodoxia os papéis se sobrepõem significativamente, mas há distinções muito claras.”

Blu Greenberg, uma proeminente ortodoxa feminista, elogiou a iniciativa da Yeshivá como uma extensão “revolucionária e de desobstrução” de esforços existentes há muito tempo para que se avance no papel das mulheres na sociedade ortodoxa. Ela afirmou que o título de “rabina” poderia ter sido preferível, mas acrescentou: “Não há nada como fatos concretos. A força de um ou de dez modelos vale mais do que mil discussões ou argumentos sobre o tema.”
A escola já recebeu “cerca de dez” contatos, de acordo com Weiss, e deve abrir provavelmente com um pequeno punhado de estudantes neste outono (outubro) no Hebrew Institute of Riverdale, a sinagoga de Weiss situada no bairro do Bronx. Mas ainda não está muito claro para o que as mulheres estarão sendo formadas. Weiss afirmou que as diplomadas poderão servir como líderes nas escolas e em campi universitários. Mas as mulheres já mantêm papéis de liderança tanto nas day schools ortodoxas quanto no Instituto Hillel (centros judaicos em campi universitários) ao redor dos Estados Unidos.

Enquanto isso, o número de congregações ortodoxas preparadas para aceitar uma mulher como membro do rabinato, do modo que o Hebrew Institute of Riverdale aceitou Hurwitz, parece, no momento, ser extremamente limitado. Esta realidade prática poderá não apenas limitar em quê as diplomadas podem atuar, como também quem antes de tudo deve se matricular na escola.


segunda-feira, 25 de maio de 2009

então descobri pela manhã que...
segundo a morá Aialá (não do Rena, que foi uma das morot queridas na minha formação judaica. Hoje tenho outra morá Aialá tão querida quanto, a rabina Aialá Meron), e terminei minhas obrigações no seu curso - Tsefiá, observação de comunidades e instituições - referentes a primeiro e segundo semestre. Todos os relatórios entregues, graças a Deus.
Agora "só falta" de todas as outras matérias. (!!!) do segundo semestre, ainda em andamento.

Como orientou o rabino Michel Schlesinger, não deixar nada para trás deve ser o mote, o slogan. Ele já passou por isso e sabe o que está dizendo. Concordo com ele e agradeço a orientação.

Preparação para despedida do rabino Yehoyadá (Yoki) Amir
Hoje temos um encontro especial entre os alunos. Todas as semanas temos um fórum de discussão, troca de experiências e sugestões entre alunos, mas hoje iremos nos reunir para fazer arte, por uma boa causa: agradecimento.

Enfim, estamos preparando uma homenagem ao rabino Yoki Amir, diretor do curso israelense de rabinato por 10 anos, que levantará acampamento a partir de julho. Cada um tem uma história com Yoki, histórias que muitas vezes envolvem emoções. eu tenho as minhas também, que passaram da frustração e raiva à admiração e carinho.

Hoje será pelo jeito mais um dia de calor em Jerusalém, cujo céu amanhece claro e brilhante.
Boker tov Yerushalaim!

domingo, 24 de maio de 2009


Thiago Lacerda - esta foto não é em Jerusalém
(sei lá onde é!)

Thiago Lacerda em Jerusalém, para "Viver a Vida"
O ator global Thiago Lacerda apareceu no shuk, na machané Yehuda, hoje de manhã. Aparentemente gravando algo para a Globo. O comentário foi do Dany, figura querida que vende objetos religiosos no shuk (fui comprar um novo kitel, assim que lembrei - já pensando em Iamim Noraim). Danny bateu uma foto de Thiago com seu celular e me mostrou. Era ele sim, de boné e óculos escuros. Conta-se que formou um burburinho de cariocas que estavam naquela hora visitando o mercadão da machané Yehuda. "Me deciran que las chicas se mueren por el, verdad?" confirmei ao meu amigo ex-porteño: verdade.

Fui procurar na net se fazia sentido, o que Thiago Lacerda fazia na Terra Santa, e descobri: ele e o ator Rodrigo Hilbert chegaram por aqui ontem mesmo para gravar capítulos de “Viver a Vida”, novela que substituirá “Caminho das Índias” na Globo (para mim falando grego, pois obviamente nem vi uma, e não pretendo ver a outra). O diretor Jayme Monjardim também está por aqui.

Eles ficam em Jerusalém até dia 28 de maio, próxima 5a feira, Leil Shavuot e o dia mais importante dos últimos quarenta anos (pelo menos para mim, mas dou a vocês o direito à dúvida). Depois seguem para a Jordânia.

Assim, moças, quem quiser ver o Thiago Lacerda de perto, é ficar atento em Jerusalém. Senão, só em Aman. Ou na TV.

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Silvio Santos novamente - e as origens de sua família



prestem atenção no que ele conta.
É isso. Não há nada, absolutamente nada, a acrescentar.
Silvio Santos, Señor Abravanel, ad mea keesrim (até os cem anos de vida, com a energia dos 20)
Shabat shalom
Silvio Santos dá uma aula de Maimônides



Recebi um vídeo que não pude esperar para colocar no ar.
Sílvio Santos, em palavras simples, explica nada menos que o conceito de Tsedacá, de justiça social, usando os conceitos de Rambam, o grande rabino, pensador e médico do século 12.
O "patrão", como é chamado carinhosamente no SBT, cita com clareza universal alguns dos 8 níveis de tsedacá.
vale à pena.
shabat shalom
Madonna e Jesus juntos em cerimônia cabalística?
E finalmente parece que Madonna encontrou Jesus - esta é a piada já de tempos para cá sobre o casal. Madonna e Jesus devem se casar em uma cerimônia no Kabballah Centre, nos EUA. E isto não é piada. No mínimo, rumor de uma revista brasileira de fofocas (ops, de reportantes sobre a vida de celebridades, melhor assim) - que chegou aos ouvidos do jornal Haaretz.
Pergunta: como será o casamento, haverá rabino? Quem, Rabi Yossi?

Enquanto isso três messiânicos reinvidicam direito de fazer aliá. Cristãos convictos, enfatizam seus altos cargos no exterior - e aparente condição financeira privilegiada - além de avós judeus para dizerem que estão sendo injustiçados e humilhados. Esqueceram-se de um pequeno detalhe: a lei de aliá é para quem tem pelo menos avós judeus E NÃO MUDOU DE RELIGIÃO. Além de se assumirem cristãos, os três em questão dizem fazer parte do grupo denominado "judeus messiânicos". É óbvio que não serão reconhecidos para aliá, e simplesmente porque está na lei do retorno que assim é. E descobrirão que a Agência Judaica não se vende. Podem ter o cargo que tiverem, podem vir a Israel como cidadãos, investirem aqui - não precisam e não têm o direito de fazer aliá. Ponto.

É, parece que perdi mesmo o dente do ciso. a Dra Lucy estava errada.

Hoje passo o Shabat na comunidade Nava Tehila, rabina Ruth Kagan, reconstrucionista. Para alguns perdi o juízo de vez. Já passou da hora de perdê-lo - além do dente do ciso, Dra Lucille Ball. Afinal, Arbaim shaná akut bedor, vaomár: "Am toê levav hem..." Depois dos 40 não há mais o que dizer, certo? certo.
Shabat shalom umevorach
De yeshivot underground, tsadikim relâmpago e chachamim de última hora
por um lado, Baruch Hashen
por outro, teje preso, Eli Chen!
pelos dois, Baruch Hashem.

O maluco Elior Chen, que após agredir crianças e colocar pelo menos uma em coma irreversível, para "espantar demônios", fugiu para o Brasil, foi acobertado por alguns dias na "Casa Amarela" do Bom Retiro e depois teve que se entregar - finalmente será extraditado para Israel, onde será preso (quase que eu disse que o Chen seria extraído - influência da minha quase dentista, de quem escapei a tempo).
Chen se diz rabino. Não é o único não-rabino a se autoproclamar rabino, diga-se de passagem.

Em uma antiga notícia do Haaretz em hebraico cujo título é "Satã desceu em Jerusalém", Chen é descrito como um garoto brilhante mas super problemático, recolhido pela yeshivá do rabino Chaim Pinto.

Um detalhe: há yeshivot de todo tipo em Israel. Yeshivá costuma ser um termo venerado por alguns como "óhhh, fulano está estudando numa yeshivá".
Há yeshivot ótimas, outras médias, e outras onde ocorrem coisas assustadoras. Há yeshivot conhecidas, outras que nunca ninguém ouviu falar. "Mas o rabino é um chacham." Pois é.

Há gente torcendo o nariz para o fato do governo agora ser obrigado a destinar verbas a cursos de conversão liberais, mas há décadas alguns criam "yeshivot" com o objetivo quase gritante de sangrar dinheiro do governo.

Qualquer canto é lugar para se abrir uma yeshivá. Ou como diz o autor de um livro controverso, não faltam "chachamim e tsadikim" (sábios e justos) de yeshivot underground em Jerusalém (o que vem a ser uma yeshivá underground?)

Ali, na "underground yeshive", todo mundo é tsadik, todo mundo é chacham. Aliás, como adoram usar estes termos, se autoproclamarem santos e sábios, que gente humilde não é mesmo? "O rabino disse que fulano é um tsadik, quem sou eu prá dizer o contrário?"

Então me lembro de quando fui comer um falafel na kikar Davidka e o falafeleiro, digamos, me disse: "O que o tsadik vai querer?" Se o falafeleiro ou schwarmeiro diz que eu sou um tsadik, quem dirá o contrário?

É o fim. Há lugares por aqui que são fábricas de Elior Chen. Mas nem todos saem tão perversos como ele. Alguns, só de pisarem na Terra Santa, são acometidos da Sindrome de Jerusalém. Só Yosef Karo é como eles. Não, Rabi Akiva. Ah, meu Deus.

Mas não confundir estes lugares e esta gente com as yeshivot sérias e os rapazes e moças absolutamente corretos, educados, simpáticos (e judeus... pois nem sempre as yeshivot underground... bom, é, pois é, estranho, mas é assim), que estão por aqui para fazer deste mundo um mundo melhor.

Como diz o caro DJ Yvo, que vença o lado bom da força!
Shabat shalom
Hoje é sexta feira, finalmente
(como diria um amigo, Baruch Hashen, Bendito seja o Dente)

Em uma história engraçada a posteriori, digamos, fui a uma dentista russa, a Ludmila que virou Dra Lucy, do plano de saúde que escolhi em Israel. Tudo ótimo, tudo bem organizado, e chegamos à dentista. Entre um sorriso e outro, a tensão em pessoa. "Não me mandem mais pacientes para primeiros socorros, há outros dentistas livres." "Hoje não é o meu dia, olha, vão fechar as ruas (para Yom Yerushalaim), como vou voltar prá casa? Não está certo."

E vamos em frente, pois eu estava com muita dor e, pela experiência, sabia tratar-se de tratamento de canal, mais um.

Ok, ela abriu, limpou, preparou. Pediu-me uma chapa panorâmica da boca - no prédio do outro lado da rua. Ok, fui, fiz, esperei, voltei. Então lá vem ela:

"Vou lhe mostrar direitinho e marcar tudo o que é preciso fazer.
Este não tem mais jeito, é preciso arrancar (escutei, achei que não havia entendido bem, perguntei novamente, ela fez o gesto com a mão, de arrancar. Uau, era isto mesmo que ela havia dito).
Continuou olhando, bateu em alguns dentes com um martelinho, e disse, convicta:
"Este também é preciso arrancar. E este também."
Já eram três na conta.
"E aqui tem uma cárie pequenininha, nada mal. Mas aqui tem uma cratera, precisa fechar. Quanta pedra (tártaro)! precisa limpar, vou marcar um horário prá você na fila (da limpadora de tártaro............ (espaço para pensar) pois é, eu também pensei isso.).
"E aqui você tem um pequeno derrame. acho que ficou um pedaço do dente do ciso." (!!!)
(Meu Deus, por onde é a porta de emergência?)
Pensando bem, aprendi um novo termo em hebraico: shen biná, dente do ciso.

Eu disse a ela: "Não irá arrancar nada."
"Você é obrigado a arrancar!"
"E o que você irá por no lugar?"
Pergunta já irônica minha, que só esperava o momento de sair da sala da senhora Lucy.
"Uma ponte móvel de um lado e outra de outro."
Eu me imaginei já com pontes móveis, dentaduras, corega, copo ao lado da cama. Quase comecei a rir de nervoso. No way!! Que doida!
"De jeito nenhum."
"Bom, estou lhe dizendo o que você é obrigado a fazer, precisa fazer, não tem jeito. Se você quer fazer ou não, é problema seu. se não fizer comigo, terá que fazer mais cedo ou mais tarde."
"É isso mesmo, é problema meu. Um abraço doutora, obrigado."

Ela falou em arrancar inclusive um dente que custou para o meu dentista de São Paulo ajeitar, tratar canal, fazer a coroa... acho que a dentista gostou da coroa! Falou um monte de coisas exatamente opostas ao que diz o meu dentista.

O que me fez concluir que ele é um dentista, e ela, quem sabe, uma engenheira que gosta de destruir prédios antigos, ainda que estejam inteiros (ou precisem de alguma reforma) para construir pontes. Por um instante achei que estava na Israel dos anos 50 ou na Russia da 1ª Guerra Mundial, no campo de batalha. Mas estava no centro de Jerusalém, em uma clínica super limpa e organizada, em 2009.

Enfim, estou em Israel e preciso buscar outro dentista. Pelo menos a dor ela tirou! Fica para a próxima semana - Beezrat Hashem (ubeezrat hashen)
Shabat shalom

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Uma reflexão pessoal
Antes de falar de qual conversão vale, como é, quando, onde - ainda espero o dia em que nossos amigos, pais, tios, avós judeus passem a receber bem o convertido como mais um da família, do povo. Nenhum tribunal rabínico é mais rígido e, às vezes, nenhum é mais cruel do que os participantes da própria comunidade, que muitas vezes tratam o novo membro da família com incredulidade, desconfiança e desprezo. Uma vez terminado um processo de conversão, nossos amigos de sinagoga, clube, movimentos juvenis, etc. devem assimilar o judeu por opção e recebê-lo de braços abertos, que por sua vez deve se esforçar ao máximo para ser assimilado pela comunidade judaica e absorver seus costumes e tradições - afinal, esta foi a sua escolha.

Em vez de nos assimilarmos, nós assimilamos. Está claro? Não? Pois é. Gosto mais do espírito de povo - mais amplo, diverso e democrático, e diria, mais judaico - do que do espírito de gueto. E sinto que ainda tenho que me dedicar muito mais em favor desta causa (mudança de palavras, afinal, vou eu dar chance pro Eiran - meu caro comentarista, com quem há muito tempo não tinha contato - de imaginar pelo em casca de ovo? um abraço ao Eiran.
Conversões ao judaísmo via Internet
Curioso, tanta crítica é feita à orientação parcial para conversões realizada via internet por rabinos reformistas que os críticos de plantão não se dão conta de que o método é usado por rabinos de todos os movimentos judaicos, ortodoxo inclusive.


Em geral este tipo de orientação é dado a pessoas que vivem longe de centros judaicos organizadosou longe de comunidades que tenham rabinos. Desconheço se ocorre atualmente no Brasil, onde certamente a procura é grande; mas nos EUA e em Israel há dezenas de rabinos de todos os movimentos, cada um com seus critérios, oferecendo orientação parcial à distância, e contam hoje com cada vez mais recursos, aulas online com imagem e som, material de apoio no You Tube, apostilas e livros eletrônicos, e por aí vai.

Ok, nada substitui a comunidade e a presença física por inúmeros motivos, mas independente de termos capacidade de absorver a idéia, ela já está acontecendo há muitos anos. Acredito que a orientação à distância é uma realidade que veio para ficar - cabe balanceá-la e calibrá-la para cada propósito.

Agora o tribunal rabínico de Israel diz estar disposto a rejeitar candidatos à conversão orientados parcialmente (cerca de 70% do tempo ou mais) via internet, segundo noticiado no Jerusalem Post. Se a discussão está em pauta, significa que orientações à distância vêm ocorrendo em grande número e há um bom tempo no meio ortodoxo.

Para a preparação, os candidatos recebem conhecimento teórico e prático sobre judaísmo ortodoxo por meio de livros e participação online. Segundo o prof. Binyamin Ish-Shalom, presidente do Joint Institute for Jewish Studies, os resultados são benéficos para os candidatos que porém, segundo ele, precisam ter pelo menos nível universitário para acompanhar bem o processo. Eu teria comentários favoráveis e contrários a esta condição, mas este não é o lugar de fazê-los.

O Joint Institute conta com membros de todos os principais movimentos judaicos: conservador, ortodoxo e reformista.

terça-feira, 19 de maio de 2009



Cursos de conversão conservadores e reformistas reconhecidos em Israel
Carta de Anat Hoffmann, presidente da IRAC – Israeli Religious Action Center
(Mercaz Le-Pluralism)
tradução: Uri Lam
19 de maio de 2009

Queridos Amigos da IRAC, hoje é um dia muito importante para o Judaísmo Progressista e a causa do pluralismo judaico em Israel. A IRAC há pouco ganhou um caso que cria precedência no Supremo Tribunal israelense que diz que o Estado deve prover a mesma quantidade de recursos para as classes de conversão reformistas e conservadoras. O caso em si mesmo pode parecer não ter muitas conseqüências, mas as implicações são enormes. Esta é a primeira vez que o Tribunal declara que fundos governamentais devem ser providos aos serviços religiosos não-ortodoxos em Israel.

O veredicto é fantástico, indo muito além de exigir simplesmente recursos iguais, pois focaliza o tema central da liberdade religiosa em Israel. O painel de três juízes, incluindo a Chefe de Justiça Dorit Beinisch, considerou a prática do Estado de Israel de favorecer apenas um movimento judaico discriminatória e contraditória com suas responsabilidades para assegurar liberdade de religião, e legisla: “O dever do Estado com o pluralismo não só é um dever passivo, bem como ativo.” Eles também citaram a sua decisão prévia (Naamat e IRAC, em 2002) de que “os judeus em Israel não podem ser vistos como apenas uma seita religiosa.”
É um dia de calor em Israel, mas todos nós estamos de sorriso aberto. Leia mais sobre o tema clicando nas manchetes do artigos de notícias israelenses (em inglês – veja também meus posts abaixo – Uri). Você também pode ajudar divulgando as boas notícias boas remetendo nosso boletim de imprensa ao seu jornal judaico local.

L'Shalom, Anat Hoffman
Conversões Reformistas e Conservadoras em Israel
um passo, mas ainda há todo um caminho pela frente

Uma breve análise inicial
A decisão histórica do Supremo Tribunal de Israel legisla em favor de alocar recursos - dinheiro, em português claro - para que institutos judaicos reformistas e conservadores possam realizar seus cursos com vistas à conversão ao judaísmo, colocando-os em pé de igualdade com institutos ortodoxos particulares. Diante do establishment ortodoxo, que até agora monopolizava todo o processo de conversão em Israel, é um passo gigantesco.

Tudo começou em 1997 com a chamada Comissão Neeman, que estava engavetada desde então, sob pressão dos grupos ortodoxos, e sob o pretexto de que havia outros temas mais urgentes na agenda israelense, como o conflito israelense-palestino.

Mas as centenas de milhares de olim chadashim reconhecidos como judeus para fins de aliá, por terem um dos pais judeu ou pelo menos um dos avós, maternos ou paternos, judeu, mas não reconhecidos pela chamada Rabanut - o rabinato ortodoxo - vem sendo uma pressão crescente para que não haja em Israel judeus de "primeira e segunda classe", por assim dizer, ou melhor, judeus "autênticos" e judeus "não-autênticos". Fala-se em mais de 300 mil pessoas nesta situação.

O atual status quo também inibe a aliá de outros milhares de judeus convertidos ao judaísmo pelas linhas liberais.

Mas todo cuidado é pouco. É tão difícil resolver a questão do status de quem é judeu em Israel quanto resolver a questão da criação de um Estado Palestino e a normalização das relações diplomáticas entre o Estado de Israel e o mundo árabe. Esta história dará muito pano prá manga ainda. O Bet Din, o tribunal rabínico que decide em última instância a condição judaica dos candidatos à conversão, ainda é somente o ortodoxo.

Mas dá esperança a todos aqueles que se identificam com o judaísmo conservador e reformista de que chegará o dia em que o Estado de Israel reconhecerá batei din de todos os movimentos judaicos, ortodoxos e não-ortodoxos.

Assim, o sonho do rabino Norman Lamm de rezar um Kadish pelos movimentos liberais fica mais distante. Afinal, querendo ele ou não, HÁ MAIS DE UM MODO DE SER JUDEU. Graças a Deus.



HÁ MAIS DE UM MODO DE SER JUDEU

DECISÃO HISTÓRICA
Suprema Corte legisla em favor de Conversões Reformistas em Israel
Tomer Zarchin, Correspondente do jornal israelense Haaretz, e Serviço do Haaretz
Tradução: Uri Lam
Quinta-feira, 19 de maio de 2009

Fonte:
http://www.twitter.com/haaretzonline

Em uma decisão histórica, nesta quinta-feira o Supremo Tribunal de Justiça de Israel ordenou o Estado a alocar recursos para os órgãos afiliados aos movimentos judaicos não-ortodoxos que realizam conversões.

“Todos os movimentos de conversão têm o mesmo propósito: a incorporação cultural e espiritual de cidadãos israelenses e residentes à sociedade e à comunidade em Israel”, escreveu em sua decisão o presidente do Supremo Tribunal, Dorit Beinisch.

O painel de juízes - que inclui Beinisch, Miriam Naor e Edna Arbel, aceitou uma petição preenchida pelo Movimento pelo Judaísmo Progressista, que realiza conversões reformistas.

O Movimento Judaico Progressista argumentou que o Ministério de Absorção o tem discriminado com seus critérios estritos usados para determinar quem tem o direito a concessões monetárias. O Movimento relatou que a política de concessão do Estado é mais flexível ao lidar com instituições particulares que executam conversões ortodoxas.

Um comitê formado em 1997 pelo atual Ministro da Justiça, Yaakov Neeman, recomendou que seja estabelecida uma instituição para o estudo de judaísmo a fim de preparar candidatos à conversão aos procedimentos necessários nos tribunais rabínicos.

O Estado busca acomodar o grande número de olim chadashim (novos imigrantes) que chegaram ao país durante os Anos 90. Apesar de receberem cidadania israelense, estima-se que centenas de milhares de olim não são considerados judeus pela lei religiosa.

O Comitê Neeman propôs que o novo instituto de judaísmo reconheça os três principais movimentos judaicos - Ortodoxo, Reformista, e Conservador.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

35 graus em Jerusalém - às 19:45 de um entardecer (sim, ainda está claro o dia)

OK, há alguns meses "reclamei" que chovia cântaros em Jerusalém (aliás, cântaros é um bom termo, em se tratando da Terra Santa:-)

Hoje faz um calor inacreditável, causado pelo Hamsin, um vento quente vindo do deserto, e com ele microgrãos de areia, parece pó, que tornam o ar mais pesado, a pele resseca, os móveis (e este valente e quase desmaiante notebook) cobertos de um pó bem fininho.

Graças a Deus que passei o dia no seminário rabínico, em salas de aula com ar condicionado... mas imaginei que chegando em casa à noite o ar estaria mais fresco. Santa ingenuidade, Batman!

a solução é um banho frio e tentar descansar. Não é brincadeira estudar com um calor seco e poeirento destes.
Não é reclamação pura e simples, só uma constatação.

Queira Deus que amanhã o dia seja mais ameno. Pelo menos as aulas foram ótimas!

domingo, 17 de maio de 2009

Shi-shi-shi-shi shishi cham
Se-se-se-se sexta quentchhh...

Jerusalém parece que queima a seco. O calor aumenta dia a dia, seco, seco, seco. Meu computador também sofre e chega a desligar de calor - e quase vou junto. para mantê-lo ligado jogo o ventilador encima dele, e encima de mim. neste momento, 11:45h, os termômetros apontam 31 graus. (agora às 14h, 34 graus) Parece mais. O sol arde. E lá vou eu encarar o sol da minha casa até o seminário rabínico, onde tenho aula às 15h. Oi vei!!!

Lembrei-me de uma música engraçada que tem passado em propaganda na TV, anunciando o programa de humor Shavua Sof (algo como "A semana acabou!"), às 6as feiras à noite (sim, eu sei, é Shabat).

Abaixo a chamada para o programa. A letra pode ser ótima para temporadas de férias e machanot (olhaí, madrichim do Campo do Estudos Fritz Pinkuss), até pelo óbvio jogo de palavras hebraico-português.
A música é do compositor Shmulik Krausz. Há outras versões no You Tube, digamos, menos ingênuas.



shi-shi-shi-shi shishi cham (2X)
shi-shi-shi-shi shi-cham (2X)
shi-shi-shi-shi shishi cham.
rishon sheni shlishi,
revií chamishi
shi-shi-shi-shi shishi cham!

(Uri Lam - tentativa de versão)
se-se-se-se sexta quentchhh (2X)
se-se-se-se se quentchhh (2X)
se-se-se-se sexta quentchhh.
domingo segunda
terça quarta quinta
se-se-se-se sexta quentchhh!
Theo Hotz - A felicidade de ser moré
Inicio agora mesmo um movimento que estimule o moré Theo Hotz, do Peretz, a escrever mais sobre suas impressões, sensações, conflitos, alegrias e tristezas em sala de aula, como professor de meninos e meninas do colégio Peretz, em São Paulo. Que seja uma vez por dia, 10 minutos a cada dois dias, ou mesmo uma vez por semana.

O blog dele, BeetleJewish, está entre os meus escolhidos. Só não é dos favoritos pois ele escreve muito pouco ainda. Mas destaco uma preciosidade, algo que deveria servir de exemplo para qualquer um que queira ser digno da dádiva de ser professor - e mais ainda ser for professor de judaísmo e queira ser chamado de Moré ou Morá - aquele ou aquela que ensina, que acerta o alvo, que aponta o caminho.

Theo, com ou sem sua permissão, aí vai. Quem quiser mais - já tem um lindo post que conta de um estudo em sala de aula sobre Torá (não de Torá) em uma aula de HJ (História Judaica).


FELICIDADE
Há alguns meses, alguns alunos me perguntaram:
Moré, por que você não faz teatro?
Eu já fiz teatro durante muito tempo, talmidim (alunos - Nota do "tradutor" ,rs).
E por que você é professor em vez de ator?
Porque ser professor é muito mais gostoso... (Cara de "ué" dos alunos)... A gente fica muito mais próximo do público.

Essas sacadas inusitadas e impensadas acabam revelando muito de mim em sala de aula. Durante muito tempo sabia que queria ser professor.
Só não sabia que eu seria assim tão feliz em sala de aula.
Bamidbar - No deserto, segundo ano
Há um ano aproximadamente escrevi para a CIP o comentário para a parashá Bamidbar, que abre os estudos do quarto livro da Torá. Um ano depois, reencontro o texto, enviado pela querida amiga Angelina ao grupo de estudos de Torá, que ocorre todas as segundas feiras na mesma CIP. Interessante reler um texto e verificar se ainda está atual ou não. A meu ver poderia ter sido escrito semana passada.


Na época, maio de 2008, eu estava no primeiro ano dos meus estudos rabínicos na Argentina, acabara de visitar a Polônia e ali, Auschwitz, Majdanek, Varsóvia, Cracóvia e tantos outros lugares. Eu também havia recém retornado de Israel - como parte da inesquecível "Marcha da Vida" - para onde retornaria 6 meses depois, para, digamos, o meu segundo ano no deserto (no melhor sentido), como diz a leitura da Torá desta semana.

Neste ano, maio de 2009, a leitura do texto ganha novas cores: cores duras, pesadas, vindas do crescimento do antisemitismo no mundo inteiro, da recusa de um hotel austríaco em receber judeus por medo de represálias, pela capa de uma das mais importantes revistas brasileiras estampando o crescimento de grupelhos neonazistas no Brasil, sendo um de seus líderes um megalomaníaco no pior estilo Pink e Cérebro; com o ministro Amorim defendendo um egípcio para a presidência da UNESCO, um homem que diz que não existe cultura judaica, que tudo é roubado dos outros, que queimaria livros judaicos da biblioteca de Alexandria, se os encontrasse.

Agora 2009, coincidentemente, coube a mim outra vez escrever o comentário para Bamidbar. É, parece que ainda tenho uma longa caminhada pelo deserto.

Aí vai o texto do ano passado, que envio como um abraço de conforto para um querido casal de amigos. "Para cada um e uma há um nome que lhe foi dado por Deus."

Gus e Denise receberam dois anjos de Deus, que logo vieram e na sua hora partiram. A lembrança de seus nomes será sempre um bênção.

uma boa semana a todos e que possamos falar principalmente de coisas boas.

Bamidbar
“Lechol ish iesh shem shenatán lo Elohim — Para toda pessoa há um nome que lhe foi dado por Deus”. Assim começa o poema de Zelda Mishkovsky (1914-1984), judia nascida na Ucrânia que imigrou para Israel em 1926. Nenhum de nós naturalmente teve a possibilidade de escolher o seu nome original. Este foi escolhido por nossos pais, com as bênçãos de Deus. A escolha não foi aleatória, mas marcada pela nossa história, pelo lugar onde viveram e morreram nossos antepassados, pelas circunstâncias em que nossas famílias viviam quando viemos ao mundo. Nossos nomes carregam não apenas a potencialidade das nossas vidas e dos nossos descendentes, mas a realização das vidas passadas das nossas famílias e do nosso povo.

Os nazistas tinham consciência de que, para exterminar um povo, era necessário exterminar também a sua memória, os seus nomes. Era preciso calar, apagar, fazer de conta que nunca existiram. Nomes seriam desfeitos em números, números se tornariam cinzas.

Mas Deus, Hashem, O Nome, sempre fez questão dos nomes. O povo de Israel jamais foi um aglomerado de gente. Nunca fomos contados somente como números por Deus nem por nossos pais. Cada nome representa uma vida a realizar e muitas vidas já vividas, e a vida é o que temos de mais sagrado.

No início da parashá desta semana lemos que, no segundo ano desde a saída do Egito, quando o êxodo estava consolidado, Deus encontrou-se com Moisés em um lugar sagrado, o ohel moêd, a tenda da reunião, e ali falou a ele para que conhecesse, um por um, família por família, nome por nome, todos os filhos de Israel. “Estes são os que foram chamados da congregação, líderes das tribos de seus antepassados; são os chefes dos milhares de Israel. Moisés e Aarão tomaram a estes homens que foram declarados por nomes...” (Números 1:17).

Quando milhares de judeus visitaram, há poucas semanas, campos de extermínio e valas comuns no meio de bosques sombrios da Polônia, o que, a meu ver, mais emocionou não foi a crueldade inominável dos carrascos nazistas. O que comoveu foi escutar os nomes das crianças, ver fotos de famílias inteiras e de grupos de jovens que se reuniam nos shteiteles, conhecer a história dos combatentes dos guetos. Nomes, rostos, casas e sinagogas não foram apagados. Não morreram seis milhões nos campos: morreram Sarales, Rivkes, Moishales e Michales. Não eram apenas judeus; eram filhos de Israel, cada um com o nome presenteado por seus pais, com uma vida que Deus lhe concedeu. Cada vida se eterniza em seu nome.

A parashá desta semana parte do momento em que o sofrimento do Egito foi deixado para trás. Então os filhos de Israel foram nomeados para compor um exército e enfrentar os desafios que teriam que enfrentar no deserto. Isso ocorreu no segundo ano, não no primeiro, da saída do Egito. Do mesmo modo, poderia se dizer que a reconstrução do Estado Judeu, há 60 anos, não começou exatamente no dia 14 de maio de 1948, mas em 1949, no início do segundo ano após a independência, depois que vencemos de fato a Guerra da Independência e consolidamos a existência de Medinat Israel. De lá para cá, mais de 22 mil soldados israelenses morreram em combate. Nenhum nome foi esquecido.

A preservação do povo de Israel é garantida pelos nomes que recebemos. Na longa travessia que ainda temos pela frente, ninguém pode ser deixado para trás.
Uri Lam (maio de 2008)

quarta-feira, 13 de maio de 2009

There must be another way (Deve haver outro modo)
Achinoam Nini (Noa) e Mira Awad na final do Eurovisão

Ontem, sábado à noite, da Noruega distante veio uma canção que venceu o Eurovisão: bonitinha, caretinha (tirando uma gíria do bau), e só isso; A canção israelense era bonita, mas não empolgou. Aliás, entre todas, foi a meu ver a que menos se preocupou com produção ou com visual. Enquanto todos trouxeram cores, dançarinos, luzes e sensualidade, Israel apostou tudo na força de Noa e Mira Awad. Curiosamente e quase de modo subliminar, a força do rosto e dos movimentos das duas contradizia o preto das roupas, o vazio de cenário e de parceiros de palco. Como querendo dizer: "Nós queremos a paz, mas não há cenário ainda para isso e não temos parceiros. Nosso canto não dá sámba."
Perdeu a realidade dura daqui, venceu o conto de fadas norueguês. E merecido.

Lembrando que Noa é judia e Mira é árabe, são parceiras musicais há muitos anos, e acreditam na força da arte, da música, para trazer a paz. Muita gente protestou contra a presença delas no Eurovisão, dizendo que passariam uma falsa imagem de convivência. Ao contrário, elas provam que a convivência, a parceria, a fraternidade, a vida em conjunto entre judeus e árabes, entre israelenses e palestinos, é possível.
Não rezemos um Kadish por aqueles que acreditam na vida.
Afinal, parafraseando Maimonides, eu creio com toda convicção que este dia virá - o dia em que palestinos e israelenses conviverão em paz (talvez chegue até antes que ortodoxos e liberais convivam em paz), e ainda que demore, eu esperarei e acreditarei. que possamos viver em paz com os palestinos, e que possamos viver em paz aqui dentro de casa, entre judeus, independente de qualquer adjetivo que cada um de nós tenha.



Einaich (seus olhos) / There must be another way (Deve haver outro modo)


There must be another, Must be another way
Einaich, achot, Kol ma shelibi mevakesh omrot
Avarnu ad ko derech aruka, derech ko kasha, yad beyad

Vehadma'ot zolgot, zormot lashav keev lelo shem
Anachnu mechakot Rak layom sheyavo achrei

There must be another way, There must be another way

Aynaki bit'ul, Rah yiji yom wu'kul ilkhof yizul
B'aynaki israr, Inhu ana khayar
N'kamel halmasar, Mahma tal

Li'anhu ma fi anwan wakhid l'alahzan
B'nadi lalmada, L'sama al'anida

There must be another way, There must be another way
There must be another, Must be another way

Derech aruka na'avor, Derech ko kasha, Yachad el ha'or
Aynaki bit'ul, Kul ilkhof yizul

And when I cry, I cry for both of us, My pain has no name
And when I cry, I cry, To the merciless sky and say
There must be another way!

Vehadma'ot zolgot, zormot lashav, keev lelo shem
Anachnu mechakot Rak layom sheyavo achrei

There must be another way, There must be another way
There must be another, Must be another way

Einaich / There must another way (Deve haver outro modo)
tradução (Uri Lam)

Deve haver outro... deve haver outro modo!
Seus olhos, minha querida, dizem tudo o que meu coração deseja.
Passamos até aqui um longo caminho, um caminho muito difícil, de mãos dadas.
E as lágrimas caem, escorrem, uma dor inominável. Nós esperamos somente que venha o dia seguinte: Deve haver um outro caminho, deve haver outro modo!

Seus olhos dizem: "Virá um dia em que todo medo desaparecerá". Em seus olhos há uma determinação, de que há possibilidade de levar este caminho adiante, por mais tempo que isso possa levar. Porque não há lugar para lamentos. E clamo aos céus, por piedade: "Deve haver outro caminho, deve haver outro modo, deve haver, tem que haver outro modo!"

Nós teremos que seguir por um longo caminho, um caminho difícil, juntos, em direção à luz. Seus olhos dizem: "todo medo desaparecerá." E quando choro, choro por nós dois. Minha dor não tem nome. E quando eu clamo, eu clamo pela misericórdia do céu e digo: "Deve haver um outro caminho."

E as lágrimas caem, escorrem, uma dor inominável. esperamos somente que venha o dia seguinte: deve haver outro caminho, deve haver outro modo!

terça-feira, 12 de maio de 2009

Rabino Norman Lamm está louco para rezar um Kadish
"porque Narciso acha feio o que não é espelho" (Caetano Veloso, Sampa)

Em uma "cantada de vitória" despropositada e prá lá de estranha em se tratando de um homem da importância do rabino Norman Lamm para o meio ortodoxo-moderno (ops, uma tentativa de modernização da ortodoxia - isso pode), o rabino de sobrenome próximo ao meu afirmou estes dias que, "com o coração pesado, digo que logo diremos um um Kadish para os movimentos conservador e reformista."

Coração pesado??? Será que ele quer que acreditemos que ele sente muito pela "visão" ou "profecia" do fim dos movimentos judaicos não-ortodoxos? Este é um dos grandes sonhos do rabino, que aproveitando-se de um período de crise o revelou agora abertamente: um mundo judaico formado por charedim e ortodoxos modernos será o Jardim do Eden na Terra. E por que os ortodoxos modernos? por que não apenas charedim, ortodoxos, ultra-ortodoxos? Ah, porque ele, Norman Lamm, se inclui naqueles que devem sobreviver. Claro.

Talvez nós, judeus liberais, conservadores, reformistas, mereçamos este tapa na cara. Um dia também dissemos, sem o cinismo do "coração pesado", mas com a mesma arrogância, que os judeus ortodoxos estavam obsoletos e prestes a desaparecer, figurariam nos livros de história. Estávamos redondamente errados. O mesmo erro comete agora o porta-voz de milhares de sonhadores: sonham que os movimentos liberais estão agonizando. Sonham isso porque não reconhecem aqueles como judeus, portanto, não reconhecem que eles tenham forças de se levantar de novo, após ou em meio a dificuldades. Isto é, se estivermos no nível de dificuldades que ele imagina. E estou certo e convicto de que a imaginação do rabino é uma miragem, fruto do seu próprio desejo.

A Torá diz que antes que o nosso próximo caia, devemos oferecer ajuda. O rabino Norman Lamm prefere dar mais um empurrão e se preparar para rezar um Kadish por nós. Mas se, como ele diz, nós, reformistas, não estamos no quadro judaico, por que rezar um Kadish por nós? Não se reza um Kadish na morte de judeus? por que ele rezaria no nosso enterro, se não nos considera como tais?

Eu já tive curiosidade e vontade de entrar em contato com ele, saber se somos da mesma família. Hoje perdi totalmente esta vontade e já sei que mesmo que fôssemos da mesma família, seríamos parentes distantes - que se encontram em casamentos e enterros - e não saímos na mesma foto.

O rabino Lamm baseia o seu Kadish iminente em informações sacadas de uma pesquisa de 2001 da realidade judaica americana. Uma longa pesquisa, que traz muitos dados interessantíssimos sobre as virtudes e fraquezas de todos os movimentos judaicos nos EUA. Uma pesquisa de 8 anos atrás, aliás - e já deve haver outra a caminho, até 2011. O rabino fala de escolas fechando, não levando em conta, além das crises internas, a crise externa que também pegou a sua própria Yeshiva University no contrapé, que vem causando fechamentos ou dores de cabeça a comunidades ortodoxas tão grandes quanto as dificuldades por ele apontadas nos meios não ortodoxos.

Nestas horas me lembro da canção do Cazuza: "Meus heróis morreram de overdose, meus inimigos estão no poder - ideologia, eu quero uma pra viver." Que decepção, rabino! Mas grandes líderes judeus também são humanos, e têm uma enorme capacidade de se autoboicotarem e mancharem suas histórias. Isso independe de movimento judaico. Ortodoxos, chassidim, conservadores, reformistas, reconstrucionistas, humanistas, seculares - todos têm seu momento tão humano de expor a sua tendência destrutiva. Norman Lamm deixou claro que não é exceção à regra.

Em Israel, vejo a força da ortodoxia. Em Israel vejo também a força do Chabad, e do movimento reformista - pequeno por aqui, mas extremamente idealista, engajado, corajoso, jovem, e crescendo. Em Israel vejo a força do movimento conservador, dos membros de suas sinagogas, dos seus jovens. Em Israel vejo a força de novas sinagogas ortodoxas modernas (da linha do rabino Lamm? talvez sim, talvez não...) onde, diferente do que diz o rabino, mulheres dirigem serviços religiosos, lêem na Torá e estão a um passo, a olhos vistos, de anunciarem suas primeiras rabinas. Elas estão prontas para isso - falta a primeira corajosa a entrar no Mar Vermelho e não ter medo de que ele se feche sobre ela. A tenda vermelha está prestes a se abrir. Falta pouco.

Um consolo: se é tão difícil para um rabino como Norman Lamm conviver com a diferença, então nós, simples mortais, podemos ser mais condescendentes com nossos próprios erros e preconceitos.

O rabino Lamm quer rezar um Kadish para nós, judeus reformistas e conservadores.
O futuro rabino Lam (se Deus quiser) prefere rezar um Mi Sheberach para o rabino Lamm, para que seu coração pesado encontre refuá shlemá, cura completa, e deixe seus desejos mórbidos de lado.

"E amarás o Eterno vosso Deus de todo teu coração, de toda a tua alma e com todas as tuas forças. E que estas coisas, que Eu te ordeno hoje, estejam sobre o teu coração" (1º parágrafo do Shemá). O Shemá está no centro das nossas orações. O Kadish para os enlutados encerra o serviço. Entre um e outro, caro rabino Lamm, tem muita água prá rolar.

Por fim me lembrei de uma famosa expressão: Kol Israel arevim ze lazé, geralmente traduzido como "todo judeu é responsável um pelo outro". Responsabilidade inclui amor e desejo de que o outro judeu permaneça vivo e bem. Mas "arevim" também significa estar envolvido. Assim temos: "Todo judeu está envolvido um com o outro". Não tem jeito. Gostemos ou não, estamos envolvidos uns com os outros, afetivamente, historicamente, espiritualmente. Quem tem consciência disso não pode sonhar com a morte do seu próximo.

Que um dia judeus de todas as linhas e origens possam sim rezar um Kadish - mas pela vida, de louvotr e agradecimento a Deus. Após um longo e agradável dia de estudos de Talmud, por exemplo, rezaremos um Kadish agradecendo por respeitarmos nossas diferenças, seguindo o exemplo dos nossos sábios talmúdicos, de Hilel e Shamai, por exemplo, para citar os mais conhecidos. E então cantaremos juntos: Hine ma tov uma naim shevet achim gam iachad, como é bom e agradável todos os irmãos estarem novamente juntos.

A única coisa que quem sabe um dia poderei rezar em uníssono com o rabino Lamm será a oração que encerra o Kadish: "Aquele que faz a paz nas alturas celestiais, Ele fará a paz sobre nós, e sobre todo o povo de Israel." Que assim seja.
Começou a passagem do Papa Bento 16 por Israel - e começou estranha

Ontem senti diretamente a presença do Papa: o HUC fica próximo às avenidas que levam à cidade antiga. Na saída da aula, ficamos parados por 40 minutos, diante do hotel David Citadel, esperando passar a caravana do Papa. Assim que a banda passou, a vida pareceu ressurgir, e todo mundo retomou o caminho de casa.

Enquanto isso, o Papa frustrou muitos em seu discurso no Museu Yad Vashem, dedicado à preservação da memória do que ocorreu no Holocausto. Ele criticou o óbvio: a negação da Shoá, do Holocausto, é condenável. Mas não citou em nenhum momento a culpa nazista, não falou que foram 6 milhões de judeus assassinados e segundo alguns, não pediu desculpas pela omissão da Igreja na época. Ele disse lamentou "que muitos morreram no Holocausto hitlerista". Morreram de que, acidente de carro? não foram chacinados, assassinados? onde está a Shoá, os nazistas, os alemães no discurso do papa? Ele foi muito pouco empático, distante, frio e burocrático. Em resumo, uma decepção. Qualquer pé atrás da comunidade judaica e uma certa nostalgia das relações com João Paulo II não são mera coincidência. Ah, Dan Brown... acabei de ler seus Anjos e Demônios.

Na segunda polêmica, um líder religioso palestino deu uma de Ahmadinejad e aproveitou uma situação para falar em se acabar com Israel, em reunião com líderes religiosos cristãos, judeus e muçulmanos com o Papa. Assim que o líder máximo católico recebeu a tradução, alguns minutos depois, cancelou o encontro e a festa em homenagem a ele que aconteceria em seguida. Ele não veio para discursos de ódio, deixou-se entendido. Desta vez Bento 16 teve atitude muito mais digna que o presidente da ONU quando do evento similar do tirano do Irã: o líder religioso católico demonstrou sua insatisfação e constrangimento, e não se dispos a servir de massa de manobra de meia dúzia de radicais.

Enfim, hoje é outro dia confuso em Jerusalém, pelo menos em parte do dia. Depois o Papa vai para outros cantos do país.

No resto, a vida segue: Lag Baómer e suas "fogueiras de Shimon Bar Yochai", no seminário rabínico um dia dedicado a estudos sobre judaísmo e feminismo, as contas confusas, a cabeça já nos trabalhos que tem que ser feitos ao longo da semana, e são 6:45h de um belo dia de sol amanhecendo em Jerusalém, capital de Israel.

Ah, ontem encontrei (perdoem-me se errar os nomes) Luis e Paula Fisz, pais da Ana, uma das madrichot do campo de estudos da CIP. Coincidência total, acabamos por algumas horas batendo papo em um simpático café perto de casa. E eu pude saber que a visão judaica liberal tem seus admiradores, e que a CIP tem jovens extremamente dedicados, apaixonados e talentosos, que abrem mão de quase tudo em nome da vida comunitária - como me disse o pai, não temos o direito de perder este patrimônio da comunidade - já perdemos jovens de outras gerações, não percamos os desta.

é isso aí, um bom dia a todos.

domingo, 10 de maio de 2009

Após o estrondoso sucesso do 1º Ticun da Virada...
vem aí o 2º Ticun da Virada na CIP - participem!!!
Boa Notícia: Hebrew Union College manterá todos os seus campi abertos
A instituição que há quase 200 anos forma rabinos, chazanim e professores dentro do modelo do movimento judaico reformista se reestrutura para fazer frente à crise econômica mundial.

O mais importante é que, ao contrário dos boatos dos últimos meses, manterá abertos todos os seus 4 campi: Cincinnatti, Nova York, Los Angeles e Jerusalém.


Declaração
Hebrew Union College-Jewish Institute of Religion
5 de maio de 2009
A Diretoria dos Governantes do Hebrew Union College-Jewish Institute of Religion (HUC-JIR) reuniu-se em Nova York na segunda feira, 4 de maio de 2009. Houve uma discussão que envolveu diversas abordagens construtivas a fim de solucionar as questões financeiras do HUC-JIR. A Diretoria decidiu que o plano de reestruturação procederá a partir de três princípios:
- Sustentabilidade financeira
- Integridade acadêmica dos programas e excelência do curso superior e dos estudantes
- Servir ao Movimento Reformista, a Klal Israel - o povo judeu no mundo inteiro, e a Israel

A Diretoria encarregou a administração de propor um plano que alcance a sustentabilidade financeira e aumente a nossa excelência acadêmica ao mesmo tempo em que preserve a nossa presença nos campi de Cincinnati, Los Angeles e Nova York.
O modelo a ser desenvolvido inclui estratégias inovadoras de aprendizado e ensino, incremento no uso de tecnologia, um compromisso firme com a Klau Library (Biblioteca Klau) e os American Jewish Archives (Documentos Judaicos Norte-Americanos), e uma visão evolutiva de educação que satisfará as necessidades do século 21.
A significativa reestruturação financeira estabelecerá um orçamento sustentável e equilibrado, assegurando o futuro da Instituição.

A Diretoria e a administração foram estimuladas pela efusão de milhares de expressões de apoio e de interesse interessadas por parte de bacharéis formados pelo HUC-JIR, congregantes reformistas, e comunidade em geral. O HUC-JIR agradece esta fonte básica de apoio.

No dia 23 de junho de 2009 a administração levará suas recomendações à Diretoria de Governantes.

O HUC-JIR afirma seu compromisso de fortalecer e cumprir sua missão de formar e manter os profissionais judeus ao longo de suas carreiras a serviço do Judaísmo Reformista e de Klal Israel - o povo judeu ao redor do mundo.

Rabino David Ellenson, Presidente do HUC-JIR
Barbara Friedman, Presidente da Diretoria de Governantes

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Sheiltot, Shabat, Shuvá, Sheelot, Shekalim, Shicorim ve-Meshacrim, Scholem Aleichem, Shhhh... Sheket!

Nos últimos dias dei sinais de cansaço. A montanha de trabalhos a fazer parecia aumentar na medida em que eu subia mais. Quase A Stairway to Heaven, uma escada para os céus... Juntem-se a isto mudanças de planos por motivos alheios à minha vontade (nada radical, embora nestes momentos qualquer espirro pareça causar um tsunami), acomodações, expectativas... e os trabalhos do Hebrew Union College na minha frente.

Ler, ler e ler. grifar, grifar e grifar. traduzir, traduzir. entender, memorizar. Reler, reler, reler. E contas. Presentes e futuras. e expectativas, presentes e futuras. 40 de Maio, Julho, setembro e, se Deus quiser, outubro já está aí.

Então no auge deste movimento maluco, não me dei conta de que talvez minha alimentação não estava me dando as vitaminas e o ânimo necessários para dar conta de tudo isso. Aí veio a recomendação médica: ferro com ácido fólico (bebido com suco de limão de preferência), complexo de vitamina B, dormir sem TV ligada.

E aí fica a sensação de como somos capazes de voltar ao normal rapidamente com algumas recomendações básicas! Estou ótimo! O que fiz?

Sheilta
Mergulhei de cabeça no texto do século 8 ou 9, se não me engano, de Rabi Achai de Shabcha, o primeiro livro que teria saído após o fechamento do período talmúdico: Sefer Hasheiltot, uma construção interessante baseada nas porções semanais da Torá, misturando Halachá, Agadá, hebraico e aramaico, uma torrente de fontes e citações. Classicamente tem uma introdução (que às vezes pode ser maior que todo o resto), depois a pergunta propriamente dita, uma drashá (que pode ter de uma linha a ou muitas, muitas páginas...), uma volta à pergunta (do tipo "eu sei, demos uma viajada, afinal é legal, a gente adora agadot, histórias e histórias - mas retornando ao nosso tema..."), e finalmente o fechamento.

O fechamento merece um destaque particular. Chama-se Ta Shmá. Ta Shmá é algo como um clássico programa da TV Cultura de São Paulo, quando um menininho se senta no sofá diante da TV enquanto uma voz ao fundo diz: "Senta que lá vem a história!" Neste caso é "Senta que lá vem a conclusão da nossa história!" E na verdade a tal conclusão só faz abrir novas questões, uma vez que traz sete ou oito opiniões rabínicas diferentes!!!

Daí, desculpem-me, a bobagem de alguns neófitos (mais ainda do que eu) - para não falar dos malandros - que se baseiam na opinião "indiscutível" de um rabino que eles provavelmente nunca escutaram falar dois meses antes, para basearem alguma idéia que lhes convém. de um modo bem distante da idishe kop, afirmam "A verdade" - o que faria qualquer Tevye se esparramar no chão de tanto rir, antes de pular no pescoço do sujeito e dizer: "Se liga, meu."

Por definição, nenhuma opinião rabínica é indiscutível - isso simplesmente não é rabínico, e por tabela, não é judaico.

Nem vou entrar no que Maimônides dizia sobre como diferenciar um profeta de um salafrário, o que seria dizer o mesmo de alguns "estudiosos" e "experts" em judaísmo.

Para esta gente eu rezo como o rabino de Tevye: "Bendito sejas, que me mantém longe deles."

Neste momento, mada mais judaico do que parafrasear os gregos: só sei que (quase) nada sei. Esta é a genialidade da sabedoria judaica. Fascinar-se com o novo - e não posar-se de sábio, "moré", "chacham", como se o copy and paste internético fosse atestado de sabedoria - e mais, sabedoria ancestral...

É claro que não sou especialista em sheiltot, as conheci agora!!! E depois de roer um pouco de pedra, estou realizado em ter conseguido distrinchar em parte a primeira delas, de Bereshit.

Enfim, muito ferro, vitamina C e vitamina B para encarar o fim do primeiro ano do meu curso rabínico - e depois encarar minhas "férias", que pelo andar da carruagem, serão trabalhosas e promessa de muitas emoções. Diria que estou para entrar numa montanha russa, mas não num parque de diversões. Se bobear, o que veio antes parecerá carrinho de bate-bate. Acho que juntarei às vitaminas alguns comprimidos de dramin...

Amigos, como sei diz? como é, caro Scholem Aleichem? Não é fácil ser judeu. Mas uma vez que já sou judeu, nasci assim, fui criado assim, amo ser judeu, vou fazer o melhor que posso.

E como ninguém é de ferro, hoje viajo para o norte do país, respirar ar puro e estar ao lado de familiares e amigos. Shabat shalom!