E no dia 1 do mês 1 dos 40 anos, Deus disse a Uri para fazer: (Urim, 1:1)
No vale do Rio Lam, em Ashkenaz, eu me sentei e meditei (Reflexões 4:0)
No Talmud se diz que todos devemos escrever um livro, plantar uma árvore e ter filhos.
Destas, até agora, da primeira, já traduzi vários e escrevi um monte de contos, histórias, interpretações e comentários. Mas ainda não escrevi um livro. Árvores plantei, várias, de todos os tipos. Filhos ainda estão nos planos. Estou em débito comigo mesmo e com Deus. Há coisas, muitas coisas a corrigir. Letaken olam bemalchut Shadai, melhorar o que for possível neste mundão de Deus sem porteira.
Segundo a tradição, cada um deveria ter o seu próprio livro da Torá.
Cada um deveria ter a sua própria Torá.
Cada um deve ter a sua própria história, o seu próprio relato, os seus próprios modos de interpretar os sinais da vida.
Fico imaginando um livro escrito à moda da Torá. Com a vida pessoal de cada um.
Martin Buber fez um pouco disso, ao escrever Eu e Tu. É o livro com estilo, ou melhor, com o espírito mais próximo com o da Torá que eu conheço.
Como seria a minha Torá ou meus livros?
Já pensei em escrever um romance inspirado em fatos reais que presenciei, digamos, entre meus 21 e 39 anos. Buscas, encontros, desencontros, judaísmo, busca por judaísmo, arremedo de judaísmo, falsificação do judaísmo, gente se jogando pela janela ou ameaçando se jogar, gente buscando, gente enganando, gente ensinando, maluquices e situações de todo tipo.
Já pensei em um livro de contos. E num livro para crianças, ou vários livros para crianças.
Se fosse escrever um livro todo baseado no post abaixo, a partir do dia em que conheci uma mulher que tem 14 filhos e se chama Emuná (emuná é crença, uma mulher que acredita - esta é Emuná), poderia escolher o pseudônimo de Shalom Hashafan (algo como Paulo, o Coelho - em hebraico), que iria bem. Pois ali estaria gente que acredita na sua lenda pessoal, estariam danças e cantos ao redor da fogueira em algum lugar perdido e deserto do mundo, ali provavelmente estariam bebidas mágicas e fumaças coloridas.
Se eu fosse Shalom Hashafan, lá estariam os mestres Baal Shem e Nachman e Shlomo (talvez Zalman, talvez), mas não fariam parte dos meus mestres nem Menachem, nem Ovadia, nem Norman. É preferível o êxtase, o otimismo, a música e a poesia do que messianismo, vaidade ou desejo de rezar o Kadish por dois terços dos judeus do mundo (chas veshalom). Não, poderia ser tentado a escrever uma Guerra nas Estrelas com os lados bom e mau da idishekop - mas acredito piamente que não existem lados assim definidos no geral. Os tefilin são um par, cheios de curvas, traços, letras, e se movimentam em todas as direções.
De volta à terra (ló bashamaim hi, diria Tevye citando a Torá, que não está nos céus...)
Ontem tive um dia longo e intenso. Pareceu-me mais longo do que os demais, como se, em comemoração, Deus tivesse concedido ao dia de ontem 40 horas. Assim como imagino que será hoje também, e até sábado.
Ontem recebi alguns presentes: um técnico me mostrou como resolver um probleminha no meu computador que não me permitia usar um programa chamado Chavruta Lalomed, uma maravilha para se estudar Talmud. Um probleminha de configuração, não era nada demais. Quando perguntei quanto devia, me disse: "Tihiê bari", fique com saúde. Às vezes o que parece ser um monstro, é só um probleminha de configuração, de como encarar e enfrentar as coisas. Espero que eu aprenda melhor isso nestes meus próximos 40 anos! Aí poderei fazer mais do que plantar árvores.
Outra boa notícia: o ministério do interior resolveu um probleminha, um erro de configuração deles mesmos, e minha situação voltou a estar regularizada. Já fui toshav olê, toshav chozer, voltei a ser toshav olê. Já imigrei em outubro, depois em março, voltei no tempo e imigrei novamente em outubro, para finalmente os anjos da burocracia israelense definirem que imigrei em março.
E ontem também fui buscar meu novo talit, com tsitsit tendo alguns fios na cor "tchélet", como descrito no terceiro parágrafo do Shemá - um lindo azul celeste. Lemos no Talmud que um dos modos de se saber se já se pode fazer as orações matutinas é quando se consegue discernir o azul do fio de cor tchélet (e não vê-lo como cinza escuro, como se ainda fosse noite). Talit tamanho gigante - agora é possível lehitatef, envolver-me inteiramente com ele. Agora faz sentido. 40 anos é um momento propício para finalmente se envolver completamente em um manto de orações.
E por fim, finalmente comprei meu programa eletrônico Talmud Hamevoar, a versão eletrônica do Talmud Steinsaltz (sim Theo, ele existe!). Como programa em si mesmo, não é nenhuma maravilha - os programas do Bar Ilan são muito mais intuitivos e completos - mas só de ter as páginas do Steinsaltz no meu computador, vale o preço salgadíssimo. Outro presente de aniversário que irá me ajudar muito nos estudos, em Israel, e quando estiver no Brasil precisando preparar trabalhos (sem precisar levar 30 kg de livros para onde estiver) e acredito, mais tarde para dar aulas, ensinar Talmud.
Afinal, são quarenta anos de alguém que combina nos genes um pouco da paisagem de um campo de rosas ao lado de uma plantação de grãos adocicados, de alfaiate, um verdadeiro shteitl no Vale do Rio Lam, onde fico a ensinar e a aprender. Mais ou menos como ser rebe em um ishuv em Visconde de Mauá ou Mirantão.
Caramba, que viagem... bom, chag Matan Torá sameach, chag habicurim sameach, chag hashavuot sameach, iom huledet sameach! Só simches.