Sheiltot, Shabat, Shuvá, Sheelot, Shekalim, Shicorim ve-Meshacrim, Scholem Aleichem, Shhhh... Sheket!
Nos últimos dias dei sinais de cansaço. A montanha de trabalhos a fazer parecia aumentar na medida em que eu subia mais. Quase A Stairway to Heaven, uma escada para os céus... Juntem-se a isto mudanças de planos por motivos alheios à minha vontade (nada radical, embora nestes momentos qualquer espirro pareça causar um tsunami), acomodações, expectativas... e os trabalhos do Hebrew Union College na minha frente.
Ler, ler e ler. grifar, grifar e grifar. traduzir, traduzir. entender, memorizar. Reler, reler, reler. E contas. Presentes e futuras. e expectativas, presentes e futuras. 40 de Maio, Julho, setembro e, se Deus quiser, outubro já está aí.
Então no auge deste movimento maluco, não me dei conta de que talvez minha alimentação não estava me dando as vitaminas e o ânimo necessários para dar conta de tudo isso. Aí veio a recomendação médica: ferro com ácido fólico (bebido com suco de limão de preferência), complexo de vitamina B, dormir sem TV ligada.
E aí fica a sensação de como somos capazes de voltar ao normal rapidamente com algumas recomendações básicas! Estou ótimo! O que fiz?
Sheilta
Mergulhei de cabeça no texto do século 8 ou 9, se não me engano, de Rabi Achai de Shabcha, o primeiro livro que teria saído após o fechamento do período talmúdico: Sefer Hasheiltot, uma construção interessante baseada nas porções semanais da Torá, misturando Halachá, Agadá, hebraico e aramaico, uma torrente de fontes e citações. Classicamente tem uma introdução (que às vezes pode ser maior que todo o resto), depois a pergunta propriamente dita, uma drashá (que pode ter de uma linha a ou muitas, muitas páginas...), uma volta à pergunta (do tipo "eu sei, demos uma viajada, afinal é legal, a gente adora agadot, histórias e histórias - mas retornando ao nosso tema..."), e finalmente o fechamento.
O fechamento merece um destaque particular. Chama-se Ta Shmá. Ta Shmá é algo como um clássico programa da TV Cultura de São Paulo, quando um menininho se senta no sofá diante da TV enquanto uma voz ao fundo diz: "Senta que lá vem a história!" Neste caso é "Senta que lá vem a conclusão da nossa história!" E na verdade a tal conclusão só faz abrir novas questões, uma vez que traz sete ou oito opiniões rabínicas diferentes!!!
Daí, desculpem-me, a bobagem de alguns neófitos (mais ainda do que eu) - para não falar dos malandros - que se baseiam na opinião "indiscutível" de um rabino que eles provavelmente nunca escutaram falar dois meses antes, para basearem alguma idéia que lhes convém. de um modo bem distante da idishe kop, afirmam "A verdade" - o que faria qualquer Tevye se esparramar no chão de tanto rir, antes de pular no pescoço do sujeito e dizer: "Se liga, meu."
Por definição, nenhuma opinião rabínica é indiscutível - isso simplesmente não é rabínico, e por tabela, não é judaico.
Nem vou entrar no que Maimônides dizia sobre como diferenciar um profeta de um salafrário, o que seria dizer o mesmo de alguns "estudiosos" e "experts" em judaísmo.
Para esta gente eu rezo como o rabino de Tevye: "Bendito sejas, que me mantém longe deles."
Neste momento, mada mais judaico do que parafrasear os gregos: só sei que (quase) nada sei. Esta é a genialidade da sabedoria judaica. Fascinar-se com o novo - e não posar-se de sábio, "moré", "chacham", como se o copy and paste internético fosse atestado de sabedoria - e mais, sabedoria ancestral...
É claro que não sou especialista em sheiltot, as conheci agora!!! E depois de roer um pouco de pedra, estou realizado em ter conseguido distrinchar em parte a primeira delas, de Bereshit.
Enfim, muito ferro, vitamina C e vitamina B para encarar o fim do primeiro ano do meu curso rabínico - e depois encarar minhas "férias", que pelo andar da carruagem, serão trabalhosas e promessa de muitas emoções. Diria que estou para entrar numa montanha russa, mas não num parque de diversões. Se bobear, o que veio antes parecerá carrinho de bate-bate. Acho que juntarei às vitaminas alguns comprimidos de dramin...
Amigos, como sei diz? como é, caro Scholem Aleichem? Não é fácil ser judeu. Mas uma vez que já sou judeu, nasci assim, fui criado assim, amo ser judeu, vou fazer o melhor que posso.
E como ninguém é de ferro, hoje viajo para o norte do país, respirar ar puro e estar ao lado de familiares e amigos. Shabat shalom!
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