Uma rabina ortodoxa, por outro nome
24/05/2009
Anthony Weiss
fonte: The Forward
Tradução: Uri Lam
(o texto é longo mas vale à pena)
Os planos para uma nova escola de formação de mulheres ortodoxas como líderes religiosas estão empurrando o tema do papel das mulheres no Judaísmo Ortodoxo para uma fronteira nova e não experimentada.
Avi Weiss, principal defensor de uma ortodoxia mais liberal, e Sara Hurwitz, uma protegida de Weiss, estão realizando entrevistas e avaliações para a Yeshivat Maharat, um programa de quatro anos que está para abrir no próximo outono em Israel (outubro), cujo objetivo é preparar mulheres como “membros plenos do rabinato”, de acordo com um anúncio de e-mail. Mas por enquanto elas não serão chamadas de rabinas. “Nós estamos preparando as mulheres para serem rabinas”, Hurwitz contou ao Forward (centenário jornal da comunidade judaica americana). “Como elas serão chamadas é algo em que estamos trabalhando.”
O movimento surge para colocar Weiss e Hurwitz no precipício do que é possível sob a lei ortodoxa tradicional sem de fato saltar para fora desta. Ao atacar este equilíbrio, eles estão arriscando a possibilidade de afastar aqueles à esquerda (do movimento ortodoxo) que desejam um papel rabínico igual para mulheres, e aqueles à direita cujo argumento é que a liderança espiritual é incompatível com o lugar de mulheres na sociedade ortodoxa. “Minha melhor suposição é que estamos vendo a conseqüente evidência de uma divisão a caminho na ortodoxia entre esquerda e direita”, afirmou Jonathan Sarna, professor de história judaica americana na Brandeis University. Porém ele destacou que “o rabino Weiss não só é capaz de abrir o envelope, mas de fazê-lo de modo muito bem-sucedido”.
Embora os movimentos Reformista, Reconstrucionista e Conservador já venham ordenado mulheres como rabinas há décadas e há muito tempo homens e mulheres já têm os mesmos direitos em assuntos religiosos, o mundo ortodoxo continua mantendo limites nas funções comunitárias que as mulheres podem executar. De acordo com a Halachá, a lei judaica tradicional, uma mulher não pode assinar um certificado de matrimônio ou de divórcio, não pode presidir um processo de conversão nem ser contada como parte de um minián (quorum mínimo para um serviço religioso público). De fato, os rabinos ortodoxos destacam que não é somente o título de “rabina” que é tão controverso, mas também os papéis que atualmente as mulheres podem ou não exercer na comunidade.
Diversos defensores dos direitos das mulheres ortodoxas têm se esforçado continuamente há várias décadas para ampliar a formação educacional e o papel das mulheres na ortodoxia. Uma tendência principal nos últimos anos tem sido uma maior ênfase na educação judaica para mulheres ortodoxas em programas como o do Instituto Drisha para Educação Judaica, que oferece programas intensivos em estudos de Talmud para mulheres. As mulheres também têm assumido papéis de instrutoras de maior relevância nas escolas judaicas do tipo day-school e algumas têm assumido papéis espirituais formais dentro das sinagogas.
Embora existam apenas alguns poucos exemplos conhecidos, algumas mulheres inclusive já foram ordenadas rabinas ortodoxas de modo particular. Na verdade o novo programa já provocou a crítica de que tornará o papel da mulher no judaísmo um tema mais conturbado. “Eu não vejo como isso pode promover o crescimento no aprendizado das mulheres”, disse o rabino Yossef Blau, conselheiro espiritual do seminário rabínico da Yeshiva University (Nova York, EUA, de orientação ortodoxa moderna). “Isto torna mais controverso e mais difícil para as mulheres que estão prontas e comprometidas com o aprendizado.” Ele acrescentou: “Já há programas de estudos avançados para mulheres. Se alguma mulher demonstrasse interesse ou se os shuls (sinagogas) demonstrassem interesse em algo assim, eles estariam fazendo isso.”
Mas Weiss tem experiência em empurrar de maneira bem-sucedida os limites do liberalismo ortodoxo ao mesmo tempo em que ainda permanece sendo um respeitado, ainda que controverso, membro do mundo ortodoxo. A sua recém-estabelecida Yeshivat Chovevei Torá tem se tornado um importante campo de formação de rabinos ortodoxos progressistas e ativistas sociais que, apesar da resistência de diversos líderes proeminentes, têm encontrado trabalho e funções em populares instituições ortodoxas.
Weiss contou à Forward que ao contrário das instituições existentes, a nova Yeshivá para mulheres irá focar no desenvolvimento de habilidades religiosas práticas, incluindo o estudo textual em temas comunitários comuns, psicologia e prática religiosa, além de estágios em escolas e sinagogas. O programa será modelado após o curso de cinco anos de estudos que Hurwitz completou recentemente sob a tutela de Weiss, após o qual conferiu a ela o recém-inventado título de “Maharat”
(obs: Maharat é um acrônimo para Manhigá Hilchatit Ruchanit Toranit, algo como Líder Haláchica Espiritual em Torá - não seria mais simples assumir de vez, rabina? - Uri).
Weiss enfatizou que seriam observadas as limitações haláchicas em relação às mulheres, e assim algumas funções ainda precisariam ser executadas por homens. Mas isso não significa que as mulheres estariam cumprindo nada menos do que um papel de liderança, segundo ele. “O modelo Ortodoxo não é o Conservador nem o Reformista, onde em geral os papéis de homens e mulheres em liderança são idênticos”, Weiss afirmou à Forward. “Na ortodoxia os papéis se sobrepõem significativamente, mas há distinções muito claras.”
Blu Greenberg, uma proeminente ortodoxa feminista, elogiou a iniciativa da Yeshivá como uma extensão “revolucionária e de desobstrução” de esforços existentes há muito tempo para que se avance no papel das mulheres na sociedade ortodoxa. Ela afirmou que o título de “rabina” poderia ter sido preferível, mas acrescentou: “Não há nada como fatos concretos. A força de um ou de dez modelos vale mais do que mil discussões ou argumentos sobre o tema.”
A escola já recebeu “cerca de dez” contatos, de acordo com Weiss, e deve abrir provavelmente com um pequeno punhado de estudantes neste outono (outubro) no Hebrew Institute of Riverdale, a sinagoga de Weiss situada no bairro do Bronx. Mas ainda não está muito claro para o que as mulheres estarão sendo formadas. Weiss afirmou que as diplomadas poderão servir como líderes nas escolas e em campi universitários. Mas as mulheres já mantêm papéis de liderança tanto nas day schools ortodoxas quanto no Instituto Hillel (centros judaicos em campi universitários) ao redor dos Estados Unidos.
Enquanto isso, o número de congregações ortodoxas preparadas para aceitar uma mulher como membro do rabinato, do modo que o Hebrew Institute of Riverdale aceitou Hurwitz, parece, no momento, ser extremamente limitado. Esta realidade prática poderá não apenas limitar em quê as diplomadas podem atuar, como também quem antes de tudo deve se matricular na escola.
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