segunda-feira, 29 de junho de 2009

última semana de aulas - fim do 1º ano

Nos próximos dias fecharei o primeiro dos meus anos de estudos rabínicos em Israel. Um ano de muito, mas muito estudo, adaptações, reflexões pessoais. Um ano em que algumas novas poucas e boas amizades começaram a ser construídas por aqui, em geral em momentos em que eu não as procurava. Não é hora ainda de reflexões sobre resultados, mas apenas da sensação de que estou saindo agora para o primeiro dos últimos dias de aula do 1º ano. Talvez algo semelhante ao menino que termina seu primeiro ano no ensino básico e se dá conta, feliz, que aprendeu a ler e a escrever.

Bom, lá vou eu. abraços e boa semana.

domingo, 28 de junho de 2009

A oportunidade de se reinventar

Em consonância com o último comentário do rabino conservador Michel Schlesinger, da CIP, para o semanário Congregar (no post abaixo), o Jerusalem Post publicou uma interessante entrevista com a rabina conservadora Joanna Samuels. Professora, escritora e mãe de dois filhos, Joanna Samuels foi ordenada pelo JTS, seminário rabínico conservador nos EUA. Compartilho com vocês parte da entrevista concedida a Shmuel Rosner, do Jerusalem Post, quando do lançamento do livro da rabina Samuels, “Judaísmo Conservador: A Próxima Geração” (em inglês). A entrevista completa em inglês pode ser lida no link http://cgis.jpost.com/Blogs/rosner/entry/rabbi_joanna_samuels_on_the
boa leitura e boa reflexão.
e boa semana!
Uri

(...) 6. Eis uma pergunta provocativa: você está tentando salvar o Judaísmo Conservador porque vale à pena salvá-lo ou só porque velhos hábitos, e velhas organizações são duras na queda? Não é hora de simplesmente deixar prá lá, admitir a derrota e deixar nas mãos dos movimentos Reformista e Ortodoxo Moderno?
Eu estou investida dos valores do Movimento Conservador: compromisso sério com a vida judaica, igualitarismo e inclusividade, e uma convicção de que os indivíduos devem ser judaicamente desafiados. Se o Jewish Theological Seminary (JTS), a United Synagogue (organização das sinagogas conservadoras nos EUA) ou sinagogas individuais tiverem que ser reinventadas para reviver estes valores de modo mais claro e efetivo, isso não é mau. Todas as instituições bem-sucedidas se reinventam de acordo com a época em que vivem.


Sim, o Movimento Conservador tem problemas, mas também os outros movimentos têm problemas. Por que nós damos para a Ortodoxia Moderna um passe livre em sua falta de compromisso com a inclusão das mulheres? Certo, há três ou quatro sinagogas ortodoxas com líderes espirituais mulheres, mas isto representa uma fração mais do que minúscula de sinagogas. Na maioria das sinagogas ortodoxas as mulheres não podem nem mesmo tocar o Sefer Torá!

O Movimento Reformista também tem sido lento em enfatizar ritual e tefilá mais significativos. Eu penso que as instituições ortodoxas modernas e reformistas foram mais sábias e mais inteligentes em se reinventar, e agora está claro para todo mundo que o Movimento Conservador deve empreender algumas mudanças sérias no modo como se comunica com o público.

Uma das coisas, por exemplo, que nós vemos na estagnação do Movimento Conservador é que as instituições estiveram preocupadas com a inclusividade às custas de uma ideologia coerente. Como você pode ordenar rabinas e ainda pode patrocinar a existência de sinagogas conservadoras onde as mulheres não contam em um minián? Têm havido uma ênfase muito grande em ficar no caminho do meio, em contratar líderes que são sejam “polêmicos”, e em articular uma plataforma que está por todo lado.

Eu não sou nenhuma bandeira defensora dos movimentos. Mas eu sou realista, eu sei que o mundo judaico precisa de instituições que façam casamentos, ensinem, inspirem, e desafiem o povo judeu. Eu sinto fortemente que pelo menos algumas dessas instituições deveriam fazer isso inspiradas por uma ideologia de devoção séria à tradição, ao igualitarismo, à inclusividade e à integridade intelectual e acadêmica.

Se as instituições do Judaísmo Conservador deixassem de existir, confie em mim, nós seríamos movidos a reinventá-las. Portanto, por que não fazer isso com aquilo que temos?

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Parashá da Semana - Córach
Publico um comentário bastante apropriado, sensível e inspirado do rabino Michel Schlesinger para o Congregar da CIP - sobre os riscos e as oportunidades da mudança. Me caiu como uma luva, e tenho muito a aprender.
Como diria Mestre Gilberto Gil: O Eterno Deus Mu-Dança.
Abraços,
Uri

Corach
[27 de Junho de 2009/ 5 de Tamuz de 5769]

Pessoas são resistentes a mudanças. Nós preferimos o conhecido ao desconhecido. Queremos que tudo permaneça da maneira como está porque alterações trazem incertezas. O status quo é familiar enquanto que o novo é estranho.

No entanto, perceberemos que essas afirmações não são absolutas. Quando a mudança é para melhor, todos estão dispostos a enfrentar o desconhecido. Ninguém recusaria um bilhete de loteria premiado porque teme as consequências de se tornar milionário. Da mesma maneira, um indivíduo que convive com uma enfermidade há muito anos não recusará um novo medicamento que lhe poderia garantir mais qualidade de vida.

Desta maneira, concluímos que o problema não está nas mudanças, mas nas perdas que algumas mudanças podem trazer.

A haftará, leitura do livro dos profetas, desta semana, trata de uma mudança significativa na forma de liderança dos israelitas. Depois de viver muitos anos sob o governo de shoftim, juízes, o povo pede um rei.

A mudança representava o abandono de uma teocracia e a adoção de um sistema monárquico. Os israelitas queriam ser governados por um rei de carne e osso como acontecia com as outras nações. Mesmo conhecendo as desvantagens de um governo monárquico, o povo preferia assumir as conseqüências da mudança a permanecer da maneira como haviam se acostumado a viver.

O governo dos juízes representava uma conexão mais imediata com Deus uma vez que o juiz desempenhava também o papel de profeta. No entanto, a proximidade do shofet com Deus parecia afastá-lo das necessidades mundanas dos israelitas. Assim, o povo preferiu ter um governante um pouco mais distante de Deus e muito mais próximo das necessidades imediatas do povo.

Por muitos anos, o modelo que se seguiu foi a monarquia que teve como representantes reis do porte de David e Salomão que conduziram o povo com sucesso e deixaram importantes legados para as futuras gerações. Anos depois, a monarquia entrou em crise e novas formas de governo foram encontradas.

Em nossas vidas pessoais, também optamos por significativas mudanças. Seja a conquista de um novo emprego, um casamento, o ingresso na universidade ou a geração de filhos. Em qualquer uma dessas circunstancias, uma situação conhecida é abandonada e substituída pela novidade.

Toda mudança envolve ansiedade e medo. No entanto, quando acreditamos que o novo nos trará boas perspectivas devemos estar dispostos a enfrentar o desconhecido.

Algumas mudanças dão errado, outras funcionam por um tempo limitado e existem mudanças que são definitivamente boas. No entanto, somente descobre aquele que arrisca.

Nós merecemos tentar. Sempre que vislumbrarmos a possibilidade de um caminho melhor, que tenhamos coragem de abandonar o calor do conhecido e assumir o risco de uma vida ainda mais feliz.

Shabat Shalom!

Rabino Michel Schlesinger
teste de resistência - Jerusalém ferve
Os têrmômetros apontam 32 graus, minha sensação é de 38, 40 graus. O pequeno ventilador transforma-se em uma dádiva divina. deveria haver uma oração agradecendo pelo ventilador - bom, mas há orações que agradecem pelos ventos, seja de onde venham, até do meu pequeno ventilador.

Há poucos minutos houve uma pane elétrica no meu bairro. Nada de ventilador, nada de vento. Um bafo quente tomou conta da minha sala e tornou o local quase irrespirável. Como se estivesse sendo testada a minha resistência dentro de um forno.

Chamamos a companhia elétrica - nada, ninguém atende.

Ok, sentei-me com minha nova aquisição, Sefer Haagadá, de Bialik. Não sei se há todos, mas há muitos, muitos midrashei agadá, histórias retiradas do Talmud. Uma delícia! pelo menos a alma ficou por uns minutos mais refrescada.

Então a luz voltou. nunca valorizei tanto o Vaiehi Or:-)

E em 15 dias certamente estarei reclamando do frio em São Paulo. Ou melhor, agradecendo a Deus por não ter criado só a luz e a escuridão, mas o calor... e o frio.

E de volta aos trabalhos... preciso fazer uma dissertação de 10 páginas sobre como Deus nos testa. O sentido de testar no Tanach, quando Deus testa e quando é testado, como testou Abrahão quando este recebeu a ordem não muito confortável de ter que sacrificar o próprio filho, e de como, numa "aposta" com Satã, Jó foi testado em sua fé. para 10 páginas, 100 vezes mais páginas de leituras clássicas, críticas, acadêmicas. Bom, vamos lá!

sábado, 20 de junho de 2009

O que a CIP tem em comum com a Congregação Bayt Shalom?
A Bayt Shalom fica em Greenville, Carolina do Norte, EUA.
A CIP fica em São Paulo, SP, Brasil.

A Bayt Shalom está em uma cidade não exatamente central nem muito grande.
A CIP está em uma megolópole, e crescendo.

A Bayt Shalom tem 60 famílias associadas.
A CIP tem 1200, ou seja, 20 vezes mais.

A Bayt Shalom acaba de receber a primeira rabina negra, Alysa Stanton, 45 anos.
A CIP tem três rabinos, e nem sonha ainda em ter uma rabina.

A Bayt Shalom é uma congregação totalmente igualitária, onde homens e mulheres participam com mesmos direitos de todos os serviços religiosos, contam igualmente no minian, lêem na Torá e assim por diante.
A CIP teve alguns avanços nos últimos anos nesta direção, como a abertura de um espaço central na sinagoga para homens e mulheres se sentarem juntos; o Shabat Neshamá, o nosso pequeno espaço completamente igualitário; e talvez esteja próximo o dia em que teremos o nosso primeiro Bat Mitsvá em que uma menina lerá na Torá. Mas estamos muito, muito longe das práticas já comuns e bem estabelecidas há 30, 40 anos em comunidades conservadoras e reformistas no mundo inteiro, e não se pode ainda dizer que somos realmente uma congregação igualitária.

Afinal, o que elas têm em comum?
Ambas, a Bayt Shalom (EUA) e a CIP (Brasil), são filiadas ao movimento conservador e ao movimento reformista. E nisto as duas dão um show de convivência e de unidade dentro do povo judeu. CIP e Bayt Shalom, apesar de tão diferentes, são provas de que é possível construir uma vida judaica respeitando-se as diferenças.

No mês passado foi o rabino Juan Mejia, de origem marrana, criptojudaica, anussi, que um dia converteu-se ao judaísmo formalmente e se tornou rabino conservador pelo JTS, escola rabínica do movimento conservador.

Neste mês foi a vez da rabina Alysa Stanton, mulher negra de origem cristã protestante, que converteu-se ao judaísmo há 20 anos e tornou-se agora rabina reformista pelo HUC, a escola rabínica do movimento reformista.

O mundo não está mudando. O mundo mudou.
O judaísmo não está mudando. O que não varia no judaísmo é seu estado contínuo de mudança.
Shavua tov

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Parashá desta Semana: Shelach Lechá
Rabino Ruben Sternschein - CIP
[20 de Junho de 2009/ 28 de Sivan de 5769]
Duas religiosidades opostas na mesma Torá
A afirmação de que a religiosidade tira a liberdade do homem pode ser achada ao mesmo tempo no pensamento
critico ateu e na prática fundamentalista religiosa. O filósofo Immanuel Kant, em seu livro “A Religião nos Limites da Simples Razão”, poderia ser o porta-voz do primeiro. Ali, ele acusa a religiosidade de tirar a responsabilidade ética do homem ao motivar o argumento de que, se existe um Deus Todo Poderoso e Justo, tudo acontece segundo Sua vontade e, portanto, tudo que é feito, pelo bem ou pelo mal, concorda com a Vontade Divina. Se Deus tivesse preferido outra coisa, certamente outra coisa teria acontecido. Portanto, nunca, em nenhuma circunstância, teremos culpa ou responsabilidade por nada, se formos religiosos. Também não temos liberdade, porque tudo depende unicamente da Vontade Divina. Essa é a acusação profunda de Kant.


No outro lado desta mesma afirmação está a prática religiosa fundamentalista de qualquer religião, seja judaica, muçulmana ou cristã, segundo a qual as regras são claras e diretas: existem autoridades religiosas que sabem exatamente o que Deus quer em cada situação e, portanto, as pessoas não precisam pensar, mas apenas agir segundo essas regras. No fundamentalismo, o rabino, o imam ou o padre é quem conhece exatamente a vontade divina e, portanto, determina o que tem que ser feito em cada circunstância. A pessoa apenas precisa perguntar e cumprir.

Na parashá da semana, encontramos uma das mais antigas e fortes expressões judaicas que se opõem a esta idéia. Os judeus estão para entrar na terra de Canaã e enviam 12 mensageiros para espiá-la. 10 deles voltam e contam que a terra é dura, que os povos que a habitam são fortes e que será muito difícil e arriscado entrar nela e viver lá. Dois deles dizem - como Herzl o faria séculos mais tarde - que “se a quisermos o suficiente, a conseguiremos”. Grande parte do povo se queixa e pede para voltar ao Egito. Sim, voltar à escravidão.

A tradição interpretativa vê aqui duas escolas religiosas. A primeira é a fundamentalista: tudo depende de forças alheias à nossa vontade. Portanto, tem o que Erich Fromm chamou de Medo à Liberdade. A pessoa não quer ter que escolher, teme e treme diante da idéia de realizar algo por si mesmo, de pensar por si mesmo, porque, desse modo, estaria sempre perante um abismo que sempre seria resolvido por essas forças. No deserto, em Israel, haveria demasiada liberdade, demasiada responsabilidade e, portanto, demasiado perigo. A outra escola religiosa diria exatamente o contrário: estamos na terra para escolher, para fazer a diferença por nós mesmos, mesmo na situação limitada da escravidão e mais ainda no deserto e em Israel.

As regras são desafios que devem ser estudados e reinterpretados em cada situação, sem certezas absolutas. O grande motor da vida em geral, e da religiosa em particular, é não saber e tentar descobrir.

O rabino existe para orientar essa procura, para ajudar a pensar, a ler, a interpretar e a resolver o que fazer em cada situação, mesmo sem saber com certeza absoluta. O rabino ajuda a aceitar a coragem da humildade de quem apenas procura, mas é livre e, portanto responsável. Levinas explicou que no monte Sinai, quando recebemos a Torá, recebemos a imposição da liberdade. A partir desse momento, ficamos para sempre livres e responsáveis. Sempre escolheremos como ler, como interpretar e como agir, mesmo sem certezas absolutas.

A Torá é a forma do judaísmo de expressar a liberdade existencial e a responsabilidade individual a cada instante. Por isso, o judaísmo espera que todos a estudem e a re-interpretem, e não apenas consultem o rabino. Pelo contrário, que o desafiem com grandes perguntas e melhores respostas.

Esse é o enfoque do judaísmo liberal e, por isso, nesta nova etapa da CIP, multiplicamos o estudo e o debate profundo. Contamos com todos porque precisamos de todos o insights para exercer melhor nossa apaixonante liberdade humana.

Shabat shalom!

quinta-feira, 18 de junho de 2009

O Reconhecimento de rabinos não-ortodoxos pelo Estado de Israel - em que pontos estamos

fonte (em inglês): Israel Religious Action Center / Mercaz Lepluralism
tradução: Uri Lam

Exigência de Fundos Governamentais Iguais para Rabinos Liberais
O Caso da rabina Miri Gold
IRAC contra Ministério dos Serviços Religiosos
Jerusalém, Israel

Abertura do processo: Setembro de 2005
Decisão: Pendente
Temas: Direitos das Mulheres, Direitos do Movimento Reformista, Alocação de Verbas do Governo

Fatos do Caso: A Rabina Miri Gold tem atuado como Rabina da congregação Birkat Shalom no Kibutz Gezer desde que foi ordenada como Rabina Reformista pelo Hebrew Union College em 1999. Outros 16 rabinos locais (Israel) atuam na área do conselho regional de Gezer e recebem um salário do Estado. A Rabina Miri Gold, que atende toda a região e é mantida pela Municipalidade de Gezer, não é reconhecida pelo Estado porque é uma Rabina Reformista.

O Tema: Embora o governo mantenha financeiramente as instituições judaicas em Israel, este não reconhece todas as linhas do judaísmo. Como resultado disso, somente o judaísmo ortodoxo recebe verbas governamentais para seus edifícios, rabinos, e programas educacionais. Isto leva a um tratamento desigual em relação ao judaísmo não-ortodoxo.

Situação Atual do Caso: Após dois anos de deferimento por parte da Suprema Corte, o Estado finalmente reconheceu a necessidade de prover recursos para os serviços não-ortodoxos, embora estes ainda não tenham sido alocados e nem mesmo foi determinado de onde virão os fundos para este orçamento. A audiência de 17 de junho de 2009 resultou em uma extensão de mais quatro meses durante as quais devem ocorrer intensas negociações entre os advogados da IRAC (Israel Religious Action Center) e do Estado.
Conversões anuladas em Israel - uma vergonha
O rabino chefe Yona Metzger afirmou que apoia o rabino Avraham Sherman em sua decisão de anular milhares, milhares!, de conversões realizadas pelo rabino Chaim Druckman em Israel. A declaração ocorreu durante uma conferência realizada na última 3a feira em Jerusalém com o intuito de "fortalecer os muros em redor da conversão".

Ao elogiar o rabino Sherman, Metzger afirmou: "A sua ação contra conversões não genuínas é a coisa certa, no momento certo e na geração certa."

Na outra ponta da cord a, grupos seculares defendem o rompimento com qualquer grupo ortodoxo no que tange a conversões e que se passe a realizar conversões e cerimônias judaicas laicas em Israel e na diáspora. Centenas, talvez milhares delas já ocorrem todos os anos por aqui. Além do pessoal que vai para Chipre casar-se no civil (e assim são reconhecidos como casados em Israel) e depois fazem seus casamentos religiosos com rabinos conservadores, reformistas ou mesmo com algum amigo da família, deixando o rabinato a ver navios.


Interessante checar um dado que recebi nos últimos dias, porém desconheço a fonte exata: embora a população judaica tenha crescido 15% nos últimos 10 anos em Israel, o número de casamentos pelo rabinato não só deixou de crescer, mas diminuiu em números absolutos.

Segundo Yair Rotkovich, educador secular em Israel, "precisamos cumprir a obrigação e o direito de estabelecer casa seculares de conversão ao judaísmo. devem ser não-institucionais, lideradas por homens e mulheres; e incluir convertidos à nação judaica de acordo com critérios judaicos seculares. os convertidos devem se comprometer e cooperar com o destino da nação e do Estado Judeu, a dar a sua parcela de contribuição social e servir no exército e no serviço civil. Devem se comprometer a passar as tradições da nação e do Estado Judeu. Devem ser parte e parcela do destino do povo judeu ao redor do mundo."

Enquanto isso, no meio do caminho, nesta quinta feira deve haver alguma decisão judicial sobre a aprovação ou não de recursos para atividades realizadas por rabinos conservadores e reformistas em Israel. No centro da discussão a rabina Miri Gold, que defende o direito de ser reconhecida formalmente como a rabina responsável pela região de Gezer, que inclui o Kibutz Gezer, da qual é membro efetivo, e rabina da sinagoga Bircat Shalom, nas dependências do kibutz. Miri é uma referência religiosa judaica para a região, que inclui moshavim e outros bairros, e não recebe qualquer apoio estatal simplesmente porque é reformista.

Os senhores rabinos sabem melhor do que eu que não se cancela um processo de conversão, muito menos milhares deles, simplesmente porque não concordam ideologicamente com o colega, de orientação religiosa sionista. Sabem também do constrangimento que fazem passar pessoas laicas que se vestem como ortodoxos no momento do bet din para serem aprovados, e depois retornam "à programação normal".

Há mais de um modo de ser judeu e de se tornar judeu. Milhares de conversões vêm sendo realizadas dentro e fora de Israel, totalmente independentes das amarras do rabinato central, cada vez mais radical e cada vez mais desconectado da realidade do país e do povo judeu como um todo.

Como diria Boris Casoy, é uma vergonha. Há uma esquizofrenia coletiva no ar, em que decisões desconectadas da realidade e da história judaica acontecem de modo escandaloso, e é como se não estivessem acontecendo. Moshé Rabeinu, Hilel e Maimônides e outros devem estar se revirando nos céus. Definitivamente, colocar muros ao redor dos processos de conversão não é "Torá leMoshé miSinai".

Que possamos, como povo judeu, viver em paz, e deixemos os moços brincarem de poder. Judaísmo é outra coisa. o rabino quer construir muros ao redor da conversão? irá descobrir que construirá um muro ao redor de si mesmo, e ficará ali entrincheirado.

Sou judeu, independente deles. E vivo fora dos muros deste gueto.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

O desejo de pertencer

dos Abayudayas ao Zeide
dos Anussim a Ashkenazim
de Rav Avrumale a Rav Zalman
um dia será bom e agradável,
estarmos todos juntos.
Um dia que está mais próximo, mas ainda é só um dia.
Hine ma tov...



(judeus ugandenses cantam "Lechá Dodi", uma das mais conhecidas e belas canções de Shabat)

voz em off:
Eu fico sempre impressionada que em cada canto do mundo há judeus.
Costuma-se dizer que se há 12 milhões de judeus,
há 13 milhões de judaísmos
e nos últimos tempos, eu reconheci que isso é verdade.

Há judeus sefaradis, judeus ashkenazis,
reformistas, conservadores,
ortodoxos, ortodoxos-modernos,
reconstrucionistas, renewal,
judeus conservadores observantes igualitários, eco judeus
Satmer, Lubavitch, e tantos outros...

Há judeus como meus avós,
que perderam ao total 18 irmãos e irmãs,
juntos com seus pais,
nos campos de extermínio.

Tem meus pais, que nunca viram um judeu passando necessidade.
Minha mãe mandou três filhas para uma escola judaica.
E enquanto eu crescia, sempre assumi
que todos estes judaísmos se encontravam de algum modo,
coexistiam bem,
ou pelo menos aparentavam coexistir...

Então um dia escutei falar de um grupo de ugandenses
chamados Abayudayas
e tudo o que eu sempre pensei
sobre "Quem é judeu" e
"O que faz de alguém judeu"
permaneceu como uma questão em aberto.

Lechá dodi, licrat calá, penei Shabat, necabelá...

terça-feira, 16 de junho de 2009

domingo, 14 de junho de 2009

Ahmadinejad, o cara de pau

Em manchete no jornal Haaretz (em hebraico), o recém-reeleito presidente iraniano, em eleições que transpiram fraudes por todos os lados, diz que "O tema nuclear é coisa do passado".
alguns interpretam isso como sendo que o assunto não é mais tema de discussão e que ele continuará com a política de desenvolvimento de armas atômicas - dado o discurso ameaçador a qualquer país que venha atacá-lo: "Quem atacar o Irã irá se arrepender."

comentários no jornal israelense chegam a dizer que foi preferível a vitória dele à do candidato pró-reformas - pelo menos o inimigo não fica mascarado por uma falsa imagem de moderação.

E la nave va.
Show de Elisete no Biblical Land Museum - muito bom!
A cantora Elisete, radicada há 18 anos em Israel, deu um showzaço ontem em Jerusalém. Esbanjou sensualidade, dançou, cantou e apresentou canções próprias, fruto de um mix de saudades do Brasil com ser abraçada por Israel. Banda afinada - sendo ela a única brasileira, prá mim foi uma surpresa.

Elisete cantou alguns sucessos brasileiros de todos os tempos (todos os tempos mesmo), como Marinheiro Só, Carolina e Trem das Onze. Também cantou uma canção linda de Marisa Monte, mas o forte foram suas composições.

Elisete mostrou que é possível fazer samba em hebraico. o samba Ahavá é pura MPBH (Música Popular Brasileira em Hebraico - que tal? diria o Theo, de onde saiu isso Uri...), mas como ela diz, mistura alegria e dor, tão brasileiro.

Foi um presente de aniversário ao Moshe, o americano mais brasileiro que já conheci.

Vai um trecho de Carolina. Se ela soubesse que meu pai já cantava isso em Israel nos anos 50...:-)))
shavua tov

sábado, 13 de junho de 2009

Manifestação por uma Jerusalém de todos
Mesmo depois que o prefeito de Jerusalém Nir Barkat tenha se dobrado (manchete do Haaretz: Prefeito se dobra aos charedim"), a manifestação por uma Jerusalém pluralista, que atenda às necessidades de todos os seus habitantes, ocorreu hoje durante toda a tarde.
Tudo começou quando o prefeito decidiu abrir gratuitamente o estacionamento da prefeitura aos milhares de visitantes da cidade, e aos habitantes laicos que saem para passear no Shabat e não têm onde estacionar seus carros. Por conta de manifestações violentas na semana passada realizadas por grupos ultra-ortodoxos, o prefeito voltou atrás, por pelo menos duas semanas, e decidiu manter o estacionamento fechado para "esfriar os ânimos".

Apesar disso, imagino que cerca de 1.000 a 2.000 pessoas estiveram presentes à Kikar Safra para manifestarem seus direitos, e exigirem que o prefeito dirija a cidade a todos os seus habitantes, não apenas ao grupos charedim.

Parece que por volta do meio dia houve algum enfrentamento entre ortodoxos e laicos, mas quando cheguei, às 16:00, não havia charedim na praça, apenas grupos em sua maioria de estudantes, famílias e crianças, dançando, manifestando-se com bandeiras e cartazes.

Havia um grupo bem organizado do bairro de Kiriat Yovel, onde as famílias dizem sofrer há 3 anos as restrições a andar de carro no Shabat, por conta das famílias de charedim que vivem nos arredores. Ao contrário de algumas posições, que dizem "eu vivo num bairro com restrições e os chilonim (laicos, não religiosos) gostam muito, eles também desfrutam desta calma", não parece ser esta a posição de grande parte da população laica da cidade.

Este tipo de situação vem afugentando, aliás, esta população de Jerusalém. Embora o prefeito tenha um discurso de atrai-los com construção de apartamentos para jovens casais, etc., vem ficando difícil para quem não é ortodoxo desfrutar de Jerusalém. Além disso hoje é muito, mas muito caro viver na Cidade Santa.

Senti falta de grupos organizados de judeus religiosos não-ortodoxos na manifestação, afinal, mesmo os que não andam de carro no Shabat por motivos religiosos deveriam, a meu ver, estar ao lado daqueles que desejam viver de outra maneira, até para que os tenham ao seu lado quando defenderem suas próprias posições religiosas.

De qualquer modo, a manifestação propunha não um abandono do judaísmo, mas mostrar que há mais de um modo de vivê-lo. A "israeliut", o modo israelense de ser, estava mais do que presente, com bandeiras de Israel, danças folclóricas e religiosas, tudo de modo alegre e pacífico.

Isso que estamos falando apenas das relações entre judeus ultra-ortodoxos e judeus laicos - para não falar das relações com os habitantes árabes da cidade, principalmente no setor oriental. Ainda se espera mais do prefeito Nir Barkat, cuja agenda de campanha foi governar para todos os habitantes de Jerusalém. Afinal a cidade é bonita e significativa demais para não ser vivida em sua plenitude por todos os seus habitantes.

Agora à noite vou a um concerto de música brasileira, com uma cantora famosa por aqui em termos de MPB, Elisete. Será no Museu Bíblico (ah, Jerusalém... show de MPB em Museu Bíblico só aqui). Certamente será muito bonito!

Um abraço a todos e shavua tov

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Reforma e pluralismo - Tudo é uma questão de contexto

O título do Haaretz de hoje é "Hoje Irã escolherá entre o conservadorismo (shamranut) e a reforma", ou seja, continuar com o governo Ahmadinejad ou substituí-lo por um dos candidatos pró-reforma.

É claro que o mundo, e Israel em particular, é a favor dos reformistas. Independente de ideologia política ou religiosa, todos são a favor da reforma - no Irã.

Tudo é uma questão de contexto.

Mas de volta prá casa, vejamos como anda a reforma.
Na próxima semana pode haver alguma novidade em relação à petição em favor da rabina reformista Miri Gold, da comunidade Bircat Shalom (no Kibutz Gezer, entre Tel Aviv e Jerusalém) e em favor de todos os rabinos e rabinas não-ortodoxos em Israel. Foram mais de 15 mil assinaturas em favor do pedido da rabina de que não apenas rabinos ortodoxos, mas também liberais pudessem ser remunerados pelo Estado quando prestassem serviços às suas cidades.

Um exemplo: um brit milá liderado por um rabino ortodoxo é gratuito, um bar mitsvá idem - gratuito porque o governo paga os custos. O mesmo não ocorre com cerimônias realizadas por rabinos liberais.

A vitória da rabina Miri será mais uma vitória da tal Israel judaica e democrática, na qual todos os judeus, independente de linha religiosa, terão os mesmos direitos e condições de expressar sua religiosidade e espiritualidade.

E hoje haverá um shabat com gostinho de olám habá, ou uma mostra de como pode ser o futuro em que todos se respeitam e até rezam juntos de vez em quando, e festejam esta unidade com diversidade: um serviço religioso com a participação desde da comunidade ortodoxa moderna Shirá Chadashá à renewal Nava Tehilá, passando por comunidades conservadoras, reformistas e não-denominacionais.

e então: shamranut ou reforma?

shabat shalom

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Behaalotechá
(comentário para o Congregar desta semana, da CIP)
[13 de Junho de 2009/ 21 de Sivan de 5769]

O que têm a ver uma antiga arca, um candelabro de ouro e um submarino amarelo?
Era uma vez uma antiga arca. Alguns acham que sempre esteve cheia de objetos e pergaminhos, de reis e leis, de princesas e soldados, de profetas e inimigos. Homens e mulheres continuam até hoje tomando para si o que consideram importante da arca. Outros acham tudo isso uma loucura. Tem quem diga que está bem guardada em algum país da África, ou nos porões do Vaticano, ou ainda no deserto da Judéia, não, em Petra, na Jordânia. Nos séculos 19 e 20, muita gente esclarecida considerava a arca um museu abandonado e às escuras, no fundo de um oceano de ignorância.

Eis que no século 21 a antiga arca dá sinais de que ainda tem muitos tesouros a revelar. Um museu de grandes novidades. Basta acender a luz e passear pelas estantes empoeiradas, navegar pelas bibliotecas virtuais ou experimentar fortes emoções nas máquinas do tempo espalhadas por seus andares. É virar e revirar que está tudo lá, dizem.

Pois bem, a parashá desta semana vem para nos ensinar a iluminar o que há na arca. Aarão, o sacerdote, recebe de Moisés a orientação para se erguer e acender as luzes da Menorá. Nossos sábios comentam que três luminárias estavam voltadas para o oeste e três para o leste, enquanto a sétima brilhava no centro. A Menorá de ouro maciço multiplicava a luz de suas chamas e iluminava tudo ao redor.

Agora sim, com boa iluminação, podemos ler o maior tesouro da Arca, o Sefer Torá. Vamos abri-lo na parashá desta semana? Deixe-me procurar... aqui está: Behaalotechá. Estão vendo estas letras misteriosas, como se fossem dois “vav” invertidos que marcam uma conhecida passagem: Vaiehi Binsoa, “quando a Arca partia em viagem...”? (Números 10:35-36). Alguns comentaristas dizem que na verdade é um livro por si mesmo, inserido no meio do livro de Números e por isso recebeu esta marcação. Quanta coisa ainda há para conhecer, este é só o começo!

E o submarino amarelo, onde entra? Ora, ele é a nossa arca sagrada, o nosso museu de grandes novidades onde podemos estudar Torá dia e noite, independente se a maré está para peixe ou não. Quem o vê de fora o chamou de Submarino Amarelo por conta da luz dourada das chamas da Menorá que resplandece por seus vitrais. Alguns nos dão por desaparecidos, outros que o Submarino Amarelo nunca existiu, que os relatos sobre ele são parte de mitos inventados por povos muito antigos que nós, judeus, adotamos como sendo nossos e só nossos. Muitos decidem sair do submarino e nadar por conta própria, e muitos outros querem entrar. Quem sai não sabe em que águas entrará, e quem quer entrar não tem idéia de que não é fácil viver neste submarino amarelo, onde para cada dois marujos há três direções a seguir.

Há alguns anos quatro rapazes britânicos contaram ao mundo que souberam de um submarino amarelo por um viajante dos mares. Não sei de que submarino eles falavam, mas aviso aos navegantes: o nosso pequeno submarino amarelo está vivo, bem iluminado, e segue a sua rota.

Shabat shalom, de Jerusalém

Uri Lam

O Sacrifício de Isaac
Entre os trabalhos que preciso preparar para meus estudos rabínicos, um deles é o de comparar alguma produção literária inspirada na clássica passagem do Sacrifício de Isaac (Gênesis 22:1-19) com o texto bíblico em si.
Entre inúmeros textos, escolhi um poema de Yehuda Amichai, que resolvi traduzir e compartilhar com vocês desde as terras virtuais de Urishalaim.
Espero que gostem. Boa leitura!

Akedat Itschak
Em “Tiul Iehudi” (Um passeio judaico)
Do livro “Patuach Sagur Patuach”
Yehuda Amichai
tradução: Uri Lam, junho de 2009.

Avraham Avinu leva todos os anos seus filhos até o Monte Moriá
Assim como eu levo meus meninos às colinas do Neguev
Onde passei pela guerra.

Avraham passeia com seus filhos:
“Aqui estive com os escravos,
Ali amarrei o burro na árvore, aos pés do monte,
E aqui, bem aqui, Itschak meu filho, você perguntou:
'Aqui estão o fogo e a lenha,
mas onde está o cordeiro para o sacrifício?'
E um pouco mais adiante você perguntou pela segunda vez."

E quando chegaram ao alto do monte,
descansaram um pouco, e comeram, e beberam –
e lhes foi mostrado o enrosco em que se meteu o carneiro com seus chifres.

E quando Avraham morreu,
Itschak levou seus filhos para o mesmo lugar.
“Aqui ergui a lenha, e ali suspirei.
Aqui perguntei e meu pai me respondeu:
‘O Eterno proverá para Si o cordeiro para o sacrifício’,
E ali eu já sabia que era eu."

E quando Itschak ficou cego,
Seus filhos o guiaram até o mesmo Monte Moriá
E o descreveram para ele com palavras
Todos aqueles acontecimentos
Dos quais ele provavelmente já se esquecera.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Exemplo de Ahavat Olam - O Bar Mitsvá de Iotam, neto de Shlomo

Fui convidado para um bar mitsvá que ocorreu ontem, no serviço de Minchá da sinagoga conservadora Moreshet Avraham, pertinho de Kiriát Moriá, ou da taiélet, aquele lugar onde a vista da cidade antiga de Jerusalém é das mais belas.

Tentarei resumir, caso contrário daqui sai um livro ilustrado, um CD e DVD.

Iotam completou há poucos dias 14 anos e ontem, 13 de Sivan de 5769, foi o dia escolhido para o seu bar mitsvá. Em outras palavras, seu bar mitsvá foi comemorado no início do seu segundo setênio de vida. (setênio é um ciclo de 7 anos de desenvolvimento)

Sua mãe chama-se Dina, brasileira, mora há muitos anos em Israel. O pai infelizmente não me recordo o nome, pois o conheci ontem. Também a Dina conheci pessoalmente ontem, mas já havia escutado dela há 20 anos atrás, quando soube que uma brasileira trabalhava em Kfar Rafael, um centro antroposófico (não vou explicar agora) no Neguev, para pessoas portadoras de necessidades especiais. HOje a família toda vive em Jerusalém.

Iotam tem um irmão e uma irmã mais velhos. Muito mais do que ser portador de necessidades especiais, Iotam é uma das pessoas mais especiais que conheci. Como disse um dos seus amigos do Bet Sefer Adam, um dos colégios Waldorf de Jerusalém, é só Iotam chegar para o rosto perder o controle e ser invadido por uma vontade enorme de sorrir.

O serviço foi inicialmente conduzido pelo rabino Barry Schlesinger, cuja sensibilidade, eu diria, o destaca entre outros. Uma vez que tradicionalmente não se lê na Torá numa 5a feira à tarde, o rabino nos disse que Iotam nos ensinaria Torá.

Iotam deu uma aula de ahavat olám, de amor ao mundo inteiro. De abraçar a nós todos com seu sorriso, como disse outro colega seu da escola.

O jovem foi erguido da sua cadeira de rodas para um equipamento especial que sustentaria seu corpo, uma espécie de super escrivaninha, onde sobre a mesa foi disposta a Torá (que Iotam já havia recebido diante do Aron Hakódesh).

Iotam fez as brachot e, diante do Sefer Torá, nos cantou não uma, mas duas aliot. Tendo junto ao rosto o carinho do toque de seu pai, e junto ao pescoço a sustentação das mãos de sua mãe.

Iotam fez também um pequeno discurso, não muito comum hoje em dia no Brasil, mas muito comum em Israel e nos EUA.

Quando cumprimentei a mãe, Dina me disse: "Não está nem começando".

Na minha frente, o bom e velho Shlomo e sua esposa Frida, pai da Dina, do Beni e me perdoem novamente, mas de outro filho do qual não me recordo o nome, pelo pouco contato que tive. Família Zekhry. O Beni há muitos anos é o maestro da comunidade Shalom, em São Paulo, tem uma voz preciosa e precisa.

Shlomo eu conheci num curso de filosofia antroposófica, em "Steiner Ville" como um amigo chamava a região do Alto da Boa Vista, em São Paulo. Cruzei com ele algumas vezes ao longo destes anos, sempre em situações para mim muito especiais e significativas. Como uma testemunha da minha biografia. Mas ontem eu fui uma testemunha da sua biografia. Foi uma surpresa e alegria reencontrá-lo ontem, aliás, foi a primeira pessoa que vi na sinagoga. Eu fui ao Bar Mitsvá sabendo apenas que se tratava de uma família brasileira, só isso. E ao chegar conhecia toda a família Zekhry - menos a família nuclear do Iotam, que tive a alegria imensa de conhecer ontem.

Um pequeno desvio
Estava também a mãe do Benão z´l (quem o conheceu do Rena, Bom Retiro e adjacências, sabe de quem estou falando), que me deu um grande abraço quando eu disse que conheci seu filho, e contou que ela ainda vivia na Rua Amazonas, no Bom Retiro.

Foi um sem fim de histórias de judeus brasileiros que se cruzaram e se reconheceram num shil conservador de Armon Hanatziv, em um dia ensolarado e não terrivelmente quente de Jerusalém. E finalmente, depois de 20 anos, conheci pessoas que realmente fizeram o encontro que um dia esbocei em uma palestra na Hebraica, a convite da Rachel Mizrahi: ontem, no Bar Mitsvá de Iotam, presenciei, em uma sinagoga conservadora, o encontro do judaísmo com a antroposofia. E em breves conversas, descobri que o encontro tem dado resultados significativos.

Mas então...

Então que Iotam tocou piano. Iotam não só fez as brachot e leu na Torá, discursou e sorriu, mas tocou piano. Uma vez sozinho com seu professor, depois acompanhado de seus irmãos, que tocaram violoncelo e violino. Em seguida um coro lindo, que imagino ser formado por professores da escola (o pai de Iotam é professor de canto no colégio, e quem conhece sabe a importância que se dá na educação antroposófica ao canto e às artes).

Assistimos a um vídeo contando toda a história de Iotam, cada passo, cada desafio no seu desenvolvimento. Nada do que eu for dizer irá descrever o que vimos ontem.

Para o Gran Finale, ao comando de Iotam no piano, acompanhado de pai e mãe nas flautas e dos irmãos nos instrumentos de cordas, esta família tocou junta "Yellow Submarine", o submarino amarelo dos Beatles.

Na minha cabeça (como diz o Theo, "de onde sai tudo isso, do Uri?" haha) eu misturava a cena de sonho na minha frente com as imagens do clip desconexo dos Beatles, daqueles coloridos, psicodélicos e psicodérmicos anos 70. A mensagem estava clara e vibrante: nesta viagem em mares revoltos e águas difíceis, navegamos juntos num submarino amarelo. Pode ser um submarino nuclear, de guerra, de ar rarefeito, de medo e angústia, de se perguntar "por que eu, por que comigo?" OU... pode ser um submarino amarelo, cheio de grafites, com música clássica e dos Beatles e de Chico Buarque e de flautas e piano, e de Arik Einstein e de salmos, navegando pelas mesmas águas, mas com desenvoltura e com o sorriso de Iotam, algo tão repleto de alegria e amor que só de olhar a gente começa a sorrir. Este sim, é o Submarino Amarelo, que mergulha, mas não afunda.

Mazal tov a você, Iotam, a toda a família de Iotam, o neto do Shlomo.

Ahavat olam beveit Israel, exemplo de amor ao mundo em uma casa de Israel.
Ahavat olam meveit Israel, amor espalhado ao mundo a partir de uma casa de Israel.
Uma reflexão sobre ahavá e tikun

Duas expressões expressam duas ações, que levam a ideologias judaicas diferentes: ahavat Israel, amor a Israel, e Tikun olam, consertar o mundo para que seja melhor.
Hoje em dia é comum, no meio ortodoxo, elogiar uma ação vinda de um judeu como ação de ahavat Israel, de amor a Israel. No meio liberal, é comum buscar ações que reflitam tikun olam, fazer algo, desde uma perspectiva judaica, que se reflita na recuperação e melhora das condições de vida de outros seres humanos, judeus e não judeus, e do universo como um todo.

Podemos pensar também em suas variantes: Ahavat Olam, amor ao mundo, e Tikun Israel, consertar Israel, para que seja melhor.
Ahavat Olam, o amor de Deus é voltado para toda a Sua Criação, assim também o nosso amor como judeus deve ser voltado para todos, não apenas para Israel. E Tikun Israel: para que possamos fazer do mundo um lugar melhor, é preciso revermos nossos conceitos como judeus, refletirmos e agirmos para reparar nossos erros e nos tornarmos pessoas melhores. Não se dizer que para sermos bons temos que ser yidn, judios, judeus; para sermos melhores temos que ser mentsch, temos que ser gente.
Ahavat Israel é muito, mas insuficiente.
É preciso Ahavat Olam.
Não há como uma pessoa que não se torna melhor tornar o mundo melhor.

shabat shalom

quinta-feira, 4 de junho de 2009

A triste história de Dudu Topaz

Nos últimos dias o noticiário israelense tem se concentrado em uma triste história: tudo começou com agressões violentas contra uma executiva da mídia israelense. Depois se soube que outros executivos da TV israelense estavam sendo ameaçados, e finalmente se chegou no principal suspeito de encomendar as agressões: o aqui famoso comediante e apresentador de TV Dudu Topaz, 62 anos, aparentemente por rejeitarem suas propostas para novos programas. A polícia chegou a ele por meio de gravação de conversas telefônicas em que as ameaças estão claras.

Preso, ontem à noite Dudu Topaz tentou dar fim da própria vida ao ingerir uma enorme quantidade de insulina - o comediante é diabético.

Dudu Topaz foi levado para o hospital, recebeu os primeiros socorros e seu estado é considerado razoável.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Quem diria, o shabes goy era yid... oi vei

Notícia publicada no diário israelense Yediot Acharonot, que deve servir de reflexão e mudança de atitude por parte daqueles que ainda estão acostumados com o desrespeitoso - a meu ver - uso da figura do shabes goy, uma pessoa não-judia que, por meio de ordens indiretas, faz atividades no Shabat que seus senhores e senhoras não podem fazer, para não desrespeitar as leis de Shabat.

Há inclusive livros em português que ensinam como fazer uso deste costume: no Shabat, a fim de fazer o que "não se pode fazer", há um ídishe jeitinho: "Puxa, está escuro aqui..." e la vai a shabes shikse acender a luz. "Uau, que frio..." e lá vai o shabes goy ligar o aquecedor. "Como faço para entrar no prédio?" E o shabes goy aciona o botão que abre o portão elétrico do condomínio. Por aí vai.

Pois bem, ocorre que por anos a fio os habitantes de um bairro ultra-ortodoxo de Tsfat, no norte de Israel, usufruíam dos serviços de um imigrante como shabes goy. Este senhor vivia disso - seus serviços eram pagos, naturalmente não durante o Shabat. Era conhecido pelo apelido "carinhoso" de goy.

Acontece que há dez dias chegou ao bet din, o tribunal rabínico da cidade, uma mulher pedindo para iniciar os trâmites do seu divórcio. Para isso foi aberta a pasta com os documentos do seu casamento, para que se certificasse que ela era realmente judia, e verificou-se que seus pais eram judeus, bem como os de seu esposo.

Mais alguns dias e a mulher retornou ao bet din a fim de preencher toda a papelada relativa ao divórcio, e veio acompanhada de seu pai. Qual a surpresa quando um dos funcionários do tribunal rabínico reconheceu que o pai da mulher era ninguém menos que... o shabes goy! Em outras palavras: durante anos um judeu prestou seus serviços para que outros judeus "não desrespeitassem" o Shabat.

Segundo esclarece o artigo, a figura do shabes goy é comum tanto em Israel quanto na Diáspora - e sim, inclusive no Brasil - entre a comunidade ortodoxa, para que os "pecados" e "trangressões" do Shabat possam ser cometidos por um não-judeu, diante da necessidade daqueles judeus que assim entendem que não transgridem o Shabat.

Era um bom negócio. O homem costumava vir às casas de famílias ortodoxas em pleno Shabat para consertar o aquecedor, trocar uma lâmpada, arrumar a geladeira ou o "elevador de Shabat". Trabalho honesto, a não ser que escondeu suas origens em nome da sobrevivência.

Diante do ocorrido, o rabino Shmuel Eliahu, rabino-chefe de Tsfat, explicou que o conceito de shabes goy não tem nenhuma base haláchica, ou seja, não tem nenhum fundamento nas leis judaicas. Segundo o rabino, é proibido dar ordens a qualquer um, inclusive um goy (não-judeu) que o leve a desrespeitar o Shabat. Ou seja, a figura do shabes goy é infundada e desrespeitosa. O falso shabes goy desta história verdadeira, ao encontrar uma maneira de sobreviver, expôs uma aberração dos costumes de uma parte da comunidade judaica, que merece reparos, um ticun urgente, pelo bem de todos.

O rabino Eliahu fechou a situação com uma afirmação curiosa: "Apesar de tudo, não foi de todo mau: estou feliz por termos descoberto agora que mais um judeu vive em Medinat Israel."

Espero que aprendamos a lição vinda de Tsfat, e que ela sirva de exemplo para o fim da figura do shabes goy em outras localidades - inclusive Higienópolis, Jardim América, Copacabana, Nova York, etc.

O Shabat é para todos.

segunda-feira, 1 de junho de 2009


Rabino Juan Mejia, na entrada do Instituto Schechter,

seminário rabínico conservador em Jerusalém

Rabino colombiano recentemente ordenado jura ajudar Conversos/Anussim

Ben Harris, 28 de maio de 2009

fonte: JTA (Jewish Telegraph Agency)

Tradução: Uri Lam

NOVA YORK (JTA) De todos os rabinos ordenados na semana passada no JTS, Jewish Theological Seminary (pertencente ao Movimento Judaico Conservador/Massorti), poucos tiveram uma jornada ao rabinato tão improváveis quanto Juan Mejia. Criado como católico na Colômbia e educado em escolas cristãs, Mejia estava a caminho de se tornar pastor quando descobriu, ainda adolescente, que a sua família tinha raízes judaicas. Seu avô costumava chamar homens em esquinas escuras para colocar lenços sobre suas cabeças e rezar de um livro estranho.

Após um caminho tortuoso, que envolveu sua rejeição pela minúscula comunidade judaica em Bogotá e vários anos de estudo em Jerusalém, Mejia converteu-se ao judaísmo e passou a estudar para se tornar rabino. Agora Mejia dedica seu rabinato a ajudar descendentes judeus como ele que desejam se reconectar com suas raízes.

A reivindicação dos descendentes dos Conversos, aqueles judeus forçados publicamente a abrir mão de sua religião sob ameaça de execução pela Inquisição, mas que continuaram praticando o judaísmo em segredo, tem recebido mais atenção nos últimos anos. Artigos que descrevem histórias de imigrantes latinos que descobrem que estranhos rituais familiares têm origem judaica têm surgido tanto na mídia judaica quanto na mídia comum.

Rigoberto Emanuel Viñas, rabino nascido em Cuba que dá aulas para Anussim – termo pelo qual os Conversos são conhecidos em hebraico - no bairro do Bronx, em Nova York, escreveu sobre o tema para o jornal The New York Times. Mejia promete elevar a abordagem de alcance da qual Viñas foi pioneiro para um novo nível. Com muitos Conversos evitados quando buscam auxílio das comunidades judaicas na América Latina - essas comunidades são atacadas por uma “mentalidade colonial”, segundo Mejia, e menosprezam as reivindicações de ancestralidade judaica dos habitantes locais - Mejia espera localizá-los via Internet. “Eu combato o modo inquisitorial de pensar”, afirma.

Mejia já tem um site que oferece instrução online sobre temas judaicos. E agora com sua formação rabínica, espera se mudar com sua esposa - também ordenada rabina na semana passada pelo JTS - para o Sudoeste dos Estados Unidos, onde vivem muitos Conversos.

Mejia acredita que somente nos Estados Unidos, onde há uma comunidade judaica grande, segura e acolhedora, os Anussim podem ser educados e levados de volta às suas raízes. “A revolução dos Anussim começa aqui”, afirma o rabino.