quarta-feira, 3 de junho de 2009

Quem diria, o shabes goy era yid... oi vei

Notícia publicada no diário israelense Yediot Acharonot, que deve servir de reflexão e mudança de atitude por parte daqueles que ainda estão acostumados com o desrespeitoso - a meu ver - uso da figura do shabes goy, uma pessoa não-judia que, por meio de ordens indiretas, faz atividades no Shabat que seus senhores e senhoras não podem fazer, para não desrespeitar as leis de Shabat.

Há inclusive livros em português que ensinam como fazer uso deste costume: no Shabat, a fim de fazer o que "não se pode fazer", há um ídishe jeitinho: "Puxa, está escuro aqui..." e la vai a shabes shikse acender a luz. "Uau, que frio..." e lá vai o shabes goy ligar o aquecedor. "Como faço para entrar no prédio?" E o shabes goy aciona o botão que abre o portão elétrico do condomínio. Por aí vai.

Pois bem, ocorre que por anos a fio os habitantes de um bairro ultra-ortodoxo de Tsfat, no norte de Israel, usufruíam dos serviços de um imigrante como shabes goy. Este senhor vivia disso - seus serviços eram pagos, naturalmente não durante o Shabat. Era conhecido pelo apelido "carinhoso" de goy.

Acontece que há dez dias chegou ao bet din, o tribunal rabínico da cidade, uma mulher pedindo para iniciar os trâmites do seu divórcio. Para isso foi aberta a pasta com os documentos do seu casamento, para que se certificasse que ela era realmente judia, e verificou-se que seus pais eram judeus, bem como os de seu esposo.

Mais alguns dias e a mulher retornou ao bet din a fim de preencher toda a papelada relativa ao divórcio, e veio acompanhada de seu pai. Qual a surpresa quando um dos funcionários do tribunal rabínico reconheceu que o pai da mulher era ninguém menos que... o shabes goy! Em outras palavras: durante anos um judeu prestou seus serviços para que outros judeus "não desrespeitassem" o Shabat.

Segundo esclarece o artigo, a figura do shabes goy é comum tanto em Israel quanto na Diáspora - e sim, inclusive no Brasil - entre a comunidade ortodoxa, para que os "pecados" e "trangressões" do Shabat possam ser cometidos por um não-judeu, diante da necessidade daqueles judeus que assim entendem que não transgridem o Shabat.

Era um bom negócio. O homem costumava vir às casas de famílias ortodoxas em pleno Shabat para consertar o aquecedor, trocar uma lâmpada, arrumar a geladeira ou o "elevador de Shabat". Trabalho honesto, a não ser que escondeu suas origens em nome da sobrevivência.

Diante do ocorrido, o rabino Shmuel Eliahu, rabino-chefe de Tsfat, explicou que o conceito de shabes goy não tem nenhuma base haláchica, ou seja, não tem nenhum fundamento nas leis judaicas. Segundo o rabino, é proibido dar ordens a qualquer um, inclusive um goy (não-judeu) que o leve a desrespeitar o Shabat. Ou seja, a figura do shabes goy é infundada e desrespeitosa. O falso shabes goy desta história verdadeira, ao encontrar uma maneira de sobreviver, expôs uma aberração dos costumes de uma parte da comunidade judaica, que merece reparos, um ticun urgente, pelo bem de todos.

O rabino Eliahu fechou a situação com uma afirmação curiosa: "Apesar de tudo, não foi de todo mau: estou feliz por termos descoberto agora que mais um judeu vive em Medinat Israel."

Espero que aprendamos a lição vinda de Tsfat, e que ela sirva de exemplo para o fim da figura do shabes goy em outras localidades - inclusive Higienópolis, Jardim América, Copacabana, Nova York, etc.

O Shabat é para todos.

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