Exemplo de Ahavat Olam - O Bar Mitsvá de Iotam, neto de Shlomo
Fui convidado para um bar mitsvá que ocorreu ontem, no serviço de Minchá da sinagoga conservadora Moreshet Avraham, pertinho de Kiriát Moriá, ou da taiélet, aquele lugar onde a vista da cidade antiga de Jerusalém é das mais belas.
Tentarei resumir, caso contrário daqui sai um livro ilustrado, um CD e DVD.
Iotam completou há poucos dias 14 anos e ontem, 13 de Sivan de 5769, foi o dia escolhido para o seu bar mitsvá. Em outras palavras, seu bar mitsvá foi comemorado no início do seu segundo setênio de vida. (setênio é um ciclo de 7 anos de desenvolvimento)
Sua mãe chama-se Dina, brasileira, mora há muitos anos em Israel. O pai infelizmente não me recordo o nome, pois o conheci ontem. Também a Dina conheci pessoalmente ontem, mas já havia escutado dela há 20 anos atrás, quando soube que uma brasileira trabalhava em Kfar Rafael, um centro antroposófico (não vou explicar agora) no Neguev, para pessoas portadoras de necessidades especiais. HOje a família toda vive em Jerusalém.
Iotam tem um irmão e uma irmã mais velhos. Muito mais do que ser portador de necessidades especiais, Iotam é uma das pessoas mais especiais que conheci. Como disse um dos seus amigos do Bet Sefer Adam, um dos colégios Waldorf de Jerusalém, é só Iotam chegar para o rosto perder o controle e ser invadido por uma vontade enorme de sorrir.
O serviço foi inicialmente conduzido pelo rabino Barry Schlesinger, cuja sensibilidade, eu diria, o destaca entre outros. Uma vez que tradicionalmente não se lê na Torá numa 5a feira à tarde, o rabino nos disse que Iotam nos ensinaria Torá.
Iotam deu uma aula de ahavat olám, de amor ao mundo inteiro. De abraçar a nós todos com seu sorriso, como disse outro colega seu da escola.
O jovem foi erguido da sua cadeira de rodas para um equipamento especial que sustentaria seu corpo, uma espécie de super escrivaninha, onde sobre a mesa foi disposta a Torá (que Iotam já havia recebido diante do Aron Hakódesh).
Iotam fez as brachot e, diante do Sefer Torá, nos cantou não uma, mas duas aliot. Tendo junto ao rosto o carinho do toque de seu pai, e junto ao pescoço a sustentação das mãos de sua mãe.
Iotam fez também um pequeno discurso, não muito comum hoje em dia no Brasil, mas muito comum em Israel e nos EUA.
Quando cumprimentei a mãe, Dina me disse: "Não está nem começando".
Na minha frente, o bom e velho Shlomo e sua esposa Frida, pai da Dina, do Beni e me perdoem novamente, mas de outro filho do qual não me recordo o nome, pelo pouco contato que tive. Família Zekhry. O Beni há muitos anos é o maestro da comunidade Shalom, em São Paulo, tem uma voz preciosa e precisa.
Shlomo eu conheci num curso de filosofia antroposófica, em "Steiner Ville" como um amigo chamava a região do Alto da Boa Vista, em São Paulo. Cruzei com ele algumas vezes ao longo destes anos, sempre em situações para mim muito especiais e significativas. Como uma testemunha da minha biografia. Mas ontem eu fui uma testemunha da sua biografia. Foi uma surpresa e alegria reencontrá-lo ontem, aliás, foi a primeira pessoa que vi na sinagoga. Eu fui ao Bar Mitsvá sabendo apenas que se tratava de uma família brasileira, só isso. E ao chegar conhecia toda a família Zekhry - menos a família nuclear do Iotam, que tive a alegria imensa de conhecer ontem.
Um pequeno desvio
Estava também a mãe do Benão z´l (quem o conheceu do Rena, Bom Retiro e adjacências, sabe de quem estou falando), que me deu um grande abraço quando eu disse que conheci seu filho, e contou que ela ainda vivia na Rua Amazonas, no Bom Retiro.
Foi um sem fim de histórias de judeus brasileiros que se cruzaram e se reconheceram num shil conservador de Armon Hanatziv, em um dia ensolarado e não terrivelmente quente de Jerusalém. E finalmente, depois de 20 anos, conheci pessoas que realmente fizeram o encontro que um dia esbocei em uma palestra na Hebraica, a convite da Rachel Mizrahi: ontem, no Bar Mitsvá de Iotam, presenciei, em uma sinagoga conservadora, o encontro do judaísmo com a antroposofia. E em breves conversas, descobri que o encontro tem dado resultados significativos.
Mas então...
Então que Iotam tocou piano. Iotam não só fez as brachot e leu na Torá, discursou e sorriu, mas tocou piano. Uma vez sozinho com seu professor, depois acompanhado de seus irmãos, que tocaram violoncelo e violino. Em seguida um coro lindo, que imagino ser formado por professores da escola (o pai de Iotam é professor de canto no colégio, e quem conhece sabe a importância que se dá na educação antroposófica ao canto e às artes).
Assistimos a um vídeo contando toda a história de Iotam, cada passo, cada desafio no seu desenvolvimento. Nada do que eu for dizer irá descrever o que vimos ontem.
Para o Gran Finale, ao comando de Iotam no piano, acompanhado de pai e mãe nas flautas e dos irmãos nos instrumentos de cordas, esta família tocou junta "Yellow Submarine", o submarino amarelo dos Beatles.
Na minha cabeça (como diz o Theo, "de onde sai tudo isso, do Uri?" haha) eu misturava a cena de sonho na minha frente com as imagens do clip desconexo dos Beatles, daqueles coloridos, psicodélicos e psicodérmicos anos 70. A mensagem estava clara e vibrante: nesta viagem em mares revoltos e águas difíceis, navegamos juntos num submarino amarelo. Pode ser um submarino nuclear, de guerra, de ar rarefeito, de medo e angústia, de se perguntar "por que eu, por que comigo?" OU... pode ser um submarino amarelo, cheio de grafites, com música clássica e dos Beatles e de Chico Buarque e de flautas e piano, e de Arik Einstein e de salmos, navegando pelas mesmas águas, mas com desenvoltura e com o sorriso de Iotam, algo tão repleto de alegria e amor que só de olhar a gente começa a sorrir. Este sim, é o Submarino Amarelo, que mergulha, mas não afunda.
Mazal tov a você, Iotam, a toda a família de Iotam, o neto do Shlomo.
Ahavat olam beveit Israel, exemplo de amor ao mundo em uma casa de Israel.
Ahavat olam meveit Israel, amor espalhado ao mundo a partir de uma casa de Israel.
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