sábado, 30 de janeiro de 2010

Tu Bishevat com Textos Judaicos na Natureza

Na última sexta feira houve um passeio organizado pelo grupo de jovens do movimento reformista israelense Netzer, em comemoração a Tu Bishevat, Chag Hailanot, o Ano Novo das Árvores. Fizemos um passeio pelo parque ecológico de Shataf, a meia hora de Jerusalém, perto de Ein Kérem. Um lugar deslumbrante. Ao longo do caminho parávamos em "estações" e líamos em chavruta (em grupos) determinados textos do Tanach e midrashim alusivos à natureza, às espécies típicas de Israel e a certas carcaterísticas geográficas culturais nas quais viveram alguns dos profetas do povo de Israel. No final visitamos uma pequena caverna onde havia uma fonte de água da montanha, água esta usada na antiguidade e ainda hoje para irrigar os campos de Shataf.
O passeio foi fantástico, e o dia ajudou, fez um sol lindo em Israel na última sexta feira. No caminho encontramos outros grupos que vieram ao parque comemorar Tu Bishevat em meio à natureza - em parte nativa, em parte reconstituída pelo Estado de Israel - lembrando que Israel é o único país do mundo que, nos últimos cem anos, teve a sua área verde aumentada, em vez de diminuída, como ocorreu no resto do planeta.
E em meio ao inverno, Israel celebra flores brancas e delicadas que brotam das amendoeiras - e isso vimos por todo o parque. E dizer que as pessoas saem para passear especialmente para ver estas flores! Uma ótima semana.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Ódio aos árabes, esquerdistas e assentamentos, uma deliciosa conversa de bar
Sayd Kashua, cronista árabe israelense
Original (em hebraico): jornal Haaretz 
Tradução: Uri Lam
“Eu não gosto de árabes”, disse a bela jovem sentada ao meu lado no bar, e ela sabia da minha origem. “Não sei”, ela acrescentou, encolhendo os ombros, tentando conter os calafrios que tomaram conta dela mecanicamente quando pronunciou a palavra árabe, “não sei qual seria a solução para eles, não me importo se irão transferi-los ou se lhes darão um país para que tenham onde apodrecer. O principal é que não precisaremos mais tolerá-los”.
Que olhos lindos ela tem, pensei comigo, tentando determinar, à luz ofuscante do bar, se eram verdes ou azuis. Não consegui. Às vezes eles pareciam azuis e de outro ângulo de algum modo pareciam verdes. Mas o que interessa? O importante é que ela tinha belos olhos e cabelos meio diabólicos que ela mexia com seus dedos longos e delgados.
“Você entende?” Ela perguntou enquanto bebericava uma batida colocada à sua frente (era a primeira vez que eu conversava com uma garota que bebe batida, para mim era uma conquista impressionante, provavelmente por causa da minha dieta e talvez graças à minha camisa preta, preto me faz sentir bem). “E isso não quer dizer que eu nasci em uma casa onde fôssemos de direita. Ao contrário”, a moça dizia, enquanto eu tentava olhar o modo como ela balançava os quadris ou como mexia o pescoço, o que por ora estava difícil porque o bar estava lotado. Ela tinha quadris perfeitos, que eu poderia jurar que foram feitos na medida perfeita para se encaixarem no banquinho elevado do bar. “Na verdade na minha casa todos eram de esquerda”, ela continuou, “meus pais eram esquerdistas. Gente do Avodá (Partido Trabalhista). Você entende?”
“Puxa, que coisa impressionante você está me contando”. Eu fiquei impressionado mesmo com a intensidade da mudança pela qual ela passou. Com tudo o que já havia bebido de cerveja ou de uísque barato, eu era capaz de declarar imediatamente que o Partido Trabalhista jamais foi um partido de esquerda, mas para ela, que bebia a sua marguerita ou sabe lá que diabos como se chama aquela sangria colorida no copo todo decorado dela, vale tudo. Por mim ela também pode alegar que até o Meretz era de esquerda que eu não faria qualquer objeção.
“Eu juro a você, eles eram de esquerda. Mas nas últimas eleições votaram Kadima. E tudo por causa da Tzipi Livni, porque se não fosse, só Avodá. Esquerdistas viciados”, ela riu e eu sorri de volta. “Lembro-me de quando era menina, no bairro de Guivá Tsarfatit (Colina Francesa)...” Ela ia em frente e eu, como qualquer árabe faria, interrompi automaticamente, “Você sabe que é um assentamento”.
“Qual assentamento?” Ela perguntou e eu fiquei morrendo de raiva de mim mesmo. Não só não queria falar de política naquela noite mágica, como aquilo foi principalmente o resultado da minha incapacidade de ouvir. Um milhão de vezes eu lembrei-me de tentar ouvir as pessoas, especialmente as garotas quando elas falam, mas não tem como – certa está minha esposa quando insiste que eu me acho o centro do mundo, que o sol brilha sob mim e que eu jamais, mas nunca mesmo, dava importância ao que as pessoas em volta de mim diziam. Como um idiota eu tinha que dizer alguma gracinha que certamente estragaria aquele papo gostoso que, sem dúvida, avançava para passos mais promissores.
“Me desculpe”, eu disse, tentando parecer daqueles homens que escutam até a raiz dos cabelos dela, “perdão por ter interrompido. Continue, por favor.”
“Não”, ela respondeu com uma expressão de perplexidade”, você disse que Guivá Hatsarfatit  é um assentamento?”
“Sim”, respondi como que me desculpando, “mas o que importa? Você sabe, geografia, quem se importa? O que importa é o que você sente, continue, estava fascinante!”
“Uau!” Ela não desistia, e com seu movimento de surpresa ela empinou perfeitamente os seios, “eu não sabia. Tem certeza de que é um assentamento?”
“Meio por cima”, respondi a ela: “Você sabe, Jerusalém é Jerusalém. Mas isso realmente não importa, você estava justamente contando que quando era menina em  Guivá Hatsarfatit...” –  Eu tentava fazê-la contar sobre sua infância e distanciá-la o máximo que pudesse das fronteiras de 1967.
“Sim”, ela finalmente se lembrou, “lembro-me que quando era pequena, na verdade eu não odiava os árabes. Realmente, era meio que natural. Eles trabalhavam no bairro, às vezes os filhos deles brincavam no jardim público, e prá mim estava tudo certo. Quer dizer, eu não brincava com eles, mas realmente eles não me incomodavam. Mas em algum momento eu simplesmente entendi que ser árabe não é... não sei como definir isso, é como se ser árabe não tem a ver, entende?” 
“Absolutamente”, respondi de uma só vez, de pleno acordo: “Eu entendo.” Eu sabia que ela gostava de mim, sabia que se eu a convidasse para dançar ela aceitaria na hora, mas como eu queria ter certeza sobre a profundidade daquilo que estava surgindo entre nós, eu queria que ela falasse mais, quero dizer, eu queria principalmente que ela notasse que eu era capaz de escutá-la. Receei que uma investida direta pudesse fazer com que ela me visse de outro modo, que de uma hora prá outra para ela eu passasse de um homem com uma conversa gostosa para um árabe babão. 
“Mas”, continuei lentamente, pausado, pesando bem as palavras, pensando, pensativo, “como tudo começou? Quer dizer, esse ódio que de repente você descobriu”. 
“Eu realmente não sei”, ela respondeu, tocando meu ombro como se eu tivesse tocado em um ponto importante, “E meio que, tipo, natural. De repente eu percebi que não gosto de árabes. Não gosto de vê-los na rua, não gosto daqueles que trabalham com meus pais, de repente eu saquei que eles não são como a gente. Eles me parecem tipo os outros, tipo, entende, diferentes. E eles são realmente diferentes, só esta sensação de simplesmente não tem a ver”. 
Eu respirei fundo e segurei a sua mão, acariciando-a. “Vai ficar tudo bem”, eu disse a ela, olhando bem nos seus olhos, “eu prometo a você que tudo ficará bem”. 
“Não sei”, ela disse, com um jeito de quem está preocupada com o nosso futuro aqui, “às vezes perco as esperanças de que um dia nós estaremos bem aqui”. 
“Você vai ver”, eu disse a ela com uma voz suave e segura, “tudo o que é preciso é simplesmente acreditar, e um dia isso aqui ainda será um paraíso”.
Parashat Beshalach
Folheto semanal Congregar, da CIP 
Também publicado pela comunidade judaica Kehilat Beit Israel, de Lisboa, Portugal
Uri Lam, de Jerusalém
“Bendito sejas Tu, Eterno nosso Deus, que preserva o chão sobre as águas.”
Em nosso sidur esta é uma das bênçãos do alvorecer.
Ter um chão firme onde colocar os pés parece algo simples. E, no entanto, vivemos hoje um tempo em que terras firmes não são algo tão óbvio assim. Em São Paulo as chuvas têm transformado a vida na cidade em um caos e muitas vezes em tragédia. Em Israel, as intensas chuvas deste ano, que não deixam de ser uma bênção, têm gerado também diversos transtornos. Já no Haiti, como todos temos infelizmente acompanhado, a terra tremeu sob os pés de seus habitantes e levou muitas vidas embora.
Os rabinos do Talmud sempre enfatizam que jamais devemos nos esquecer do dia em que saímos do Egito. Ao mesmo tempo em que este foi para nosso povo um cativeiro, quando houve a chance de sair teve quem decidiu ficar, porque pelo menos a terra era firme, havia comida e um teto sob o qual dormir. A opção da liberdade proposta por Deus através de Moisés era tanto motivo de alegria e alívio, quanto de incerteza e medo. Não havia nenhuma garantia que, ao se deixar o Egito, se chegaria a algum lugar melhor.
“E vieram os filhos de Israel para dentro do mar, em terra seca. E as águas estavam para eles como muralhas à direita e à esquerda.” (Êxodo 14:22) Sempre que lemos esta fantástica travessia, vemos a imagem cinematográfica da multidão atravessando duas muralhas de mar. Como deve ter sido esta travessia aos olhos de cada pessoa? E aos olhos de uma criança? Rabi Nehorai nos conta (em Midrash Raba, Beshalach) que quando o povo de Israel entrou no Mar Vermelho, entre eles havia uma mulher que levava seu filho pela mão, e ele chorava muito. Imagino esta criança puxada por sua mãe, chorando, atordoada entre a multidão de gente, carroças e animais, enquanto muralhas de água rugiam ameaçadoras como se pudessem desabar sobre todos a qualquer minuto. Neste momento a mulher estendeu a mão, pegou uma maçã, lavou-a nas águas do mar e a deu ao filho.
Recordo-me de uma história que me foi contada por um sobrevivente da Shoá. Aproximava-se o final da Segunda Guerra Mundial. Ariê estava em um campo de concentração. Ele e um companheiro carregavam um panelão de sopa para os internos quando a força aérea americana sobrevoou o campo e passou a bombardeá-lo. Em meio à chuva de bombas, seu amigo, assustado, correu para o galpão e escondeu-se sob a mesa da cozinha. Ariê decidiu agir diferente: sentou-se e começou a comer a sopa do panelão. “Naquele momento eu estava morrendo de medo, mas também de fome. Então pensei: Se morrer, pelo menos que seja de barriga cheia”, comentou comigo. Ariê não só sobreviveu, como logo depois deixou o campo com os demais sobreviventes, participou da chamada Marcha da Morte e enfrentou inúmeras outras situações de perigo. Alguns anos depois chegou ao Brasil, reconstruiu sua vida e contou sua história.
As manchetes dos jornais nos contam que foram encerrados os serviços de resgate após o terrível terremoto no Haiti, e que aos poucos seus habitantes reconstroem suas vidas. Em meio à destruição e às ameaças de novos tremores de terra, as equipes de auxílio de Israel se destacaram pelo modo como salvaram pessoas dos escombros, por seus sofisticados hospitais de campanha e pelo calor humano, relatado tanto por haitianos quanto pelas equipes dos demais países. Eles não eram capazes de conter as forças da natureza como Deus um dia conteve as águas do Mar Vermelho, mas os israelenses estenderam a mão aos haitianos com o mesmo carinho e presença que aquela mãe estendeu uma maçã ao filho. Eles ajudaram a cada haitiano que puderam, cumprindo à risca o que nos ensinaram os rabinos do Talmud: “Quem salva uma vida é como se salvasse o mundo inteiro”.
Centenas de milhares de israelitas pereceram no deserto, na longa caminhada após a travessia do Mar Vermelho. Milhões de judeus foram assassinados na Shoá. Mais de cem mil haitianos morreram vítimas do terremoto que sacudiu seu país. Mas em todos estes casos a solidariedade e a força do indivíduo não pereceram. Estender a maçã, oferecer tratamento aos feridos e encarar o perigo com coragem são mais do que bênçãos; significa cumprir a mitsvá que nos foi ordenada por Deus: Escolher pela vida, pela vida de cada indivíduo e pela própria vida.
Shabat shalom e Tu b’Shevat Sameach

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Rabina Sara Hurwitz ou Rabinas Ortodoxas Saem do Armário
Sejam bem vindas!!! 




Nos Estados Unidos, Sara Hurwitz, que há um bom tempo vem realizando funções rabínicas no Hebrew Institute de Riverdale, em Nova York, havia recebido o título "armariesco" de Maharat - um acrônimo hebraico que significa "líder espiritual e legisladora em assuntos da Torá". Uma complicação somente para não se apresentar o que ela realmente é: uma rabina ortodoxa.
Mas em um comunicado divulgado nesta quarta-feira, o rabino Avi Weiss, líder espiritual do Hebrew Institute e mentor de Hurwitz, admitiu que a sigla não pegou e que Hurwitz passará a ser chamada formalmente de Rabá Sara Hurwitz - ou seja, Rabina Sara Hurwitz.
Diz o comunicado: "Isso esclarecerá para todos que a Rabina Sara Hurwitz (na foto) é um membro de pleno direito de nossa equipe rabínica, uma rabina com a qualidade adicional da voz de uma mulher diferente".
Sara Hurwitz concluiu exatamente o mesmo curso de formação e passou pelas mesmas avaliações que seus colegas homens ortodoxos para receber sua Semichá, o título que lhe dá o status de Rabina. O programa de estudos por ela cumprido é o mesmo dos estudantes homens da Yeshivá ortodoxa Chovevei Torá em Riverdale, fundada e liderada pelo rabino Avi Weiss.
Kol Hakavod, Rabina Hurwitz!!! Quem sabe agora as últimas comunidades liberais a não admitirem rabinas, mulheres que leiam na Torá nem contem no minian, sintam-se mais à vontade para dar este passo. Não que fosse preciso que os ortodoxos o fizessem para que liberais se dessem conta de que mulheres podem ser rabinas. Mas não se justifica não aceitar que vivemos um momento diferente na história judaica.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Mais de 30 famílias israelenses já se ofereceram para adotar órfãos haitianos
Avião da Ethiopian Airlines cai no Mediterrâneo, após partir de Beirute
Havia 83 passageiros e 7 tripulantes. uma das possíveis causas podem ser os fortes ventos e tempestades nos céus do Líbano (aliás, o tempo também está assim em Israel hoje - em Jerusalém chove constantemente desde o início da noite passada e os ventos são muito fortes - só sai de casa quem precisar). Entre os passageiros estão 54 libaneses, 22 etíopes, e entre os demais a esposa do embaixador da França no Líbano.

domingo, 24 de janeiro de 2010

Olha voltei pra casa (Hine Bati Habaita)
Mais uma canção que não pára de tocar nas rádios israelenses. Está tocando agora mesmo, pela enésima vez, na Galgalatz. Para quem gosta de MPI - Música Popular Israelense - aí vai.
Cá entre nós: Lembra o estilo do Grande Encontro de Alceu Valença, Zé Ramalho, Geraldo Azevedo e Elba Ramalho. Adoro todos os quatro e a idéia de cantarem juntos foi mais do que acertada. Cheguei quase a pensar que a canção israelense fosse alguma versão da nossa boa MPB, mas não é.Bom domingo e parabéns Sampa, pelos 456 anos!!! 
 
Olha voltei prá casa
Dana Berger e Itai Pearl
Letra: Dana Berger e Itai Pearl / Melodia: Itai Pearl
Versão em português: Uri Lam
Ao pequenino mercado, ao antigo apartamento
À chave que foi roubada, ao homem que não voltará
Aos mais doces segredos, às razões para agir
Lágrimas que ainda caem, dor de cabeça e confusão
Aos ciprestes nas estradas, à tinta a óleo sobre a tela
Às andanças sem porquê, aos olhos a se espelhar
À oportunidade que não foi dada, à compaixão e à dor
Marcas deixadas nas pedras, a ponte estreita até Deus
Olha voltei prá casa, olha voltei prá casa
À chegada e às batalhas, às portas batendo
À alegria contida,
Às perguntas sem resposta, ao que podia ter ocorrido
À lavagem de roupa suja
À grande verdade reabro os olhos prá algo em mim que foi com as águas
À melodia do riso e da dor, que talvez não percebi - ela ainda me toca
Olha voltei prá casa, olha voltei prá casa
Ao quadro que foi rasgado, à dúvida no amor
Ao momento de loucura aguda, à paz e à calmaria
À integridade do que se rompeu, ao que é preciso e ao que é dito
Ao que nada há prá fazer, à benção que há na relação
Ao triste paraíso, à amada prisão
Ao piloto automático
Ao monte de promessas esquecidas com os anos
Aos talvez e aos quase - que são tudo o que eu sou, tudo o que eu sou...
Olha voltei prá casa, olha voltei prá casa
Do furo na persiana quebrada se vêem
as grandes montanhas se derramando no Kinéret
A rua sinuosa à soleira da porta que pede
pelo infinitíssimo início.

הנה באתי הביתה
איתי פרל
מילים: דנה ברגר ואיתי פרל
לחן: איתי פרל
אל המכלת הקטנה, אל הדירה הישנה, אל המפתח הגנוב, אל איש אחד שלא ישוב
אל הסודות המתוקים, אל הסיבות למעשים, אל הדמעות שעוד יורדות, אל המבוכה והחידות
אל הברושים אל הכבישים, אל צבע שמן על בדים, אל שיטוטים בלי מטרה, אל זוג עיניים במראה
אל הזדמנות שלא ניתנה, אל החמלה והטינה, אל פתקאות באבנים, אל פתח צר אל אלוהים 
הנה באתי הביתה
אל הקרבה והקרבות, אל הדלתות הנטרקות, אל השמחה המאופקת, אל שאלות ללא תשובות,
מה שיכול היה לקרות, אל הכביסה המלוכלכת מן האמת העצומה שוב נפקחות עיני
אל משהו בי שלא נשטף במים, אל מנגינה של צחוק ושל כאב, שאולי לא שמתי לב
היא מתנגנת בי עדיין 
הנה באתי הביתה
אל המסגרת הקרועה, אל הספק באהבה, אל רגע של שפיות חדה, אל השלום, אל השלווה
אל השלם שבשבור, אל הצריך והאמור, אל מה שלא יכול להיות, אל הברכה שבחיבור
אל גן העדן העצוב, אל בית הכלא האהוב, אל הטייס האוטומטי
אל ערימה של הבטחות שנשכחו עם השנים, אל האולי והכמעטים שהם כל מי שאני
הנה באתי הביתה
מחור קטן של תריס שבור, אפשר לראות הרים גדולים שנשפכים אל הכינרת
את הרחוב המתפתל אל סף הדלת השואל,
אל ההתחלה שלא נגמרת
Ahavá shel shnei anashim - ao vivo
O som está bem ruim, mas para quem gosta ao vivo...
O show foi agora, janeiro de 2010.
Abaixo a letra transliterada, presente. boa semana.

Ahavá shel shnei anashim (O amor entre duas pessoas)
Hu ló amar la milá shoná, hi halchá barechov kmo guivéret,
Biktsará...
Hem ló nahagu acheret, mikol bnei-zug acherim
Aval nadaf mehem rêiach,
ahavá, shel shnei anashim

Hu ló lachásh la devarim metukim, hi ló hebíta amok beeináv
aval haiu beinehem chilufim kmussim
Dvarim shekashê lomar achsháv, dvarim sheacherim nossim, shochachim
biktsará, ahavá, shel shnei anashim

Zé ló nimshách zman rav
mi iedá kama zman dvarim nimshachim
aval hachaim, im ktsarim im arukim,
ertsê shegam bi tigá, rak tifgá, tarim, dvar-má,
ioter mikirvá - ahavá, shel shnei anashim
O amor entre duas pessoas
Nova canção de Nurit Galron, que não pára de tocar em Israel,na rádio Galgalatz.


Ahavá Shel Shnei Anashim
letra: Nathan Zach / melodia: Ilan Wirtzberg
Intérprete: Nurit Galron
Tradução: Uri Lam
Ele não dizia a ela uma palavra diferente
Ela caminhava pela rua como toda mulher
Resumindo...
Eles não agiam diferente, de qualquer outro casal
Mas deles exalava um aroma
O amor, entre duas pessoas

Ele não sussurrava para ela palavras doces
Ela não olhava profundamente em seus olhos
Mas entre eles havia trocas sutis...
Coisas que é difícil dizer agora
Coisas que outros viajam, esquecem
Resumindo:
O amor, entre duas pessoas

Não durou muito tempo.
Quem saberá quanto tempo as coisas duram
Mas a vida, seja curta seja longa,
queria que também que isso me tocasse,
só atingisse, levantasse, sei lá,
mais que intimidade
O amor, entre duas pessoas


אהבה של שני אנשים
מילים: נתן זך/ לחן: אילן וירצברג
זמרת: נורית גלרון
הוא לא אמר לה מילה שונה, היא הלכה ברחוב כמו גברת
בקצרה...
הם לא נהגו אחרת, מכל בני-זוג אחרים
אבל נדף מהם ריח, אהבה, של שני אנשים

הוא לא לחש לה דברים מתוקים, היא לא הביטה עמוק בעיניו
אבל היו ביניהם חילופים כמוסים
דברים שקשה לומר עכשיו, דברים שאחרים נוסעים, שוכחים
בקצרה: אהבה, של שני אנשים

זה לא נמשך זמן רב, מי ידע כמה זמן דברים נמשכים
אבל החיים, אם קצרים אם ארוכים,
ארצה שגם בי תיגע, רק תפגע, תרים, דבר-מה,
יותר מקרבה - אהבה, של שני אנשים

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Rabino Yuval Cherlow – temos que facilitar a conversão dos novos imigrantes
Fonte: jornal israelense Maariv  (em hebraico)
tradução: Uri Lam 
O rabino Yuval Cherlow defende que a Halachá (a lei judaica) e a lógica devem agora assumir uma abordagem facilitadora no que tange à conversão de olim chadashim (novos imigrantes a Israel). Em sua opinião, uma abordagem rabínica que dificulte os processos irá causar um enorme aumento no número de casamentos mistos e na assimilação.
Em artigo publicado no website da Yeshivá Orot Shaul na cidade de Petach Tikva, o rabino Cherlow escreve que em uma situação normal é claro que deve haver uma abordagem rigorosa para quem deseja se converter ao judaísmo. Sua opinião é que hoje em dia vivem no país muitos israelenses que não são judeus segundo a Halachá: “Estima-se que justamente quem não converter os não judeus será quem aumentará o número de não judeus em Israel, porque estes são parte integrante da sociedade israelense, na próxima geração seus filhos em geral não serão reconhecidos como judeus e sim como não judeus, e aumentará enormemente o volume de casamentos mistos”.
O rabino Cherlow acrescentou, enfatizando: “É semelhante aos casos que as cortes rabínicas geram na política relativa aos divórcios, que aumentam o número de mamzerim (filhos de uniões matrimoniais fora do casamento) em Israel e afastam mais e mais pessoas da condição de se casarem conforme a religião de Moisés e de Israel, além desta rigidez levar a rumores terríveis”.
Contudo, o rabino Cherlow enfatiza que o desejo de tornar a abordagem mais fácil para os candidatos à conversão não autoriza de modo algum uma conversão em desacordo com a Halachá. Segundo ele, a lei judaica permite a adoção de uma posição facilitadora, e devido à situação a adoção dessa abordagem é uma necessidade imperativa.
Rezar é diferente de rezar, que é diferente de rezar
Sempre fiquei admirado quando, ao chegar para o serviço de Shabat na CIP às 6as feiras, encontrava algumas pessoas que já haviam chegado muito antes e permaneciam sentadas já em seus lugares. Algumas em silêncio absoluto, outras folheando o sidur ou o comentário da parashá da semana.
No ano em que estive em Buenos Aires cheguei a ir algumas vezes ao Templo de La Libertad, a primeira grande sinagoga da Argentina. E lá novamente, uma hora antes do início do serviço religioso, na presença de não mais que umas 50 pessoas (a sinagoga tem lugar para centenas de pessoas) o rabino Sergio Bergman dirigia alguns exercícios de meditação, de modo que a semana, o trânsito e as preocupações ficassem do lado de fora, e do lado de dentro as pessoas se preparassem para receber o Shabat como se deve.
Em outras sinagogas em que estive havia aqueles que precisavam ocupar o tempo inteiro rezando, sem espaço para respirar, refletir, sentir, pensar. Só rezavam - prá cumprir com a obrigação.
Eis que encontro na Mishná - a obra ao redor da qual se desenvolve a tradição oral judaica, o Talmud - a seguinte passagem:
Só se levanta para rezar [a Tefilá] com grande concentração.
Os primeiros chassidim (judeus muito devotos) permaneciam uma hora [meditando]
e só então rezavam, para que dirigissem seus corações ao Deus Onipresente.
Até mesmo se um rei os saudasse, não retribuíam.
Até mesmo se uma serpente se enrolasse em seu tornozelo, não interrompiam.
(Mishná, Tratado Brachot 5,1)
Como é diferente
a) chegar, e rezar;
b) rezar, e rezar;
c) chegar uma hora antes, respirar, concentrar-se, e rezar.
Meu nome é Eldad, mas podem me chamar de Enéeeeeias
Nascido em 1950, Ariê Eldad é professor de Medicina e ocupa a primeira e única cadeira do partido Hatikva na Knesset, o parlamento israelense. O Hatikva, fundado em 2008, é conhecido também como Partido Sionista Nacional, parte da extrema-direita israelense - e bota extrema nisso.
Acredita no direito dos judeus se estabelecerem em todo o território da Terra de Israel - o que inclui a margem oriental do rio Jordão, ou seja, a Jordânia; obviamente a margem ocidental (Cisjordânia), Gaza, colinas do Golán. A proposta deste Enéias da política israelense com relação aos palestinos é encontrar para eles algum lugar nos países ocidentais e nos países árabes. O máximo de moderação é contentar-se com a margem ocidental e transferir os palestinos para a Jordânia.
Junte-se a esta ideologia do Hatikva-Partido Sionista Nacional - que "tão bem" faria à imagem de Israel diante de um mundo que nem precisa de partidos israelenses fascistas para nos tratarem como expansionistas, racistas, etc. - um brasileiro, filiado ao PSN, que defende a redefinição do conceito nacional israelense do que é ser judeu, de modo a satisfazer sua agenda política e incluir todo aquele que se define como ben anussim (ou anoussita, como ele chama) para que estes recebam o direito de aliá - provavelmente para fazer número nos territórios ocupados e forçar uma expulsão dos palestinos, garantindo uma "maioria judaica na Terra Bíblica de Israel".
O discurso muitas vezes é: "Se com os russos pôde, por que com a gente não?" Eu respondo rapidamente: (1) quanto aos russos foram 70 anos em que foram forçados a não viver como judeus; entre os descendentes de anussim foram 500 anos; (2) porque os russos que imigraram se encaixaram nas leis de aliá, comprovando ao menos um avô judeu - o que aqueles que são ou se consideram anussim em geral não têm como fazer, seja pelo estrago que o tempo fez, seja porque a Igreja não permitia emissão de documentos, seja porque há muitos que se dizem anussim que talvez nunca tenham sido; ou (3) há russos que falsificaram documentos (isso qq um pode fazer - e arcar com as consequências), de modo que cerca de 30% dos russos "judeus" eram cristãos, encheram as igrejas do país e são alvo predileto dos messiânicos de plantão. Certamente Israel aprendeu com os russos e não cometerá o mesmo erro.

Eu sempre digo que a democracia israelense testa os seus limites. Há desde os partidos de extrema-esquerda que falam em um estado binacional judaico-palestino - e entre estes os que pensam, mas não falam, em um estado somente palestino em todo o território; até a extrema-direita, religiosa ou laica, como esta do partido Hatikva-Partido Sionista Nacional, que prega a expulsão dos palestinos - cinicamente chamada de transfer - e sua ocupação com potenciais milhões de candidatos ao status de judeu, dentre os quais acredito haver e conheço descendentes de judeus que voltariam para casa, mas em paralelo a eles viriam junto milhões de pastores, de "roshis", de "israelitas", de Minim (Maaminê Ieshu), de mui-amigos da Torá que sonham em levar o povo judeu "a aceitar Jesus" (que Deus não permita e nos proteja). Se com os russos foram 30% de não-judeus, aqui, eu diria que o número seria muito maior. Então correríamos o risco de entregar Israel de bandeja às denominações evangélicas que, assim, acreditariam estar mais próximas do que nunca do retorno de Jesus.
Resta saber se em Israel estas coisas entram para o anedotário nacional, como ocorre no Brasil, ou se aqui há o risco de algum governo levá-los a sério.
Que Deus nos livre e guarde dos partidos fascistas entre nós, da manipulação, dos delírios de grandeza e dos pastores messiânicos que sonham nos evangelizar em nossa própria terra. Já temos inimigos de sobra.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Vingança
Ontem a polícia prendeu e levou para investigação alunos de diversas yeshivot, entre elas a Yeshivat Mercaz Harav, centro de Jerusalém, onde há cerca de 2 anos houve uma comoção geral quando um terrorista entrou no centro de estudos e matou diversos jovens estudantes, alguns com 15 anos de idade, antes de ser morto. Ficava a imagem de jovens envolvidos apenas com o estudo da Torá, atacados por um terrorista disposto apenas a matar.
Os presos para investigação são suspeitos de participar no ataque a uma mesquita em uma aldeia  nos territórios ocupados, colocar fogo em um tapete e em dezenas de livros religiosos e pichar o chão com dizeres de vingança, como "preparem-se para pagar o preço". O evento foi tão maldoso e perigoso que alguns rabinos proeminentes foram depois ao local, com livros do alcorão em mãos para reparar a perda dos livros queimados, e pedindo perdão pelo ocorrido - temia-se que fosse o estopim da 3a intifada.
 Não creio nem quero imaginar que jovens estudantes de yeshivá tenham aprendido a fazer isso em suas salas de aula, bibliotecas e sinagogas, nem que tenham sido incitados a tanto, nem por professores, nem por textos - se não, em que seriam diferentes? Ou não seriam? Em outras duas yeshivot também houve detidos para investigação sobre participação no ataque à mesquita, a maioria menores de idade.

domingo, 17 de janeiro de 2010

Uma semana intensa
Esta semana temos a última semana de aulas do semestre. Férias? Nada. Há muito trabalho a fazer. De estudos rabínicos, trabalhos práticos, leituras mil. Espero terminar tudo ou quase tudo antes do início do próximo semestre. Acho que nem sentirei a parada, pois continuarei com a maior parte das atividades que nos serão deixadas para fazer para "não perdermos o ritmo". Enfim, não será monótono.
O inverno em Jerusalem até agora está prá lá de agradável, sol durante ao dia, frio à noite, bastante suportável. Até agora acho a melhor estação do ano, diferente do calor insuportável de junho, talvez o mesmo que esteja fazendo no Brasil agora.
Talvez eu fique alguns dias longe do blog, para dar conta das prioridades.
Um grande abraço a todos e uma ótima semana.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Guma Aguiar dia 13/01, antes de ser internado no Hospital Psiquiátrico

Entrevista para o Jerusalem Post (em inglês, com legendas em hebraico). Ele diz ter entrado em Gaza, visitado e libertado Guilad Schalit. Conta que alguém o guiou para se encontrar com "alguém muito, muito especial" - supostamente Guilad Schalit.
Tirem suas próprias conclusões.
Shabat Shalom
Uma oração pelo Haiti
Movimento pelo Judaísmo Progressista de Israel
Tradução: Uri Lam
Rosh Chodesh Shevat 5770, janeiro de 2010, Parashát Vaerá
“Pois todos nós somos um só tecido vivo” - Moti Hammer
Diante das dimensões da catástrofe e do sofrimento no Haiti por conta do terremoto ocorrido há alguns dias, o Movimento pelo Judaísmo Progressista de Israel convoca os membros de suas comunidades, seus amigos e toda a população israelense a dedicar alguns momentos de reflexão e de oração em favor das vítimas e pelo esforço de resgate dos sobreviventes graças aos esforços de ajuda humanitária israelense e internacional.
Abaixo uma tefilá, uma oração em favor dos sobreviventes dos esforços de socorro, escrita pelo rabino Yehoram Mazor.
Uma Oração pelo Povo do Haiti
“Medo, abismo e entulho estão sobre vocês, habitantes da terra, trepidam os fundamentos da terra. Alquebrada esta a terra, despedaçada e feita aos pedaços, ela treme e se contorce, balança desequilibrada como um bêbado.” (Isaías 24:17-20)
Soberano do Universo, Tu nos deste o Teu arco-íris sobre as nuvens e nos informaste que não mais haveria um dilúvio. E eis que a terra trepidou e nossos irmãos e irmãs, habitantes do Haiti, foram atacados pelo tremor de sua terra. Nós nos enlutamos por seus mortos e nossos corações se unem aos de seus sobreviventes no sofrimento e na dor. Envia-lhes conforto para que possam restituir suas vidas. Resgate suas almas, cure seus corpos e envie força aos seus pensamentos. Envia a Tua compreensão e a Tua força às equipes de resgate, boa vontade e bom coração e mãos generosas a todos e todas que sejam capazes de prestar auxílio. Apresente a Tua luz, indique-lhes o caminho, seja para eles um defensor.
“Clamamos ao Eterno na nossa aflição e Ele nos respondeu. Gritamos e Ele nos escutou. Quando dentro de nós desfaleciam nossas almas, lembramo-nos do Eterno e chegou a Ti a nossa oração. E nós ofereceremos a Ti nossas rezas com voz de gratidão, e cumpriremos o que prometemos” (insp. em Jonas 2:3-10).
“E tudo o que se ergue é uma só alma, elevando-se como se ergue um mundo inteiro”. (Sanhedrin 4,5)
As fundações de auxílio humanitário das comunidades judaicas reformistas da América do Norte estão atuando desde o momento em que se soube do terremoto no Haiti, angariando recursos para auxílio aos sobreviventes do terremoto. As doações são totalmente em prol de atividades humanitárias.
Convocamos todas as comunidades judaicas em geral, e nossos amigos do movimento judaico progressista e reformista no mundo inteiro a divulgar esta oração e este comunicado, e promovam todos os esforços para auxiliar os sobreviventes da tragédia no Haiti.
Nesta noite de Shabat e de Rosh Chodesh Shevat, vamos dirigir uma oração para que o Deus Misericordioso nos console e console a todos os habitantes da terra, para que venhamos a ter um dia que seja todo Shabat e de descanso para o mundo inteiro, e que este novo mês que se inicia nos traga renovação para o bem e para a benção.
Que nossas ações sejam realizadas em benefício de ticun olam, da reparação do mundo, inspirados pelas palavras dos cânticos de Israel: “Que os atos de nossas mãos prosperem em nosso favor, e os atos de nossas mãos Tu farás com que prosperem.” (Salmos 90:17)
Movimento para o Judaísmo Progressista de Israel (em hebraico)
Judaísmo Progressista
Tradição de Renovação Judaica e Ticun Olam (Reparação do Mundo)

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Uma comunidade ortodoxa moderna. Existe um bicho destes.
Rivka Luvitch, conselheira rabínica ortodoxa, 23/12/2009
Tradução: Uri Lam, 14/01/2010
Há 30 anos foi fundada em Jerusalém a Kehilát Iedídia, que decidiu levar ao limite a ideia da igualdade para as mulheres na sinagoga. Desde então este limite se estendeu e este espírito se espalhou por todos os cantos de Israel. Rivka Luvitch passou um Shabat lá e voltou gratificada de ver sonhos realizados. Este é o seu relato.
No último Shabat me convidaram a abrir o Aron Hacódesh. Eu educadamente recusei. “Então talvez você queira carregar a Torá na ezrat nashim (o setor das mulheres)”? Também recusei esta proposta educadamente, por razões pessoais – eu ainda vivo dentro da minha bolha tradicional – embora conheça essas coisas principalmente de livros, artigos ou palestras que eu mesma dei ou escutei nas últimas décadas. Porém admito que me inflei inteira de satisfação com a oferta. Não é todo dia que recebo uma proposta destas em uma sinagoga ortodoxa. Sentei-me mais para trás e assisti como convidada o que estava acontecendo. Foi maravilhoso. Derramei uma lágrima quando beijei a Torá que passava entre as mulheres – sorri em meu coração durante todo aquele maravilhoso serviço religioso.
Certamente vocês já adivinharam. Eu rezei na Sinagoga Iedídia.
A Sinagoga Iedídia é uma comunidade ortodoxa moderna. Foi fundada há 30 anos por um grupo de pessoas, sob a liderança da doutora Dvora Vaisman, que assumiu a ideia de avançar a questão da igualdade para as mulheres na sinagoga até o limite. Bem entendido, até o limite daquela época.
Funciona Assim
Naquele tempo o limite era o seguinte: a mechitsá passou para o centro da sinagoga de modo a dividir o salão em duas partes de mesmo tamanho. O chazán (cantor litúrgico) e a bimá (local de onde o serviço religioso é dirigido) ficam localizados no centro, e não do lado dos homens. O Sefer Torá passa pelo setor dos homens e depois segue adiante e vai em direção ao setor das mulheres nas mãos de uma mulher previamente convidada para isso. Uma mulher abre o Aron Hacódesh (a Arca Sagrada). Durante o serviço religioso as mulheres cantam em harmonia com os homens, e nenhuma delas precisa se preocupar que alguém sugira a ideia de nos calarmos porque “a voz da mulher é como a nudez”.
Embora os homens dirijam o serviço conforme o costume das sinagogas ortodoxas, uma vez em cada tantas semanas tem leitura das mulheres na Torá, que é realizada em outro salão e conduzido apenas por mulheres. A leitura das meguilot nas diversas festividades religiosas é feita por homens e mulheres juntos. Uma mulher se levanta diante da comunidade para rezar a Oração pela Paz do Estado de Israel e também para o Mi Sheberach, a oração em favor das pessoas enfermas. Não é preciso dizer que as mulheres assumem parte da gabaút (auxílio ao serviço religioso) e na condução dos serviços religiosos na sinagoga, bem como também fazem comentários sobre a leitura da Torá. No Kidush após o serviço,  também uma mulher pode santificar o vinho, fazendo assim com que a comunidade cumpra com a sua obrigação. E como eu quase esqueci – as mulheres dizem Cadish.
Hoje em dia, obviamente, o limite está completamente em outro lugar, e aos olhos de muita gente a Comunidade Iedídia já é considerada muito tradicional. Há minianim ortodoxos nos quais as mulheres ficam na teivá (o espaço com a mesa sobre o púlpito) em boa parte das rezas, e sobem e leem na Torá em leitura compartilhada com os homens. Tudo isso sem abrir mão da mechitsá. No entanto, apesar dos meus anos de ativismo feminista, abri mão de lutar comigo mesma e com os outros, abri mão da pequenez e abri mão das amarguras.
Eu só posso ficar feliz com o fato de um sonho ter sido realizado. Talvez não eu o tenha realizado – mas outras o realizaram. Estou feliz principalmente pelo fato de que os sonhos se realizam, mesmo quando são complicados, e com certeza eu me vejo como parceira virtual da comunidade que realizou veste antigo sonho das mulheres dentro do espaço da sinagoga e do serviço religioso. Tudo o que é possível atualmente é observar o conceito de “até o limite” se espalhar por outros minianim por todos os cantos de Israel. Levará tempo – mas irá acontecer.
O meu sonho
Eis que hoje estou em outra história. Busco realizar este mesmo sonho no Bet Din (Corte Rabínica) e em tudo o que estiver ligado ao papel pessoal das mulheres no judaísmo. E isto, senhoras e senhores, é muito mais difícil. Pouquíssimos homens entendem o sonho, e pouquíssimos homens estão preparados para seguir “até o limite”. E entre os homens que debatem, entendem e estão preparados, pouquíssimos deles são rabinos ou poskê halachá (legisladores das leis judaicas). Mas eu não fico amargurada – porque já tenho experiência e já vi que os sonhos podem ser realizados.
Guma Aguiar encontra-se com Guilad Schalit - Uma história prá lá de estranha
O bilionário brasileiro-americano-israelense Guma Aguiar, 32 anos, volta e meia retorna à mídia, embora eu tenha a impressão de que ele é mais discreto do que gostariam que fosse.
Desta vez Guma foi forçado a uma internação no Hospital Psiquiátrico Abarbanel por ordem judicial. Motivo? Teria ido a Gaza - e mais, teria se encontrado com Guilad Schalit, o soldado israelense sequestrado há 3 anos e meio. Um feito que nem a Cruz Vermelha teria conseguido.
A rádio estatal Kol Israel informou que Guma Aguiar, empresário do petróleo e "salvador" do time de futebol Betar Yerushalaim teria chegado nos 20 minutos finais da última partida entre o Betar e o Bnei Sachnin, no Estádio Teddy Kollek em Jerusalém, e justificou o atraso pois tinha dado um pulinho lá em Gaza e feito uma visita a Guilad Schalit em seu cativeiro e o teria libertado.
Aguiar deu uma entrevista ao jornal Kol Ha'Ir ("A Voz da Cidade", em Jerusalem) e contou: "Ele está em uma de minhas propriedades.(!!!) Eu disse a Schalit: 'Espero ver você em casa já nos próximos dias'. Ele respondeu que queria dizer à sua família o quanto os ama e o quanto ama Israel, e que espera que tudo acabe em breve. Eu já salvei milhares de pessoas, não só Guilad Schalit, e quero ser capaz de salvar milhares de pessoas todos os dias, e não apenas Guilad Schalit."
Conversa de maluco ou será que ele fez isso mesmo? 
Israel já teve outros bilionários que deram vazão às suas excentricidades em nome da paz. Há cerca de 20 anos o bilionário Abbie Nathan mantinha um navio em alto mar de onde transmitia a lendária e romântica rádio (e TV) "Kol Hashalom", a Voz da Paz. Certo dia pegou seu avião particular - ele era piloto - e voou até a Turquia para se encontrar com Yaasser Arafat, então líder da OLP e inimigo nº1 de Israel - e o encontro efetivamente aconteceu. Quando retornou a Israel foi preso imediatamente. O movimento pacifista Shalom Achshav (Paz Agora) fazia visitas constantes a Abbie na prisão, até que em poucos meses foi libertado por bom comportamento.
Desta vez é Guma Aguiar que teria chamado a si a responsabilidade e visitado Guilad Schalit. Ao retornar, foi internado em um hospital psiquiátrico. Que é coisa de louco o que ele fez ou diz ter feito, é mesmo. Mas terá sido uma loucura do bem ou um delírio psicótico? Na loucura que é esta situação de Guiolad Schalit, as negociações esquizofrênicas entre Israel e o Hamas em que tudo o que se fala não se escreve, tenho uma sensação de que Guma é dos loucos o menor e o mais bem intencionado.
Seja como for, a família Aguiar divulgou o seguinte comunicado: "Guma Aguiar foi submetido por um prolongado período de tempo a uma intensa pressão emocional, causada por processos judiciais maldosos nos Estados Unidos relativos à relações de negócios com seu tio no passado. Ele foi vítima de uma campanha de vigilância invasiva e de falsas acusações que atingiram o nível de terrorismo psicológico."
Até aqui acho plenamente verossímel que ele tenha sido submetido a este tipo de pressão. Jovem, bilionário, bem sucedido e bem relacionado, convencido de que deve distribuir parte de sua riqueza (descobriu um poço de petróleo nos EUA) com as mais diversas instituições, como modo de agradecer a Deus. Guma incomoda e muito. Não é preciso nem estar no lugar de Guma para ser chantageado e pressionado maldosamente.
No mês passado, Aguiar proclamou-se o novo proprietário do Betar - comprou de Gaydamak, judeu russo que sonhava ser prefeito de Jerusalém e acabou deixando o país - cinco meses depois de dar à equipe um patrocínio de US$ 4 milhões e tirar o time da situação de falência. Aguiar já doou também US$ 8 milhões ao projeto Nefesh b'Nefesh, que estimula a Aliá, a imigração de judeus a Israel principalmente da América do Norte.
Apesar do tom quase messiânico de Guma Aguiar de que teria se encontrado com Guilad Schalit e iria salvá-lo das mãos do Hamas (se conseguisse, seria um verdadeiro heroi nacional), seus porta-vozes negaram que o encontro tenha sido bem-sucedido e o governo o enfiou no hospital psiquiátrico.
E de onde Guma tirou o diálogo com Guilad Schalit?
Não sou lá de teorias conspiratórias, mas que a história está tremendamente mal contada, lá isto está.
Parashá da Semana - Vaerá
Comentário: Uri Lam (para o semanário "Congregar" da CIP)
Ao ser convocado para libertar o povo de Israel da escravidão no Egito, Moisés perguntou a Deus:“Então Você quer que eu vá até o povo e diga: ‘O Deus dos seus antepassados me enviou até vocês’. Com certeza eles irão me perguntar: ‘Qual é o nome Dele?’ O que eu digo?!”
Conta um midrash, em Shemot Raba, que quando Moisés fez esta pergunta, recebeu a seguinte resposta: “Que pena que as pessoas se esquecem. Tantas vezes Eu me revelei a Abrahão, a Isaac e a Jacob como ‘El Shadai’.... Nenhum deles perguntou qual era o Meu Nome. Mas você Moisés, antes mesmo de Eu lhe enviar para a sua missão, você perguntou qual era o Meu Nome. E Eu lhe contei. Para que? Para você vir em seguida e se queixar: ‘Desde que me apresentei ao Faraó para falar em Teu Nome, ele tem maltratado este povo’”.
É neste contexto que iniciamos a leitura da parashá desta semana. O clima é de conflito. Deus escolhe Moisés para libertar o povo de Israel e Moisés reluta, argumenta, assume-se incapaz, teme – Como eles vão reagir? E o Faraó então? Neste momento Deus lembra a Moisés algo fundamental: “Ei, Eu sou YHVH”.
Embora de fato nenhum dos patriarcas tenha perguntado qual era o Seu Nome, o próprio Deus Se revelou a eles de algum modo. Abrahão fez seu servo Eliezer jurar em nome de YHVH que buscaria uma mulher para Isaac entre seus familiares. Após ser abençoado por Deus, Isaac ergueu um altar e lá invocou o Nome de YHVH. Ao sonhar com a escada que ia da terra ao céu, Deus revelou-se a Jacob: “Eu sou YHVH, Deus de teu pai [avô] Abrahão e Deus de Isaac”.
Moisés temia que os israelitas lhe pedissem para dizer o Nome de Deus antes de qualquer coisa. Pensando bem, por que eles fariam esta pergunta? Não seria mais coerente perguntarem por que Deus enviou justamente Moisés, um príncipe do Egito foragido, para salvá-los? E por que Deus o orientou a dizer que fora enviado pelo Deus dos seus antepassados? Acaso não se levaria mais esperança se Moisés dissesse “O Deus dos Exércitos me enviou até vocês”?
De fato, para os israelitas escutar o Nome de Deus da boca de Moisés em pleno Egito era condição fundamental para acreditarem que finalmente seriam libertados e tomariam o rumo de casa, à Terra de Israel. Eu sugiro que na verdade YHVH era a senha. Se o povo perguntasse a Moisés qual era o Nome de Deus e ele dissesse a senha corretamente, os israelitas o reconheceriam como “gente como a gente” e saberiam que, depois de séculos de escravidão, Deus ainda existia e era chegada a hora de libertá-los.
Mas será que o povo de Israel conhecia o Nome de Deus? Eu entendo que sim, que lhes foi transmitido por tradição e que este foi justamente o motivo pelo qual Deus disse a Moisés para se apresentar como enviado do Deus dos seus antepassados – seria como dizer: “O seu Deus é o meu Deus”, exatamente como um dia a moabita Ruth diria à sua futura sogra israelita, Naomi.
Os comentaristas clássicos da Torá propõem que cada nome de Deus tem um sentido. Há momentos em que o Rei dita as normas e as cobra ao pé da letra – aqui Deus é Elohim. Em outros momentos Deus se coloca ao nosso lado por inteiro, comove-se com o nosso sofrimento e nossas dúvidas e faz de tudo para aliviar a nossa a dor, física, emocional ou espiritual – aqui Deus é YHVH.
“Elohim falou a Moisés e lhe disse: Eu sou YHVH.” (Êxodo 6:2) Este primeiro versículo de Vaerá começa com Elohim, o Deus que concede leis e ordem à vida. Mas ao compreender a humanidade de Moisés, Deus afirma: “Eu sou YHVH”, o Deus da bondade, que entende e acolhe, que se coloca inteiro ao lado, propõe alternativas e dá coragem para que enfrentem juntos o que vier pela frente. Desta união entre Deus e o ser humano, a vida ganha sentido. 
A página do Talmud de hoje - Daf Iomí
Em algumas comunidades criou-se o costume de se estudar uma página do Talmud por dia, de modo que em aproximadamente 7 anos uma pessoa seja capaz de estudar todo o Talmud.
Este costume foi estendido para outros estudos. Assim, há aqueles que estudam uma página da Mishná por dia – a Mishná é o conjunto de textos da época tanaítica (até cerca do séc. 2 EC) ao redor dos quais foram construídos os tratados da Guemará (até cerca do séc. 5 EC), da época amoraítica. Em linhas gerais, juntos a Mishná e a Guemará compõem o que hoje conhecemos por Talmud.
O comentário abaixo é do rabino Adin Steinsaltz, que neste ano de 2010 completará toda a sua edição do Talmud Steinsaltz, o que será motivo de muita comemoração.
A página do tratado Baba Batra é a Daf Iomí, a página do Talmud estudada hoje.

Baba Batra 146a-b
14 de janeiro de 2010
Comentário: rabino Adin Steinsaltz
Tradução: Uri Lam
Ao discutir a situação dos pobres, que não podem nem desfrutar de uma melhora na sua situação, a Guemará cita o Sefer Ben Sira (Livro de Ben Sira) ao dizer que “Todos os dias de um homem pobre são ruins”, pois até mesmo o  Shabat e os feriados religiosos são difíceis para ele. Além disso, Ben Sira é citado ao dizer “As noites também (são ruins). Seu telhado é mais baixo do que todos os telhados e seu vinhedo fica no alto das montanhas. Assim sendo, a chuva dos outros telhados escorre por cima do seu telhado e a terra do seu vinhedo escorre para os vinhedos dos outros”.
Estas declarações se baseiam na passagem do livro de Provérbios 15:15, e a citação parece ser um acréscimo de reflexões atribuídas a Ben Sira.
O Sefer Ben Sira é um dos primeiros livros compostos após a canonização final dos textos que se tornaram parte da Bíblia Hebraica. Foi escrito por Shimon ben Iehoshua Ben Sira, nascido em   Jerusalém e que era um jovem contemporâneo de Shimon Hatsadic, antes da época dos Chashmonaim. O Sefer Ben Sira foi tomado em alta estima, e após sua tradução para o grego pelo neto do autor (132 EC, em Alexandria), tornou-se muito conhecido, inclusive entre aqueles que não estavam familiarizados com o idioma hebraico.
O Sefer Ben Sira não faz parte da Bíblia Hebraica, mas está incluído como obra canônica na Septuaginta (por isso é considerado como tal em muitas traduções não judaicas da Bíblia). Embora os rabinos do período talmúdico tenham optado por considerá-lo como um dos sefarim chitsonim (livros fora do cânone bíblico), eles o citam de forma respeitosa ao longo de todo o Talmud, por vezes até mesmo referindo-se a ele como parte dos Ketuvim  (o terceiro volume da Bíblia Hebraica).
Contudo, por causa da confusão entre esta obra e outra conhecida como Alfa-Beta deBen-Sira (O Alfabeto de Ben Sira, obra medieval de autoria anônima), que era muito popular e problemática, encontramos declarações posteriores na Guemará proibindo o estudo do Sefer Ben Sira, para evitar que fosse confundida com o Alfa-Beta deBen-Sira.
Por muitas gerações o Sefer Ben Sira foi conhecido apenas indiretamente, através de suas traduções, mas recentemente partes dele foram encontradas no hebraico original (em Massada e em outros lugares). Uma vez que não fazia parte do cânone bíblico hebraico oficial, parece que os copistas sentiram mais liberdade de trabalhar com ele e por isso encontramos diferentes versões do mesmo texto. Quando ele aparece no Talmud, parece provável que tenha sido citado pelos Sábios de cor e não como texto escrito. As declarações citadas na Guemará não são encontradas nas traduções nem nos manuscritos existentes do Sefer Ben Sira.
Este artigo está baseado na compreensão e nos chidushim (inovações) do rabino Steinsaltz, publicada na versão em hebraico da Edição do Talmud Steinsaltz.