Parashá da Semana - Vaerá
Comentário: Uri Lam (para o semanário "Congregar" da CIP)
Ao ser convocado para libertar o povo de Israel da escravidão no Egito, Moisés perguntou a Deus:“Então Você quer que eu vá até o povo e diga: ‘O Deus dos seus antepassados me enviou até vocês’. Com certeza eles irão me perguntar: ‘Qual é o nome Dele?’ O que eu digo?!”
Conta um midrash, em Shemot Raba, que quando Moisés fez esta pergunta, recebeu a seguinte resposta: “Que pena que as pessoas se esquecem. Tantas vezes Eu me revelei a Abrahão, a Isaac e a Jacob como ‘El Shadai’.... Nenhum deles perguntou qual era o Meu Nome. Mas você Moisés, antes mesmo de Eu lhe enviar para a sua missão, você perguntou qual era o Meu Nome. E Eu lhe contei. Para que? Para você vir em seguida e se queixar: ‘Desde que me apresentei ao Faraó para falar em Teu Nome, ele tem maltratado este povo’”.
É neste contexto que iniciamos a leitura da parashá desta semana. O clima é de conflito. Deus escolhe Moisés para libertar o povo de Israel e Moisés reluta, argumenta, assume-se incapaz, teme – Como eles vão reagir? E o Faraó então? Neste momento Deus lembra a Moisés algo fundamental: “Ei, Eu sou YHVH”.
Embora de fato nenhum dos patriarcas tenha perguntado qual era o Seu Nome, o próprio Deus Se revelou a eles de algum modo. Abrahão fez seu servo Eliezer jurar em nome de YHVH que buscaria uma mulher para Isaac entre seus familiares. Após ser abençoado por Deus, Isaac ergueu um altar e lá invocou o Nome de YHVH. Ao sonhar com a escada que ia da terra ao céu, Deus revelou-se a Jacob: “Eu sou YHVH, Deus de teu pai [avô] Abrahão e Deus de Isaac”.
Moisés temia que os israelitas lhe pedissem para dizer o Nome de Deus antes de qualquer coisa. Pensando bem, por que eles fariam esta pergunta? Não seria mais coerente perguntarem por que Deus enviou justamente Moisés, um príncipe do Egito foragido, para salvá-los? E por que Deus o orientou a dizer que fora enviado pelo Deus dos seus antepassados? Acaso não se levaria mais esperança se Moisés dissesse “O Deus dos Exércitos me enviou até vocês”?
De fato, para os israelitas escutar o Nome de Deus da boca de Moisés em pleno Egito era condição fundamental para acreditarem que finalmente seriam libertados e tomariam o rumo de casa, à Terra de Israel. Eu sugiro que na verdade YHVH era a senha. Se o povo perguntasse a Moisés qual era o Nome de Deus e ele dissesse a senha corretamente, os israelitas o reconheceriam como “gente como a gente” e saberiam que, depois de séculos de escravidão, Deus ainda existia e era chegada a hora de libertá-los.
Mas será que o povo de Israel conhecia o Nome de Deus? Eu entendo que sim, que lhes foi transmitido por tradição e que este foi justamente o motivo pelo qual Deus disse a Moisés para se apresentar como enviado do Deus dos seus antepassados – seria como dizer: “O seu Deus é o meu Deus”, exatamente como um dia a moabita Ruth diria à sua futura sogra israelita, Naomi.
Os comentaristas clássicos da Torá propõem que cada nome de Deus tem um sentido. Há momentos em que o Rei dita as normas e as cobra ao pé da letra – aqui Deus é Elohim. Em outros momentos Deus se coloca ao nosso lado por inteiro, comove-se com o nosso sofrimento e nossas dúvidas e faz de tudo para aliviar a nossa a dor, física, emocional ou espiritual – aqui Deus é YHVH.
“Elohim falou a Moisés e lhe disse: Eu sou YHVH.” (Êxodo 6:2) Este primeiro versículo de Vaerá começa com Elohim, o Deus que concede leis e ordem à vida. Mas ao compreender a humanidade de Moisés, Deus afirma: “Eu sou YHVH”, o Deus da bondade, que entende e acolhe, que se coloca inteiro ao lado, propõe alternativas e dá coragem para que enfrentem juntos o que vier pela frente. Desta união entre Deus e o ser humano, a vida ganha sentido.
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