A página do Talmud de hoje - Daf Iomí
Em algumas comunidades criou-se o costume de se estudar uma página do Talmud por dia, de modo que em aproximadamente 7 anos uma pessoa seja capaz de estudar todo o Talmud.
Este costume foi estendido para outros estudos. Assim, há aqueles que estudam uma página da Mishná por dia – a Mishná é o conjunto de textos da época tanaítica (até cerca do séc. 2 EC) ao redor dos quais foram construídos os tratados da Guemará (até cerca do séc. 5 EC), da época amoraítica. Em linhas gerais, juntos a Mishná e a Guemará compõem o que hoje conhecemos por Talmud.
O comentário abaixo é do rabino Adin Steinsaltz, que neste ano de 2010 completará toda a sua edição do Talmud Steinsaltz, o que será motivo de muita comemoração.
A página do tratado Baba Batra é a Daf Iomí, a página do Talmud estudada hoje.
Baba Batra 146a-b
14 de janeiro de 2010
Comentário: rabino Adin Steinsaltz
Tradução: Uri Lam
Ao discutir a situação dos pobres, que não podem nem desfrutar de uma melhora na sua situação, a Guemará cita o Sefer Ben Sira (Livro de Ben Sira) ao dizer que “Todos os dias de um homem pobre são ruins”, pois até mesmo o Shabat e os feriados religiosos são difíceis para ele. Além disso, Ben Sira é citado ao dizer “As noites também (são ruins). Seu telhado é mais baixo do que todos os telhados e seu vinhedo fica no alto das montanhas. Assim sendo, a chuva dos outros telhados escorre por cima do seu telhado e a terra do seu vinhedo escorre para os vinhedos dos outros”.
Estas declarações se baseiam na passagem do livro de Provérbios 15:15, e a citação parece ser um acréscimo de reflexões atribuídas a Ben Sira.
O Sefer Ben Sira é um dos primeiros livros compostos após a canonização final dos textos que se tornaram parte da Bíblia Hebraica. Foi escrito por Shimon ben Iehoshua Ben Sira, nascido em Jerusalém e que era um jovem contemporâneo de Shimon Hatsadic, antes da época dos Chashmonaim. O Sefer Ben Sira foi tomado em alta estima, e após sua tradução para o grego pelo neto do autor (132 EC, em Alexandria), tornou-se muito conhecido, inclusive entre aqueles que não estavam familiarizados com o idioma hebraico.
O Sefer Ben Sira não faz parte da Bíblia Hebraica, mas está incluído como obra canônica na Septuaginta (por isso é considerado como tal em muitas traduções não judaicas da Bíblia). Embora os rabinos do período talmúdico tenham optado por considerá-lo como um dos sefarim chitsonim (livros fora do cânone bíblico), eles o citam de forma respeitosa ao longo de todo o Talmud, por vezes até mesmo referindo-se a ele como parte dos Ketuvim (o terceiro volume da Bíblia Hebraica).
Contudo, por causa da confusão entre esta obra e outra conhecida como Alfa-Beta deBen-Sira (O Alfabeto de Ben Sira, obra medieval de autoria anônima), que era muito popular e problemática, encontramos declarações posteriores na Guemará proibindo o estudo do Sefer Ben Sira, para evitar que fosse confundida com o Alfa-Beta deBen-Sira.
Por muitas gerações o Sefer Ben Sira foi conhecido apenas indiretamente, através de suas traduções, mas recentemente partes dele foram encontradas no hebraico original (em Massada e em outros lugares). Uma vez que não fazia parte do cânone bíblico hebraico oficial, parece que os copistas sentiram mais liberdade de trabalhar com ele e por isso encontramos diferentes versões do mesmo texto. Quando ele aparece no Talmud, parece provável que tenha sido citado pelos Sábios de cor e não como texto escrito. As declarações citadas na Guemará não são encontradas nas traduções nem nos manuscritos existentes do Sefer Ben Sira.
Este artigo está baseado na compreensão e nos chidushim (inovações) do rabino Steinsaltz, publicada na versão em hebraico da Edição do Talmud Steinsaltz.
Em algumas comunidades criou-se o costume de se estudar uma página do Talmud por dia, de modo que em aproximadamente 7 anos uma pessoa seja capaz de estudar todo o Talmud.
Este costume foi estendido para outros estudos. Assim, há aqueles que estudam uma página da Mishná por dia – a Mishná é o conjunto de textos da época tanaítica (até cerca do séc. 2 EC) ao redor dos quais foram construídos os tratados da Guemará (até cerca do séc. 5 EC), da época amoraítica. Em linhas gerais, juntos a Mishná e a Guemará compõem o que hoje conhecemos por Talmud.
O comentário abaixo é do rabino Adin Steinsaltz, que neste ano de 2010 completará toda a sua edição do Talmud Steinsaltz, o que será motivo de muita comemoração.
A página do tratado Baba Batra é a Daf Iomí, a página do Talmud estudada hoje.
Baba Batra 146a-b
14 de janeiro de 2010
Comentário: rabino Adin Steinsaltz
Tradução: Uri Lam
Ao discutir a situação dos pobres, que não podem nem desfrutar de uma melhora na sua situação, a Guemará cita o Sefer Ben Sira (Livro de Ben Sira) ao dizer que “Todos os dias de um homem pobre são ruins”, pois até mesmo o Shabat e os feriados religiosos são difíceis para ele. Além disso, Ben Sira é citado ao dizer “As noites também (são ruins). Seu telhado é mais baixo do que todos os telhados e seu vinhedo fica no alto das montanhas. Assim sendo, a chuva dos outros telhados escorre por cima do seu telhado e a terra do seu vinhedo escorre para os vinhedos dos outros”.
Estas declarações se baseiam na passagem do livro de Provérbios 15:15, e a citação parece ser um acréscimo de reflexões atribuídas a Ben Sira.
O Sefer Ben Sira é um dos primeiros livros compostos após a canonização final dos textos que se tornaram parte da Bíblia Hebraica. Foi escrito por Shimon ben Iehoshua Ben Sira, nascido em Jerusalém e que era um jovem contemporâneo de Shimon Hatsadic, antes da época dos Chashmonaim. O Sefer Ben Sira foi tomado em alta estima, e após sua tradução para o grego pelo neto do autor (132 EC, em Alexandria), tornou-se muito conhecido, inclusive entre aqueles que não estavam familiarizados com o idioma hebraico.
O Sefer Ben Sira não faz parte da Bíblia Hebraica, mas está incluído como obra canônica na Septuaginta (por isso é considerado como tal em muitas traduções não judaicas da Bíblia). Embora os rabinos do período talmúdico tenham optado por considerá-lo como um dos sefarim chitsonim (livros fora do cânone bíblico), eles o citam de forma respeitosa ao longo de todo o Talmud, por vezes até mesmo referindo-se a ele como parte dos Ketuvim (o terceiro volume da Bíblia Hebraica).
Contudo, por causa da confusão entre esta obra e outra conhecida como Alfa-Beta deBen-Sira (O Alfabeto de Ben Sira, obra medieval de autoria anônima), que era muito popular e problemática, encontramos declarações posteriores na Guemará proibindo o estudo do Sefer Ben Sira, para evitar que fosse confundida com o Alfa-Beta deBen-Sira.
Por muitas gerações o Sefer Ben Sira foi conhecido apenas indiretamente, através de suas traduções, mas recentemente partes dele foram encontradas no hebraico original (em Massada e em outros lugares). Uma vez que não fazia parte do cânone bíblico hebraico oficial, parece que os copistas sentiram mais liberdade de trabalhar com ele e por isso encontramos diferentes versões do mesmo texto. Quando ele aparece no Talmud, parece provável que tenha sido citado pelos Sábios de cor e não como texto escrito. As declarações citadas na Guemará não são encontradas nas traduções nem nos manuscritos existentes do Sefer Ben Sira.
Este artigo está baseado na compreensão e nos chidushim (inovações) do rabino Steinsaltz, publicada na versão em hebraico da Edição do Talmud Steinsaltz.
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