quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Eliezer era um homem engraçado - um profeta de nossos tempos


Eliezer Ben Yehuda
Música: Mati Caspi
Cantam: Chava Albersztein e Mati Caspi
Letra: Yaron London
versão em português: Uri Lam
Como os profetas zelosos pelo Nome de Deus,
Ele zelava pelo verbo, adjetivo, substantivo
E meia-noite, lamparina na janela, registrava em seu dicionário –
pilhas e pilhas, belas palavras, termos que voam, deslizam pela língua.
Eliezer, quando se deitará prá dormir? Você já está quase dobrado em dois
E o hebraico, que esperou dois mil anos, pode lhe esperar até o amanhecer.
Eliezer Ben Yehuda era um judeu engraçado
Palavras mil, palavras mil, ele inventava de sua mente febril.
Se o hebraico dormiu por dois mil anos - e daí?
Vamos despertá-lo e inventemos a iozmá (iniciativa)
Mag’hets (ferro de passar), petsatsá (bomba), rihut (móveis)
Escritos a pena com tanta fluidez.
Escreveu cruvit (couve-flor), escreveu glida (sorvete),
Escreveu de tudo, todo o Dicionário Ben Yehuda.
E ainda somou palavras inventadas
Sua ligeira pena não sossegava
E o idioma a aumentar
E não reconhecia o reflexo de sua imagem
Sua imagem refletida ao amanhecer.
Eliezer Ben Yehuda era um judeu engraçado
Palavras mil, palavras mil, ele inventava de sua mente febril.
E um filho ele teve, e decidiu falar:
Meu primeiro filho, chamarei de Ben Yehuda – Itamar
Que desde a infância até envelhecer,
Do brit milá até quando morrer -  
Terá um pacto com o hebraico
E o idioma estrangeiro lutará para esquecer.
Itamar então se tornou um homem
Alto, bem formado e esclarecido,
E sua língua materna era a língua hebraica.
Itamar Ben-Avi (filho de Eliezer Ben Iehuda)
Seu pai era um profeta
Um homem conforme seu coração.
Eliezer Ben Yehuda era um judeu engraçado
Palavras mil, palavras mil, ele inventava de sua mente febril.

Eliezer Ben Yehuda (1858-1922) reviveu e renovou a lingua hebraica. Hoje milhões de pessoas falam hebraico porque um dia, há mais de cem anos, um homem se sentou noites e noites em sua sala no bairro de Gueula, na rehov Etiópia, e ficou a escrever palavras, a criar palavras, a construir um gólem de palavras que hoje serve ao povo de Israel e a todo amante deste idioma milenar.
Graças à grande população jovem em Israel, alguns hoje estimam que há mais jovens judeus no mundo que sabem hebraico do que os que não sabem.
Amanhã visitaremos, com um grupo de jovens da CIP, a casa de Eliezer ben Yehuda.
Também visitaremos uma escola judaica laica, de judeus alemães do início do século, que tornou-se yeshivá e uma biblioteca da Bnai Brith que virou yeshivá, e o terreno onde havia um cinema que irá se tornar a yeshivá dos satmers, grupo ultra-ortodoxo antisionista. Mas ainda há a casa de Eliezer ben Yehuda, e a sede do sindicato dos trabalhadores de Israel, e uns poucos judeus laicos que resistem bravamente à "charedização" do bairro, grudado a Mea Shearim, o clássico bairro ortodoxo.
A tensão entre ultra-ortodoxos e o restante da população, de ortodoxos nacionalistas e modernos a conservadores, reformistas e não-praticantes, aumentou nos últimos anos. E o bairro, de nome Gueulá, Redenção, parece mostrar que da redenção mesmo ainda estamos longe - pelo menos deste bairro.
Um grande abraço e feliz 2010! 

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Rabi Iochanan e Resh Lakish - O mundo é maior do que a imagem no espelho 
Uri Lam 
A partir do questionamento do meu amigo Gerry.
Rabi Iochanan era Rosh Yeshivá, belo, inteligente, prá lá de instruído. Vivia a se admirar.
Resh Lakish era forte, admirador das armas e admirado pelos bandidos.
Ambos eram mestres no que faziam, ambos orgulhosos, para o bem e para o mal.
Um dia, quando Rabi Iochanan se banhava no rio Jordão, Resh Lakish o viu, saltou no rio depois dele e começaram a conversar. 
E ambos entram no rio
As águas que passam lá também passam cá. Ambos precisam da ajuda um do outro para crescer. Iochanan precisa deixar de ser tão Narciso, que acha feio o que não é espelho. Mas em vez disso, quer fazer Lakish à sua imagem e semelhança. Chega a oferecer a irmã, tão linda quanto ele - assim até mesmo os filhos de Lakish serão como Iochanan. Ele tem que se arrepender - Ele quem?!
Lakish salta no rio depois de Iochanan. Lakish toma a iniciativa. Iochanan o cutuca e recebe resposta à altura. "Estude Torá" diz a Lakish. "Use sua beleza para as mulheres, não para se sobrepor aos demais, o que será de um mundo feito só de clones de Iochanan?" responde Lakish. "Farei de você um grande homem", diz Iochanan, sem dar ouvidos. Mas Lakish escuta e topa o desafio,cresce e se transforma. Iochanan não. Permanece preso à sua imagem, à sua própria beleza. "O mundo precisa de homens como eu, o mundo deve ser como eu."
Lakish supera o mestre 
pois antes já era mestre em armas e usa sua experiência positivamente. Iochanan não suporta ter sua "beleza" superada por ninguém, e em vez de desfrutar do diálogo com quem é diferente, em vez de crescer diminui o outro lembrando-o de seu passado não muito louvável em meio aos bandidos.
Rabi Iochanan: Vejo que um bandido entende do seu negócio.
Resh Lakish: Se eu era Mestre junto aos bandidos , agora também sou Mestre junto à Torá.
Lakish se decepciona com seu mestre. Quebra-se o espelho. Ele não é a imagem de Iochanan nem quer ser. Lakish tem suas próprias experiências. Ele transformou suas habilidades do passado, antes fator de admiração de bandidos, em habilidades capazes de determinar judaicamente o que está positivamente apto ou não para o uso. Iochanan permaneceu o mesmo. O discípulo supera o mestre.
Iochanan leva Resh Lakish à morte 
sem armas, sem facas nem foices, mas por uma arma muito mais mortal: a palavra. Quando Lakish morre, Iochanan percebe que perdeu aquele que saltou na água com ele, que debatia com ele, que o fazia pensar e refletir não sobre si mesmo apenas, mas sobre o mundo, as armas, a vida. Agora sobrou apenas o espelho de si mesmo. Como Narciso, Iochanan salta nas águas e mergulha na depressão.
Rabi Eleazar quer ajudar o amigo. Encontra-se com Iochanan, mas somente lhe mostra Narciso no espelho. "Você está certo, meu amigo". É tudo o que Eleazar tem a dizer? Será que não se deu conta do que o mais belo homem de Jerusalém, o mais sabido, o mais mais, fez com suas certezas?
Iochanan se desespera
Mostrar quem é não o ajuda mais - ele sabe quem é, e não se orgulha mais disso, ao contrário, se arrepende. Ele percebe que perdeu a oportunidade de crescer, de ultrapassar a beleza superficial do ego e alcançar a verdadeira beleza no diálogo com o outro, e assim ampliar a visão e a experiência do mundo. Enquanto Eleazar mostra a imagem de Iochanan no espelho d'água e a elogia, Lakish entra na água, quebra o espelho e mostra a Iochanan a vida além de si mesmo. Falar com Eleazar é monólogo.
Falar com Resh Lakish era diálogo
Resta a monotonia do monólogo. Lakish não está mais, somente o espelho. "Onde está você, filho de Lakish?"  grita Iochanan. Não haverá filhos de Lakish. Não haverá clones de Iochanan. Lakish morreu, ponto final. E foi Iochanan quem o matou. Iochanan se dá conta disso, enlouquece - e morre.
Quem sabe agora, no mundo espiritual, poderá retomar o diálogo com Resh Lakish? Em vez de buscar a resposta, lachzor liteshuvá, pode ser a chance de Iochanan voltar a perguntar, lachzor lesheelá.

domingo, 27 de dezembro de 2009

A triste história de Rabi Iochanan e Resh Lakish
Talmud, Tratado Baba Metsia 84a  
A beleza da beleza e a beleza da sabedoria
A feiúra da beleza e a feiúra da sabedoria
O bom olhar e o mau olhar
Palavras que dão vida, palavras que matam
Tradução (em linguagem informal): Uri Lam
Rabi Iochanan disse: "Entre os homens de Jerusalém, só eu restei que tem uma beleza excepcional. Se alguém deseja ter idéia da minha beleza, faça com que pegue um cálice de prata recém imerso no crisol, preencha-o de sementes de romã vermelhas, cerque sua borda com um buquê de rosas vermelhas e coloque-o entre o sol e as sombras. Seu brilho lustroso só se compara à beleza de Rabi Iochanan."
Mas será que Rabi Iochanan era tão bonito assim?
Um dos rabinos comentou: “A beleza de Rabi Kahana é reflexo da beleza de Rabi Abahu; a beleza de Rabi Abahu é reflexo da beleza de nosso Patriarca Iaakov; e a beleza de nosso Patriarca Iaakov é reflexo da beleza de Adão. Vejam vocês, Rabi Iochanan não faz parte desta lista! E por que? Porque Rabi Iochanan é diferente; ele não tem barba.”
Rabi Iochanan costumava ir, sentar-se junto aos portões dos banhos na mikve, e dizer: “Quando as mulheres israelitas saírem do banho, que elas olhem para mim - então terão seus filhos tão bonitos e instruídos quanto eu.”
Os rabinos disseram a ele: “Você não tem medo de mau-olhado?”
E ele respondeu: “Eu?? Eu não! Sou descendente de Iossef, contra quem o mau-olhado é impotente, conforme está escrito: 'Iossef é um ramo frutífero - e um ramo frutífero do bosque de um poço.'”
Rabi Abahu advertiu: “Iochanan Iochanan... não leia alê áin, 'do bosque de um poço'; mas olê áin, 'do poder de um olhar'.”
Rabi Iossei bar Rabi Chanina deduziu isso do seguinte: "'E que se multipliquem os peixes em meio ao mundo' – assim como os peixes nos mares estão cobertos de água e o olhar não os domina, assim também é com a descendência de Iossef - o olhar não tem nenhum poder sobre eles."
Um dia, quando Rabi Iochanan se banhava no rio Jordão
Resh Lakish o viu, saltou no rio depois dele e começaram a conversar.
Rabi Iochanan: “A sua força deveria ser direcionada para a Torá.”
Resh Lakish: “E a sua beleza deveria ser direcionada para as mulheres.”
Rabi Iochanan: “Se você fizer teshuvá eu lhe trarei minha irmã para se casar com você, que é ainda mais linda do que eu.”
A mulher era realmente linda e Resh Lakish bem que se esforçou. Desejou devolver e deixar de colecionar suas armas, mas não pôde. Rabi Iochanan então lhe ensinou Tanach e Mishná e fez dele um grande homem - e assim Resh Lakish casou-se com a irmã de Iochanan.
Rabi Iochanan e Resh Lakish discutem duramente no Beit Midrash
Uma espada, uma faca, um punhal, uma lança, um serrote e uma foice - em que fase da fabricação estas armas podem ficar impuras? Quando estiverem prontas. Então tá, mas quando estarão prontas?
Rabi Iochanan disse, convicto: “Quando terminarem de ser temperadas no forno.”
Resh Lakish discordou: “Depois, só quando forem resfriadas em água.”
Rabi Iochanan não gostou de ser contrariado e respondeu irritado: “Muito bem Resh Lakish, vejo que um bandido entende do seu negócio.”
Resh Lakish respondeu asperamente: “Se é assim que você me vê, em que você me ajudou ao me ensinar Torá? Se entre os bandidos eu era chamado de Mestre, aqui, junto à Torá, também sou chamado de Mestre [Rabi].”
Rabi Iochanan respondeu, ainda mais irritado: “Que comparação absurda! Aqui eu trouxe você para debaixo das asas da Shechiná!”
Depois da discussão...
Rabi Iochanan sentiu-se profundamente deprimido e sua depressão influenciou tão negativamente a Resh Lakish que este ficou gravemente doente. A irmã de Rabi Iochanan, que se casou com Resh Lakish, veio e chorou na sua frente:
“Perdoe-o, nem que seja em favor do meu filho, para que não perca o pai!”
Rabi Iochanan respondeu, seco: “Deixe suas crianças órfãs, eu posso criá-las.”
"Perdoe meu marido então para que eu não fique viúva!”
“Deixe que tuas viúvas confiem em mim”, respondeu Iochanan, citando o Tanach.
Resh Lakish morreu
Rabi Iochanan mergulhou em profunda depressão.
Os Rabinos disseram: “Quem irá aliviar a sua mente da depressão? Rabi Eleazar ben Pedat, porque suas orientações são muito sutis.”
Rabi Eleazar ben Pedat foi até Rabi Iochanan e sentou-se diante dele. Para tudo o que argumentava Rabi Iochanan, Rabi Eleazar comentava, em tom de estímulo: “Há um ensinamento do Talmud que lhe apóia.”
Rabi Iochanan reclamou: “Você por acaso é como o filho de Lakish? Porque para qualquer coisa que eu dizia, o filho de Lakish levantava 24 questionamentos, para as quais eu dava 24 respostas, que por fim me levavam a uma compreensão mais plena da situação; e você ainda me diz ‘foi ensinada uma Beraita, um ensinamento dos Sábios, que lhe apóia’? E eu não sei sozinho que os meus argumentos estão corretos?”
Não havia o que tirasse Rabi Iochanan da depressão. Ele sentia que havia levado o amigo à morte.
Em seguida Iochanan rasgou suas roupas e passou a se lamentar o tempo todo: “Onde você está, filho de Lakish! Onde você está, filho de Lakish!”.
E assim ele se lamentou dia após dia, até que enlouqueceu.
Os rabinos rezaram por ele. E ele morreu.
A estrela morreu, mas não sua luz
 
Letra e música: Daniela Spector
Sugestão: Shlomit Or
Versão: Uri Lam 
Esta estrela morreu, e ainda a vemos aqui
De fato já inexiste, mas sua luz não esvanece
Ela vem na minha direção, mas leva o seu tempo
Esta estrela morreu, e eu a vejo.
À noite você me diz coisas lindas,
mas de manhã se esquece de mim.
Não, isso não vai mudar, não vai mudar não.
À noite você faz amor comigo, e murmura carinhos,
que não me dizem nada, não me importam nada.
E isso não vai mudar, não vai mudar não. 
Esta estrela morreu, e ainda a vejo aqui
na verdade já inexiste, mas sua luz ainda aquece
e ainda pode ser vista passeando por outros lugares.
As estrelas morrem, mas nossas luzes continuam.

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Entardecer magnífico em Jerusalém - como em Hotinnatevka
Antes de acender as velas de Shabat, olho para fora e tomo um susto:  flagro o instante exato em que o gato preto entra pela grade da minha varanda. Eu olho para ele, ele olha prá mim... e dá um salto-vôo em direção a algum lugar, a lugar nenhum, simplesmente some. Não tenho qualquer idéia de por onde passou e foi embora.
Olho para cima e vejo um céu tingido de vermelho, com faixas azuis e brancas nas pontas, espetacular. Talit celeste, pintado artesanalmente com mão forte e braço estendido. Já que a hupá celeste está posta, resta acender as velas e iniciar o shabat. Porque já é Shabat e o sol já se recolheu. Ouço "Lev Tahor" (coração puro), do meu amigo Or Zohar. Terminou. Agora é Tevye a falar de Anatevka e de tradição.
Meu irmão lembrou bem, depois que minha prima mandou forte e bem no relato do que viu na Romênia: 2010 é o ano do centenário de outro Tevye, não de Anatevka, mas de Hotin. Vovô Aizik completaria 100 anos. Nasceu em Hotinnatevka, não muito longe de Ostrolenkatevka, de onde viria a vovó Libe, que do nascimento até hoje conta 102, 103 anos talvez - a lembrança de ambos, juntos, é sempre uma lembrança boa. Vovô Aizik não foi leiteiro, mas certamente foi equilibrista, como todos os judeus de sua época.
Mas vá descansar, meu caro Sholem Aleichem, esta é uma outra história e não espero que me ouça agora. Quero que fique bem e cuide desta gripe, agasalhe-se, tome um yôech com bastante gordura de galinha - e mais tarde, à noite, beba leite quente, dizem que faz bem. Quem recomendou foi Tevye - o leiteiro.
Shabat shalom.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

2039 - o ano em que faremos contato
Quando era pequeno, fui ao cinema com meus pais assistir 2001, Uma Odisséia no Espaço. Ou acho que fui, se minha memória não me trai. Ou foi na TV. De qualquer modo 2001 parecia muito longe. Eu pensava comigo: "Uau, em 2001 eu vou ter 32 anos!!! Caramba, que velho!"
O astronauta hibernou e a máquina tomou conta de tudo.
Lembrou-me de um midrash (claro) sobre um certo rabino que, ainda jovem, viu um velhinho plantando uma árvore frutífera e perguntou:
"Posso perguntar por que você está plantando justo esta árvore? Até crescerem os frutos você não estará mais aqui para vê-las."
O velhinho sorriu: "Garoto, você está vendo todo este pomar? Foi meu avô quem plantou."
O rabino, por algum motivo, dormiu e não acordou mais. Quer dizer, acordou 70 anos depois. Esfregou os olhos, olhou para os lados e viu um velhinho plantando uma árvore. Achou que voltou no tempo, déja vu. Então perguntou:
"Por que você está plantando justo esta árvore? Até crescerem os frutos você não estará mais aqui para vê-las."
E o velhinho respondeu, sorrindo: "Meu amigo, há 70 anos, quando era criança, fiz a mesma pergunta a um homem bem velho que plantava uma árvore - aquela lá na frente, carregada de frutas, está vendo? Ele me disse que plantava para os seus netos, porque foi assim que o avô dele fez para ele. Eu achei isso tão bonito que decidi fazer o mesmo."
O rabino se deu conta de que teve o privilégio de ver os frutos de seus próprios atos. Ele não sabia o que aconteceu no período entre estas sete décadas, porque "dormiu". Mas o fato de ter dormido não significa que o mundo parou por isso. Enquanto dormimos o mundo segue seu rumo.
70 anos... chegarei a esta idade, se Deus assim quiser, em 2039. Será o ano de ver os frutos do que faço hoje? Não pode ser em 2010? Não, não é tempo suficiente. Tem que plantar, e dormir, e confiar que o tempo faça o seu. Assim como fizeram meus avós, nossos avós, há 70 anos, há 700 anos, há milhares de anos. Plantar com as mãos, com os pés, com as palavras, com música, teatro, livros, blogs...
Urishalaim logo logo entrará em recesso de fim de ano (assim espero!) Neste ano estou certo de que comecei a colher os primeiros frutos das árvores que plantei aos 18, 20 anos - que privilégio colher os frutos do que se plantou! Mas comi alguns frutos de árvores que meus pais plantaram antes ainda, e outros de árvores já frondosas, plantadas por meu avós sabe lá Deus quando foi. Assim eu sei, desejo, espero, que a melhor parte do que estou plantando hoje seja cuidada e saboreada pelas gerações futuras, de 2039 prá lá.
Desejo a todos um feliz ano de 2010, boas plantações aos mais "velhinhos" e boas colheitas aos que estão chegando!

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Guilad Schalit - decisão está por horas ou minutos
O jornal Haaretz anuncia que posição de Israel em resposta ao Hamas deve sair até amanhã de manhã. Queira Deus que o jovem Guilad Schalit, sequestrado há 3 anos e meio pelo Hamas, esteja em casa até o próximo Shabat. Que desta vez esta droga de acordo saia (não é fácil libertar mais de mil terroristas...) Neste caso, melhor um mau acordo do que acordo nenhum.

domingo, 20 de dezembro de 2009

Olá, sou Timothy Lemm. Você é neto do meu tio avô?
Há alguns anos, houve uma brincadeira em torno do meu sobrenome com amigos do e-group Pletz - hoje muito mais do que um grupo virtual, muitos deles se tornaram amigos pessoais há mais de 10 anos, entre eles o Pletz-Mor Gustavo Erlichman:
"Lam? Você não é judeu, é chinês!"
Entrei na internet e de fato, encontrei uma família Lam inteira chinesa, boa parte vivendo nos EUA e Canadá.
Mas tive uma surpresa: em um site de genealogia, alguém buscava por Aizik Lam. Aizik Lam? Mas é o meu avô! Meu avô, quem diria, não está hoje somente no céu - sua lembrança é uma benção - mas também um pouco mais embaixo, na nuvem da internet!
Na época mantive algum contato com minha "nova" parente, uma mulher divertida chamada Gwendolyn Young, dos EUA - para onde de fato foi parte da família Lam, fugida da Bessarábia (na época uma parte da Romênia). Outros Lam foram para o Brasil e para o Chile, e destes, vários descendentes imigraram para Israel.
Esta curiosa história ficou meio esquecida nos últimos anos. Até hoje, quando me escreve um certo Timothy Lemm e pergunta, direto: "Você é neto do meu tio avô?" O tio avô dele é o meu avô Aizik - logo, o avô dele, Yaakov, foi meu tio-avô paterno. Gwendolyn é sobrinha de Timothy.
Hoje, 18 de dezembro, meu velho novo primo comemora 48 anos de vida. Pensei em cumprimentá-lo com um mazal tov, mas a esta altura ele não entende mais o que é isso. Desejei Happy Birthday ao primo Tim.
O Número da Vida
Feira do Livro da USP - História dos Judeus em 1º Lugar entre os mais vendidos
 
No fim de novembro a Editora Via Lettera participou da Feira do Livro da USP.
O livro mais vendido da editora foi "A História dos Judeus - uma aventura de 4.000 anos", de Stan Mack, coleção Povo do Livro. Trata-se de um feito e tanto, pois é apenas o segundo livro de nossa coleção, que pretende lançar títulos de temática judaica contemporânea, com uma visão judaica progressista, moderna, que valorize a diversidade da rica cultura e dos valores judaicos.
Vale a pena. É um livro em quadrinhos muito bem escrito por Stan Mack, divertido e informativo, que todos vão gostar, dos 8 aos 80 anos.
Compre, leia e depois escreva para o blog Urishalaim comentando.
Abraços e uma ótima semana.
A desumanidade aprisiona - o nazismo chama do inferno: "Estou vivo"
atualizado: ladrões presos, placa recuperada - aos pedaços, mas recuperada 


Como alguém rouba a placa de ferro na entrada de Auschwitz, onde se lê Arbeit Macht Frei ("O Trabalho Liberta") - a infame, cínica e maldosa frase colocada pelos nazistas no portão de um campo de extermínio de um povo? E as câmeras de segurança? Ninguém viu? Exatamente como "ninguém sabia" o que se passava nos campos durante a 2a Guerra Mundial?
Desta vez quem "cumpriu ordens"? 
Qual o interesse dos ladrões? Negar o Holocausto? "Revisá-lo", como os infames "historiadores" revisionistas nazistas e neonazistas?
Quem manteria um "trofeu" destes em casa? Quanta morte levaria para junto dos filhos, amigos, parentes?
A desumanidade nazista aprisiona para sempre as almas de hitler e seus cúmplices, de ontem e de hoje, para sempre, no inferno.
atualizado: os ladrões foram encontrados e presos na Polônia. Dividiram a placa em 3 pedaços. Não se sabe ainda os motivos. 

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Homem de Aço? Mulher Invisível? Os Invencíveis? Não, é o Martelo Judeu
The Hebrew Hammer é uma comédia bem engraçada. Um dia peguei o filme passando na TV de madrugada, mas não aguentei de cansaço e infelizmente adormeci. se alguém souber como se faz para assistir... por enquanto divirtam-se com o trailer.
shabat shalom!
Dia da Imigração Judaica - 18 de março

O Vice-Presidente José Alencar sancionou o projeto de lei que cria o Dia da Imigração Judaica - publicado ontem, dia 17 de dezembro de 2009, no Diário Oficial da União - em reconhecimento à contribuição dos judeus na construção do Brasil. Durante o discurso, falou da importância de todos os povos se unirem para lutar contra a destruição do planeta. Cabe destacar a presença do rabino Sérgio Margulies, da ARI (Associação Religiosa Israelita do Rio de Janeiro) e do rabino Michel Schlesinger da CIP (Congregação Israelita Paulista)

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Às vezes um vaso... é só um vaso
Recebi um e-mail de um amigo, dizendo-se preocupado.
 "Uri, está tudo bem? Tudo bem em Jerusalém? Mesmo? Qualquer coisa me liga, fiquei preocupado, achei você triste no seu último post... Um forte abraço."
Demorei a entender. Li o post abaixo novamente, e reli... e depois de um tempo entendi. Nada como ter amigos colegas de formação:-) Eeeeh povo psicólogo!
Meu querido amigo, está escrito na Mishnat Freud:
E Rabi Freud dizia: "Conforme está escrito: Às vezes um charuto é só um charuto." 
Como bom psicólogo, meu amigo diz: "O que você quer dizer com isso?" 
Parafraseando Freud, respondo: "Às vezes um vaso é só um vaso."
Ventou prá caramba esta noite em Jerusalém. No quintal, um vaso saiu do lugar, girou, girou, caiu e quebrou. Uma pá de lixo deve ter alçado voo, porque hoje pela manhã eu a encontrei do lado de fora da minha porta (certamente colocado pela vizinha - ou esquecida por mim em algum momento - mais provável, pensando bem).
Enfim, era uma vez um vaso... e eu estou bem, obrigado!

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Ecosevivon em Ierushalaim - 1979/2009
 
Era uma vez um pequeno vaso de cerâmica. 
Assim que o vento passou a cantar lá fora,
Lembrou-se o vaso de que era Chanuca
E se acendeu todo, e girou, e girou, e ficou rodopiando
pelo terraço afora, feito pião.
E dançava, e girava, como se fosse a última noite.
E de longe se escutava o vento a tocar
Bandolins na noite de Ierushaláim.
E ele cantava e tocava assim: 
Como pode um vaso na madrugada fria
se rodopiando em Ierushaláim...
E como não?
E por que não dizer que o mundo respirava mais
Se ele girasse assim
Seu casco como fosse em um tempo
Em que não fosse impróprio se lançar assim
Ele quebrou... mas enfrentou o mundo
Se rodopiando em Ierushaláim...
A primeira vista - Chico César por Dota Kher


Encontrei por acaso este vídeo. Não vou escrever mais nada, só que ela canta lindamente - assistam. Escrevi muito no post passado sobre morte. Agora a vida, prá contrabalançar:-)
Boa noite a todos.

Não se preocupe antes da hora. Cada coisa ao seu tempo
Uri Lam
Complicado seguir esta máxima né? Prá mim, pelo menos, é. Mas que ela evita muito sofrimento, lá isso evita. Não quer dizer "viva o hoje que o amanhã é incerto". Mas talvez "viva o hoje e pense no amanhã, mas o futuro, o futuro lá longe, relaxe, porque a Deus pertence". Quer dizer: a gente às vezes perde tanto tempo se preocupando com questões tão distantes ou com fantasias do tipo "E se...?" que não tem cabeça prá resolver tantas outras mais próximas e geralmente mais simples, porque a cabeça está em outra galáxia.
Tudo isso eu fiquei pensando enquanto estudava uma questão prática, mas que está tão distante do nosso dia a dia: quando morre alguém, como lidar com o morto?
Hoje a maioria das pessoas não precisa se preocupar em como lidar com um cadáver. A morte foi escondida dentro dos hospitais e velórios. Outros fazem isso pela gente. Aí somos poupados de ver um cadáver ( é um alívio: eu vi uma vez na vida e não dormi por três dias, sonhando com aquela mulher morta no caixão...) Só que aí também desaprendemos de lidar com a morte e criamos toda sorte de fantasias e idealizações para este instante que, de tão desconhecido, nos aterroriza.
É uma ansiedade que nos perturba muito enquanto não identificamos por que estamos ansiosos. Quando o monstro ganha um nome, fica mais fácil de lidar com ele - e de repente, nem é o monstro que imaginávamos ser, ou nem é um monstro.
O artigo de Véred Nôam, האומנם 'לא המת מטמא'? לדיוקנה של הטומאה בספרות התנאים  (Será Fato que "O Morto Não Contamina"? Uma Análise da Tum'á nos Escritos dos Tanaím) para o curso de Talmud, nem fala nada disso. O tema da pesquisadora é: os rabinos da época do Talmud consideravam que um cadáver era inerentemente impuro e contaminava quem o tocasse, ou esta "força de contaminar" não é inerente ao corpo morto, mas sim uma construção intelectual que foi feita halachá, uma lei criada artificialmente para se lidar com um corpo sem vida?
O que me chamou a atenção mesmo no artigo foi uma citação retirada do Talmud, no Tratado Nidá - que parte da idéia de que uma mulher no período menstrual "está impura" ou "pode contaminar" para estender o tema a tudo o que sob certas condições se torna impuro e com poder ou não de contaminar, e assim precisa ser temporariamente isolado - ou não.
Ih, mas isso dá muito mais pano prá manga... a mulher fica impura mesmo neste período, ou esta é uma construção intelectual, criada artificialmente para justificar ou embasar certas práticas e costumes, como evitar relações sexuais no período e impedir a mulher de se aproximar dos rolos da Torá? Não dá pano só prá manga, dá prá uma confecção inteira. Bom, vamos nós finalmente ao responsável por toda esta viagem: o Talmud.
Três Perguntas Tolas - Será? שלשה דברי בורות
Rabi Yehoshua ben Chanania se deparou com algumas pessoas de Alexandria curiosas em saber em quais condições um corpo morto é capaz de contaminar quem dele se aproxima. Mas parece que elas tinham dificuldade de entender teoricamente não só como lidar com um corpo sem vida, mas sobre o que é a morte - elas e quase todo mundo, entre as quais eu me incluo. Ao encontrarem o rabino, perguntaram:
אשתו של לוט, מהו שתטמא?
אמר להם: מת מטמא ואין נציב מלח מטמא.
בן שונמית, מהו שיטמא?
אמר להן: מת מטמא ואין חי.
מטמא מתים לעתיד לבוא: צריכין הזאה שלישי ושביעי או אין צריכין?
אמר להן: לכשיחיו נחכם להן.
"Rabino, a mulher de Lot, contamina?”
O rabino respondeu: “Um morto contamina, mas estátua de sal não.”
“E o filho da shunamita, contamina?”
“Um morto contamina, mas um vivo não.”
“A contaminação dos futuros mortos: é necessário aspergir no terceiro e no sétimo [dias após a morte, para purificar] ou não precisa?”
E o rabino respondeu: “Quando ressuscitarem saberemos por eles”.
Uma questão de gênero
Um detalhe: no texto em hebraico, o pronome na 3ª pessoa do plural aparece uma vez como lahem (para eles) e duas vezes como lahen (para elas). Mas lahen também pode se referir ao masculino, como ocorre muitas vezes, quase sempre, no Talmud. Se forem mulheres, pode se imaginar a maior preocupação delas com o triste fim da mulher de Lot, sobre o que será do "filho da shunamita" ou o que será de nós em um futuro distante. Se forem homens, poderia se pensar talvez em questões outras, técnicas, de leis, etc. Como aparecem no texto os dois, lahem (para eles) e lahen (para elas), podemos ficar com a suposição de que a morte preocupa homens e mulheres, talvez de modo distinto, mas igualmente perturbador. E não me venham com "isso é detalhe". Rabi Akiva interpretava até as coroas que embelezam algumas letras do alfabeto, que por sua vez gerou um lindo midrash - que fica para outra vez.
Chozer Biteshuvá ou Chozer Bisheelá
Os rabinos eram mestres em levantar um mundo de questionamentos em meia dúzia de linhas e os primeiros a entender que ser um chozer bisheelá (voltar a perguntar, a duvidar, a repensar, a refletir) é mil vezes mais importante do que ser um chozer biteshuvá (voltar à resposta, interpretado por alguns como "arrepender-se", aceitar o jugo da Lei tal como foi estabelecida e fixada por determinados sábios de determinada época - sem espaço para questionar, porque são mais sábios do que nós: que se obedeça; que se cumpra a lei).
A primeira pergunta o rabino tirou de letra. A mulher de Lot não teve uma morte natural. O seu corpo não se tornou um cadáver, mas uma estátua de sal - e sal não contamina. Esta foi fácil.
A segunda pergunta é mais complicada, porque se refere a um evento particular e nada corriqueiro de um garoto que é ressuscitado por Elisha, de quem a Bíblia Hebraica conta que tinha talentos, digamos, fora do comum. Mas outra vez o rabino se sai muito bem. Se alguém morre e você tocar no cadáver, ficará contaminado, impuro, deve haver procedimentos específicos e no momento certo, dá prá entender. Mas e na hipótese desta pessoa ressuscitar, como ocorreu com o "filho da shunamita", ele continua impuro, contaminará os outros quando for dar a mão, um beijo, ou mesmo quando for falar de perto? É claro que não! O rabino deixa claro o óbvio: que uma pessoa viva não está morta, não transmite contaminação referente aos mortos, não tem aspecto de morta, não causa ojeriza como se estivesse morta - e portanto, deve ser tratada como todo mundo. E como a gente age hoje, táchlis, com pessoas que passaram situações mais brandas do que a morte - ou seja, qualquer coisa que acontece com todos os que estão vivos: tocamos, visitamos, telefonamos?
A terceira pergunta mostra um avanço, uma visão mais abstrata. Aqueles homens e/ou mulheres de Alexandria perguntam ao rabino como será no Olam Habá, no Mundo Vindouro: todos os que um dia vão morrer - ou seja, eu, você, todos nós - caso ocorra de ressuscitarem, estarão impuros?
O legal é que agora o que eles perguntam não é mais sobre a infeliz da mulher de Lot que virou estátua ao querer olhar um mundo que já não existia mais, tampouco sobre um garoto ressuscitado por um homem dotado de poderes extraordinários como era Elisha. Agora querem saber se eles, ou seja, se cada pessoa do mundo será condenada a ser impura justamente quando ressuscitar no Mundo Vindouro, em tese e nos sonhos um lugar paradisíaco. Aqui é o indivíduo que passa a refletir prá valer sobre si mesmo. Porque pimenta nos olhos dos outros é refresco, já dizia o ditado. Mas e quando for comigo? E quando você tiver que se perguntar "O que eu tenho a ver com isso"? E quando a morte não for um assunto distante, que acontece com alguém distante, mas um assunto seu?
Olam Habá: o Paraíso ou a Volta dos Mortos Vivos?
Isso me fez lembrar dos filmes B de terror do tipo "A Volta dos Mortos Vivos" - mas suponho que não era esta cena grotesca que os rabinos tinham em mente. Segundo a tradição judaica, o Olám Habá é um mundo futuro que existirá na Era Messiânica, quando os mortos irão ressuscitar. Neste caso, perguntam as pessoas de Alexandria  - imagino que com uma cara preocupada e assustada: Afinal de contas, estes ex-mortos e futuros vivos contaminarão, ou não? Em outras palavras, quando entrarmos no Jardim do Éden, no Paraíso, seremos impuros, contaminados e contaminantes, intocáveis feito Zumbis? Mortos-vivos? Não? Seremos o que, então? Puros como os anjos? Mas anjos também são  intocáveis... por serem anjos, não gente. Que Paraíso é este que não se pode comer, beber, dormir, nem tocar, nem ser tocado, seja zumbi ou seja anjo?
Aqui tenho a impressão de que o rabino ou achou por bem não dar explicações muito complicadas para quem não teria como compreendê-las - e de novo, eu me incluo nelas - ou aplicou o bom humor rabínico e deu a melhor resposta possível: Relaxa, gente: no dia em que o Mashiach chegar e nós ressuscitarmos, não seremos nem zumbis nem anjos. Nós não iremos pro inferno nem iremos pro céu, como dizem por aí. Quando esse tempo chegar, seremos isso que vocês estão vendo: gente como a gente, no mundo - ainda que seja o Mundo Vindouro. Quando chegarmos lá a gente pensa no que fazer.
Não tive como não me lembrar do final da segunda bênção da Amidá, quando agradecemos a Deus por ressuscitar os mortos.
Mechaiê Hametim: Bendito Sejas, por ressuscitar os mortos
Pensei comigo mesmo:
1º) Ninguém ressuscita sozinho. Como assim? Então eu preciso que Deus me faça este favor? Não seria melhor fazer isso por conta própria e não dever favores prá ninguém, nem prá Deus? Pois é. Não. Esta ficaremos devendo prá Ele, não tem jeito. Ninguém ressuscita, nem ressuscitou, nem ressuscitará por conta própria. É preciso um outro que o ressuscite - seja Elisha na história bíblica, seja Deus, quando Ele achar que é chegada a hora. E todo mundo junto, porque todo mundo é filho de Deus, igualmente.
Diz a tradição judaica que o sono é o irmão mais novo da morte. Se de acordo com a tradição rabínica, nem do sono a gente acorda por conta própria - ou não precisaríamos agradecer a Deus por nos devolver a vida a cada manhã - imagina se dá prá acordar da morte sozinho? Não dá, ponto.
2º) E a pílula do dia seguinte, quem vai inventar? Digamos que Deus tem o poder de um dia ressuscitar os mortos quando Ele achar que é chegado o momento. E depois, no dia seguinte, como ficamos?
Aí meu amigo, o problema será nosso. Deus já terá feito a parte dele, que vamos combinar, não é pouca coisa. Como lidar com um mundaréu de gente ressuscitada - como pensaremos, agiremos, sentiremos, viveremos, amaremos, comeremos, beberemos, colocaremos o papo em dia, trataremos os outros - e até como morreremos de novo, se é que neste tempo as coisas não serão diferentes?
O rabino estava certo. Temos muita coisa pra nos preocuparmos até que este dia complicado chegue. E quando chegar a gente vê como faz. Cada coisa ao seu tempo.
Comentário da Parashá Mikets
Livreto semanal Congregar, da Congregação Israelita Paulista
19 de dezembro de 2009/ 2 de Tevet de 5770
Na história de Iossef os sonhos contam muito. O primeiro sonho o levou a campos cobertos com feixes de cereais que se erguiam e se curvavam para ele em danças de roda. O segundo o lançou ao espaço, onde encontrou-se com o sol, a lua e as estrelas. Lindo, não? Bom, é um modo de ver as coisas, porque Iaacov, seu pai, sentiu-se incomodado; os irmãos, por sua vez, ficaram irados, e decidiram mandar Iossef literalmente para o espaço. As opções eram: matar com as próprias mãos; matar com a cabeça, ou seja, jogar o irmão no poço e que o “acaso” faça o seu; ou matar no coração: vender Iossef como escravo e fazer de conta que ele morreu.
Venceu a terceira opção. Iossef morre no coração dos irmãos, mas segue vivo para o Egito. Lá precisa lidar com a dura realidade da vida na corte: cumpre ordens, serve ao Potifar, seu chefe, mas sabe dizer não quando dele exigem mais do que a sua dignidade permite. Ao não realizar as fantasias da mulher do chefe, Iossef é jogado no poço das prisões egípcias. Ainda assim, o que garantiu a sua sobrevivência foram os sonhos. Pode ser que no fundo do poço Iossef teve tempo de sobra para interpretar os próprios sonhos. Agora, na prisão, transformara o “poço” em “posso”: podia interpretar os sonhos do copeiro e do padeiro, colegas de cárcere, e daí pôde lançar-se ao espaço, na companhia do sol, da lua e das estrelas – exatamente como em seu sonho, pois Iossef acabou sendo convocado para estar diante do Faraó - o filho do Deus Sol, na cultura egípcia. 
A parashá Mikets inicia no momento espinhoso em que o Faraó está perturbado por seus próprios sonhos. Imaginemos a cena: “Alteza, há um judeu na prisão que pode decifrar os seus sonhos. Ele se especializou em interpretação e análise.” O Faraó olha desconfiado: “Como se chama, Freud?” “Não senhor, o nome dele é Iossef.”
A leitura que Iossef faz dos sonhos do Faraó resulta na reorganização da economia egípcia, redistribuição de terras, reforma na área de impostos e estímulo à poupança. Foi assim que os sete anos de vacas gordas garantiram o Egito durante os sete anos de vacas magras.
É verdade: todo mundo sonha. Então que importância tem em Iossef também sonhar? É que Iossef presta atenção aos sonhos, aos seus e aos dos outros. Ele nos conta os seus sonhos, reflete, avalia e os coloca em prática. Para Iossef, sonhar é coisa séria.
Em Chanucá nossas casas estão mais coloridas e felizes. Assim também a CIP e o Beth El. Neste ano festejamos um sonho: estamos juntos, respeitamos nossas diferenças e unimos as luzes dos nossos costumes e tradições. Nesta festa adoçamos a vida com outro tipo de sonhos: as sufganiot, recheados de creme ou de geléia. Sonhos recheados de sonhos [somos recheados de sonhos - Uri].
Prestemos atenção aos nossos sonhos. Vale à pena.
Shabat shalom e chag sameach
Uri Lam, de Jerusalém

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Até onde vai a boçalidade humana
Antisemitismo na sua forma mais pura

Comentamos há alguns dias sobre o antisemitismo na República da Moldávia, que hoje faz fronteira com a Romênia. Sua língua, o moldavo, é nada mais que romeno.
Este é o vídeo. Assistimos ao vivo como foram que as coisas na Europa descambaram para o assassinato de 6 milhões de judeus. Vejo os rostos sorridentes e lembro-me da mesma desumanidade estampada nos rostos sorridentes dos soldados nazistas. O antisemitismo ainda corre, como heroína, pelas veias dessa gente sorridente no vídeo. Distorcem completamente o discurso cristão de amor ao próximo. Continuam nos culpando de assassinato de Jesus, e a cruz só os faz lembrar de mais sede de vingança. Jesus deve estar se revirando de decepção ou remorso, onde quer que esteja, ao ver depois de 2 mil anos o que fazem em seu nome e colocam nas suas costas feridas a responsabilidade: "Fazemos isso por você, escutou?" Imagino então Jesus se encolhendo num canto, agarrando as pernas com os braços e baixando a cabeça, em sinal de "eles não entenderam nada".
Meus dois avôs, Aarão (materno) e Aizik (paterno) - cujas lembranças sejam sempre uma benção - nasceram em cidades que, em sua época, ficavam na Bessarábia, região da Moldávia ou Romênia, hoje uma província de 500 km2 com menos de 30 mil habitantes. Vieram ao Brasil para escapar do ódio aos judeus. Ódio estampado no rosto desta gente da Moldávia. Não tenho idéia do que os olhos deles viram. Será que viram gente desalmada como estas? Espero que não. Boçais.
Dia Mundial de Estudos Judaicos - 1º Kislev 5771, 7/11/2010
Por Ocasião da Entrega do Talmud Steinsaltz Completo
Rabino Adin Steinsaltz, com um volume de seu Talmud

Neste dia, um domingo, irá se festejar em alto estilo por um motivo digno de toda comemoração: após 45 anos de trabalho árduo que resultarão em 45 volumes do Talmud totalmente totalmente pontuado e comentado, o rabino Adin Steinsaltz realizará uma cerimônia de Sium haShas, de comemoração por completar esta obra monumental. No mesmo dia, duzentas comunidades judaicas ao redor do mundo irão celebrar simultaneamente este acontecimento histórico com um Dia Mundial de Estudos Judaicos.  Participarão comunidades judaicas de Paris a Nova York, de Moscou a São Paulo, de Jerusalém a Tel Aviv. Em cada local haverá aulas para todos os níveis sobre pensamento judaico. Na conclusão do evento será recitado um Hadrán Kadish* especial em homenagem ao rabino Steinsaltz, com transmissão ao vivo de Jerusalém para o mundo via Internet em banda larga.
* Hadrán Kadish - Hadrán vem da raiz hebraica "hadar", que significa voltar ao início e recomeçar. Normalmente é feito após a conclusão do estudo de um tratado do Talmud e simboliza a intenção de voltar e estudar novamente o mesmo tratado. Entre diversos costumes, Também é feito  um Hadrán Kadish ao se completar o estudo de todo o Talmud - como será o caso em que se entregará oficialmente o Talmud Steinsaltz completo. Antes é feita uma drashá, um estudo comentado diante dos presentes, sobre a página do Talmud lida no dia, relacionando o seu conteúdo ao conteúdo do estudo que vem em seguida. Algo semelhante ao que se faz em todas as comunidades judaicas por ocasião de Simchat Torá, quando se completa festivamente a leitura de Devarim (Deuteronômio), o quinto dos Cinco Livros de Moisés, e se reinicia imediatamente com a leitura do primeiro livro, Bereshit (Gênesis). O Kadish é lido sempre após a conclusão de uma seção de estudos, quando os estudantes engrandecem e santificam o Nome de Deus e, por fim, pedem a Deus que promova a paz para o povo de Israel e para o mundo inteiro.
Um dos maiores acontecimentos judaicos em séculos 
O Talmud Steinsaltz é tido por muitos como um dos maiores acontecimentos em termos de estudos do Talmud nos últimos séculos. Os comentários de Steinsaltz, ao lado dos comentários clássicos, oferece condições para que um número substantivamente maior de pessoas no mundo possa estudar o Talmud e ter acesso à sua sabedoria milenar e atual. Há quem diga que o que Rashi fez pelo estudo do Talmud desde o séc. 11, Steinsaltz fará pelo estudo do Talmud a partir do séc. 21.
Eu concordo plenamente. Sou particularmente grato ao rabino Steinsaltz e à sua obra, que vem me ajudando muito a me familiarizar com o modo de pensar e de refletir dos sábios de nosso povo, e me permite descobrir dia a dia algo novo e surpreendente.
Nos últimos tempos cada vez mais sinto que o meu modo de rezar é através do estudo, que estudar de modo compenetrado e atento é, para mim, a melhor maneira que encontro de rezar. Neste sentido, o Talmud Steinsaltz se torna como que parte do meu sidur, entre outras "rezas/estudos". Assim como há lehitpalêl (rezar, mas também cuidar de si mesmo, refletir), deveria existir o verbo lehitlamêd: estudar-se, refletir-se, ensinar-se.
Ieshar Cochachá, rabino Steinsaltz, que as suas forças continuem inteiras e você continue a contribuir com o acesso à sabedoria judaica até os 120 anos.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Neil Diamond "The Jazz Singer", em Canção de Chanucá, de Adam Sandler
versão mais do que livre em português: Uri Lam


Há tantas belas canções de natal por aí, e tão poucas canções de Chanucá...
então eu vou tocar uma prá vocês:
Coloque a sua kipá, é tempo de Chanucá, 
tão divertido é Chanucá, vamos festejar Chanucá, é!

Chanucá é a Festa das Luzes,
em vez de só um dia de presentes,
tem oito noites que são demais!
Não fique triste por não ter Natal, você vai se surpreender - 
Tem um monte de gente no mundo que são judeus como eu e você:
David Lee Roth acende a Chanukiá, 
e James Caan, Kirk Douglas e Dinah Shore, zichroná livrachá
Adivinha quem come junto no Carnegie Deli
O Bowzer de Sha-na-na e o Arthur Fonzerrelli!
O Paul Newman é meio judeu, a Goldie Hawn também, valeu?
Junte os dois e o que teremos - um belo de um judeu!
Você não precisa de Deck the Halls nem de Jingle Bells 
Gire o draidel com o Capitão Kirk e o Sr. Spock, os dois são judeus!
Coloque a sua kipá, é tempo de Chanucá,
tão divertido é Chanucá, vamos festejar Chanucá, é!
Ronaldo Fenômeno não é judeu
Mas Senor Abravanel, o Silvio Santos, é sim!
Deborah Bloch, Caco Ciocler e Dan Stulbach são
Harrison Ford é 1/4 judeu - então ele não é, ihh!
O Rafa do CQC é, o Marcelo Tas não, 
Mas adivinhe quem é? Todos os Três Patetas!
Tantos judeus estão na minha lista!
O Shrek não é, mas  o Bussunda era sim...
Coloque a sua kipá, é tempo de Chanucá, 
tão divertido é Chanucá, vamos festejar Chanucá, é!

Chanucá é a Festa das Luzes, 
Em vez de só um dia de presentes,
tem oito dias que são demais!
Então diga à Deborah, que é hora de festejar Chanucá 
Não esqueçe do Edu e da Mônica, nesta super festa de Chanucá
Chama o Theo e a Déia, prá comer sonhos de Chanucá
Convide todos os amigos de neshamá, prá acender as velas de Chanucá,
Chag Sameach, é Chanucá!!!!