domingo, 27 de dezembro de 2009

A triste história de Rabi Iochanan e Resh Lakish
Talmud, Tratado Baba Metsia 84a  
A beleza da beleza e a beleza da sabedoria
A feiúra da beleza e a feiúra da sabedoria
O bom olhar e o mau olhar
Palavras que dão vida, palavras que matam
Tradução (em linguagem informal): Uri Lam
Rabi Iochanan disse: "Entre os homens de Jerusalém, só eu restei que tem uma beleza excepcional. Se alguém deseja ter idéia da minha beleza, faça com que pegue um cálice de prata recém imerso no crisol, preencha-o de sementes de romã vermelhas, cerque sua borda com um buquê de rosas vermelhas e coloque-o entre o sol e as sombras. Seu brilho lustroso só se compara à beleza de Rabi Iochanan."
Mas será que Rabi Iochanan era tão bonito assim?
Um dos rabinos comentou: “A beleza de Rabi Kahana é reflexo da beleza de Rabi Abahu; a beleza de Rabi Abahu é reflexo da beleza de nosso Patriarca Iaakov; e a beleza de nosso Patriarca Iaakov é reflexo da beleza de Adão. Vejam vocês, Rabi Iochanan não faz parte desta lista! E por que? Porque Rabi Iochanan é diferente; ele não tem barba.”
Rabi Iochanan costumava ir, sentar-se junto aos portões dos banhos na mikve, e dizer: “Quando as mulheres israelitas saírem do banho, que elas olhem para mim - então terão seus filhos tão bonitos e instruídos quanto eu.”
Os rabinos disseram a ele: “Você não tem medo de mau-olhado?”
E ele respondeu: “Eu?? Eu não! Sou descendente de Iossef, contra quem o mau-olhado é impotente, conforme está escrito: 'Iossef é um ramo frutífero - e um ramo frutífero do bosque de um poço.'”
Rabi Abahu advertiu: “Iochanan Iochanan... não leia alê áin, 'do bosque de um poço'; mas olê áin, 'do poder de um olhar'.”
Rabi Iossei bar Rabi Chanina deduziu isso do seguinte: "'E que se multipliquem os peixes em meio ao mundo' – assim como os peixes nos mares estão cobertos de água e o olhar não os domina, assim também é com a descendência de Iossef - o olhar não tem nenhum poder sobre eles."
Um dia, quando Rabi Iochanan se banhava no rio Jordão
Resh Lakish o viu, saltou no rio depois dele e começaram a conversar.
Rabi Iochanan: “A sua força deveria ser direcionada para a Torá.”
Resh Lakish: “E a sua beleza deveria ser direcionada para as mulheres.”
Rabi Iochanan: “Se você fizer teshuvá eu lhe trarei minha irmã para se casar com você, que é ainda mais linda do que eu.”
A mulher era realmente linda e Resh Lakish bem que se esforçou. Desejou devolver e deixar de colecionar suas armas, mas não pôde. Rabi Iochanan então lhe ensinou Tanach e Mishná e fez dele um grande homem - e assim Resh Lakish casou-se com a irmã de Iochanan.
Rabi Iochanan e Resh Lakish discutem duramente no Beit Midrash
Uma espada, uma faca, um punhal, uma lança, um serrote e uma foice - em que fase da fabricação estas armas podem ficar impuras? Quando estiverem prontas. Então tá, mas quando estarão prontas?
Rabi Iochanan disse, convicto: “Quando terminarem de ser temperadas no forno.”
Resh Lakish discordou: “Depois, só quando forem resfriadas em água.”
Rabi Iochanan não gostou de ser contrariado e respondeu irritado: “Muito bem Resh Lakish, vejo que um bandido entende do seu negócio.”
Resh Lakish respondeu asperamente: “Se é assim que você me vê, em que você me ajudou ao me ensinar Torá? Se entre os bandidos eu era chamado de Mestre, aqui, junto à Torá, também sou chamado de Mestre [Rabi].”
Rabi Iochanan respondeu, ainda mais irritado: “Que comparação absurda! Aqui eu trouxe você para debaixo das asas da Shechiná!”
Depois da discussão...
Rabi Iochanan sentiu-se profundamente deprimido e sua depressão influenciou tão negativamente a Resh Lakish que este ficou gravemente doente. A irmã de Rabi Iochanan, que se casou com Resh Lakish, veio e chorou na sua frente:
“Perdoe-o, nem que seja em favor do meu filho, para que não perca o pai!”
Rabi Iochanan respondeu, seco: “Deixe suas crianças órfãs, eu posso criá-las.”
"Perdoe meu marido então para que eu não fique viúva!”
“Deixe que tuas viúvas confiem em mim”, respondeu Iochanan, citando o Tanach.
Resh Lakish morreu
Rabi Iochanan mergulhou em profunda depressão.
Os Rabinos disseram: “Quem irá aliviar a sua mente da depressão? Rabi Eleazar ben Pedat, porque suas orientações são muito sutis.”
Rabi Eleazar ben Pedat foi até Rabi Iochanan e sentou-se diante dele. Para tudo o que argumentava Rabi Iochanan, Rabi Eleazar comentava, em tom de estímulo: “Há um ensinamento do Talmud que lhe apóia.”
Rabi Iochanan reclamou: “Você por acaso é como o filho de Lakish? Porque para qualquer coisa que eu dizia, o filho de Lakish levantava 24 questionamentos, para as quais eu dava 24 respostas, que por fim me levavam a uma compreensão mais plena da situação; e você ainda me diz ‘foi ensinada uma Beraita, um ensinamento dos Sábios, que lhe apóia’? E eu não sei sozinho que os meus argumentos estão corretos?”
Não havia o que tirasse Rabi Iochanan da depressão. Ele sentia que havia levado o amigo à morte.
Em seguida Iochanan rasgou suas roupas e passou a se lamentar o tempo todo: “Onde você está, filho de Lakish! Onde você está, filho de Lakish!”.
E assim ele se lamentou dia após dia, até que enlouqueceu.
Os rabinos rezaram por ele. E ele morreu.

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