sábado, 31 de outubro de 2009
A Ong Amisrael promoveu, entre os dias 18 e 20 de outubro, o Diálogo Inter-Religioso Brasília 2009: A agenda das religiões no mundo pós-moderno, em Brasília. O convidado especial foi o rabino-chefe ashkenazi em Israel, Yona Metzger. (Dentro do mundo judaico ortodoxo, a sua contraparte é o rabino-chefe sefaradi Shlomo Amar)
O rabino Ruben Sternschein, da Congregação Israelita Paulista, teve participação importante no diálogo inter-religioso. Além de participar dos painéis ‘Religião e Identidade’ e ‘Religião e Família Moderna’, fez as vezes de tradutor do rabino Yona Metzger em diversos encontros, inclusive com o presidente do senado e ex-Presidente da República José Sarney.
Além do diálogo inter-religioso, achei interessantíssimo o encontro intra-religioso, ainda que provavelmente casual, entre um rabino progressista da maior congregação judaica da América Latina e um rabino ortodoxo, rabino-chefe ashkenazi em Israel.
E por hoje é só. Bom domingo a todos!
ou
O buraco é muito mais embaixo
Segundo notícia publicada hoje no jornal Yediot Acharonot, o primeiro-ministro israelense deve propor neste domingo que não se efetive a deportação de filhos de trabalhadores estrangeiros que vivem em condições ilegais em Israel. No entanto, a decisão não depende só dele. Há um grupo de ministros discutindo o caso.
O anúncio da deportação ocorreu há três meses e dividiu as opiniões em Israel. Por um lado, organizações humanitárias são contra a deportação - fala-se em até 1.200 crianças. Por outro lado, a permanência delas, segundo alguns, pode estimular uma invasão ainda maior de trabalhadores estrangeiros que entram ilegalmente, principalmente pela fronteira com o Egito.
Para se ter uma idéia, calcula-se hoje em 450 mil os trabalhadores estrangeiros em Israel. Em um país com cerca de 7 milhões de habitantes, eles são hoje quase 7% da população. Assim, não está se falando aqui de uma ou outra pessoa, mas de centenas de milhares.
O temor de um maior descontrole na entrada de estrangeiros vem provocando reações ora enfurecidas como as do ministro do interior, altamente alarmistas quanto aos problemas sócio-econônicos que a situação pode gerar no país, ora realistas, ora moralistas de gente que talvez não conheça a real situação. Não se trata das crianças, portanto. O buraco está bem mais embaixo.
Tudo em Israel tem muito mais do que dois lados. Também dentro do governo as opiniões se dividem. O primeiro ministro Netanyahu deve saber que não será fácil encontrar uma solução para brecar a entrada de ainda mais trabalhadores ilegais, mas pelo menos hoje ele tende a rejeitar a deportação das crianças. Por outro lado, o ministro Ishai, do interior, se opõe frontalmente a uma política de favorecimento às crianças - na opinião dele, elas não devem ser exceção à regra. Já o ministro das minorias (sim, tem isso também) Avishay Braverman, exige que seja dada cidadania israelense imediata às crianças.
Enquanto isso, duas decisões de mais fôlego foram tomadas. A primeira é apresentar um plano para aumentar a punição entre os empregadores que mandam trazer ou contratam trabalhadores ilegais. A outra é buscar alternativas para a construção de um muro na fronteira com o Egito para dificultar a imigração ilegal.
Para quem ainda acha que Israel é um país à parte dos demais, aqui está uma evidência de que está mais do que envolvido no mundo globalizado. Para o bem, e para o mal.
sexta-feira, 30 de outubro de 2009
Video no colégio público Bialik, em Tel-Aviv, Israel, com crianças, nascidas, crescidas e educadas em Israel, filhos de trabalhadores estrangeiros
Direção e roteiro: Hagit Liron.
Rabinos ortodoxos, conservadores e reformistas juntos, por uma boa causa
Uma delegação de dezoito rabinos americanos - ortodoxos, conservadores e reformistas - organizada pelo Cônsul Geral de Israel em Los Angeles, Yaakov Dayan, veio a Israel para participar das comemorações em lembrança do assassinato do primeiro-ministro Yitzchak Rabin z´l. Mas a sua principal missão é se opor à deportação de centenas de filhos de trabalhadores estrangeiros.
O tema, altamente controverso, dividiu a opinião israelense. Tudo começou com a vinda de estrangeiros para Israel que ou vieram trabalhar por um tempo predeterminado, ou entraram ilegalmente no país. Muitos deles acabaram ficando por aqui mesmo, tiveram filhos, que por sua vez freqüentam escolas judaicas públicas, falam hebraico como língua natal e se sentem plenamente israelenses. Porém a condição delas é considerada ilegal, e foi colocado em andamento um processo de deportação. A situação gerou a ira de movimentos pelos direitos humanos.
Há muita coisa em jogo aqui: direitos humanos, direitos das crianças, identidade judaica, responsabilidade social. Independente de quem tenha razão, espero que as crianças do vídeo acima não sejam as vítimas dos atos impensados do mundo adulto.
Shabat shalom
No próximo domingo, 14 de Cheshvan pelo calendário judaico, completam-se 14 anos desde o assassinato brutal do primeiro-ministro israelense Itzchak Rabin, quando saía de um comício pela paz em Tel Aviv. A rede de ensino Amit (link em hebraico), de orientação dati leumi (religiosa sionista), produziu um sidur específico para o data da morte de Rabin, conferindo-lhe um sentido religioso.
"No colégio Amit”, afirma o diretor, “acreditamos ser o nosso dever proclamar em alto e bom tom a voz pedagógica sobre o dia do assassinato do primeiro-ministro. Esta não é uma memória histórica, mas um significado pertinente à nossa vida compartilhada na sociedade israelense em todas as suas cores, o país que pertence a todos nós, apesar de todos os conflitos."
O sidur também inclui uma nova oração, escrita com o intuito de servir como antídoto para o ódio e a animosidade que antecederam os dias do assassinato de Rabin. A Tefilá Leahavát Habriot (Oração pelo Amor às Criaturas) enfatiza a importância e a aceitação do mandamento bíblico de amar ao seu vizinho, ao seu próximo, ao outro que vive ao seu lado, como a si mesmo.Cabe lembrar que houve aqueles que fizeram orações místicas pedindo a morte de Rabin, dados os avanços que o primeiro-ministro vinha exercendo na direção de um acordo de paz com os palestinos, o que incluiria o reconhecimento de um Estado palestino em Gaza e Cisjordânia. Sem dúvida que isso incitou pessoas desequilibradas a tentar matar o primeiro-ministro - uma delas conseguiu, e atrasou o processo de paz até sabe lá Deus quando. Abaixo, a oração.
O céu fechou. Chove desde a madrugada em Jerusalém. Em Kfar Saba as chuvas subiram a tal ponto que houve necessidade de retirar pessoas presas em automóveis, em meio às enchentes. E com a chuva vem chegando o frio. Hoje ainda está bem agradável, mas se for como no ano passado, em poucos dias estaremos tiritando de frio.
Como diz a Judite, que venham as chuvas! Tem um lago chamado Kineret aguardando ansiosamente ser completado para que não entremos em colapso no ano que se inicia.
Shabat shalom!
quinta-feira, 29 de outubro de 2009
O torró ficou na promessa
Saí correndo para a rua a fim de comprar algo para comer antes das chuvas torrenciais que se anunciavam. O Shuk estava cheio de gente fazendo o mesmo. Enquanto fazia compras, as primeiras gotas começaram a cair... e ficou nisso. Depois o céu abriu e faz um lindo dia em Jerusalém. Mais frio, é verdade... muito mais agradável do que os dias de calor das últimas semanas.
Nos próximos dias será preciso tirar as malhas do armário.
Enquanto isso, vou lendo um texto de Eliezer Schweid que discute sobre se é adequado o conceito de Filosofia Judaica. Será que temos uma filosofia própria como um corpo separado do restante da filosofia ocidental, ou não? Enquanto estava curioso para saber como o autor iria se posicionar, me telefona um amigo de infância do meu irmão, contando que nasceu seu terceiro filho - que seja em boa hora - que conseguiu um novo emprego, e que beezrat Hashem a vida segue seu rumo. Pode se dizer que ele é um chozer beteshuvá, mas do pouco que conversamos, com uma postura bastante respeitosa em relação a quem vive e pensa diferente. Quem dera todos fossem assim...
Falando em chozer beteshuvá, volto aos meus estudos como um chozer besheelá, voltando a me questionar, a discutir, a refletir. Afinal, existe isso de Filosofia Judaica como um corpo de conhecimentos em separado, ou não? Minha primeira resposta era "sim, existe", para logo depois de ler um pouco, rever minha posição e pensar "não, o pensamento judaico interage o tempo inteiro com o pensamento muçulmano principalmente, com o pensamento grego..." e vamos em frente.
A Vitória de Lou
Cap.1: Era uma vez uma menina feliz, com uma família maravilhosa. Eu a conheci melhor em uma colônia de férias da CIP. Linda, brincalhona, séria quando achava que deveria estar séria. A mãe, uma grande amiga, me telefonava em segredo para saber se a filha estava bem. Não precisava falar com a menina, não queria atrapalhar o ritmo da colônia - só saber se estava bem, se havia feito amigas e amigos, se estava aprendendo e se divertindo.
Cap.2: um dia... a menina passa mal, muito mal. Logo é levada ao hospital e são feitos muitos exames, e se constata que ela tem uma doença que antigamente as pessoas tinham medo de dizer até o nome, pois era, na maioria das vezes, fatal. Falar em câncer era falar em morte, então não se falava. Ao saber do que se tratava e o que deveria se feito para tratar, a jovem pergunta: "Quando começamos o tratamento?" Nada de lágrimas, de cara de medo, nada. Os olhos azuis só brilham um pouco mais. No fundo, lá no fundo, deixam transparecer um "por que comigo?" mas o olhar decidido resolve que isto já não importa mais.
Cap.3: fico sabendo da notícia somente muitos dias depois. Era fim de ano. "A Lou vai prá colônia em janeiro?" pergunto. "Você não está sabendo, Uri?" diz a mãe. Sou convidado por ela a me encontrar com toda a família na casa deles, aliás uma delícia de casa no interior de São Paulo. Ali conversamos, rimos, bebemos um pouco de cerveja, comemos churrasco, soltamos piada, entramos na piscina, contamos histórias. A única coisa que delatava o que estava acontecendo era que a menina tinha uma espécie de sonda na altura do peito, por onde passavam os remédios. Só.
Cap.4: a família descide mudar de vida e se muda para os Estados Unidos. Ali a vida continua. Buscam um colégio judaico, uma comunidade judaica - nada difícil, em se tratando de escolherem viver em uma cidade em que boa parte da população é judia. Nunca mais ouço falar de como está evoluindo ou não a doença. Somente troco com minha querida amiga, a mãe, e-mails sobre assuntos triviais, sobre saudades das nossas aulas e conversas, sobre possíveis planos futuros, sobre judaísmo.
Epílogo: Hoje recebo, pela manhã, a seguinte notícia:
Terça-feira recebemos uma notícia maravilhosa, chegou ao fim o tratamento de quimioterapia da Lou. É isso mesmo, a Lou teve alta!!!!!!!!!!!! Chega de químio, procedimentos doloridos, baixa imunidade! Acabou!!! Graças a D'us! A felicidade é tanta que não cabe dentro da gente e não poderíamos deixar de dividir isso com vocês! (...) Foram dois anos... (e então um longo e lindo e-mail, que termina em) Dois anos de garra, de luta e uma grande vitória... neste momento, dorme em paz nos braços do seu anjo da guarda, a nossa Lou. Obrigada pelo apoio, amizade, colo e tantas outras formas de apoio e carinho. É muito bom poder compartilhar esse momento tão desejado, Vencemos!!!"
Na e JM
Lou, um beijo carinhoso e espero ainda que nos reencontremos muitas vezes, somente em momentos de alegrias como este. Shehecheiánu vekiemánu vehiguiánu lazman hazé.
VAI CAIR UM TORRÓ... (como diria minha avó)
Eu estava me preparando para ir à biblioteca do HUC quando escutei um som de trovões. olhei pro céu, e pela primeira vez desde que retornei a Israel neste ano, o vi coberto de nuvens escuras. deve cair uma chuva braba hoje, finalmente. Estamos precisando de chuvas.
E provavelmente adeus ao período de calor. O frio deve vir com tudo. Já não era sem tempo, afinal estamos, deste lado do mundo, nos encaminhando para o inverno.
Pelo jeito hoje é dia de estudar em casa.
um abraço,
Uri
domingo, 25 de outubro de 2009
Novo projeto da Kehilat Bircat Shalom, Kibutz Gezer
Há poucos minutos recebi do meu amigo Hernan, chaver do Kibutz Gezer, o primeiro video de um novo projeto que iniciou-se na sinagoga da Kehilat Birkat Shalom (aqui, o link da Kehilat Birkat Shalom em inglês). Isto faz parte de um projeto muito mais abrangente.
Por um lado, há uma demanda enorme de olim chadashim da América Latina radicados em Ramla - cerca de 20 minutos do kibutz - para se envolverem mais com uma vida judaica religiosa no clima das comunidades liberais. A dificuldade é que muitos deles ainda não dominam o hebraico, tampouco falam inglês, e não havia quem os orientasse na sua própria lingua.
Por outro lado eu sabia que, a partir do segundo ano de formação rabínica, deveria atuar junto a uma das comunidade judaicas reformistas de Israel. Eu ainda não sabia, mas já estava feito o shiduch:-)
Passei a me reunir com o Hernan e a Carolina, chilenos que fizeram aliá e escolheram Gezer como a sua casa. Também tive a oportunidade de conhecer melhor o trabalho da rabina Miri Gold à frente da Birkat Shalom. Nos últimos anos a rabina Miri tornou-se muito conhecida por sua luta em prol das comunidades judaicas reformistas e conservadoras israelenses e suas lideranças, no intuito de serem tratadas pelo governo de Israel com os mesmos direitos que as instituições ortodoxas do país.
Uma das idéias sugeridas foi gravar videos que pudessem ser veiculados na internet. O objetivo era alcançar centenas de olim que não tinham como participar das atividades e encontros no Kibutz, bem como mostrar o trabalho para quem quisesse assistir e apoiar, no mundo inteiro.
Decidimos então gravar o piloto. Agora, alguns meses depois, ao terminar de assistir ao vídeo no You Tube, entendi quanta gente está comprometida e envolvida: toda a comunidade Birkat Shalom, o HUC por meio do meu estágio em práticas rabínicas, o movimento judaico reformista, e principalmente os olim de Ramla.
Não tenho idéia de onde isso chegará, mas já sou muito grato a todos aqueles que me apoiaram e me incentivaram a participar deste belo projeto. Que sejamos todos merecedores dele.
Shavua tov!
sexta-feira, 23 de outubro de 2009
Windows 7 (Brasil) X "Chalonot 7" (Israel) - preços
Aqui em Israel também houve uma certa expectativa quanto ao lançamento do Windows 7, ou Chalonot 7 (literalmente "Janelas 7", em hebraico)
Só que em Israel os preços estão bem mais baixos: entre 23% e 30%, dependendo da versão.
Levarei em conta, para a comparação, os preços de tabela da Microsoft para ambos os países.
obs.: Hoje, 23/10/09, R$ 1,00 = NS$ 2,15 shekels (sujeito a variações, naturalmente)
Windows 7 Home Basic
Brasil: R$ 329,00
Israel: não é oferecido.
Windows 7 Home Premium
Brasil: R$ 399,00
Israel: R$ 279,00 = NS$ 599 shekels (30% mais barato)
Windows 7 Professional
Brasil: R$ 629,00
Israel: R$ 465,00 = NS$ 999 shekels (26% mais barato)
Windows 7 Ultimate
Brasil: R$ 669,00
Israel: R$ 511,00 = NS$ 1.099 shekels (23,6% mais barato)
Seja como for, continua caro.
Shabat shalom!
Ministro do interior israelense, ortodoxo, toma uma sonora vaia de judeus reformistas
Nesta semana houve em Jerusalém uma importante conferência, liderada pelo Presidente de Israel, Shimon Peres. Quem teve o privilégio de fazer parte do seleto time de convidados foi a presidente da Congregação Israelita Paulista (CIP), Dora Lucia Brenner. Realmente não sei dizer, mas até agora parece ter sido a única representante de alguma comunidade judaica presente ao encontro.
Houve muita conversa importante neste encontro, mas como sempre, algumas coisas menos importantes, mas mais provocativas, colocaram um pouco de pimenta no molho. Eis uma delas:
Durante a conferência Facing Tomorrow (Olhando para o Futuro), entre o presidente Shimon Peres e inúmeras lideranças políticas, empresariais e judaicas comunitárias do mundo inteiro, o Ministro do Interior Eli Yishai (do partido ultraortodoxo Shas) não se esforçou muito para despertar a ira dos judeus não-ortodoxos presentes: "Olhem o que acontece com a Reforma por causa da asssimilação. Eles estão desaparecendo ", disse Yishai em seu discurso. A audiência, que consistia na maior parte de judeus americanos, a maioria reformistas e conservadores, respondeu com uma sonora vaia. "Estes são dados que recebi, eu não os criei", retrucou Yishai.
Conhecemos este discurso: estatísticas espalhadas a torto e a direito, ora sem fonte citada, ora atribuídas a algum demógrafo famoso para dar legitimidade, sobre os índices de casamentos mistos e do número de filhos nos EUA entre ortodoxos, conservadores e reformistas. Como se esta, caso fidedigna, fosse a única variável importante: ter muitos filhos e assim manter o povo judeu, a qualquer custo - mesmo ao custo da consciência. Deveríamos ser, segundo este critério, todos como em Mea Shearim, com média de 8 ou 9 filhos por casal. Ninguém fala de ser esta uma das regióes mais pobres de Jerusalém (talvez nao seja pior graças aos subsídios do governo), com maior desemprego (voluntário e involuntário), violência doméstica (quando há dados), e por aí vai. Ninguém fala sobre a inviabilidade de um país caso Israel inteira fosse uma imensa Mea Shearim. Não se pensa aí sobre o eventual crescimento das famigeradas "polícias do pudor" - como já há em certos bairros ou cidadezinhas de maioria ortodoxa.
O ministro Yishai destacou em seu discurso que todos os judeus da Diáspora deveriam imigrar para Israel a fim de impedir a assimilação. Questionado se um dia seria nomeado em Israel um rabino-chefe reformista ou conservador, Yishai respondeu: "O que ouço aqui é uma provocação." Realmente deve ter sido, porque a pergunta é retórica. O que se espera e para isso se luta há anos, é por uma Israel judaicamente pluralista, com o pleno reconhecimento de rabinos e rabinas de todas as linhas (inclusive ortodoxa, mas este é outro tema), com todas as implicações: conversões, escolas, casamentos, enterros, etc. Ops, voltando ao tema do minitro provocado, vale a pena perguntar: Mas quem iniciou a provocação mesmo?
O rabino Gilad Kariv, diretor geral do movimento judaico reformista em Israel, afirmou que as vaias ao ministro foram uma resposta adequada a palavras sem fundamento. "As palavras do ministro Yishai continuarão sendo palavras de incitamento e de provocação, que são a marca registrada do seu partido (Shas, leia-se rabino Ovadia Yossef e suas pérolas, motivo de irritação e indignação na imprensa israelense semana sim, outra também). Enquanto isso o Judaísmo Reformista continuará a atender fielmente a milhões de judeus na Diáspora e em Israel, pois está comprometido com o futuro do povo judeu ", disse ele.
Um abraço a todos, Shabat Shalom
sexta-feira, 16 de outubro de 2009
A História dos Judeus - uma fantástica aventura de 4 mil anos
Povo do Livro (Via Lettera)
Finalmente já está nas melhores livrarias do país, entre elas a Livraria Sefer, site Submarino, Livraria Cultura - "A História dos Judeus", do renomado cartunista Stan Mack. Fruto de um projeto que pretende publicar livros judaicos dentro de uma ótica moderna e progressista, "A História dos Judeus" ensina, diverte, questiona. Já há escolas judaicas buscando o livro para uso paradidático.
Abaixo uma resenha deste livro delicioso. Comprem, leiam e recomendem aos amigos!
Se Deus quiser, logo o selo Povo do Livro terá novas publicações que enriquecerão ainda mais a oferta de literatura judaica em lingua portuguesa.
shabat shalom,
Uri Lam
Seja bem-vindo à extraordinária História dos Judeus.
Começaremos nossa jornada (às vezes irreverente) há quatro mil anos, perto do Rio Eufrates, quando um chefe de tribo nômade chamado Abrão encontrou seu Deus pela primeira vez. E estaremos presentes aos pés do Monte Sinai quando este mesmo Deus negociar com Moisés.
A narrativa segue o ponto de vista de que, seja verdade divina ou mito, esses acontecimentos fazem parte de nossa realidade comum. A riqueza da fé e a profundidade humana encontradas em seus textos sagrados e históricos talvez sejam a mais importante contribuição do povo judeu.
Caminharemos com os profetas, que nos indicaram a crença em um só Deus e o respeito à lei, à moralidade e à igualdade entre os indivíduos; conheceremos Débora, Alexandra, Beruria e outras mulheres que representam a força intelectual e educativa das mulheres na cultura judaica; e viajaremos com os judeus comuns que seguem seu caminho através de todas
as principais correntes da história ocidental. Esta é a história do “Povo do Livro”, que nos ensina que tudo tem um objetivo e um significado, mas de quem se diz: reúna três e você terá dez opiniões.
Com uma espirituosa narrativa gráfica, o renomado Stan Mack nos conduz a uma jornada de 4 mil anos de altos e baixos da história Judaica. A primeira graphic novel de seu gênero, A História dos Judeus presta homenagem aos maiores personagens e eventos que moldaram o Povo Judeu e sua cultura.
Stan Mack, cartunista e ex-diretor de arte do New York Times Sunday Magazine. Seus cartuns já foram publicados nos jornais New York Times e New Yorker e nas revistas Adweek, Bon Appetit, Modern Maturity e Natural History. Também é autor e ilustrador de diversos livros para crianças, adolescentes e adultos.
Um novo olhar sobre 4 mil anos de História Judaica — competente, completo... divertido
Outono fervendo em Israel. Os turcos dizem nos amam. Falso "rabino" Elior Chen extraditado em 2 semanas, os estudos iniciam nesta segunda feira.
36 graus a sombra? E eu que pensei que havia deixado o calor para trás...
Tudo bem, o novo apartamento tem ar-condicionado, mas até me mudar, em 3 semanas, o calor deve já ter ido embora. Espero que tenhamos um clima intermediário antes de começar o frio prá valer...
Enquanto isso, a Turquia exibe uma minisérie apresentando soldados israelenses sanguinários assassinando a sangue frio crianças e civis palestinos. No pior estilo de filmes árabes antigos que, nos tempos de movimento juvenil, assistíamos na sede do Eitan, em São Paulo, os soldados israelenses são pintados como desumanos ao extremo.
Após os protestos do governo israelense, os produtores da mini-série dizem que o filme não trata de israelenses nem palestinos (ah tá), que os atores não usam uniformes israelenses (puxa, que coisa), e que eles amam os israelenses (imagina se nos odiassem). Por outro lado, a diplomacia turca afirma que as relações com Israel sempre foram fortes e continuarão fortes. Mas que a mini-série está mantida. detalhe: passa na TV estatal.
Lembra-me uma canção do Lingua de Trapo. Bem poderia ser a declaração de amor do governo turco a Israel:
"Ao lhe pedir em casamento, esqueci de lhe dizer,
que não sou um rapaz normal, que você esperava ter...
Minhas manias tão excêntricas, posso até lhe revelar,
mas meu sado-masoquismo, você vai ter que aturar...
Nos debates na TV - um esporte nacional, o debate - a discussão não trata das cenas revoltantes, mas de, segundo uma debatedora, de como chegamos a esta situação.
Enquanto isso, o sádico autoproclamado "rabino" Elior Chen está quase de passaporte carimbado para retornar a Israel. Todos esperam que seja julgado como merece, e que passe muitos anos na prisão, após maltratar ao extremo crianças "malcriadas" a fim de espantar delas os maus espíritos. Graças a Deus a argumentação dos advogados que fizeram a sua defesa - de que não poderia ser extraditado, uma vez que os crimes teriam sido cometidos nos territórios palestinos, fora, portanto, da jurisdição israelense - não colou.
Tudo (quase pronto) para o início das aulas no HUC. Muitas mudanças, pelo jeito, nos esperam, com o novo diretor do curso israelense, rabino Marc Rosenstein. Com ele terei um curso chamado "Dat vePolitica", Religião e Política. Também estudaremos Talmud, há outro curso de Livui Ruchani (algo como "Acompanhamento Espiritual"), Pensamento Judaico, e por aí vai.
Já sei que dois dos meus colegas estão liderando a abertura de duas novas comunidades, uma em Holon, outra em Tel Aviv.
Pois é... 36 graus, e subindo.
Shabat shalom
segunda-feira, 12 de outubro de 2009
Re-Bereshit - Re-tornando...
Espero, assim que me organizar, voltar a escrever mais e dar sequência à "segunda temporada" de Urishalaim. Retornei na semana passada a Jerusalém, certo de que nem a cidade é a mesma, nem eu. Muitas mudanças ocorrendo, outras tantas à vista. E vamos em frente!
E fiquei pensando: "morremos" em Iom Kipur, mas fomos inscritos no Livro da Vida - em outras palavras, o ano passado terminou, mas temos a oportunidade divina de retomar a vida nas mãos neste novo ano (5770). Em seguida construímos nossa "primeira morada", a ao mesmo tempo frágil, mas arejada e bem iluminada Sucá, onde todos os amigos são bem vindos. É uma casa muito engraçada, quase não tem teto, quase não tem nada... Ela precisa de tudo ainda prá deixar de ser Sucá e se tornar Casa, mas já é um início. Então, uma vez inscritos no Livro da Vida e já com as condições mínimas de teto garantidas, podemos iniciar uma nova fase na vida. Que seja para o bem.
Falando em recomeços, compartilho com vocês meu comentário para a parashát Bereshit, a primeira da Torá. Deve sair publicado nas próximas horas no site da CIP e na próxima edição do folheto Congregar, distribuído antes do Shabat, na mesma sinagoga.
abraços e boa leitura
Congregar – Parashat Bereshit outubro 2009 / Tishrê 5770
O nosso mundo é um tohu vavohu, graças a Deus
Logo no início do Gênesis vemos o mundo ser criado em duas frentes: “No início Deus criou os Céus e a Terra.” Esta duplicidade se replica diversas vezes: luz e escuridão, dia e noite, águas de cima e águas de baixo, masculino e feminino. Deus parece estabelecer o mundo como um código binário.
Porém, como sabemos, as coisas não são assim tão simples. No início da Criação – como em todos os inícios e reinícios – tudo na terra estava um tohu vavohu, uma confusão só. Talvez, ao preparar o projeto do mundo, Deus tenha imaginado esta construção matemática perfeita, binária, onde há luz ou escuridão, vivo ou morto, certo ou errado, masculino ou feminino. Mas assim que se inicia o Gênesis a realidade se mostra muito mais complicada e diversa. “A teoria na prática é outra”, costumamos dizer. Há luzes que esclarecem e luzes que cegam, há noites para descansar e escuridões medonhas, águas doces e insalubres, espécies e subespécies de minerais, tipos de plantas e animais que não acabam mais. Os céus, para Platão o mundo ideal, podem bem ser o mundo dos anjos, o mundo binário do “ou isso ou aquilo”. Mas aqui na terra as leis são diferentes. O mundo é o da diversidade, do tohu vavohu, do imprevisível e do criativo.
No sexto dia da Criação, segundo a Torá houve o intuito de Deus de criar o ser humano à Sua semelhança. No entanto, para Rabi Tanchuma, quando o projeto saiu do papel, o ser humano de verdade saiu bem diferente: “Na ocasião em que o Santíssimo, bendito seja, criou o primeiro ser humano, Ele o criou como um gólem..., conforme está escrito: ‘Teus olhos me enxergaram como um gólem...’ (Salmos 139:16)” (Midrash Rabá, 8) Eu, um gólem??? Originário do folclore judaico, cuja aparência lembra a de um ser humano, mas de formas desproporcionais, o gólem não é bom nem mau, porque não tem vontade própria. Seu papel é cumprir ordens e proteger a comunidade dos inimigos. Será que foi para ser um gólem, como diz Rabi Tanchuma, que Deus nos criou?
Para Rav Nachman bar Shmuel, Deus não nos criou como robôs que só cumprem ordens, mas sim com todas as possibilidades existentes da combinação entre iétser hatov e iétser hará, a tendência para o bem de mãos dadas com a tendência para o mal. A este ser humano complexo, ao mesmo tempo bom e mau, Rav Nachman atribui a expressão bíblica “e eis que era muito bom”. Para Martin Buber, a inclinação para o mal é tão boa quanto a inclinação para o bem. Mais do que isso: a inclinação para o mal só será má se vier desacompanhada e será sempre boa quando a sua energia – o impulso para abrir um negócio, dedicar-se aos estudos, voluntariar-se na vida comunitária, investir em um relacionamento amoroso, – vier de mãos dadas com a inclinação para o bem. Por outro lado, a inclinação para o bem, solitária, ficaria levitando no “mundo dos anjos”, sem conseqüências práticas no nosso mundo terreno. “De boas intenções o inferno está cheio”, também costumamos dizer.
Que neste início tenhamos a energia gigantesca de um gólem para começar; e de mãos dadas com ela, todas as melhores intenções para o bem. Porque todo início é um tohu vavohu, mas se ligarmos a pilhas do nosso potencial aos mesmo tempo nos pólos do iétser hatov e do iétser hará, poderemos chegar ao final e dizer: “Foi muito bom.”
Uri Lam, de volta a Jerusalém
sexta-feira, 2 de outubro de 2009
GILAD SHALIT: AS PRIMEIRAS IMAGENS EM 3 ANOS
TRANSCRIÇÃO:
Uri Lam (2 de outubro de 2009)
Eu sou Gilad, filho de Aviva e Noam Shalit, irmão de Hadas e Yoel que vivem em Mitspê Hila. O número da minha carteira de identidade é 300097029. Hoje é segunda-feira, 14 de setembro de 2009. Como vocês podem ver, eu tenho em minhas mãos a edição de hoje do jornal Falastin (Palestina), de 14 de setembro de 2009, publicado em Gaza.
(Close-up do jornal de modo que a data pode ser confirmada)
Eu leio os jornais à procura de notícias sobre mim. Espero encontrar algum tipo de informação que aponte para a minha breve libertação e volta para casa. Eu tenho esperado e mantido a esperança por muito tempo pelo dia em que serei libertado.
Espero que a gestão atual, encabeçada por Biniamin Netanyahu, não desperdice esta oportunidade para alcançar um acordo, e que como resultado eu possa finalmente realizar o meu sonho e ser libertado.
Quero enviar meus cumprimentos à minha família e lhes falar que eu os amo e sinto muita falta deles, e rezo pelo dia em que eu os verei novamente.
Pai, Yoel e Hadas, vocês se lembram do dia em que vocês vieram me visitar na minha base nas Colinas do Golan, no dia 31 de dezembro de 2005, que se eu não me engano, é conhecida como Revaiá Bet? Nós fomos dar um passeio ao redor da base e vocês tiraram fotos minhas sobre o tanque Mercavá, e sobre um dos antigos tanques situados na entrada para a base. Então nós fomos até um restaurante em um das aldeias drusas e, no caminho, tiramos fotos uns dos outros à beira da estrada com o Monte Hermon coberto de neve ao fundo.
Quero lhes falar que me sinto bem em termos de saúde, e que os Mujahidin das Brigadas Iz-al-Din-al-Qassam estão me tratando muito bem. Muito obrigado e adeus.
(Gilad se levanta, anda um pouco e volta a sentar)
A gravação foi entregue hoje, 2 de outubro de 2009, pelo Hamas, em troca de 19 prisioneiras palestinas libertadas por Israel. É o primeiro sinal de vida do soldado sequestrado em mais de 3 anos. Gilad aparece muito magro, mas aparentemente saudável, com fala firme e com condições de levantar-se e sentar-se sozinho.Que neste Shabat rezemos pela libertação de Gilad Shalit, para que ele possa retornar para casa o mais rápido possível com saúde e em paz.
Gilad Shalit, por seu equilíbrio e resiliência, já é um heroi em Israel. Que esteja logo conosco.
Shabat shalom e Chag Sucot sameach