A Vitória de Lou
Cap.1: Era uma vez uma menina feliz, com uma família maravilhosa. Eu a conheci melhor em uma colônia de férias da CIP. Linda, brincalhona, séria quando achava que deveria estar séria. A mãe, uma grande amiga, me telefonava em segredo para saber se a filha estava bem. Não precisava falar com a menina, não queria atrapalhar o ritmo da colônia - só saber se estava bem, se havia feito amigas e amigos, se estava aprendendo e se divertindo.
Cap.2: um dia... a menina passa mal, muito mal. Logo é levada ao hospital e são feitos muitos exames, e se constata que ela tem uma doença que antigamente as pessoas tinham medo de dizer até o nome, pois era, na maioria das vezes, fatal. Falar em câncer era falar em morte, então não se falava. Ao saber do que se tratava e o que deveria se feito para tratar, a jovem pergunta: "Quando começamos o tratamento?" Nada de lágrimas, de cara de medo, nada. Os olhos azuis só brilham um pouco mais. No fundo, lá no fundo, deixam transparecer um "por que comigo?" mas o olhar decidido resolve que isto já não importa mais.
Cap.3: fico sabendo da notícia somente muitos dias depois. Era fim de ano. "A Lou vai prá colônia em janeiro?" pergunto. "Você não está sabendo, Uri?" diz a mãe. Sou convidado por ela a me encontrar com toda a família na casa deles, aliás uma delícia de casa no interior de São Paulo. Ali conversamos, rimos, bebemos um pouco de cerveja, comemos churrasco, soltamos piada, entramos na piscina, contamos histórias. A única coisa que delatava o que estava acontecendo era que a menina tinha uma espécie de sonda na altura do peito, por onde passavam os remédios. Só.
Cap.4: a família descide mudar de vida e se muda para os Estados Unidos. Ali a vida continua. Buscam um colégio judaico, uma comunidade judaica - nada difícil, em se tratando de escolherem viver em uma cidade em que boa parte da população é judia. Nunca mais ouço falar de como está evoluindo ou não a doença. Somente troco com minha querida amiga, a mãe, e-mails sobre assuntos triviais, sobre saudades das nossas aulas e conversas, sobre possíveis planos futuros, sobre judaísmo.
Epílogo: Hoje recebo, pela manhã, a seguinte notícia:
Terça-feira recebemos uma notícia maravilhosa, chegou ao fim o tratamento de quimioterapia da Lou. É isso mesmo, a Lou teve alta!!!!!!!!!!!! Chega de químio, procedimentos doloridos, baixa imunidade! Acabou!!! Graças a D'us! A felicidade é tanta que não cabe dentro da gente e não poderíamos deixar de dividir isso com vocês! (...) Foram dois anos... (e então um longo e lindo e-mail, que termina em) Dois anos de garra, de luta e uma grande vitória... neste momento, dorme em paz nos braços do seu anjo da guarda, a nossa Lou. Obrigada pelo apoio, amizade, colo e tantas outras formas de apoio e carinho. É muito bom poder compartilhar esse momento tão desejado, Vencemos!!!"
Na e JM
Lou, um beijo carinhoso e espero ainda que nos reencontremos muitas vezes, somente em momentos de alegrias como este. Shehecheiánu vekiemánu vehiguiánu lazman hazé.
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