domingo, 29 de março de 2009
reflexões sobre o ser judeu e sobre o já-foi-voltar-a-ser judeu
será que ainda neva este ano? estamos nas últimas chuvas. depois só em outubro...
e o Rubinho, ganha hoje?
Estive no Kibutz Gezer no Shabat, onde há a comunidade judaica reformista Bircat Shalom. Houve um lindo serviço religioso, com mais de 100 participantes na pequena, mas bonita, sinagoga. Tem algo de sonho em uma pequena sinagoga no campo.
Havia estudantes americanos e canadenses, israelenses de cidades próximas, como Tel Aviv e Raanana, peruanos olim chadashim de Ramle (cidade a 15 km do kibutz) e, claro, membros do kibutz e a rabina Miri Gold.
O kibutz Gezer conta hoje com 130 membros e mais um tanto de habitantes, ou seja, gente que aluga casas no kibutz, mas não é membro ativo do mesmo. Embora tenha mudado muito, a sensação de kibutz permanece - entende quem já esteve em kibutz por alguns meses, pelo menos. Muito verde, casas baixas, no máximo de 2 andares, ruas semi-asfaltadas ou de terra, gente vestida à vontade, pouca concentração, aliás, de gente. Como quase todo kibutz, ninguém sabe muito o que fazer com o cheder haochel, o refeitório, desativado. Alguns querem reativá-lo, outros sonham em transformá-lo em uma grande sinagoga (seria lindo).
O kibutz não tem campo de futebol, mas... tem o mais conhecido campo de beisebol do país. Quase todos os jogadores da seleção israelense de beisebol são de Gezer - ou de Modiin, que vêm treinar em Gezer. Kibutz de colonização americana, ma laassot:-) mas os latinos do kibutz já se movimentam para construir o primeiro campo de futebol do kibutz.
Foi emocionante encontrar os israelenses peruanos. Eles são parte daqueles judeus da Amazônia Peruana que, há alguns anos, receberam a visita de diversos rabinos conservadores e reformistas - ok, ortodoxos também - em Iquitos. Daqueles tantos, muitos imigraram para Israel e, para minha alegria, não para os territórios ocupados. Destes, alguns vêm se tornando ortodoxos; outros se aproximam da comunidade judaica reformista de Gezer, e outros ainda se tornam israelenses laicos, como a maior parte da população. São figuras!!! bigodes grandes, cabelos longos com rabo de cavalo, alguns com cabelos bem negros. Vêm compor a diversidade judaica em Israel.
Aliás, isso todo membro da comunidade judaica brasileira deveria ter como obrigatório, em uma visita a Israel: reparar que há judeus de todas as etnias possíveis e imagináveis, de todas as origens, e certamente miscigenados - com populações polonesas, russas, árabes, peruanas, brasileiras, anglo-saxônicas, japonesas, indianas, africanas, tailandesas. Impressionante, mas é assim. Neste sentido, Israel é Brasil. Quando a nossa coletividade entender isso, se entender, ao nos abrirmos, nos tornaremos mais judeus, mais próximos da realidade em Israel´.
a hipótese, como diria minha morá de matemática do Renascença, é: não se trata de assimilar-se, mas de assimilar. O que? traduza, meu caro. Em Israel milhares de descendentes de judeus que, ao terem vivido na Diáspora, casaram-se com pessoas não-judias e de algum modo se assimilaram, fazem o caminho da volta, e trazem consigo pessoas que agora assimilam os costumes judaicos, e se tornam tão judeus como nós. É como se víssemos, diante de nós, os processos que formaram as populações ashkenazi, sefaradi, italiana, mizrachi... como se tivéssemos sido congelados por algum tempo e agora estivéssemos descongelando. É uma visão, pelo menos, bem mais otimista que o alarmismo assimilacionista e sua reação de congelamento, fechamento e radicalização, reduzindo o judaísmo a uma ou duas de suas representações, e a meu ver, não as mais bonitas.
bom, um pouco de reflexão apenas. Que o povo judeu possa manter a sua diversidade, dos mais ortodoxos aos mais liberais, mas dentro dos limites do judaísmo. Que possamos também trazer nova gente para o nosso meio, no caminho inverso, assimilar, não ser assimilado. descobriremos que muitos que "se assimilarem ao judaísmo" já tinham ascendência judaica, e estão simplesmente voltando para casa. Podem vir com seus rabos de cavalo, olhos puxados, tererês, cabelos loiros claros ou escuros e lisos e crespos, peles de todos os tons e cores e jeitos, altos e baixos, gordos e magros. O judeu israelense - um mix da humanidade.
O limite é: sejam judeus - não missionários, sem essa de Yeshua, de boas novas, salvação no fim dos tempos, "união da igreja com a sinagoga"... com todo respeito, deixamos esta herança para nossos irmãos cristãos.
quinta-feira, 26 de março de 2009
ou O Conto da Carochinha de Pessach
Charada: quando uma hagadá de Pessach não é um livro judaico?
a) quando em vez de falar da saída dos judeus do Egito, fala da morte e ressurreição de Jesus.
b) quando tem mais Jesus na “Hagadá” do que furinhos na matsá.
c) quando o vinho de Pessach vira sangue de Jesus.
d) quando as 3 matsot na mesa passam a representar pai, filho e espírito santo.
e) todas as alternativas acima.
O diálogo judaico-cristão, a meu ver, é uma conquista saudável e importante dos nossos tempos. Estão claras as diferenças entre as religiões, as tradições e interpretações do texto bíblico, os objetivos espirituais. Então o diálogo é possível, o conhecimento e respeito mútuo, a atuação conjunta em prol dos mais necessitados, como tivemos o exemplo de duas importantes organizações comunitárias, uma judaica e uma cristã, em São Paulo há pouco tempo.
Mas simplesmente não é possível fundir duas tradições milenares. Mais do que isso: é preciso dois para dançar um tango. E nós, judeus, não queremos dançar um tango com aqueles cristãos que não querem diálogo, mas sim fazem qualquer coisa - até vestir kipá e tsitsit - para que sejamos cristãos, mas acreditar em Yeshua Hamashiach, ops, Jesus. Não obrigado, muito menos enganado.
Eles tentam se vestir como judeus, usam expressões judaicas mescladas com exclamações cristãs, subvertem nossos livros e objetos religiosos. Antigamente éramos acusados, na Idade Média, de preparar o vinho e a matsá de Pessach com o sangue de crianças cristãs. Hoje certos grupos messiânicos afirmam que o vinho e a matsá de Pessach são respectivamente o sangue e o corpo de Cristo. Não dá para engolir.
Nos EUA vende-se uma “hagadá de pessach” com toda a cara de Hagadá de Pessach. Até a página 2. A partir daí ela se torna uma pregação pelo retorno de Jesus.
O grupo “Jews for Judaism” (Judeus pelo Judaísmo), do rabino Tovia Singer, protestou e conseguiu que a livraria Barnes & Noble retirasse o livro da seção judaica e o reclassificasse como cristão - nada mais óbvio. O mesmo está sendo feito junto à Amazon Books e à rede Wal-Mart. Segundo o rabino, “Eles tomam as tradições da fé judaica e as usam como instrumento para converter à fé cristã”. Conhecemos este filme no Brasil. Temos “amigos” assim. Infelizmente. Tudo feito de forma encoberta, como se fosse. Como uma antiga propaganda: “Denorex: parece, mas não é.”
Albert Passy, judeu americano, coloca bem a situação: “Entendam que esta hagadá não é feita por judeus e para judeus – mas sim por uma organização que busca converter judeus ao dizer que se pode acreditar em Jesus e continuar sendo judeu. É uma FARSA!! Por que não chamam abertamente de “Páscoa com Judeus por Jesus?”
Uma pessoa comentou assim o anúncio do livro exposto na Amazon Books: “Eu adquiri pensando que fosse mais uma Hagadá de Pessach. Acabei jogando fora assim que percebi que se tratava de material missionário que se passava por Hagadá. Pensei comigo: Quem irá celebrar a nossa liberdade do Egito lendo uma coisa que pretende nos reescravizar?”
Mas há muitos judeus afastados – e há muitos que se consideram descendentes de judeus no mundo inteiro e que se tornam alvo mais fácil destes grupos missionários messiânicos. O rabino Tovia Singer acrescenta, em artigo publicado pela prestigiosa e centenária revista Forward, que os esforços das igrejas cristãs de extrema-direita para converter judeus erodem o bom progresso das relações inter-religiosas: “Eles são um tóxico para as relações judaico-cristãs”. Um tóxico. se não ilegal - afinal, liberdade de religião é um direito - imoral, por vender gato por lebre.
Infelizmente, no Brasil, uma figura conhecida experimentou o tóxico. E gostou e recomendou. Pior: por não ler antes a bula, digamos, achou que era um tóxico legitimamente casher, e ficou ofendida quando se mostrou que experimentou uma droga legitimamente “messianicosher”. Os efeitos alucinógenos da droga, graças a Deus, não afetaram de cheio a comunidade judaica brasileira, mas causaram distúrbios o suficiente.
Que no próximo Pessach estejamos livres dos pequenos faraós - o Rosh Faraó até veste kipá e talit para isso, além da correntinha com a menorá com base de peixe (e não é guefilte fish), para nos manter no Egito. Em todas as gerações eles tentam, mas como diz a Hagadá de Pessach, Deus nos salva com Mão Forte e Braço Estendido. E Daiênu, já isto nos basta.
terça-feira, 24 de março de 2009
Link: http://www.nrg.co.il/online/1/ART1/869/880.html (em hebraico)
Tradução: Uri Lam, março de 2009
Direitos iguais entre homens e mulheres nem sempre andam de mãos dadas com a religião, mas neste ano as feministas podem se orgulhar da primeira Hagadá de Pessach igualitária. (em Israel - N. do T.)
Rina Shakdi-Cohen, formada em estudos de literatura e educação, ativista do movimento pela paz e direitos iguais entre homens e mulheres, lançou uma Hagadá de Pessach tradicional adequada ao espírito igualitário do século 21.
Na nova Hagadá, publicada pela editora Ofir, destacam-se as personagens femininas. Tudo o que está escrito na Hagadá tradicional em linguagem masculina ganhou também termos na linguagem feminina. Há, por exemplo, frases como: “E contarás ao teu filho e à tua filha” ou “em relação a quatro filhos e quatro filhas disse a Torá”.
Shakdi Doron conta: “Para esta Hagadá me baseei na afirmação de Rabi Akiva: ‘Graças às mulheres justas que havia naquela geração o povo judeu foi salvo do Egito.’”
Além disso há textos dos sábios do Talmud sobre cada uma das heroínas dos relatos da Hagadá, junto a ilustrações destas mulheres.
“A saída do Egito é um relato importante e que atrai a atenção, mas é um evento de todo o povo de Israel, não apenas da sua metade masculina”, diz Shakdi-Cohen. “Para mim é importante que os leitores, sejam adultos ou crianças, recebam a verdadeira imagem dos acontecimentos que ocorreram o poço de Israel no início da sua jornada.”
Shakdi-Cohen pesquisou a questão do feminino no relato da saída do Egito por mais de um ano. “De todos os materiais coletados por mim, vem à tona que os homens daquela época eram passivos e as mulheres, por conta disso, eram muito mais ativas”, conta sobre suas descobertas, que as feministas entre nós diriam que não surpreende. “Tem as criadoras de Moisés, Shifrá e Puá, a mãe de Moisés – Iochéved, sua irmã – Miriam, e a filha do Faraó que o resgatou das águas e o levou para sua casa – o palácio do Faraó, e graças a ela ele se tornou o grande líder do povo de Israel. Cada uma destas personagens femininas é descrita de forma extensa na Hagadá, de um modo que até hoje não havia sido feito em relação a elas.”
A Hagadá de Pessach igualitária pode ser adquirida nas livrarias em Israel (e provavelmente logo no site www.amazonbooks.com) . Seu preço em Israel é de 98 shekels, aproximadamente R$ 55,00.
Quem sabe logo encontremos, entre aqueles da comunidade judaica brasileira que defendem a igualdade entre homens e mulheres no que tange à vida judaica, interessados em publicar esta Hagadá de Pessach em português. Eu adoraria fazer parte deste projeto e começo a pensar nele a partir de agora.
sexta-feira, 13 de março de 2009
centenas de israelenses realizam agora, em Jerusalém, uma manifestação junto à tenda diante da casa do primeiro ministro, onde estão vivendo provisoriamente os pais do soldado Guilad Shalit, sequestrado em 2006 e mantido cativo em Gaza. Enquanto isso vem a informação do lado palestino de que já se haveria chegado a um acordo sobre a lista de 1.000 presos palestinos que seriam trocados pela libertação do jovem israelense. A discussão agora gira em torno de quem poderá retornar a Gaza e quem será expulso para o exterior, pelo fato de serem terroristas que assassinaram cidadãos israelenses em atentados.
os palestinos já disseram e se "desdisseram" zilhões de vezes, mas não há outro jeito a não ser continuar negociando.
a chamada "janela de oportunidade" se fecha com o início do próximo governo israelense, a ser anunciado em cerca de 10 dias. depois disso é possível que tudo vá por água abaixo e encerrem-se as negociações por Guilad Shalit - ou na melhor das hipóteses, comece tudo de novo.
queira Deus que Guilad já esteja com seus familiares em Pessach.
Shabat shalom
terça-feira, 10 de março de 2009
Hoje é o dia dos contatos do Brasil. Tenho acompanhado também via internet o caso horroroso da menina violentada pelo padrasto que, grávida, fez o aborto, o que gerou comoção e debates acalorados. Não é para menos...
Graças a Deus há muitos líderes religiosos católicos que não compartilham da decisão tomada por alguns. Principalmente aqueles que lidam no dia a dia com a população mais carente, em dedicado trabalho de amor ao próximo.
Graças a Deus, no Brasil todos os povos das mais diferentes crenças podem se expressar. Mas o Estado - o Estado é soberano.
Compartilho um texto típico da literatura de cordel. Pesado.
De versão a versão,optei por esta, que foca na questão.
Que possamos viver dias melhores.
Sem meninas violentadas e sem excomunhão.
A EXCOMUNHÃO DA VÍTIMA
Miguezim de Princesa
Peço à musa do improviso / que me dê inspiração,
Ciência e sabedoria, / Inteligência e razão,
Peço que Deus que me proteja / Para falar de uma igreja / Que comete aberração.
Pelas fogueiras que arderam / No tempo da Inquisição,
Pelas mulheres queimadas / Sem apelo ou compaixão,
Pensava que o Vaticano / Tinha mudado de plano, / Abolido a excomunhão.
Mas o bispo Dom José,/ Um homem conservador,
Tratou com impiedade / A vítima de um estuprador,
Massacrada e abusada, / Sofrida e violentada,/ Sem futuro e sem amor.
Depois que houve o estupro, / A menina engravidou.
Ela só tem nove anos, / A Justiça autorizou
Que a criança abortasse / Antes que a vida brotasse / Um fruto do desamor.
O aborto, já previsto / Na nossa legislação,
Teve o apoio declarado / Do ministro Temporão,
Que é médico bom e zeloso, / E mostrou ser corajoso / Ao enfrentar a questão.
Além de excomungar / O ministro Temporão,
Dom José excomungou / Da menina, sem razão,
A mãe, a vó e a tia. / E se brincar puniria / Até a quarta geração.
É esquisito que a igreja, / Que tanto prega o perdão,
Resolva excomungar médicos / Que cumpriram sua missão.
E num beco sem saída / Livraram uma pobre vida / Do fel da desilusão.
E esta quem me contou / Foi Lima do Camarão:
Dom José excomungou / A equipe de plantão,
A família da menina/ E o ministro Temporão.
Mas para o estuprador, / Que por certo perdoou,
O arcebispo reservou / A vaga de sacristão.

Segundo comunicado da Federação Israelita do Estado de São Paulo (FISESP), hoje pela manhã manhã "o Rabino Michel Schlesinger, da CIP, Claudio Epelman, Diretor Executivo do Congresso Judaico Latino Americano, e Ricardo Berkiensztat, Vice Presidente Executivo da FISESP, foram recebidos pelo Cheikh Mohammad Moughraby, Diretor e Imam do Centro Islâmico do Brasil. O tema do encontro foi o diálogo inter-religioso e a busca por maneiras de garantir que o respeito e a harmonia entre a comunidade islâmica e a comunidade judaica no Brasil permaneçam intocáveis apesar dos desafios vividos no Oriente Médio. Novos encontros já estão sendo agendados, com o objetivo de que este diálogo seja permanente, mostrando que o Brasil é um exemplo de conviência, que deve ser seguido."
Importantíssimo. Há muitos anos há um bem-sucedido diálogo judaico-cristão em São Paulo, entre diversos representantes da comunidade judaica e a CNBB. Em Porto Alegre o líder espiritual da Sibra, Guershon Kwasniewski, faz parte há muitos anos de um interessante diálogo multirreligioso e é ativo participante do Blog das Religiões.
Este é o caminho - o do diálogo, não do monólogo. Por sermos diferentes, temos o que compartilhar, mantendo nossas peculiaridades. E por sermos brasileiros, temos a criatividade e a capacidade de exportar paz, e não de importar conflitos. Kol hakavod a todos acima.

Arie Yaari - um Leão nas montanhas de Campos do Jordão
Recebi hoje e compartilho com alegria o lançamento da segunda edição do livro "O Leão da Montanha - dos campos da morte aos Campos do Jordão" (Editora e Instituto ProLibera), de Arie Yaari.
Tive a honra de colaborar com a primeira edição quando, a convite do senhor Arie, visitei-o uma série de vezes em seu hotel, o Leão da Montanha, um dos mais tradicionais de Campos do Jordão. Ali ele recordou memórias dos tempos da guerra, de quando passou por inúmeros campos de concentração, com histórias incríveis. E depois, mais incrível ainda, a passagem por Israel e o reinício no Brasil, onde do nada levantou um hotel.
Lembro-me quando ele contou de uma situação em que, muito doente, dividindo um espaço com um amigo, outro sobrevivente da Shoá (Holocausto), este aproveitou uma chance para se divertir um pouco, e Arie sentiu-se totalmente só. Então prometeu a si mesmo que, caso sobrevivesse, construiria uma grande família e não deixaria que sua história fosse esquecida. Ele cumpriu cada letra do que prometeu a si mesmo. Uma lição de vida para cada um de nós, de perseverança, equilíbrio, tolerância e idishkeit.
Quem puder passar o Seder de Pessach no Leão da Montanha, não perca a oportunidade. Quem não puder, não deixe de comprar o livro - vale muito a leitura do começo ao fim.
como o texto não saiu claro, divulgo aqui:
Data: 4 de abril, sábado, das 16h às 19h. Hotel Leão da Montanha (Salão Mozarteum)
R. Raul Mesquita 443 - Capivari - Campos do Jordão
confirmar com Nanci - nanci@leaodamontanha.com.br, tel.: (12) 3669-8811
Hospedagem no hotel de 3 a 5 de abril (6a f. a domingo) com tradicional Seder de Pessach, danças, apresentação artística e atividades para crianças.
Participação apenas no Seder (jantar) R$ 65,00
almoço no domingo R$ 50,00
abraços e chag Purim SameachUri Lam


Ontem a biblioteca do seminário rabínico (Hebrew Union College) fez a venda de alguns volumes excedentes de seu acervo, por haver muitos exemplares repetidos. Livros ótimos, bons e outros nem tanto foram colocados a venda por uma ninharia. Entre eles arrematei a coleção quase completa de Scholem Aleichem em hebraico (o original é em idishe). Ok, uma edição antiga, de 1954, papel amarelado e poeirento... mas é Scholem Aleichem, em uma edição que posso ler (não sei ler em idishe). Não temos tanta coisa assim em português, uma pena. Há em espanhol e em inglês.
Abaixo traduzi o início do primeiro conto de "Tevye o Leiteiro" do hebraico. Curiosíssimo que há diversas diferenças em relação à tradução para o inglês, se não me engano, da Pengouin Books. A começar pelo título. A impressão que tenho é que a edição americana é pós "Violinista no Telhado", a famosa adaptação para o cinema. Talvez por isso eu achasse o filme tão fiel ao livro - talvez porque, ao contrário, a tradução para o inglês seja tão fiel ao filme.
Enfim, estamos em Purim. Scholem Aleichem cita uma conhecida passagem da Meguilat Ester neste divertido conto, por isso eu o cito aqui.
Purim, tempo de máscaras e de esconde-esconde. Quantos Tevyes são rabinos e quantos rabinos são Tevye? Tenho a impressão de ver tantos leiteiros pelas ruas de Jerusalém... serão rabinos fantasiados de leiteiros? Ou leiteiros fantasiados de rabinos?
com a palavra, Scholem Aleichem.
abraços, chag sameach!
(tradução do hebraico: Uri Lam)
Um caso que me foi contado por Tevye o leiteiro, um judeu pobre e cuidado pelas filhas, sobre como a oportunidade zombou dele em uma estranha situação na qual, ao sair do seu ambiente natural, de repente, foi lançado para muito alto.
“Ele erguerá o pobre do pó, dos detritos erguerá o indigente.” (Salmos 113:7)
Escute-me, meu caro Scholem Aleichem: desde que o acaso começou a jogar com o ser humano, dos céus tiveram piedade dele, garantiram-lhe que ele é filho deste mundo, como diz o ditado: lechol zman - para todo momento, ou seja, tudo depende da sorte. Assim é com a futilidade do pensamento, a sabedoria do indivíduo e suas idéias. E se, Deus nos livre, a sorte da pessoa piorar, a roda virar de cabeça para baixo e ele descer os últimos sete degraus, tampouco terá piedade no julgamento e sua sentença por parte das fontes da redenção, como dizemos em Ranenu tsadikim [1]: Sheker hassus [2], de que vale o cavalo? De nada valem inteligência e conselhos para cavalo morto.
No entanto, assim costuma acontecer no mundo: você vê uma pessoa cujos dias são labuta e dedicação até o corpo se esgotar e a alma exaurir, seu rosto fica escuro como os fundos de uma caldeira e sua vida se vira contra ele como se não tivesse mais o que fazer de bom além da sepultura - e de repente sete sóis brilham para ele ao mesmo tempo, a ordem das coisas é invertida desde o princípio e a sorte ilumina suas faces por todos os lados, assim como ensinaram os sábios no Livro de Ester: Revach vehatsalá iaamod laiehudim - “Socorro e resgate virá para os judeus" [3]. Para mim está claro que não preciso interpretar um versículo em toda a sua forma e extensão, mas eis o seu significado literal: um judeu, por todo o tempo em que a alma estiver dentro dele, e mesmo que tenha uma espada em seu pescoço, não deve se desesperar nem ficar inseguro. Senti isso na própria pele e no meu atual ramo de negócios. Pois quem sou eu e o que sou eu - um miserável entre milhares de outros que chegou a este ponto de vender manteiga e queijo e outros derivados de leite, que nunca foi a atividade dos meus avós e dos avós dos meus avós desde os tempos do Egito até hoje?
Aproveite o seu tempo, meu caro, vale à pena escutar tudo o que aconteceu do início ao fim. Se não se importa, eu me sentarei ao seu lado sobre a grama enquanto meu cavalo fica pastando à minha direita, como está escrito: Nishmat col chai [4], A alma de toda vida - afinal ele também é um ser vivo, uma criatura do Sagrado, Bendito Seja.
[1] Ranenu tsadikim: início do Salmo 33: “Cantem, ó justos...” (N. do T.)
[2] Salmo 33:17.
[3] Ester 4:14.
[4] Nishmat col chai: oração que fecha os Pessukê Dezimra, nas orações matutinas (N. do T.)
quinta-feira, 5 de março de 2009
Há cerca de 45 minutos atrás, às 13:00h (8:00 da manhã, horário de Brasília) um tratorista árabe da região oriental de Jerusalém jogou seu trator contra uma viatura de polícia e um ônibus em Jerusalém hoje, antes que um taxista e um policial o acertassem com tiros e o matassem. Os policiais dentro da viatura foram levemente feridos.O incidente ocorreu próximo ao belo Shopping Malcha, no sul de Jerusalém. O lugar mais parecido com São Paulo que conheço em Jerusalém e bem longe de onde moro.
Segundo o taxista, o tratorista ergueu a viatura no ar e a fez capotar duas vezes. "Eu dei quatro tiros contra ele e gritei por ajuda, até que chegou um policial e o atingiu com um tiro.", disse.
quarta-feira, 4 de março de 2009
Dali seguiram para a Holanda, da Holanda para o Harlem (EUA) e dali para Israel. Tradição judaica hispano-portuguesa. "Seus avós eram anussim?", pergunto. Ele respira um minuto e responde: "Sim, meus avós são anussim."
O avô (ou bisavô) chamava-se Moisés. nos EUA tornou-se Moses. em Israel passou de nome a sobrenome, e foi adotado como Mazor.
Yehoram Mazor. Rabino Yehoram Mazor. O único rabino israelense que colaborou na criação do novo sidur Mishkán Tefilah, do movimento reformista americano. Meu professor de Prática de Tefilá.
Seu filho, Oded Mazor, logo termina seus estudos rabínicos no HUC Jerusalem. Faz parte da congregação Kol Haneshamá, em Jerusalém.
Pois é. Dizem que enquanto os cães ladram, a caravana passa. Moisés/Moses/Moshe/Mazor chegou longe.
terça-feira, 3 de março de 2009

As aulas voltaram.
Os kassams também. Aulas suspensas em Ashkelon, graças aos hermanos do Hamas e seus kassamim, mais potentes e pesados. Mais capazes de matar.
Hillary está por aqui. As bolsas despencaram. Dólar e real disparam...
Início de mês não é fácil.
Pelo menos chove em Israel e o Kineret já subiu mais 30 cm.
Pelo menos Noa e Mira Awad estão no Eurovision com "Einaich", Seus olhos".
Israel oferece novas vantagens fiscais aos olim.
Muitos americanos chegam.
Aqui também morador de rua morre de frio, literalmente.
O basquete é muito bom, o futebol é muito ruim.
rabinos reformistas já se foram, as rabinas ficaram mais uns dias.
ativistas chegam em mais 2 semanas.
preciso ir aos correios.
ontem tivemos aulas das 9:00 a.m às 9:00 p.m.
hoje começamos às 8:30h. às 21:00h certamente estarei morto-vivo, na cama.
e lá fora está chovendo.
talvez seja culpa de Baal Shem Tov - dizem no rádio, com aquela voz de 6 da manhã, que ele era capaz de tampar o sol com a palma da mão. E chove. mas é possível recolher a água com a mesma palma da mão. E isso fui eu que disse, não o Baal Shem.
E o bebê da minha amiga Galit chama-se Uri Tzvi, e o avô dele chama-se Itzchak.
Az modê ani lefanêcha, Melech Chai Vecaiam.
Com tudo isso, bom e mau, acordei, tomei meu café,
minha alma vai retornando aos poucos, para mais um dia.
boker tov, Ierushalaim!
domingo, 1 de março de 2009
Aí está. Segundo artigo no Jerusalem Post, a mãe de oito filhos, uma judia americana, aceitou ser testemunha no caso Elior Chen em troca de uma diminuição de sua pena para 5 anos de detenção. Chen ainda está no Brasil, em uma estranhíssima defesa: seu advogado, brasileiro, justificou que Israel não tinha jurisdição legal para exigir sua extradição, uma vez que ele vivia em um assentamento fora da autoridade judicial do Estado de Israel. Ou seja, o discurso de que o único que vale é Eretz Israel Shlemá, toda a Terra de Israel - incluindo os territórios hoje sob administração palestina – cai por terra quando o objetivo é salvar a pele depois de ter maltratado crianças.
Chen e seus seguidores (na foto abaixo, no post anterior) são acusados de maltratar severamente duas crianças, de 3 e 4 anos (e suspeitos de agressão a outras tantas), que a pretexto de serem punidas por mau comportamento, apanhavam com martelos, facas e outras ferramentas, até perderem a consciência – aliás, com ajuda e condescendência da mãe, que agora troca sua pena por uma menor, para colaborar na acusação do Estado contra Chen. Em decorrência das agressões, a criança de 3 anos teve traumatismo craniano permanente e permanecerá em estado vegetativo pelo resto da vida.
E ele tem coragem de dizer que o Estado de Israel não pode julgá-lo porque ele vivia onde talvez não devesse estar vivendo. O falso rabino Chen e seus seguidores nunca reconheceram o Estado de Israel, e agora serão julgados por ele. Que faça companhia a amir, assassino de Itzchak Rabin z’l.

O líder espiritual do partido ortodoxo sefaradi Shas afirmou, em sua drashá de Motsaê Shabat (após o término do Shabat), que se em um vilarejo os homens não souberem ler corretamente a Meguilat Ester, mas uma mulher estudou e sabe, podem trazê-la para ler para eles e assim permitir que cumpram com a obrigação de escutar a leitura do Livro de Ester.
O rabino se contrapôs àqueles que são contra esta prática, baseados na afirmação de que a voz da mulher perturba, desnuda, desvia - a atenção dos homens para suas obrigações. Segundo ele, esta justificativa cabe nos casos em que uma mulher esteja cantando, “então você a escuta, gosta, e passa a cogitar...”, mas que a fala de uma mulher não leva a isto.
Porém, claro, enfatizou: “É claro que não se faz isso a priori. Quem trará uma mulher para tirar o lugar dos homens?”
Ok. Fica a pergunta: de acordo com este raciocínio, se em um vilarejo onde os homens não saibam ler na Torá e uma mulher sabe, podem trazê-la para ler para eles e assim permitir que cumpram a obrigação de escutar a leitura da Torá?
Na sinagoga Shirá Chadashá, em Jerusalém, de rito ortodoxo-moderno, as mulheres lêem na Torá - não no lugar dos homens, mas revezando-se com eles. A frequência aumenta dia a dia.
Dia 17 de fevereiro último, o articulista do jornal Haaretz Cnaan Liphsitz escreveu um artigo sobre um novo queijo kasher, supostamente o primeiro em 500 anos em Portugal. (vide "Pela primeira vez desde a Inquisição, queijo português recebe selo de cashrut - Cnaan Liphsitz Link: Haaretz tradução: Uri Lam).
Curioso, menos de 15 dias depois, quase a mesma reportagen sai no Jerusalem Post, sob o título "Queijo casher certificado em Portugal." muda só o nome do articulista,que agora se chama Nadia Beidas.
O que acontece? notícia requentada? Propaganda na forma de artigo?
Coisas estranhas têm acontecido neste mundo.
Um judeu português se manifestou dizendo que não precisa de paternalismo para supervisionarem seus queijos, e que estes são produzidos de modo casher há 500 anos - só não havia um rabino para certificá-los, o que não faz com que deixem de ser casher, oras.
Por que não se faz uma reportagem sobre a comunidade conservadora de Lisboa, quase toda formada por anussim? ou das comunidades espanholas de Barcelona, La Coruña, etc., praticamente só formadas por anussim e filiadas ao movimento reformista? Dirão que o queijo, ali, não é casher.
Enquanto isso, do outro lado do oceano, pelas alturas do ponto extremo de Santa Brazilis, não muito longe do mar onde vive uma pessoa chamada João, tem gente roubando o nosso queijo e se apresentando como "amigos", debaixo do nosso nariz. E estamos vendo, o pior! sabemos o que se passa. Mas não deve ser muito interessante. "Nâo dá em nada, bobagem, deixa eles".
Com amigos como estes, quem precisa de inimigos? Como os "amigos" dizem, talvez seja preciso uma intercessão e boas novas antes do fim dos tempos, oi veis mier - assim não dá.
Ok, menos mal, pelo menos em Portugal há discussão entre judeus, anussim e certificadores de cashrut, sem a "intercessão e as boas novas" messiânicas. Aprendamos com os descobridores, ó pá.
Jerusalém ameaçou nevar, mas ficou na ameaça. Depois da chuva, amanhece um lindo dia de sol. Boker tov a todos.
E não se esqueçam do queijo Braz-Shavei, caso os jornais israelenses resolvam requentar a notícia outra vez em mais 15 dias. De queijo já será pizza. Casher, sem dúvida.