quinta-feira, 26 de março de 2009

O Conto do Vigário – ou do Rosh
ou O Conto da Carochinha de Pessach

Charada: quando uma hagadá de Pessach não é um livro judaico?
a) quando em vez de falar da saída dos judeus do Egito, fala da morte e ressurreição de Jesus.
b) quando tem mais Jesus na “Hagadá” do que furinhos na matsá.
c) quando o vinho de Pessach vira sangue de Jesus.
d) quando as 3 matsot na mesa passam a representar pai, filho e espírito santo.
e) todas as alternativas acima.

O diálogo judaico-cristão, a meu ver, é uma conquista saudável e importante dos nossos tempos. Estão claras as diferenças entre as religiões, as tradições e interpretações do texto bíblico, os objetivos espirituais. Então o diálogo é possível, o conhecimento e respeito mútuo, a atuação conjunta em prol dos mais necessitados, como tivemos o exemplo de duas importantes organizações comunitárias, uma judaica e uma cristã, em São Paulo há pouco tempo.

Mas simplesmente não é possível fundir duas tradições milenares. Mais do que isso: é preciso dois para dançar um tango. E nós, judeus, não queremos dançar um tango com aqueles cristãos que não querem diálogo, mas sim fazem qualquer coisa - até vestir kipá e tsitsit - para que sejamos cristãos, mas acreditar em Yeshua Hamashiach, ops, Jesus. Não obrigado, muito menos enganado.

Eles tentam se vestir como judeus, usam expressões judaicas mescladas com exclamações cristãs, subvertem nossos livros e objetos religiosos. Antigamente éramos acusados, na Idade Média, de preparar o vinho e a matsá de Pessach com o sangue de crianças cristãs. Hoje certos grupos messiânicos afirmam que o vinho e a matsá de Pessach são respectivamente o sangue e o corpo de Cristo. Não dá para engolir.

Nos EUA vende-se uma “hagadá de pessach” com toda a cara de Hagadá de Pessach. Até a página 2. A partir daí ela se torna uma pregação pelo retorno de Jesus.

O grupo “Jews for Judaism” (Judeus pelo Judaísmo), do rabino Tovia Singer, protestou e conseguiu que a livraria Barnes & Noble retirasse o livro da seção judaica e o reclassificasse como cristão - nada mais óbvio. O mesmo está sendo feito junto à Amazon Books e à rede Wal-Mart. Segundo o rabino, “Eles tomam as tradições da fé judaica e as usam como instrumento para converter à fé cristã”. Conhecemos este filme no Brasil. Temos “amigos” assim. Infelizmente. Tudo feito de forma encoberta, como se fosse. Como uma antiga propaganda: “Denorex: parece, mas não é.”

Albert Passy, judeu americano, coloca bem a situação: “Entendam que esta hagadá não é feita por judeus e para judeus – mas sim por uma organização que busca converter judeus ao dizer que se pode acreditar em Jesus e continuar sendo judeu. É uma FARSA!! Por que não chamam abertamente de “Páscoa com Judeus por Jesus?”


Uma pessoa comentou assim o anúncio do livro exposto na Amazon Books: “Eu adquiri pensando que fosse mais uma Hagadá de Pessach. Acabei jogando fora assim que percebi que se tratava de material missionário que se passava por Hagadá. Pensei comigo: Quem irá celebrar a nossa liberdade do Egito lendo uma coisa que pretende nos reescravizar?”

Mas há muitos judeus afastados – e há muitos que se consideram descendentes de judeus no mundo inteiro e que se tornam alvo mais fácil destes grupos missionários messiânicos. O rabino Tovia Singer acrescenta, em artigo publicado pela prestigiosa e centenária revista Forward, que os esforços das igrejas cristãs de extrema-direita para converter judeus erodem o bom progresso das relações inter-religiosas: “Eles são um tóxico para as relações judaico-cristãs”. Um tóxico. se não ilegal - afinal, liberdade de religião é um direito - imoral, por vender gato por lebre.

Infelizmente, no Brasil, uma figura conhecida experimentou o tóxico. E gostou e recomendou. Pior: por não ler antes a bula, digamos, achou que era um tóxico legitimamente casher, e ficou ofendida quando se mostrou que experimentou uma droga legitimamente “messianicosher”. Os efeitos alucinógenos da droga, graças a Deus, não afetaram de cheio a comunidade judaica brasileira, mas causaram distúrbios o suficiente.

Que no próximo Pessach estejamos livres dos pequenos faraós - o Rosh Faraó até veste kipá e talit para isso, além da correntinha com a menorá com base de peixe (e não é guefilte fish), para nos manter no Egito. Em todas as gerações eles tentam, mas como diz a Hagadá de Pessach, Deus nos salva com Mão Forte e Braço Estendido. E Daiênu, já isto nos basta.

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