quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Mais tristeza na casa dos Holtzberg
É muito triste um pai ou mãe testemunhar a morte de um filho. Pode ser que, de um modo muito, muito triste, Deus permitiu que o Rabino Gavriel z´l e sua esposa Rivka Holtzberg z´l -assassinados por terroristas em Mumbai, na sede do Beit Chabad - não estivessem vivos para ver a morte do pequeno Dov z´l , de 4 anos.

Dov, irmão de Moshe, o menino salvo pela coragem de sua babá em meio ao tiroteio, lutava contra uma doença genética desde o nascimento e estava hospitalizado em Israel, aos cuidados dos avós. Seu corpo foi enterrado ontem em Jerusalém, ao lado dos pais e de outro irmão, Menachem, que morreu da mesma enfermidade genética.

Que descansem em merecida paz e que a lembrança deles seja sempre para o bem e a bênção.

terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Sábios, cuidado com as palavras
Li hoje um Interessante artigo de Shabetai Kor, jovem de 27 anos, sobre determinadas maneiras como alguns lidam com uma situação de guerra como a que vem ocorrendo em Gaza e redondezas.
Está publicado no jornal isralense Maariv, mas só em hebraico.

Atualmente morando em Iafo, Kor escreveu sua autobiografia “Nahag Chadash” (algo como “Nova Direção” ou “Novo Motorista”), em que conta sobre seu processo de Ietsiá besheelá (sair para questionar), em sua saída da sociedade charedi (ultraortodoxa), em contraposição ao conceito de chozer betshuvá (voltar à resposta ou ao arrependimento), referindo-se àqueles judeus laicos que decidem se tornar ortodoxos.

Em resumo, o articulista conta sobre como alguns rabinos charedim garantem aos seus seguidores que não serão atingidos pela guerra em Gaza e nas cidades israelenses ameaçadas pelos mísseis e morteiros palestinos, desde que continuem cumprindo as mitsvot, os preceitos religiosos ordenados por Deus. O autor questiona se aqui está se falando de um milagre ou de irresponsabilidade.

Alguns rabinos chegam a dizer: “Quem sabe seja um acerto de contas vindo do Céu? Quem sabe os mísseis Kassam vêm para nos indicar sobre a terrível profanação do nome de Deus que ocorreu em nossas cidades durante as eleições?”. Quem diz isso é rabino de uma yeshivá e morador da cidade de Netivot, alvo constante de mísseis e morteiros. Outro rabino, de Ashdod, sugere que se leiam os Salmos e assim não será preciso abandonar a cidade, pois estarão protegidos. Outro ainda garante que não cairão mísseis em um moshav no sul, pois ali eles respeitam a shemitá, ou seja, o descanso sabático da terra, o que protege a região.

Após enumerar exemplos de atentados em centros ortodoxos – como na yeshivá Mercaz Harav, matando diversos jovens estudantes religiosos, ou em Mumbai, Índia, na sede do Beit Chabad, o autor arremata afirmando que durante uma guerra de verdade não há quem escape do terror: nem judeus religiosos, nem habitantes árabes israelenses.

Conforme ensinaram nossos sábios do Talmud: "חכמים, היזהרו בדבריכם".

“Sábios, cuidado com as palavras.”

domingo, 28 de dezembro de 2008

6.500 reservistas israelenses convocados
Um ataque por terra é muito provável nas próximas 48 horas, a menos que pressões internacionais e a interrupção de mísseis sobre Israel provoquem um cessar-fogo. Pouco provável, pois pela primeira vez mísseis com alcance de mais de 40 km alcançaram hoje Ashdod e, dizem, ameaçam até mesmo Beer-Sheva. Queira Deus que haja um cessar-fogo e que se volte às mesas de negociação.
Reais intenções do Hamas
Estão claras as intenções do Hamas. Em notícia veiculada no Jerusalem Post, Mahmud Abbas, presidente da Autoridade Palestina, disse em conferência de imprensa no Cairo, no domingo: "Nós dissemos a eles (ao Hamas): 'Por favor, nós pedimos que não interrompam o cessar-fogo. Vamos continuar... queremos proteger a Faixa de Gaza, não destrui-la." O ministro do exterior palestino Ahmed Aboul Geit também atacou o Hamas, dizendo que o grupo estava impedindo os feridos pela ofensiva israelense a ir ao Egito para receber tratamento médico. "Estamos aguardando que os feridos palestinos cheguem ao Egito, mas não está se permitindo que venham". Perguntado sobre quem é o culpado pela situação em Gaza, o ministro do exterior respondeu: "Pergunte ao partido que controla Gaza."
ויקרא רבה, פרשה יג סימן ב

ר' שמעון בן יוחי פתח
.(עמד וימודד ארץ ראה ויתר גוים" (חבקוק ג, ו".
מדד הקב"ה בכל האומות ולא מצא אומה שהיא ראויה לקבל את התורה אלא ישראל.
ומדד הקב"ה בכל הדורות ולא מצא דור הראוי לקבל את התורה אלא דור המדבר.
מדד הקב"ה בכל ההרים ולא מצא הר שתשרה שכינה עליו אלא הר המורייה.
מדד הקב"ה בכל עיירות ולא מצא עיר שיבנה בה בית המקדש אלא ירושלם.
מדד הקב"ה בכל ההרים ולא מצא הר שתינתן עליו תורה אלא הר סיני.
מדד הקב"ה בכל הארצות ולא מצא ארץ שהיא ראוייה לישראל אלא ארץ ישראל


Midrash: Vaicrá Rabá 13,2
Rav Shimon Bar Iochai abriu (sua prédica com):
“Ele levantou-se e averiguou a terra; com Seu olhar dispersou as nações.” (Habacuc 3:6)
O Sagrado, Bendito Seja averiguou todas as nações
e não encontrou nação apta a receber a Torá, a não ser Israel.
O Sagrado, Bendito Seja averiguou todas as gerações
e não encontrou geração apta a receber a Torá, a não ser a geração do deserto.
O Sagrado, Bendito Seja averiguou todas as cidades
e não encontrou cidade onde construir o Templo Sagrado, a não ser Jerusalém.
O Sagrado, Bendito Seja averiguou todos os montes
e não encontrou monte sobre o qual entregar a Torá, a não ser o Monte Sinai.
O Sagrado, Bendito Seja averiguou todas as terras
e não encontrou terra apta a Israel, a não ser a Terra de Israel.
Fatah se apronta para retomar o poder em Gaza
Segundo noticiado no jornal Jerusalem Post, no que me parece - e pelo jeito, ao pessoal do Hamas também - que Egito e Autoridade Palestina deram sinal verde às ações do exército israelense, a Fatah está pronta para reassumir o poder em Gaza, o que pode permitir negociações com Israel dentro do campo democrático e, assim, alguma possibilidade de criação de um Estado Palestino a médio prazo. "Acreditamos que o povo palestino está farto do Hamas e quer ver um novo governo (em Gaza)", dizem membros da Fatah. "Temos homens suficientes na faixa de Gaza para preencher o vácuo, mas depende de Israel conseguir se livrar do regime do Hamas." Alguém acha que Mahmud Abbas não está com sorriso de orelha a orelha?
Não à toa, o Hamas se diz traído pelo Egito que, no próprio sábado, teria afirmado que convencera Israel a não atacar. A verdade é que nem Egito, nem Jordânia, Arábia Saudita e nem mesmo a Síria não parecem ver o Hamas com bons olhos. Israel se defende, os vizinhos repreendem publicamente, e creio eu, estão satisfeitos internamente com a possível retirada do Hamas do poder em Gaza e o retorno da Fatah.
Mas é só o começo e não há como prever o fim deste capítulo.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Kol Haneshamá
Hoje irei com um casal de brasileiros à sinagoga Kol Haneshamá, em Jerusalém. Trata-se da mais conhecida congregação reformista da cidade (ainda que alguns digam que seja conservadora... nada contra, mas não é).
Entre os profissionais da Kol Haneshamá estão os colegas Oded Mazor, coordenador educacional, e Ariela Graetz Bartuv, coordenadora de comunidade. Ambos já são "vatikim" (veteranos) no curso do HUC.
shabat shalom a todos
Uri

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Exemplo de míssil Kassam caído em rua da cidade de Sderot, próxima a Gaza




Estado de Alerta - Mais de 40 mísseis kassam caíram em Israel hoje, até agora



Um dos mísseis caiu poucos metros de um parque infantil em Sderot, onde estavam dezenas de crianças brincando. Talvez um pequeno milagre de Chanucá, não ter matado estas crianças. Nesta época de Chanucá, aliás, há feriado nas escolas, um momento para os pais estarem com seus filhos. Por muito pouco não ocorreu uma tragédia. Uma casa foi atingida em cheio e, por sorte, não matou ninguém. E ironicamente a população desfaz do noticiário, quando se diz "caíram X mísseis Kassam, mas não houve danos".

O cabinete de segurança estava para se reunir a fim de deliberar como agir diante da retomada massiva de ataques. O governo vem sendo pressionado a reagir. Mas estamos em época de eleições para a Knesset, o parlamento israelense, e se discute se determinadas reações são mais políticas do que relativas ao momento em si. De qualquer modo, assim não pode ficar. Graças a Deus o míssil não caiu sobre as crianças. Mas será que somente se tivesse caído e causado uma tragédia sem precedentes o governo reagiria de forma mais prática?

Um dos argumentos é não deixar que o Hamas imponha quando Israel deve reagir, não deixá-los no controle da situação. Os líderes do Hamas provocam, dizendo que Israel diz há 3 anos que irá atacar de forma maciça, e não ataca. Outros dizem que um ataque assim provocaria a abertura de novas frentes de batalha com o Hezbolá, que atacaria o norte do país. Como diz um articulista, se não me engano do jornal Haaretz, Israel deve fazer uma escolha entre o ruim e o pior.
Visitas a comunidades:
1) Uma sinagoga em Nahlaot: novembro de 2008
Eu queria visitar uma sinagoga de bairro. Haviam me dito que uma delas, praticamente ao lado de casa, seguia o rito Carlebach e fiquei curioso. Cheguei ao serviço religioso por volta das 16:00h – já estávamos no outono. A sinagoga fica no primeiro piso de um pequeno edifício. Quando subi, encontrei uma salinha dividida ao meio por uma mechitsá, na verdade uma cortina, ou melhor, um pano pendurado. De qualquer modo era preciso passar pelo lado das mulheres para alcançar o dos homens. Fui direto, vi de passagem que havia cerca de 3 ou 4 mulheres e, do outro lado, no máximo 10 homens. O Aron Hacódesh (Arca Sagrada) ficava na frente, algumas cadeiras espalhadas em semicírculo, uma pequena biblioteca no fundo com sidurim e outros livros judaicos, uma janela ao fundo. Sentei-me no fundo. Os presentes seguiam com o serviço de minchá e logo entrariam no serviço de cabalat shabat. As pessoas foram chegando e em menos de 15 minutos o lado dos homens estava lotado – depois soube que também o das mulheres, embora menos.


Quando iniciaram Iedid Néfesh comecei a ter idéia do que viria a seguir. Quase todas as tefilot iniciavam com um longo nigun, seguido do canto de cada estrofe de modo intenso, porém em voz mais baixa, e aos poucos aumentando de intensidade, e depois voltava ao canto da melodia, mantendo a intensidade. Enquanto alguns ainda estavam no nigun de uma oração, aquele que puxava a reza e alguns outros já entravam na próxima, fundindo uma oração à outra; aos poucos, todos estavam na nova tefilá.

Em Lecha dodi o formato foi o mesmo, mas no meio das estrofes terminou a luz (falta de energia mesmo). O canto, que já vinha num crescendo, tornou-se então mais forte. A única luz vinha da rua, entrando levemente pela janela ao meu lado. Um rapaz sentou-se ali para conseguir ler o sidur. Os demais seguiram cantando cada vez mais forte, até a última estrofe, de cor. A falta de luz parece ter aumentado a percepção das vozes e da oração, envolvendo-me totalmente. Foi um momento mágico.

Antes do início de Arvit de Shabat uma mulher tomou a palavra e fez um pedido para que as nossas orações fossem feitas com cavaná, em respeito ao shabat, e em seguida fez uma oração. Nós não a vimos, somente escutamos. Em seguida o shaliach tsibur (ou rabino, não sei dizer) disse finalmente algumas palavras sobre a parashat hashavua, e foi só. Em seguida o serviço seguiu como antes.

Ao final, a principal impressão foi de haver muitas pessoas juntas rezando, mas cada um por si, envolvido pelas vozes dos demais. Não rezavam a uma só voz, mas a muitas vozes, na maior parte das vezes dissonantes, no conjunto soando algo como algum tipo de coro experimental psicodélico. Talvez este isolamento dos demais abra espaço para que cada um movimente o corpo, bata palmas, cante mais forte ou grite, sem se intimidar. Seus movimentos e vozes são sentidos pelos demais, mas não são foco da atenção dos outros – à exceção de uns poucos que fazem questão de movimentos tão exagerados que não há como não chamar a atenção. Embora fossem gestos de quem estivesse em êxtase e envolvido com a oração, me pareceu mais serem modos de chamar a atenção dos demais para a sua cavaná, um direcionamento a Deus supostamente mais intenso que o dos demais.

Ao final, após o êxtase, após quase 2 horas e meia de serviço religioso, ficou o cansaço e a vontade de voltar logo para casa. As pessoas se cumprimentavam rapidamente e iam embora. Do outro lado as mulheres já haviam descido e se encontravam com os rapazes para breves conversas em pé, já na rua. Um pequeno e provavelmente precioso momento para o flerte.

Como impressões pessoais, me impressionou o fato de um lugar pequeno e apertado ser tão propício à oração, não havendo literalmente espaço para outra coisa ali, física e espiritualmente. É provável que isso tenha levado os que rezavam a um envolvimento maior, o que trouxe uma sensação de saciedade, digamos, de tefilá.

Senti que gostaria de ver mais isso nas comunidades judaicas liberais, onde muitas vezes o serviço religioso é bonito, mas morno e com menor envolvimento vocal e corporal dos participantes, levando talvez a uma sensação de menor envolvimento espiritual - o que pode não ser verdade. Por outro lado, determinadas pessoas, com seus movimentos bruscos enquanto rezavam ou gritavam – um deles se agarrava à Arca Sagrada e se jogava de um lado para o outro, virando bruscamente o rosto em 180º com um sorriso (para mim) aterrorizador no rosto enquanto fazia isso – me fizeram pensar do que pode ser capaz uma pessoa que reza assim, por exemplo, no campo político e nacional. Tive a sensação que alguém pode sair de uma oração assim e pegar em armas, sentindo-se pronto para uma guerra santa.

Neste sentido, refleti sobre a necessidade de buscar balancear o canto, os movimentos corporais e a concentração durante as orações de modo a chegar à elevação espiritual ou mesmo ao êxtase, mas permanecer consciente e não romper com a realidade. Em outras palavras, penso que gostaria, nas comunidades liberais, de serviços religiosos mais envolventes, mais quentes, mas que não cheguem ao fervor exagerado, para que a consciência e a noção de realidade não saiam voando com a ebulição do fervor. O resultado da oração pode ser catastrófico, levando a atos de fanatismo e de violência. Já o calor - e não o fervor - religioso pode levar ao prazer, ao alívio e à sensação de “baterias recarregadas” para a nova semana, ou para seguir a vida com harmonia, confiança em Deus e consciência da realidade.

terça-feira, 23 de dezembro de 2008


Para pensar. Quadrinhos que deixam tantas perguntas no ar. O quadrinho foi visto na Rua da Judiaria, de Nuno Guerreiro, um dos blogs judaicos mais visitados, ultrapassando 2 milhões de visitas em 5 anos.
Abraços, um ótimo dia a todos. Em tempo: marrão é sinônimo de teimoso, de quem estuda com afinco, de quem não desiste dos seus objetivos.


segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Chag Chanucá Sameach!!
Adam Sandler - Parte 2


Chag Chanucá sameach!!!
Adam Sandler - Parte 1


Minha Tefilat Hadérech, para o início de uma longa jornada
Bessarábia
Uri Lam
Fui direto ao Gan Haparsí, o Jardim Persa.Para mim, Gan Hakessamim, o Jardim Mágico. No Gan há cinco árvores, duas de um lado, três do outro. Elas guardam o caminho. Bereshit, o ínicio é um tohu vavohu, um labirinto. Tempo e espaço misturados, ninguém sabe onde terminam os céus e onde começa a terra. Deste labirinto sai um pequeno riacho. Leito seco, que logo adiante fica úmido e segue cada vez mais coberto de musgo. Algumas barragens depois, segue fechado em folhas, que se transformam em bosques.

Só mais à frente é possível mergulhar nas águas e se deixar levar pela corrente.
Antes de chegar a este estágio é preciso encontrar a saída do labirinto.
Sentir os pés e as faces queimarem no calor do chão seco, depois escorregar no musgo, ultrapassar as infinitas barreiras e arriscar-se pelos segredos do bosque.
(Alguns chegaram até aqui e entraram no bosque de Gan Hakessamim, mas não saíram. Enlouqueceram. Ou se mataram. Só um sobreviveu).
E quando pensava que finalmente poderia descansar e ser levado pelas águas, chego aos pés de uma escadaria. Olho para cima. Parece não ter fim.
Passo a passo, passo a passo.

A cada degrau aqui embaixo, parece que outro degrau é construído lá no alto.
Parece não ter fim. Passo a passo, passo a passo. Degrau a degrau.

Com o cansaço, algumas miragens começam a aparecer aqui e ali. Recordações do caminho, o labirinto, o leito seco do rio, passando pelo calor úmido entre as árvores no bosque, O medo das raposas, dos leões, das cobras e dos insetos.

Desvio dos fantasmas e das bruxas – os que posso ver – no caminho. E eis que ao olhar para o lado, há anjos comigo na trilha pela escada, subindo e descendo. Escada de Jacob.
Voando ou caminhando ou saltando ao redor, os anjos se cumprimentam, sorriem, cantam, estendem as mãos uns aos outros. Um misto entre Lumpa-Lumpas, da Fabulosa Fábrica de Chocolates, com Fred Astaire e Gene Kelly. A sensação é de estar incrivelmente vivo.

Finalmente vislumbro o alto: um portal. Passagem para Sucat Shalom, a tenda de paz.
Ou será o portal para o Templo? Quando, meu Deus, foi reconstruído?

Olho de novo, maravilhado. Mas ah, o portal está murado. Fechado. Concretado.
O ar é leve, mas agora minha respiração pesa. De costas para o portal murado do que era para ser uma tenda de paz ou a entrada para o Beit Hamikdash. Olho para baixo e vejo as cinco árvores. Daqui se parecem com cinco folhas: duas de um lado, três do outro. Algumas rosadas, outras verdes, uma acinzentada. Mal se enxerga o labirinto ao fundo. O bosque cobre a visão do rio, mas o chão seco lá na frente gera miragens que ainda distorcem a paisagem do início da jornada.
É hora de descer os degraus, um a um.

Quanto mais desço um degrau aqui encima, a terra engole um degrau lá embaixo.
Olho ao redor, as possibilidades: retornar, ou dar a volta e ver o que há por trás dos degraus, do portal, da tenda, do Templo, do muro. Dou a volta. Do outro lado há outra escada, mas muito menor. O caminho é mais leve.

A cada passo, a relva ao redor cresce cada vez mais viva. O aroma é delicado e doce. Recolho algumas folhas e flores e as aproximo do rosto. Rosemarin. Chego ao outro lado do muro, do Templo, da tenda, do portal, dos degraus. Olho para baixo e tenho outra perspectiva do Jardim Mágico. Então me viro de lado, ao sentir uma presença familiar.
Me emociono.

“Vovô Aizik! Então você já conhecia este caminho?”
Ele sorri, meio feliz, meio irritado, franzindo a testa e os olhos:
“Faiz Favorr, avade, claro que sim.”

Fico um pouco constrangido. Lembro-me do dia em que, em nosso último encontro, ele me disse:
“Siga a sua profissão, não seja chazen, não seja cantor religioso.
Não dá parnusse. Como viver disso?”

“Vô, eu sempre estive neste caminho, eu escolhi este caminho.
Não sei se dá parnusse, mas sei que dá trabalho! E simches também”.

Ele me olha, me olha, olha outra vez, e finalmente diz:
“Você não foi o primeiro a trilhar este caminho. Lembra-se?
Viemos de Hotin. Beis Harav.

Inspirado em atividade realizada no curso de Livui Ruchani (Acompanhamento Espiritual), Prof. Rachel Ettun, HUC, Tochnit Israeli. 12 nov. 2008 / 14 de Chesvan 5769


Amigos, finalmente o novo blog, Urishalaim, está no ar. Agora daqui de Jerusalém. Os posts antigos continuam em Buenos Aires Sheli.

A foto é de um monumento no Kibutz Negba, próximo a Sderot. Publiquei por imaginar que precisamos nos inspirar na força dos primeiros chalutzim (o soldado, o camponês e a camponesa que trabalharam as terras do Neguev) nestes momentos difíceis, principalmente na região próxima a Sderot e Ashkelon, com todos os kibutzim e moshavim. Um lugar lindo, arborizado, com terra trabalhada, em plena região árida do Neguev. Mas na mira dos mísseis Kassam que vêm de Gaza.

Abraços a todos, com shalom, tová uvrachá, sem kassamim, com paz para os habitantes de Israel e dos territórios palestinos. Um dia...

e Chag Chanucá sameach!

Uri


Esta é uma das vistas do campus do HUC (Hebrew Union College) de Jerusalém. Sem dúvida um lugar lindo, um prazer estudar aqui.

abraços

Shlomo Artzi - Moon

Mikets

No Shabat os pais costumam abençoar seus filhos com a seguinte expressão: “Que Deus te faça como Efraim e Menashe.” Mas quem foram estes, que servem de inspiração para o modo como hoje abençoamos nossos filhos?

Na parashá desta semana conhecemos um pouco sobre a família que José constituiu no Egito. Após decifrar os sonhos do Faraó e se tornar o segundo homem mais poderoso, o rei egípcio deu a José o nome de Tsafnat Panêach e a jovem Osnat, filha de Poti Féra, por esposa. Entre os 30 e os 37 anos, José teve dois filhos com Osnat: Menashe e Efraim.

A questão dos nomes deu trabalho aos comentaristas. Rashi via no nome dado a José uma indicação de que ele vinha do norte (Tsafon) do Egito, ou seja, da Terra de Israel. Em Kéter Ionatan, Tsafnat Panêach ganha a conotação de “o homem que explicitou o que estava oculto”, em referência ao decifrador de sonhos. Uma das teorias mais curiosas era que José, para poder assumir um cargo de tamanho poder, deveria se casar com uma egípcia e ambos deveriam ser da mesma religião. Assim, há quem diga que José teria se convertido à religião do Egito e recebido assim um nome egípcio (Tsafnat Panêach) para se casar com Osnat. O próprio comentarista (em Toldot Itschac)  que levanta esta possibilidade a rechaça como impensável. Mas não me parece particularmente absurda: após sofrer tanto nas mãos de seus irmãos israelitas e receber tantas honras e poder no Egito, a possibilidade de se unir a eles soa bastante plausível, aliás.

Mas digamos que não foi isso o que ocorreu. Quais são as outras opções?  Alguns comentaristas opinam que Osnat, na verdade, era filha de Shechem com Diná, irmã de José! A jovem teria sido criada pela esposa do Potifar (Poti Féra, “pai” de Osnat). Neste caso, José teria se casado com sua sobrinha. O Faraó, vejam só, foi tão bom com José que não só não o obrigou a se converter como ainda encontrou para ele uma ídishe meidale! Em outras palavras: às vezes encontramos a nossa companheira de vida em braços não tão usuais, mas não menos judaicos.

No fim das contas, durante os anos de fartura Osnat e José tiveram dois filhos. O primeiro foi Menashe, “pois Deus me fez esquecer de todo o meu sofrimento e da casa dos meus pais” (Gênesis 41:51). Depois veio Efraim, “pois Deus me fez frutificar na terra da minha aflição” (41:52). Menashe é uma bênção, pois fecha um ciclo de sofrimentos do passado. Mas Menashe ainda carrega algo não resolvido – a mágoa com a própria família. Efraim é uma bênção que aponta para o futuro: seu nascimento faz José recordar-se dos seus, primeiro passo para a reconciliação com os irmãos – o que de fato viria ocorrer alguns anos depois.

Que neste período de festas e renovação, nossos filhos sejam como Menashe e Efraim (não necessariamente nesta ordem), ajudando-nos a curar as feridas do passado e a recuperarmos a esperança no futuro.

 

Shabat Shalom, Chag Sameach, Chódesh Tov e... Feliz 2009!