O Que Deus É – ou o que também não é - última parte
Samuel Ichmann
A respiração das crianças que aprendem
Lembro-me nos meus tempos de estudante de como um pastor francês da Comunidade de Cristãos certa vez me abraçou e me disse com alegria como era grande o seu amor e reverência pelo Judaísmo. Este caloroso sentimento era certamente genuíno. Uma vez dei para ele um volume de contos de Martin Buber, “Contos dos Chassidim” (“Histórias do Rabi”, Ed. Perspectiva, em português – N. do T.), e ele depois me disse que isso era algo que todos os pastores deveriam ler, e tinha sido de grande ajuda para ele em seu trabalho.
Alguns anos atrás eu também aprendi que Rudolf Steiner aconselhou um jovem - que veio até ele para perguntar se ele poderia se tornar um pastor - para estudar o livro do Baal Shem Tov, o semilendário fundador do movimento chassídico no século 18.
A minha pergunta é se este livro não poderia ser um ótimo recurso na preparação da “santa” profissão de professor, tal como Rudolf Steiner a via. É cada vez mais difícil ter acesso a impulsos de pensamento e sentimento que salientem a qualidade religiosa da educação Waldorf. Na minha opinião, não é só por causa dos compromissos que em nosso movimento têm sido por vezes internalizados, muito mais do que o necessário, na vida do sentir das pessoas, e que sufocam a espontaneidade da nossa pedagogia; mas também porque nossas andanças no deserto, sem dúvida, têm um finalidade: acender o fogo interior, alimentado através do encontro entre indivíduos. A finalidade mais profunda do encontro é a prática de atenção e da devoção para com o ser e o potencial do outro, a criança feita à imagem de Deus, que foi confiada a mim.
Ao pensar – e com isso gostaria de concluir – sobre a tarefa central da educação, especialmente em nossos dias, penso sobre “aprender a respirar”, para o que Rudolf Steiner dá uma importância tão enfática no início do seu “Estudo sobre o Homem”. Será que estamos sendo realmente sérios? Não estaremos, frequentemente, nós mesmos tão fora do ar em nossa correria diária que, apesar de entendermos isso na teoria e podermos relacionar todos os tipos de ideias a isso, nós na verdade não conseguem fazê-lo de verdade? Será que não precisamos diariamente recriar e revitalizar a nossa consciência do presente na mais terrena das situações cotidianas?
Como me é estranhamente familiar e ao mesmo tempo expressa de maneira original para nós esta frase do Talmud, que parece ter uma íntima relação com os valores pedagógicos e terapêuticos subjacentes à educação Waldorf, e que ainda assim é cunhada em sua inimitável “forma em hebraico”: “O mundo repousa sobre a respiração das crianças que aprendem”.
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