segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Parashat Hashavua (leitura semanal da Torá): Terumá
originalmente publicado no semanário "Congregar" da CIP em 2010
Uri Lam 
Façam-me um Santuário, e lá estarei presente com vocês
Era uma vez um rei que tinha uma única filha. Certo dia um nobre veio visitá-lo e se apaixonou perdidamente por ela. Conversou com o rei, declarou sua intenção de casar-se e levá-la para sua casa. O rei respondeu: “Meu caro, a sua noiva é a minha única filha. Não posso me separar dela, mas também não posso lhe dizer que não a leve com você”.
E agora, a filha fica ou a filha vai? Este é um dilema comum no nosso dia a dia, em nossas vidas. Quando um casal se apaixona e decide se casar ou viver junto, é natural que queira construir o seu próprio lar fora da casa dos pais. Mas para o pai e para a mãe todo filho é filho único, mesmo que sejam muitos os filhos e filhas. E não é fácil separar-se de nenhum deles. Alguns psicólogos dizem que este é o motivo da emoção e do choro durante a cerimônia de casamento: o desejo de que o filho ou filha fique, e ao mesmo tempo o desejo que ele ou ela vá e construa a sua própria família.
E como o rei da nossa história solucionou o conflito? Ele propôs ao genro: “Você me fará um grande bem se, em todo lugar onde for morar, construir um quartinho para mim de modo que eu possa estar presente com vocês”. (Midrash Raba, Terumá) 
Aprendemos no Zohar que toda sinagoga é um santuário. Quando o povo de Israel se espalhou pelo mundo, cada um de nós foi visto por Deus como a filha única do rei. Ele sabia que tínhamos que partir, mas ao mesmo tempo não abria mão de ficar longe de nós. Não importa se fôssemos para a Babilônia no passado ou para algum país da Europa, para os Estados Unidos, Japão ou Índia, para a Argentina ou Brasil. Onde quer que criássemos nossas famílias, Deus só pediu que lá houvesse um quartinho para Ele, de modo que pudesse estar junto de nós.
A sinagoga é este quartinho. Mas não é o único aposento da casa. Nossa congregação, ao longo de seus quase 74 anos, construiu muitos outros espaços: a escola judaica, os movimentos juvenis, o Lar das Crianças, o departamento de pessoal e financeiro, a Idade de Ouro, a cozinha, salões de festas e de reuniões, a bolsa de empregos, a Chevra Kadisha, a sala da música, a biblioteca, a comunicação, o rabinato, o culto, a lojinha, uma casa no campo, até mesmo um site, o nosso espaço virtual na Internet. Deus tem o Seu quartinho, cujas portas estão abertas para todos os moradores e convidados, mas certamente circula por todos os demais cantos desta enorme Casa Israelita Paulista. 
No midrash, quando o rei propôs ao futuro genro que construísse um quartinho para ele no novo lar, a sua intenção era clara: ele não queria ficar sozinho, mas sim perto da família. O Zohar nos conta que quando a Shechiná se aproxima e vem à sinagoga mas as pessoas não vêm, Ela se pergunta: “Por que Eu vim e não tem ninguém?” De nada adianta uma casa linda, com um quarto de rei, se não houver gente circulando, rezando, estudando, conhecendo-se, doando-se, trabalhando. De nada adiantam os quadros mais lindos e a melhor infraestrutura se não houver crianças brincando, jovens dançando, música tocando – e tudo isso em harmonia, em uma mesma respiração de um único ser vivo: o povo de Israel.
Tudo o que esta congregação nos proporciona nos foi dado como o legado de uma tradição milenar que está à nossa disposição. Como diz um amigo querido, os direitos autorais do que temos aqui nos foram entregues por Deus e pertencem ao povo judeu. A terumá, a doação que Ele espera de nós, é a nossa presença nesta casa, é ocupar o espaço, homens e mulheres, crianças e adultos de todas as idades, para levarmos ao limite e colocarmos em prática todo o potencial colocado ao nosso dispor.
Deus nos deu a Sua Torá e nos pediu para não a abandonarmos. Nossa retribuição é dar à Presença Divina, à Shechiná, a nossa presença, as nossas ações. Se assim for, Deus estará sempre presente e feliz em viver na mesma casa que nós.

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