segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Parashat hashavua (leitura semanal da Torá): Terumá
Rabino Michel Schlesinger - CIP
A parashá desta semana, Terumá, traz um relato detalhado de como deveria ser a construção do mishcán. Este santuário móvel foi o local de culto dos israelitas durantes as andanças pelo deserto. Cada detalhe do candelabro, a cortina, a arca sagrada, entre outros, é descrito minuciosamente na porção da Torá desta semana.
A construção do santuário e o culto tinham por objetivo criar uma relação de intimidade entre os recém-libertos e Deus. O mishcán era o local onde esta relação se consumava. Ali, naquele oásis móvel de santidade, dava-se o culto a Deus. Naquele local criava-se a base para o judaísmo das gerações futuras.
Quando o povo finalmente assentou-se na Terra Prometida, o santuário fixou-se em Jerusalém e lá permaneceu por diversos séculos.
Com a destruição do Templo de Jerusalém no ano 70 da nossa Era, o culto deixou de ser realizado em um único santuário e passou a estar presente em cada sinagoga do mundo. Além disto, cada residência de uma família judaica passou a ser uma espécie de pequeno santuário (“mikdash meat”) dedicado ao serviço religioso.
A forma do culto a Deus também sofreu mudanças significativas. Os sacrifícios deixaram de ser realizados. No lugar deles, foram instituídas as orações diárias e as refeições festivas.
O objetivo, no entanto, continua o mesmo. Ainda hoje o ritual tem por finalidade aproximar o homem de Deus. Engana-se aquele que pensa que o ritual tem um fim em si mesmo. Não observamos o Shabat pelo Shabat, nem a Cashrut pela Cashrut. Cada uma dessas instituições religiosas tem por objetivo nossa aproximação com o Criador do Universo.
Conta a lenda que havia um rei que amava muito sua única filha. Um dia, ela se casou com um príncipe que morava em uma terra distante. Depois do casamento, o príncipe decidiu levar a esposa para o seu país. Quando o rei percebeu que a sua única filha iria partir, ele disse ao seu genro: “Você sabe o quanto eu amo a minha filha. Ela esteve sempre ao meu lado e agora, eu vou sentir a sua falta. Por isto, eu lhe peço apenas um favor. Onde quer que você e minha filha vivam, construa uma casa para mim ao lado da tua. Assim eu poderei ficar perto de vocês”.
Assim está escrito na parashá desta semana: “Veassu Li Mikdash Veshachanti Betocham”, “façam um santuário para que eu viva entre vocês”. Deus não vive no mishcán. Quando construímos os santuários abrimos um espaço para que Deus esteja presente nas nossas vidas.
O objetivo do ritual não é o ritual em si. Ele é apenas uma ferramenta de aproximação com o Criador do Universo. A idolatria acontece quando passamos a considerar o ritual um fim em si. Nosso objetivo é abrir espaço para que Deus esteja presente em nossas vidas. E para isto o judaísmo tem uma receita de como fazer. Não é a única nem a melhor receita, mas é a forma judaica de colocar Deus para dentro das nossas sinagogas, nossas casas, das nossas vidas. Podemos viajar para muito longe desde que tenhamos sempre uma casa construída nos nossos corações para receber a visita do Rei.

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