Na Conferência da Aliança Feminista Judaica Ortodoxa, o entusiasmo com a liderança das mulheres
Ben Harris, 16 de março de 2010
Tradução: Uri Lam
A Rabina Sara Hurwitz foi ovacionada de pé em seu discurso na sessão plenária de abertura da conferência da JOFA no último dia 14 de março de 2010, em Nova York.
NOVA YORK (JTA) - A última vez que a Aliança Feminista Judaica Ortodoxa (JOFA) organizou uma conferência na Universidade de Columbia, em 2007, a ativista israelense Tova Hartman eletrizou uma multidão de várias centenas de pessoas com seu convite para “pararem de reclamar” e começarem a agir até que a situação das “mulheres acorrentadas”, ou agunot fosse resolvida.
“Que esta seja a última conferência da JOFA onde tenhamos que nos perguntar se há um heter halachi (permissão haláchica] para as agunot”, afirmou Hartman sobre as mulheres que procuram receber o guet dos maridos, que se recusam a entregar o documento religioso de divórcio.
O público demonstrou sua aprovação em alto e bom tom.
Três anos depois, Hartman ficou na vontade. As ativistas em favor das agunot já não se perguntam se há métodos consistentes com a lei judaica para ajudarem essas mulheres; elas sabem que estes métodos existem. Mas a agressividade e o entusiasmo que então caracterizavam o trabalho da JOFA sobre a questão estava visivelmente ausente na conferência da organização, no último domingo, e não porque o problema das agunot estivesse próximo de uma solução. Não está. Uma referência às agunot durante a sessão de abertura da conferência atraiu apenas aplausos educados.
Por outro lado, foi o aparecimento da Rabina Sara Hurwitz que fez a plateia ficar em pé – duas vezes. “Eu estou aqui, totalmente emocionada”, disse a Raba Hurwitz durante a sessão plenária de abertura da conferência. “O apoio que sinto neste lugar é palpável”.
Hurwitz é, e pode muito bem continuar a ser, a única rabina (ortodoxa) chamada de Raba no mundo, uma versão feminina do título de Rabino que ela recebeu de seu mentor, o rabino Avi Weiss. O anúncio do título pelo rabino Weiss, em janeiro último, desencadeou uma tempestade de críticas que resultou na sua promessa pública, neste mês de março, de não mais ordenar rabinas.
Enquanto algumas feministas ortodoxas ficaram desapontadas com a mudança de posição, vendo-a como um passo atrás em relação à ordenação de rabinas ortodoxas, Hurwitz ainda goza do status semelhante ao de um astro do rock na conferência. Ela representa, por enquanto, o limite máximo que as mulheres podem alcançar na liderança ortodoxa comunitária.
A própria rabina Hurwitz pediu à sua audiência para que não se desesperem. Ela declarou: “Se são estas as palavras que impedem as mulheres de maior aceitação na comunidade, ao invés de rejeitarmos ou perdermos a confiança em nossos rabinos, não devemos desistir. Talvez agora seja o momento de criar e moldar a linguagem que esteja mais em sintonia com a realidade política”.
A questão da agunot praticamente desapareceu da agenda da JOFA. Esta já foi objeto de diversos painéis de discussão, e em outra oportunidade a exibição de um documentário sobre o assunto atraiu uma multidão. Desta vez, o Centro de Justiça da Mulher, uma equipe jurídica israelense que arquiva processos judiciais em favor das agunot, teve apenas uma bancada para distribuir textos a respeito.
Mas a mudança de foco era inconfundível - decorrente, pelo menos em parte, do fato de que apesar dos quarenta anos de ativismo e muito progresso, o problema das agunot permanece mais insolúvel do que nunca.
“Acho que há um sentimento de que, se não se consegue mudar algo, e você tentou, as pessoas simplesmente somem”, disse Robin Bodner, diretora-executiva da JOFA. “Há uma espécie de apatia. Há um grande número de pessoas lá fora que foram embora e desistiram”.
Blu Greenberg, presidente e fundadora da JOFA e inspiração para uma geração de feministas ortodoxas, destacou durante uma sessão sobre a história da defesa das agunot que a presidente da entidade prometeu, anos atrás, que nas sua ótica o problema seria resolvido. "Aqui estamos, seis anos e meio depois, tão longe da resolução do problema quanto antes”, afirmou Greenberg.
Por outro lado, a liderança das mulheres tem um longo caminho pela frente.
Junto com a rabina Sara Hurwitz, um punhado de mulheres vem atuando em posições rabínicas em outras congregações ortodoxas. A Yeshiva University (yeshivá ortodoxa moderna) tem um programa dedicado à formação e colocação de mulheres em tais posições. A própria rabina Hurwitz é decana da Yeshivat Maharat, que oferece formação e colocação de mulheres comparável ao que recebem os alunos de sexo masculino.
Ainda assim, os líderes da Aliança Feminista Judaica Ortodoxa insistem que não abandonaram a questão das agunot em longo prazo. Bodner afirmou que a organização quis “ir mais longe” na sua programação para a conferência, em um esforço para atingir um maior público, mas que o compromisso da JOFA para com as agunot não diminuiu.
Por sua vez, Greenberg apresentou quase uma dezena de sugestões de atuação em favor das agunot em suas observações, incluindo uma que causou vibração no meio da pequena multidão que se reuniu em uma sala de reuniões para escutá-la.
“Penso que temos que levar isso para a imprensa pública”, disse ela, ao destacar que até mesmo os rabinos mais resistentes sobre o direito das agunot levam em conta o que o público pensa a respeito deles. “E isso traz resultados”.
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