Alfasi, o Rif (1013-1103)
Itschak ben Iaacov Al-Fasi Hacohen (1013 - 1103) (em hebraico:רב יצחק אלפסי) também é conhecido como Alfasi ou Rif (acrônimo de Rabi Itschak al-Fasi).
O nome Al-Fasi se deve ao fato do Rif ter nascido e vivido a maior parte de sua vida na cidade de Fez, no Marrocos.
Talmudista e possek (legislador em matéria de halachá – Lei Judaica), o Rif é mais conhecido por seu código legal Sefer Hahalachot (o Livro das Halachot), considerado a primeira obra fundamental de literatura haláchica.
Biografia
Itschak Alfasi, o Rif, nasceu em 1013 no vilarejo de Kalat ibn Hamad, perto da cidade de Fez, no Marrocos. Estudou em Kairouan, na Tunísia, sob a orientação de Rabenu Nissim ben Iaacov e de Rabenu Chananel ben Chushiel, reconhecidas autoridades rabínicas na época. Rabenu Chananel ensinou o Rif a deduzir e esclarecer a Halachá a partir das fontes talmúdicas, e o Rif depois teve a ideia de compilar uma extensa obra que apresentasse todas as conclusões práticas da Guemará (parte do Talmud que se estende a partir da Mishná) de modo claro, na qual trabalhou por dez anos para conclui-la.
Em 1045, os grupos religiosos não muçulmanos do vilarejo de Kalat ibn Hamad foram severamente perseguidos, dentre eles os judeus. Em decorrência disso, muitos fugiram e Alfasi mudou-se com sua esposa e dois filhos para Fez. A comunidade judaica da cidade se comprometeu a manter o Rif e sua família para que ele pudesse trabalhar em seu Sefer Hahalachot sem ser perturbado, bem como fundou uma yeshivá em sua honra, o que levou com que viessem muitos estudantes de todo o Marrocos para de estudarem sob sua orientação.
O mais famoso dos seus muitos alunos é o Rabino Iehuda Halevi, autor de “O Cuzari”. O Rif também foi professor do rabino Iossef ibn Migash, conhecido como Ri Migash, que por sua vez foi professor de Rabi Maimon, pai e mestre de Maimônides, o Rambam (1135-1204).
Alfasi permaneceu por 40 anos em Fez, onde completou seu Sefer Hahalachot. Em 1088, aos 75 anos, após ser denunciado ao governo por dois informantes por conta de uma transgressão desconhecida, o Rif partiu para a Espanha, onde se tornou o líder da Yeshivá de Lucena em 1089.
Em certo sentido, Alfasi encerrou o chamado Período Gaônico − o último dos gueonim da Babilônia, Rav Hai Gaon, morreu quando Alfasi tinha 25 anos. O próprio Rif era chamado de Gaon por algumas autoridades haláchicas da época, mas não é considerado parte do período gaônico.
Quando o Rif estava à beira da morte, indicou como seu sucessor no rabinato de Lucena seu aluno, o Ri Migash (Rabi Iossef ibn Migash). O Rif faleceu em 1103, aos 90 anos.
Obras
O Sefer Hahalachot do Rif (ספר ההלכות; também conhecido como Hilchot ha-Rif) extrai todas as decisões legais de três sedarim (ordens) talmúdicos: Moed, Nashim e Nezikin; e também dos tratados Brachot e Chulin, em um total de 24 tratados.
O Rif transcreveu as conclusões haláchicas do Talmud sem as deliberações que vem ao redor, exlcuiu todo o material de Agadá (não haláchico) e não tratou das halachot que só poderiam ser praticadas na Terra de Israel.
Segundo Maimônides, o Rambam, a obra do Rif “supera todos os códigos gaônicos… pois contem todas as decisões e leis que precisamos em nossos tempos” (lembrando que Maimônides se refere ao século 12).
O Sefer Hahalachot desempenha um papel fundamental no desenvolvimento da Halachá.
Em primeiro lugar, o Rif produziu um sumário que posteriormente se tornou objeto de estudo aprofundado, influenciando decisivamente na produção dos códigos haláchicos de Maimônides (Mishne Torá), no século 12, e do rabino Iossef Caro.
Alem disso, o Sefer Hahalachot tornou-se um dos “Três Pilares da Halachá”, ou seja, uma das três obras de autoridade sobre a qual se apoiaram tanto o Arba Turim quanto o Shulchan Aruch, ambos de Iossef Caro.
O Rabino Nissim de Guerona, o Ran, compilou um comentário detalhado e explícito sobre o Sefer Hahalachot. Em muitas yeshivot, o Rif e o Ran são estudados regularmente como parte do programa de estudos talmúdicos.
O Sefer Hahalachot do Rif foi publicado antes da época de Rashi e outros comentaristas, e resultou em uma mudança profunda nas práticas de estudos judaicos de alto nível, bem como abriu o mundo da Guemará para o público em geral. Assim, não demorou muito para que o Sefer Hahalachot se tornasse conhecido como o Talmud Katan (O Pequeno Talmud). No fim da Idade Média, quando o Talmud foi proibido na Itália, o Sefer Hahalachot, conhecido também como Código Alfasi, tornou-se entre os séculos 16 e 19 a principal fonte de estudos da comunidade judaica italiana.
O Rif também ocupa um lugar importante no desenvolvimento do método sefaradi de estudo do Talmud. Em contraposição à abordagem ashkenazi, os sefaradim procuram simplificar o Talmud e livrá-lo de estudos de caso, tidos como pormenores (ver, por exemplo, a obra de Rabi Chananel ben Chushiel).
O Rif ainda deixou muitas responsa originalmente escritas em árabe, mas que logo foram traduzidas para o hebraico como Shutê há-Rif ou Sheelot uTeshuvot ha-Rif (Perguntas e Respostas do Rif).
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