Yaacov Neeman, Ministro da Justiça de Israel, desagrada um país inteiro e depois diz que foi mal interpretado. Ok ministro, acontece com políticos no mundo inteiro
A sociedade israelense demonstrou extrema irritação nesta terça feira com o ministro da Justiça Yaakov Neeman, graças à seguinte declaração: "Que a Lei da Torá seja a lei obrigatória em Medinat Israel. Este é realmente o caminho adequado para nos guiar, segundo as leis da Torá, paulatinamente, passo a passo." Durante seu discurso em uma conferência rabínica sobre direito civil, o ministro repetiu reiteradamente a expressão "להחזיר עטרה ליושנה", "retornar à glória de antigamente", usada frequentemente pelas lideranças do partido ortodoxo sefaradi Shas, que tem no rabino Ovadia Yossef a sua maior referência espiritual.
Eis algumas reações à declaração do ministro da justiça israelense:
Membro da Knesset (parlamento israelense) Tzipi Livni, partido Kadima (centro), líder da oposição: "A idéia de substituir o Direito Civil Israelense pelas leis da Torá é uma idéia que nos leva de volta aos dias em que se fala de Israel como um Estado Haláchico. Isso deve incomodar qualquer cidadão que se preocupa com o que acontece com a nossa democracia em Israel. Pode-se combinar os valores e as tradições religiosas sem coação, sem coerção sobre o sistema judiciário, sem prejuízo para as mulheres, com o processo de conversão facilitado."
Membro da Knesset Nitzan Horowitz, partido Meretz (esquerda): "As palavras de Neeman, segundo a qual Israel deve ser governada conforme o juízo da Torá, é uma visão horrível, que coloca Israel no coração do Terceiro Mundo. As declarações do ministro são contrárias aos verdadeiros valores do Estado de Israel e do sionismo."
Ilan Gilon, partido Meretz: "Estas são palavras jogadas por um Ministro da Justiça primitivo, que deve reavaliar seus caminhos. É certo que nossas fontes nos servem de inspiração, humanidade e amor ao ser humano, porém, no terceiro milênio em que o Estado moderno de Israel procura pertencer a países avançados, esta fala não tem valor. Se o ministro pensa assim, ele deve deixar o mundo jurídico em favor do mundo rabínico."
Membro da Knesset Mohammed Bracha, Presidente do partido Hadash (esquerda): O Ministro da Justiça deve ir embora. Um homem que vê como o papel principal de seu cargo o estabelecimento de um Estado de Israel fundamentalista é uma ameaça para a democracia. A declaração de que o Estado deve ter leis conforme o jugo da Torá, passo a passo, é uma abordagem perigosa e contrária à posição da grande maioria dos cidadãos de Israel."
Rabino Guilad Kariv, Diretor-Presidente do Movimento Judaico Reformista de Israel: "O ministro da Justiça, de quem se espera que fortaleça o Estado de Direito democrático e o sistema jurídico de Israel, optou por estender uma lufada de esperança para o grupo que considera os tribunais de justiça como instituições não-judaicas, ferindo assim mais uma vez a confiança pública no Estado de Direito. o governo da Halachá acima do Direito do Estado de Israel é incompatível com os princípios democráticos básicos e com o caráter de Medinat Israel como um Estado progressista e esclarecido. O fato de o Ministro da Justiça de Israel colocar-se em favor de um desejo desta natureza é uma notícia muito ruim para a democracia israelense."
Rabino Professor Daniel Hershkowitz, Presidente do partido Habait Haiehudi (A Casa Judaica, de direita) e Ministro da Ciência e Tecnologia: "Ao Estado de Israel deve ser devolvido o legado dos antepassados, a primeira e a última palavra da Torá, que tem uma solução completa para tudo com o que temos que lidar. Felicito o Ministro Neeman por sua intenção de basear o sistema jurídico de Israel na Lei Judaica e introduzir neste uma alma judaica. Não há nenhuma razão para temer o Ministro Neeman, que combina em sua personalidade os valores da religião e do pluralismo, mas há que se temer um sistema jurídico que hoje em dia não representa fielmente a diversidade de opiniões entre o povo de Israel."
Parlamentar da Knesset Uri Orbach, partido Habait Haiehudi: "Caso estivesse se falando de um Estado Haláchico teocrático conforme o modelo do Irã, é óbvio que eu me oporia. Mas o Ministro Neeman se referiu a um Estado de Torá - 'seus caminhos são caminhos suaves' - baseado na justiça, na reflexão e na responsabilidade - todos estes valores da Torá."
Após a tempestade, o ministro Neeman esclareceu que não se pode deduzir de suas palavras nenhuma intenção de substituir as leis do Estado de Direito democrático de Israel pelas leis da Halachá. Ok, parece que os israelenses foram injustos com o ministro da justiça. Deve ser falta de estudos judaicos - nós não entendemos que tudo o que se diz não é o que parece ser, tudo pode ser interpretado. Elementar, meu caro Watson.
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