Rezar ou não no Kotel
Maram - Conselho dos Rabinos Progressistas de Israel
tradução: Uri Lam
Pergunta:
Duas perguntas a respeito de situações sobre o mesmo tema foram levadas ao Conselho dos Rabinos Progressistas de Israel.
1) O rabino de uma comunidade judaica reformista dos Estados Unidos pergunta sobre a possibilidade e o sentido religioso de se realizar uma tefilá no estilo reformista, com sua congregação, no Kotel Hamaaravi, o Muro Ocidental (Muro das Lamentações).
2) Os pais de uma comunidade do movimento judaico progressista de Israel perguntam sobre o sentido de se realizar uma cerimônia de colocação de tefilin para seu filho no Kotel.
Resposta:
Acreditamos que para responder à questão devemos analisar o que significa o Kotel Haamaravi para o judaísmo em geral e para os judeus dos nossos tempos, em particular.
Muitas são as lendas sobre o Kotel. Em todas elas foi sublinhada a posição de que a Shechiná, a Presença Divina, não se afastou deste muro durante todo o período de Exílio.
Algumas lendas consideram inclusive que embora todos os demais muros e paredes do Monte do Templo tenham sido arrasados com a destruição, apenas o Kotel foi salvo graças àqueles que o ergueram por sua adesão a Deus. (veja, por exemplo, J. Vilnai, Lendas da Terra de Israel, vol. Jerusalém e Judéia, Ed. Kiriat Sefer Ierushalaim, 5.730/1.969 pg. 96 e seguintes, bem como as observações sobre as fontes, no fim do livro).
Naturalmente que estas lendas não se sustentam, suas origens não estão fundamentadas nas tradições de fato, mas sim em histórias folclóricas tardias que circulavam entre os que faziam suas drashot (discursos religiosos) em Jerusalém nos últimos séculos. A partir de pesquisas arqueológicas e daquilo que realmente podemos ver, sabemos que a área conhecida como Kotel Hamaaravi é parte do muro de contenção do Monte do Templo em seu lado ocidental. Este muro está intacto e mostra-se em boa parte cheio de beleza e grandiosidade até os nossos dias.
Cabe-nos mencionar também que, em diferentes períodos da história, os judeus rezavam junto a seções deste muro, voltados para todos os lados, aos quatro ventos.
Nos últimos séculos, quando este setor foi nomeado tal como o conhecemos hoje por “bairro judeu”, o governo turco definiu um setor do muro de Har Habait, o Monte do Templo, como a área na qual os judeus poderiam fazer suas orações. Com a conquista da terra pelos britânicos no início dos anos 1920, organizou-se o status deste setor do muro do Monte do Templo e as orações lá realizadas, incluindo a proibição de se colocar cadeiras ou de se tocar o Shofar em Iamim Noraim - os dias entre Rosh Hashaná, ano novo judaico, e Iom Kipur, Dia do Perdão.
Maram - Conselho dos Rabinos Progressistas de Israel
tradução: Uri Lam
Pergunta:
Duas perguntas a respeito de situações sobre o mesmo tema foram levadas ao Conselho dos Rabinos Progressistas de Israel.
1) O rabino de uma comunidade judaica reformista dos Estados Unidos pergunta sobre a possibilidade e o sentido religioso de se realizar uma tefilá no estilo reformista, com sua congregação, no Kotel Hamaaravi, o Muro Ocidental (Muro das Lamentações).
2) Os pais de uma comunidade do movimento judaico progressista de Israel perguntam sobre o sentido de se realizar uma cerimônia de colocação de tefilin para seu filho no Kotel.
Resposta:
Acreditamos que para responder à questão devemos analisar o que significa o Kotel Haamaravi para o judaísmo em geral e para os judeus dos nossos tempos, em particular.
Muitas são as lendas sobre o Kotel. Em todas elas foi sublinhada a posição de que a Shechiná, a Presença Divina, não se afastou deste muro durante todo o período de Exílio.
Algumas lendas consideram inclusive que embora todos os demais muros e paredes do Monte do Templo tenham sido arrasados com a destruição, apenas o Kotel foi salvo graças àqueles que o ergueram por sua adesão a Deus. (veja, por exemplo, J. Vilnai, Lendas da Terra de Israel, vol. Jerusalém e Judéia, Ed. Kiriat Sefer Ierushalaim, 5.730/1.969 pg. 96 e seguintes, bem como as observações sobre as fontes, no fim do livro).
Naturalmente que estas lendas não se sustentam, suas origens não estão fundamentadas nas tradições de fato, mas sim em histórias folclóricas tardias que circulavam entre os que faziam suas drashot (discursos religiosos) em Jerusalém nos últimos séculos. A partir de pesquisas arqueológicas e daquilo que realmente podemos ver, sabemos que a área conhecida como Kotel Hamaaravi é parte do muro de contenção do Monte do Templo em seu lado ocidental. Este muro está intacto e mostra-se em boa parte cheio de beleza e grandiosidade até os nossos dias.
Cabe-nos mencionar também que, em diferentes períodos da história, os judeus rezavam junto a seções deste muro, voltados para todos os lados, aos quatro ventos.
Nos últimos séculos, quando este setor foi nomeado tal como o conhecemos hoje por “bairro judeu”, o governo turco definiu um setor do muro de Har Habait, o Monte do Templo, como a área na qual os judeus poderiam fazer suas orações. Com a conquista da terra pelos britânicos no início dos anos 1920, organizou-se o status deste setor do muro do Monte do Templo e as orações lá realizadas, incluindo a proibição de se colocar cadeiras ou de se tocar o Shofar em Iamim Noraim - os dias entre Rosh Hashaná, ano novo judaico, e Iom Kipur, Dia do Perdão.
Não há nada de sagrado neste muro. Trata-se, conforme dito acima, de um muro de contenção construído por Herodes quando expandiu o segundo Beit Hamikdash, o segundo Templo Sagrado, e o Monte do Templo.
Após a Guerra da Independência em 1948, a Cidade Velha foi separada da cidade nova e de Medinat Israel, o Estado de Israel. A visão em direção ao Kotel fazia parte da nostalgia e das saudades deste setor antigo de Jerusalém. Por isso foi dada grande importância ao anúncio: “O Monte do Templo é nosso” quando de sua conquista e da libertação da Cidade Velha de Jerusalém durante a Guerra dos Seis Dias, em 1967.
Após a guerra, pouco a pouco o Kotel e a área junto ao mesmo foi se transformando em um baluarte ortodoxo. Em todas as horas do dia encontramos no local pessoas rezando e derramando suas orações no local que santificaram por si mesmos. Não é preciso esclarecer em nossa discussão o sentido da santidade do lugar para o religioso charedi e ortodoxo.
Mas temos a obrigação de examinar a questão quanto ao sentido do Kotel para a comunidade religiosa reformista em geral e, em particular, para a comunidade reformista israelense.
Desde o seu início a teologia reformista, há duzentos anos, opôs-se à restauração do Beit Hamikdash, dos sacrifícios, da posição especial dos cohanim (sacerdotes), do que diz respeito a Mashiach e muito mais.
Portanto, não há qualquer necessidade para o judeu reformista, de um ponto de vista ideológico -religioso, de ir ao Monte do Templo e rezar lá, muito menos no muro que circunda Har Habait (veja, por exemplo, o prefácio de Abraham Geiger ao seu Sidur; o livro de Y.Y. Petuchovsky sobre os sidurim reformistas na Europa (em inglês); o livro de Michael Meyer “Entre a Tradição e o Progresso” [em hebraico]).
O fato do judeu reformista rezar no Kotel contraria a teologia reformista. Um judeu reformista rezar junto ao Kotel se compara a um judeu charedi (ultra-ortodoxo) rezar diante de uma imagem esculpida. Em ambos os casos, o Kotel para o judeu reformista e a imagem esculpida para o judeu charedi representam a antítese de suas visões religiosas.
O Professor Yeshayahu Leibowitz - que a sua lembrança seja uma benção - em seu artigo no jornal israelense Haaretz de 21/07/1967 (apresentado em seu livro (em hebraico) יהדות עם יהודי ומדינת ישראל “O Judaísmo com os Judeus e o Estado de Israel”, Ed. Schoken, Jerusalém, 5735/1974, p. 404-405) argumenta que a área do Kotel é uma área de chilul Hashem, de profanação do nome de Deus “desde que o malvado rei Menashê ergueu imagens no Beit Hamikdash, o Templo Sagrado, e passou seu filho pelo fogo no vale abaixo do Monte do Templo, e desde o dia em que foi erguida ‘uma abominação horripilante’ no Templo pelo rei sírio-grego Antioco Epifanes e seus servidores, os judeus helenizados”.
O Professor Leibowitz vai mais adiante e se coloca contrário ao Kotel como setor de concentração de grandes contingentes de gente do povo de Israel, e eis suas palavras: “Que seja arrumada a área diante do Kotel como a maior discoteca do Estado de Israel, e que seja conhecida como ‘Shechiná Disco, a Discoteca da Shechiná’. Isto irá satisfazer os desejos de todas as facções e setores do povo: os seculares, por ser uma discoteca; os religiosos, porque lá está a Shechiná, conforme atesta o seu nome. A área servirá, portanto, de símbolo maior para a união do povo...”.
Um dos princípios importantes do Judaísmo Reformista é a igualdade entre os sexos. Este princípio é expresso em todas as nossas sinagogas, mas não é permitido no Kotel. Este aspecto também anula o Kotel como um lugar sagrado para nós.
Ao longo de todas as gerações Jerusalém foi o ideal para o qual os judeus que rezam dirigiram suas orações. E isso não ocorreu porque o termo se estendeu para o conceito de “Jerusalém Celeste” como idéia sublime do povo judeu que se confrontou com a destruição física da cidade. Hoje em dia, em que foi novamente erguida e com a construção estendida por toda a cidade, com lugares magníficos desde os quais pode-se admirar toda Jerusalém, volta e se ergue novamente o questionamento sobre a tefilá no Kotel, e portanto cabe a nós examinar e dar a nossa resposta.
O Maram, o Conselho dos Rabinos Progressistas de Israel, vê na área do Kotel um setor que não representa a devoção judaica a Deus, a experiência da tefilá e do pensamento judaico de nossos tempos. Assim sendo, o Maram recomenda à comunidade judaica reformista dos Estados Unidos e à família reformista israelense que nos encaminharam suas questões, que escolha como local de tefilá, para suas rezas, um entre dezenas de belos locais em Jerusalém. Em qualquer um desses lugares pode haver uma profunda experiência religiosa, significativa e com valor religioso. Para o judeu reformista o Kotel pode ser um local de conexão com a história, porém não coincide com a teologia reformista e não a representa.
Nossa resposta não é apenas um princípio, mas a indicação de um caminho na prática.
Rabino Yehoram Mazor
Após a Guerra da Independência em 1948, a Cidade Velha foi separada da cidade nova e de Medinat Israel, o Estado de Israel. A visão em direção ao Kotel fazia parte da nostalgia e das saudades deste setor antigo de Jerusalém. Por isso foi dada grande importância ao anúncio: “O Monte do Templo é nosso” quando de sua conquista e da libertação da Cidade Velha de Jerusalém durante a Guerra dos Seis Dias, em 1967.
Após a guerra, pouco a pouco o Kotel e a área junto ao mesmo foi se transformando em um baluarte ortodoxo. Em todas as horas do dia encontramos no local pessoas rezando e derramando suas orações no local que santificaram por si mesmos. Não é preciso esclarecer em nossa discussão o sentido da santidade do lugar para o religioso charedi e ortodoxo.
Mas temos a obrigação de examinar a questão quanto ao sentido do Kotel para a comunidade religiosa reformista em geral e, em particular, para a comunidade reformista israelense.
Desde o seu início a teologia reformista, há duzentos anos, opôs-se à restauração do Beit Hamikdash, dos sacrifícios, da posição especial dos cohanim (sacerdotes), do que diz respeito a Mashiach e muito mais.
Portanto, não há qualquer necessidade para o judeu reformista, de um ponto de vista ideológico -religioso, de ir ao Monte do Templo e rezar lá, muito menos no muro que circunda Har Habait (veja, por exemplo, o prefácio de Abraham Geiger ao seu Sidur; o livro de Y.Y. Petuchovsky sobre os sidurim reformistas na Europa (em inglês); o livro de Michael Meyer “Entre a Tradição e o Progresso” [em hebraico]).
O fato do judeu reformista rezar no Kotel contraria a teologia reformista. Um judeu reformista rezar junto ao Kotel se compara a um judeu charedi (ultra-ortodoxo) rezar diante de uma imagem esculpida. Em ambos os casos, o Kotel para o judeu reformista e a imagem esculpida para o judeu charedi representam a antítese de suas visões religiosas.
O Professor Yeshayahu Leibowitz - que a sua lembrança seja uma benção - em seu artigo no jornal israelense Haaretz de 21/07/1967 (apresentado em seu livro (em hebraico) יהדות עם יהודי ומדינת ישראל “O Judaísmo com os Judeus e o Estado de Israel”, Ed. Schoken, Jerusalém, 5735/1974, p. 404-405) argumenta que a área do Kotel é uma área de chilul Hashem, de profanação do nome de Deus “desde que o malvado rei Menashê ergueu imagens no Beit Hamikdash, o Templo Sagrado, e passou seu filho pelo fogo no vale abaixo do Monte do Templo, e desde o dia em que foi erguida ‘uma abominação horripilante’ no Templo pelo rei sírio-grego Antioco Epifanes e seus servidores, os judeus helenizados”.
O Professor Leibowitz vai mais adiante e se coloca contrário ao Kotel como setor de concentração de grandes contingentes de gente do povo de Israel, e eis suas palavras: “Que seja arrumada a área diante do Kotel como a maior discoteca do Estado de Israel, e que seja conhecida como ‘Shechiná Disco, a Discoteca da Shechiná’. Isto irá satisfazer os desejos de todas as facções e setores do povo: os seculares, por ser uma discoteca; os religiosos, porque lá está a Shechiná, conforme atesta o seu nome. A área servirá, portanto, de símbolo maior para a união do povo...”.
Um dos princípios importantes do Judaísmo Reformista é a igualdade entre os sexos. Este princípio é expresso em todas as nossas sinagogas, mas não é permitido no Kotel. Este aspecto também anula o Kotel como um lugar sagrado para nós.
Ao longo de todas as gerações Jerusalém foi o ideal para o qual os judeus que rezam dirigiram suas orações. E isso não ocorreu porque o termo se estendeu para o conceito de “Jerusalém Celeste” como idéia sublime do povo judeu que se confrontou com a destruição física da cidade. Hoje em dia, em que foi novamente erguida e com a construção estendida por toda a cidade, com lugares magníficos desde os quais pode-se admirar toda Jerusalém, volta e se ergue novamente o questionamento sobre a tefilá no Kotel, e portanto cabe a nós examinar e dar a nossa resposta.
O Maram, o Conselho dos Rabinos Progressistas de Israel, vê na área do Kotel um setor que não representa a devoção judaica a Deus, a experiência da tefilá e do pensamento judaico de nossos tempos. Assim sendo, o Maram recomenda à comunidade judaica reformista dos Estados Unidos e à família reformista israelense que nos encaminharam suas questões, que escolha como local de tefilá, para suas rezas, um entre dezenas de belos locais em Jerusalém. Em qualquer um desses lugares pode haver uma profunda experiência religiosa, significativa e com valor religioso. Para o judeu reformista o Kotel pode ser um local de conexão com a história, porém não coincide com a teologia reformista e não a representa.
Nossa resposta não é apenas um princípio, mas a indicação de um caminho na prática.
Rabino Yehoram Mazor
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