sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

O Que Deus É – ou o que também não é - 2a Parte 
A visão de um professor Waldorf judeu
Samuel Ichmann
Um judeu na Escola Waldorf
E o que dizer sobre este tema: um professor judeu em uma escola Waldorf alemã! Alguém está interessado? O que interessam as raízes de alguém que trabalha na área da educação? Quais os tipos de crença e de mentalidade que ele tem desenvolvido como resultado de sua própria formação e educação? Não é a Pedagogia Waldorf, pelo menos, algo que realça a humanidade dos seres humanos? Não é uma pedagogia que vivencia a percepção de um núcleo espiritual dinâmico em todas as crianças? E mesmo assim, seus impulsos não se fundem com a verdade central das tradições religiosas de toda a humanidade? Não é a escola Waldorf, como um lugar onde as pessoas esforçadas podem se encontrar - independente de raça, nação e persuasão religiosa e científica – análoga ao princípio básico que Steiner desejava para os membros da
Sociedade Antroposófica? Não é isso o que vale para os professores, alunos e pais? Não há dúvida. Só que nós não vivemos em um vácuo não histórico dos princípios gerais, mas sim na realidade concreta de situações reais e acumuladas, muitas vezes mentalidades imponderadas. Nossos ideais podem ser coerentes e unidos, mas a vida nem sempre se parece com isso. Isso é bom, porque se este tipo de educação fosse um artigo pronto e embalado, esta não poderia ser que é: uma tarefa contínua e um desenvolvimento de vida.
O que me levou a escrever este artigo?
Este artigo tem um impulso específico, qual seja, a onda continuada de denúncias sobre racismo nas obras de Steiner e na educação Waldorf. Recentemente, surgiram rumores de discriminação antissemita que teria ocorrido nas escolas Waldorf. É um tema explosivo, pelo menos nos países de língua alemã. Esses rumores parecem não ter qualquer base na realidade, mas mesmo que algum professor tenha saído dos trilhos nesse sentido, não se pode necessariamente tirar conclusões sobre as visões gerais de todo um movimento pedagógico. É claro que o racismo e o antissemitismo estão completamente em desacordo com os fundamentos éticos sobre os quais repousa a pedagogia antroposófica. A Antroposofia é quase que inevitavelmente exposta à calúnia, como resultado da nebulosa percepção das pessoas acerca de sua natureza diferente e suas demandas. Ele tenta despertar a responsabilidade espiritual, que, por vezes, desencadeia reações subconscientes.
Naturalmente, a melhor maneira de testar a sua funcionalidade e validade seria através da investigação controlada e consciente, mas esse caminho raramente é seguido pelos adversários. Assim, alguém pode estimular o ódio irracional, o que, naturalmente, coloca-a em pé de igualdade com o judaísmo.
Devemos rejeitar representações insustentáveis e distorcidas. Eu apoio totalmente aqueles que, a partir de insinuações recentemente transmitidas pela televisão alemã, reagiram de modo rápido, enérgico e inteligente. No entanto, há também perspectivas internas que pode facilmente ser negligenciadas; pode haver algum interesse em escutar o que um judeu tem a dizer, que tem sido professor Waldorf na Alemanha por muitos anos. Essa pessoa pode contribuir de duas maneiras paralelas para este debate.
Primeiro, ele poderia mostrar como o judaísmo é por vezes percebido, e poderia apontar diversos sintomas alemães, assim como algumas opiniões que parecem ter suas origens em um determinado posicionamento antroposófico. A propósito, enfatizo que esta não tem nada a ver nem com a natureza dos alemães nem com a da Antroposofia como tal, mas no final das contas com o fato de que pessoas são pessoas, e que este é um tema muito difícil.
Em segundo lugar, ele poderia tentar mostrar como os valores espirituais do judaísmo e da Antroposofia se encontram em um professor Waldorf - de fala alemã, judeu da Europa Central - de um modo que se tornou importante para ele em seu caminho pedagógico. Para mim, este é de fato o ponto deste artigo.
As circunstâncias que descrevi foram o estímulo imediato para que eu me aprofundasse em minha compreensão espiritual, e tive a necessidade de compartilhar algo disso, não para acusar ou polemizar.
Tornar-se consciente das áreas com falta de clareza em nossa relação com a Antroposofia, no entanto, também deve ser uma tarefa útil. Os aforismos e anedotas contidas aqui são certamente subjetivos. Estes de forma alguma representam tudo o que eu poderia dizer sobre o tema da educação Waldorf, da Antroposofia e do judaísmo, nem são, de forma alguma, conclusivas ou definitivas. Eles representam apenas um aspecto das minhas experiências biográficas, que certamente não deixam de ser importantes. 

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