Editorial do jornal Jerusalem Post
Os Judeus Perdidos - Charedim estão abandonando os verdadeiros valores judaicos
Tradução: Uri Lam
O abandono coletivo dos autênticos valores judaicos parece ter passado dos limites na comunidade charedi. Nada mais pode explicar o fenômeno de dezenas de milhares de fanáticos religiosos, vestidos com chapéus e casacos pretos, congregados sob um escaldante sol do meio-dia para lutar pelo direito de discriminar seus irmãos judeus.
Um grupo de famílias charedis (ultraortodoxas) na cidade de Emanuel tem se recusado diligentemente há meses a acatar a decisão da Supremo Tribunal de Justiça israelense, que reflete o que a Supremo Tribunal de Justiça americano no caso Brown X Conselho de Educação decidiu legislar em 1954: a segregação é injusta. As famílias ashkenazis de Emanuel, a maioria delas membros do movimento chassídico conhecido como Slonim, recusaram-se a integrar suas filhas, alunas do ensino fundamental, a um grupo de seus pares sefardis. Em vez disso, eles insistem em manter uma “quota” de meninas safardis de “qualidade” que compõe cerca de um quarto de todos os alunos da escola, separando-se do restante das alunas. Ao mesmo tempo, eles insistem em receber o custeio financeiro integral do Estado de Israel para o seu empreendimento educacional segregado.
Os muros dentro da escola e no playground, que antes separavam as áreas “ashkenazi” e “sefardi”, foram postas abaixo por ordem do Tribunal de Justiça. Em decorrência disso, as famílias ashkenazis, em violação à lei de educação obrigatória, recusaram-se a enviar suas filhas à escola. Tentativas de se chegar a um compromisso foram refutadas por ordem do rabino Aharon Barazovsky, líder dos Chassidim Slonim. As famílias foram multadas por terem ido contra a decisão da justiça, o que não surtiu nenhum efeito. Finalmente, os juízes perderam a paciência e ordenaram que mães e pais fossem para a prisão durante as últimas duas semanas do ano escolar.
Alguém pode argumentar que o tribunal de justiça foi imprudente ao mandar prender pais e mães obstinados, mesmo por um curto período. Verdade, eles receberão condições especiais na prisão, incluindo celas separadas, mas eles não são criminosos no sentido convencional. Eles são culpados manter o parecer – generalizado na comunidade charedi – de que os sefardim são culturalmente inferiores aos ashkenazim. Até mesmo alguns sefardim partilham deste parecer, o que explica por que muitos – incluindo proeminentes parlamentares do partido (ortodoxo sefardi) Shas – optarem por enviar seus filhos para escolas ashkenazis, enquanto ao mesmo tempo lutam para garantir a manutenção de uma forte maioria ashkenazi.
Enquanto isso, durante as manifestações em massa da última quinta-feira (17/06/2010), que reuniram mais de 100 mil em Jerusalém e em Bnei Brak, os líderes charedis, em uma percepção contorcida da história, compararam a decisão do Supremo Tribunal aos incidentes de repressão perpetrado pelos gregos, pelos romanos, pela Rússia czarista e até mesmo pela Alemanha nazista.
O rabino Yosef Efrati, um protégé do rabino Yossef Shalom Elyashiv, a mais importante autoridade haláchica viva para os ashkenazis ultraortodoxos, comparou a tentativa do Supremo Tribunal de reunir estudantes de diversos backgrounds a idólatras que se esforçam para obrigar judeus a se curvar para uma estátua (acusou-os de avodá zará).
Não, rabino Efrati, concordar em estudar com colegas judeus provenientes de formações culturais diferentes como condição para receber fundos estatais não é idolatria – é agir como mentsch – como gente. Mesmo que os Chassidim Slonim não se beneficiassem da ampla generosidade do Estado sionista, eles deveriam aceitar meninas do ensino fundamental diferentes deles mesmos – mesmo aquelas com um nível mais baixo de observância religiosa – como uma expressão de respeito para com seus correligionários judeus. Esta é a maneira pela qual agem o Chabad e os sionistas religiosos, entre outros.
Chamar este tipo de acordo de avodá zará, de idolatria, é uma distorção do judaísmo. Compará-la com a situação na Rússia czarista revela uma total falta de apreço pelo papel do Estado Judeu em ajudar o judaísmo ultraortodoxo a se reconstruir depois do Holocausto. Graças à segurança fornecida pela Tzahal, as Forças de Defesa de Israel, pelos generosos fundos disponibilizados por sucessivos governos e pela isenção desfrutada pelos jovens homens charedis da obrigação para servir a Tzahal, hoje em dia há mais judeus religiosos dedicando-se ao estudo da Torá em tempo integral do que jamais houve na história. E eles têm o privilégio de fazê-lo na Terra de Israel, graças aos sionistas seculares cuja iniciativa rompeu quase 2 mil anos de exílio humilhante.
Tampouco a comunidade charedi parece apreciar a democracia de Israel. Apesar do curto prazo, a polícia resguardou com todo o cuidado o direito da comunidade ultraortodoxa de protestar contra a decisão do Supremo Tribunal. Os líderes charedis estavam livres para criticar publicamente o Tribunal e o Estado. Se um dia o ultraortodoxos se tornarem a maioria em Israel, será que eles tratariam os grupos minoritários de forma tão justa? Pergunte às meninas sefardis que foram colocadas do muro para fora em Emanuel.
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