Judeus saem do armário na Polônia - e dizem: Sou judeu, posso entrar?
Um belo artigo publicado no site JTA sobre o renascimento da comunidade judaica na Polônia. Dois sinais de vida saudável me chamaram a atenção:
1) o fato de uma escola judaica já ter mais do que 200 alunos, parece-me que em Varsóvia. "Os pais decidiram sair do armário e garantir que seus filhos nunca precisem de um."
2) A postura do autor do artigo, Konstanty Gebert, judeu de orientação ortodoxa, diretor do Centro Taube para a Renovação Cultural Judaica na Polônia e fundador da revista mensal Midrasz: "Enquanto alguns estão ocupados com a escola, outros trouxeram o shil de volta para a vida. (até os 10 anos de idade, mais ou menos, eu não sabia o que era sinagoga. Nós íamos ao shil. Shil da Rua Prates, Shil da Rua da Graça, Shil dos Poilishers, Shil dos Bessaravim, Shil da "Névton Prado" - até no Shil da CIP. Tudo era Shil - Uri).
Hoje temos filhos de congregantes correndo pelas escadas e eu sou contado entre os 'alte kakers'. Há outros que se sentem desconfortáveis em nosso shil ortodoxo e formaram uma congregação reformista. Ótimo! Quando mais melhor. (Muito bom! Que postura saudável, de reconhecer que há mais de um modo de ser judeu. Na Polônia hoje há rabinos ortodoxos, há chabadnikim, há dois rabinos reformistas, ou melhor, um rabino e uma rabina. Uma das mais belas sinagogas da Polônia é uma sinagoga reformista do início do século passado) Foi criado um movimento juvenil, já há colônias de férias com reza de Shacharit pela manhã e calorosas discussões sobre o quanto de religião um judeu normal aguenta, e se é normal discutir sobre o que são judeus normais.
Hoje somos uma comunidade normal, com gente que reza em um tipo de serviço religioso - e certamente não no outro - ou nunca vão rezar. Não porque não há sinagoga. Não porque tenham medo. Não porque não sabem o que fazer quando chegam no shil. Mas apenas porque este é o seu modo judaico de fazer as coisas."
Achei emocionante.
Talvez porque já estive na Polônia e quando pedi para conhecer o serviço religioso reformista, o guia disse que não havia - embora estivesse em um caderno de eventos culturais e religiosos no hotel, mas eu não teria a mínima idéia de como chegar. Talvez porque minhas duas avós vieram da Polônia.
Talvez porque ouço tanto sobre os descendentes dos anussim de Espanha, Portugal, Brasil, Holanda e por aí vai, forçados a abandonar a religião judaica, e aqui me recordo que também eu sou descendente de anussim, descendente daquela que já foi a maior população judaica do mundo, na Polônia, dizimada nos campos de concentração. Talvez parente dos tantos milhares foram adotados e educados por famílias cristãs enquanto os pais viravam sabão e pó; ou se enfiaram no armário e assumiram o cristianismo por medo.
E hoje eles saem e começam, pouco a pouco, a retornar.
Baruch Atá Hashem Mechaiê Hametim, Bendito seja o Nome Daquele que da morte nos traz de volta à vida. Esta benção da Amidá ganha novo sentido, ou melhor, para mim, ganha sentido.
São 3 gerações de distância. "Minha mãe, meu pai, meu vô, eis aqui este poema", diz uma canção da Tropicália, com Gil, Caetano, Gal, Betânia... Lá se vão 40 anos. Uma vida - minha vida tem 40 anos.
Um bom dia a todos.
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