domingo, 6 de dezembro de 2009

Bar Mitsvá colombiano no Kibutz Yagur
O que levou o jovem colombiano Andres Lasso ao Kibutz Yagur e a se tornar um Bar Mitsvá na semana passada na sinagoga local? 
Eric Bashan, 03/12/2009, jornal israelense Yediot Acharonot (em hebraico)
Tradução: Uri Lam 
Na semana passada Andres Lasso fez a sua drashá na sinagoga do Kibutz Yagur acompanhado pelo rabino Gadi Raviv, filiado ao Movimento pelo Judaísmo Progressista (Reformista) de Israel e pelo shaliach tsibur Pinchas Birech, ambos membros do kibutz. Andres subiu emocionado à bimá, leu na Torá com taamê hamikrá (cantilações próprias para a leitura da Torá), cantou e rezou junto à comunidade em nada menos do que quatro idiomas. O jovem colombiano de 20 anos de idade viveu a sua cerimônia de Bar Mitsvá tardia (o comum é aos 13 anos) como um momento de plenitude, transcendência e garantia de um melhor futuro judaico.
A história de vida de Andres começa na cidade colombiana de Cali - um lugar dos mais distantes do judaísmo, de Israel e do Kibutz Yagur. O jovem, de aparência indiana, declara ter um “gene judeu” graças a seu avô, que imigrou para a Colômbia após 20 anos na Argentina, para onde veio da Espanha com seu pai, o bisavô de Andres. O avô casou-se com uma mulher cristã e com ela teve duas filhas: Glória e Marisa. Aos 18 anos Marisa deu à luz Andres e mais tarde à sua irmã, Catherine. O pai colombiano abandonou a esposa e os filhos à própria sorte. Também a mãe – não exatamente uma Idishe Mame – entregou os filhos ainda pequenos para a irmã mais velha, Glória, advogada por profissão.
Os netos da família Lasso receberam um pouco de idishkeit  na casa do avô: costumes, práticas e feriados religiosos judaicos. Andres chegou a cursar o 1º ano do ensino básico em uma escola judaica. As crianças, que chamavam Glória de mãe, sofreram com a mudança e distanciamento da casa do avô, engenheiro de estações de trem, que por sua vez foi tocar um projeto ferroviário na Venezuela. Pelo que Andres sabe, o avô acabou “sumindo” na Venezuela, “dedurado” por alguns de seus empregados por motivos políticos pouco claros (obs: mas que em se tratando das ditaduras na América Latina, podemos imaginar... tortura, perseguição a comunistas e por tabela, a judeus comunistas, etc). Ele só voltou para casa nove anos depois quando Andres tinha 12 anos - os dedos da mão direita cortados. Andres supõe que o avô tenha sido submetido a tortura, algo comum na Venezuela de então (e na Venezuela de Chaves hoje, como será? pergunto eu), como forma de coerção a líderes sindicais. 
Antes do retorno do avô, quando Andres tinha 10 anos quem voltou para casa? Marisa, sua mãe biológica, agora formada advogada. A “tia Marisa" se complicava em tentar justificar a “troca de papéis” com sua irmã no que dizia respeito aos filhos. 
Velas acesas na janela - novamente
Quando estava no Kibutz, Andres se referia a Glória como sua “mãe” e a Marisa como sua “tia”. As complicações familiares não ajudaram na construção de uma identidade judaica comunitário-religiosa clara. Na ausência do avô, a conexão da família Lasso com o judaísmo havia murchado. Eles não pertenciam à pequena comunidade judaica de Cali, não freqüentavam sinagogas, mas tampouco se interessavam pelas atividades promovidas pela igreja católica. 
Mais tarde, o avô, ao que tudo indica, conseguiu dar uma virada significativa na identidade religiosa do neto. Ele não pressionou Andres, o “meio judeu meio-goy”, a celebrar o seu bar-mitsvá aos 13 anos e subir na Torá, mas não abriu mão de todo esforço para aproximá-lo cada vez mais das tradições judaicas. No Shabat as velas voltaram a ser acesas, enquanto o avô de Andres contava histórias do povo judeu segundo o Tanach (Bíblia Hebraica), principalmente sobre os Patriarcas, que deixavam Andres de boca aberta e cheio de curiosidade. Ele conta: “Meu avô não só preencheu o vazio deixado por meu pai, como também deu um novo significado à minha vida.” 
Aos 16 anos Andres completou seus estudos secundários e foi estudar Direito. Justamente esta transição para a vida universitária revelou mais um pouco do mundo judaico. Lá conheceu um jovem estudante que visitara Israel. As conversas sobre judaísmo se tornaram cada vez mais importantes em sua vida e acabaram por antecipar a sua própria visita a Israel, o Estado Judeu. 
Em seu tempo livre Anders passou a estudar hebraico na sinagoga. De sua professora soube que ela tinha uma filha em Israel que só falava coisas boas do país; seu amigo de estudos acadêmicos também lhe contava coisas fantásticas de lugares conhecidos como kibutzim, “onde muita gente vive junta e é bom para elas assim”. Por sua vez, o avô dizia que “se eu realmente quero ser judeu, visitar Israel é uma boa oportunidade, de preferência um kibutz”, conta Andres, com um sorriso largo. “Depois disso, avisei imediatamente que estava interrompendo meus estudos - e fui para Israel.” 
Por que justamente para o Kibutz Yagur?
“Por acaso. Escolhi Yagur por causa do início das aulas no Ulpan (alfabetização em hebraico), que me era conveniente.” 
E como foi o encontro com a vida no kibutz?
“Foi difícil e estranho. Essa sociedade é muito diversificada. Algumas pessoas são bacanas, outras menos.”
Planos: Retornar a Israel como diplomata
Andres tornou-se muito amigo de Benjamin, colega de Ulpan, quando trabalhavam juntos com os animais no kibutz. Benjamin levou a sua ligação com judaísmo um passo mais adiante e com seu entusiasmo puxou também Andres. “Eu contava a ele sobre as reviravoltas em minha vida e aprendia dele muitos detalhes sobre judaísmo. Através dele comecei a vivenciar o judaísmo à flor da pele e em meus pensamentos. Ele me fez entender pela primeira vez que eu havia encontrado a referência mais adequada para mim.” 
Com o auxílio de Benjamin, Andres criou vínculos com o rabino local, Gadi Raviv, que não podia permitir que ele lesse na Torá em público, “porque você não fez Bar-Mitsvá”, esclareceu. “Qual é o problema?”, disse o rabino a Benjamin, estimulando-o, “faça agora”. E ele fez. Durante dois meses Andres dedicou-se com afinco para aprender a ler na Torá, cantar com o auxílio dos taamê hamikrá, e a escrever a drashá que iria apresentar na sinagoga. A cerimônia religiosa foi realizada no último Shabat na presença de 40 pessoas que foram importantes para Andres durante a sua estada no kibutz.
Nos próximos dias Andres estará voando de volta para Cali, na Colômbia, para concluir a sua licenciatura em Direito. “Após a cerimônia eu sinto uma espécie de plenitude”, diz ele. “Para mim é um marco entre o passado e o futuro. Acredito que serei uma pessoa melhor, um judeu melhor. Creio que continuarei a estudar hebraico e fazer de tudo para envolver minha família e levá-la à sinagoga. Minha irmã, que pretende vir para Yagur no próximo ano, me pediu para que eu trouxesse para ela de Israel uma Torá e um Sidur em hebraico.”
E no futuro, você pretende fazer Aliá?
“Provavelmente não. Vou ficar na Colômbia, mas meu sonho é voltar para cá, para Tel Aviv, como um diplomata em missão oficial.”

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