quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Se o meu GPS falasse...
Muito bem, finalmente comprei um carrinho. E já me perdi algumas vezes com ele por Jerusalém. Decidi então fazer como tantos israelenses: comprar um GPS.
Ao clicar no menu, a surpresa: o GPS abria todas as pastas, menos a dos mapas! Liguei e desliguei diversas vezes, e nada. O aparelho não funcionava.
Retornei à loja. Me disseram que eu havia sido "sorteado" com um chip com defeito. Ok, troca-se o chip. Mas eles não tinham outro chip. Tinha que esperar uma semana para receber um novo. Pedi para trocar por outro aparelho.
"Não tem como, você precisa entrar vem contato com a assistência técnica", diz a vendedora. Respondi que não fazia sentido, não havia 24 horas que havia comprado o tal GPS...
"Não tem como trocar, aonde está o cabo USB?"
"Em casa".
"Ok, então semana que vem o dono da loja lhe troca o chip."
"Mas eu não quero um outro chip, quero outro aparelho!"
"Não tem como, achi (meu irmão, gíria israelense tb...)."
"Olha, isso não é barato, e mesmo que fosse, não funciona."
"Assim você vai me prejudicar, achi. Se eu aceitar a devolução sem o cabo USB, vou acabar pagando a conta do aparelho ou o chefe me corta a cabeça, é isto o que você quer?"
"Eu compro um cabo USB agora e te dou, qual é o problema?"
"É diferente, tem que ser o que veio com o aparelho - achi."
No meio desta conversa "amistosa" toca o celular:
"Uri, desculpe incomodar, é sua vizinha, tudo bom?"
"Tudo bem, e a senhora?"
"Sim, bem, mais ou menos... hoje pela manhã eu estava do lado de fora do prédio conversando com minha amiga, você se lembra, aquela senhora indiana? Pois é, assim que você saiu me dei conta de que você trancou a porta do prédio e eu esqueci a minha chave do lado de dentro. Agora não tenho como entrar em casa!"
"Oi vei!", exclamei, para cara de espanto das vendedoras.
"Lamento incomodar, mesmo... mas a que horas você volta para casa?"
"Já estou voltando."
"OK, estou esperando na calçada, bye."
Olho para as vendedoras e comento: "Deixei uma senhorinha trancada para fora do prédio. Já volto!"
"Aproveite e pegue todas as peças que esqueceu do GPS!"
"Ah, vocês irão trocá-lo?"
"Se você não tiver jogado nada fora... Ah, não esqueça da nota fiscal!"
O curioso é que esta senhora me advertiu algumas vezes para sempre deixar a porta do prédio trancada. Dei o máximo de mim para cumprir tão difícil missão... e acabei deixando a mulher de fora do prédio! Lá vou eu. Subo no ônibus, volto para casa, e lá está ela e sua amiga indiana sentadas na calçada.
"Chegou rápido, que bom! Me desculpe, eu não queria atrapalhar..."
"Não atrapalhou. Eu precisava mesmo voltar para casa para pegar algumas coisas..."
"Que bom! Agora respire fundo, não tente engolir o mundo em um dia só, ouça o que estou lhe dizendo, não faz bem para a saúde..." 
Sorri, tomei uma água, peguei o que havia esquecido e voltei para o centro. A vendedora que me atendeu não estava. Faço sinal para a outra, que me diz:
"A moça que lhe atendeu saiu para o almoço. Estou sozinha na loja. Aguarde, ela volta em uma hora."
Aí o sangue começou a ferver de vez. Uma hora???
"Mas minha senhora, eu também tenho que trabalhar, estudar... é só trocar o aparelho, pagar a diferença e pronto!"
Um fala, o outro retruca, o primeiro argumenta, o outro perde a paciência, o primeiro também... enfim os dois lados cedem como se nada tivesse acontecido. Shalom al Israel.
Ela aponta outro aparelho e diz: "Olha, eu tenho um parecido com este há anos e estou muito satisfeita. Sabe, eu e meu marido viajamos para os Estados Unidos, meu filho baixou o mapa de Nova York nele, funcionou que é uma maravilha! Você já foi a Nova York? E então..." E isto porque ela estava sozinha na loja.
"Ótimo, adorei o aparelho. Só espero que desta vez funcione!"
"Bevadai! É claro que funciona, eu tenho um há 4 anos e nunca deu problema! Esta marca é ótima, todo mundo tem..."
Voltei com meu GPS debaixo do braço. Pelo menos ligar, ele liga. Não indica só ruas, mas postos de gasolina, lojas, museus, restaurantes, até radar em estrada.
Veremos, nas cenas dos próximos capítulos de GPS, a Missão.
PS: e não é que o GPS funciona? :-) e além de falar fluentemente em hebraico, tambáin si poshta a falaire em puro purtugáish... de Purtugál. 

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