Parashá da semana: Ki Tetsê
Lembre-se de Amalec para não ser como ele – seja você gente com as outras pessoas
Uri Lam, para o folheto Congregar, da CIP
“Quem sai na chuva é prá se molhar”. Muitas vezes repetimos o conhecido ditado para quem se expôs a uma situação que por sua vez levou a consequências indesejáveis. A vida lá fora é arriscada, mas para que a vida faça sentido é preciso ir à luta e se expor ao risco.
“Chove lá fora - e aqui faz tanto frio”. Na canção do compositor Lobão, apesar da chuva lá fora, deixar de sair e de enfrentar as dificuldades é ainda mais difícil: é frio e angustiante. E conforme a nossa parashá da semana, a opção de ficar dentro de si mesmo ou dentro de casa e não ir à luta não existe. A Torá não diz “se você sair à guerra” e sim “quando você sair à guerra”. Não adianta fazer de conta que as suas dificuldades não estão lá fora, nem imaginar que se ficar quietinho dentro de si mesmo, elas irão desaparecer como num passe de mágica. A questão da Torá é: quando você for sair para a guerra, como você deve agir?
Ki Tetsê nos expõe a 72 situações nada fáceis de lidar – 72 mitsvot, segundo Maimônides. Estamos no mês de Elul, o último do ano judaico. Estamos perto do prazo final para enfrentarmos nossos fantasmas antes de nos encontrarmos com Deus em Iom Kipur. São 72 oportunidades de cultivar diversas qualidades dentro de nós: clareza, equilíbrio, integridade, bondade, compaixão, generosidade, honestidade e justiça, amor por Deus e amor pelo ser humano.
É mais fácil exigir tudo isso de outras pessoas: puxa vida, ele podia ter sido mais paciente comigo; ela deveria ter sido mais generosa com aquele senhor; não é justo o que eles fizeram com aquela gente...
No entanto, o que a Torá discute esta semana é como você deve se portar quando você estiver “por cima”, quando você estiver em vantagem diante de uma pessoa em situação de fragilidade. “Quando você sair à guerra contra os seus inimigos...”. é de você que a Torá fala, não dos outros. Quando você estiver diante de outras pessoas em posição que lhe favorece, a tentação de se vingar, de dar uma lição ou de provocá-las é muito grande. Mas o que a ética judaica nos ordena é justamente o contrário: devemos aproveitar a nossa vantagem para fazer uma boa ação. Ao encontrar algo que claramente alguém perdeu, não fazer de conta que não viu, mas sim recolher e aguardar que o dono reclame o que é dele e devolver. Não cobrar juros de um empréstimo feito ao amigo em dificuldades. Não aplicar dois pesos e duas medidas para a mesma situação.
Quando você sair à luta, seja gente com quem encontrar pelo caminho e estiver passando dificuldades. Seja caloroso. Ser gente é o que Deus espera de você.
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