A vida dupla dos judeus convertidos em Israel
Ed Rettig e Seth Farber
original em inglês: Jerusalem Post
tradução: Uri Lam
Ilana tem vivido uma vida dupla em Israel. Embora sua primeira visita tenha sido como católica, ela finalmente decidiu se converter ao judaísmo e, após sua conversão na Itália em 2006, mudou-se para Israel. Por incrível que possa parecer, apesar do fato do Rabinato (ortodoxo) atestar sua conversão, os órgãos públicos do Estado de Israel continuam a negar-lhe direitos básicos como cidadã.
É um escândalo, mas Ilana vive sem seguro médico, está incapacitada de trabalhar e espera há mais de dois anos por seu caso quanto à sua cidadania para levá-lo ao Supremo Tribunal. Em todas as outras comunidades judaicas do mundo, Ilana é judia; mas não aqui em Israel. Isso porque o Ministério do Interior tomou a iniciativa de revisar conversões que foram realizadas em todo o mundo nos termos de seus próprios critérios burocráticos.
Os autores deste artigo têm pouco em comum. Um deles é um rabino ortodoxo que dirige a ITIM, uma ONG que ajuda israelenses e olim chadashim (novos imigrantes) a navegarem pela burocracia rabínica de Israel. O outro é um rabino reformista e historiador social que dirige a AJC Jerusalém, o escritório local do American Jewish Committee, que pretende reforçar a ligação Israel-Diáspora. O que nos une é a paixão pelo povo judeu. Hoje, juntos, estamos a emitir uma convocação à comunidade judaica da diáspora para falar em nome de um grupo vulnerável entre nós - os convertidos ao povo judeu.
Desde que a Suprema Corte determinou em 1988 que todas as conversões realizadas no exterior são reconhecidas pelo Estado de Israel para fins de aliá, milhares de olim chadashim que se submeteram à conversão vieram para Israel e vêm contribuindo muito para este país.
No entanto, desde 2002 o Estado de Israel deu um passo para trás, recusando-se ao reconhecimento imediato dos certificados de conversão emitidos por comunidades reconhecidas na diáspora. Hoje, alguém se converte em uma comunidade fora de Israel vai levar pelo menos um ano antes que o Estado de Israel o reconheça como judeu.
Embora a Suprema Corte tenha determinado em 2005 que todos os convertidos devem ser imediatamente autorizados a imigrar sob a Lei do Retorno - uma lei que tornou-se sagrada nas relações entre Israel e a diáspora - os ministérios da Justiça e do Interior continuam a insistir em "testes de cidadania" draconianos para os convertidos, para o nosso horror, desde nossas diferentes perspectivas.
Mais recentemente, o Ministério da Justiça emitiu novos protocolos, que já estão sendo implementados pela Agência Judaica, que exige residência de 18 meses e um currículo formal de estudos no exterior para os convertidos que querem vir morar aqui em Israel. Estes protocolos exigem que os rabinos no exterior façam algumas perguntas específicas aos convertidos, que o processo seja relatado em pormenores às autoridades israelenses e que os convertidos adiram estritamente aos procedimentos burocráticos caso queiram que suas conversões sejam aceitas pelas autoridades civis israelenses. Em uma palavra, os burocratas civis estão procurando impor a sua vontade e normas sobre a diáspora, desafiando a autonomia das comunidades judaicas fora de Israel.
Como sionistas e como indivíduos que acreditam na santidade de Klal Israel, o Povo de Israel, não podemos ficar parados enquanto a lei israelense é ignorada e a delicada relação entre a diáspora e as comunidades israelenses é desafiada. Esta não é apenas uma crise interna, mas afeta as comunidades judaicas no mundo inteiro. Segundo o Censo Nacional da População Judaica, nos EUA, mais de 70% dos judeus norte-americanos têm um não-judeu ou um convertido na família. Uma pesquisa realizada pelo Instituto Koppelman do AJC mostra que por inúmeras medidas de caráter social, a conversão ao judaísmo é o melhor que pode acontecer no caso de um casamento misto, certamente em termos de continuidade judaica. Sendo claro, incentivar a conversão é um fator-chave para assegurar o futuro do judaísmo da diáspora, e a postura de intransigência tomada pelo governo israelense - a recusa em aceitar convertidos como membros de pleno direito do povo judeu - ameaça o futuro judaico.
Quando a questão de "Quem é Judeu" levantou a sua feia face na década de 1980, a liderança da diáspora judaica organizou missões rabínicas a Israel a fim de convencer seus líderes a reconhecerem a hegemonia das comunidades judaica locais. Com esse precedente em mente, conclamamos os judeus de todo o mundo a falar em nome dos convertidos. Escrevam cartas ao primeiro-ministro perguntando por que as autoridades civis não estão tratando os convertidos como judeus plenos; façam da conversão parte da agenda judaica comunitária. Ao agirmos de modo correto em relação aos convertidos, esperamos também restabelecer o equilíbrio adequado entre Israel e Diáspora.
O rabino Dr. Ed Rettig, reformista, é diretor do escritório do American Jewish Committee em Israel. O rabino Dr. Seth Farber, ortodoxo, é fundador e diretor da ITIM: Centro de Informações da Vida Judaica.
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