domingo, 15 de novembro de 2009

Psicologia, o retorno
Sempre tive claro que minha formação em Psicologia tinha uma relação estreita com a formação rabínica. Mas tem sido uma surpresa e um prazer voltar a estudar Psicologia.
Um dos cursos no seminário rabínico, de nome Sadná leLivui Ruchani, algo como Práticas de Acompanhamento Espiritual, propõe-se a estabelecer uma ponte entre a sabedoria talmúdica e a Psicologia. Assim, neste início de semestre estamos estudando com um psicólogo, Avner Hacohen, psicanalista e professor de Psicologia na Universidade Hebraica de Jerusalém. Com ele estamos lendo textos de Antropologia de Levy Strauss, e esta semana chegamos a textos do psicólogo humanista e existencialista Carl Rogers.
A linha de pensamento de Rogers - a Psicologia Centrada na Pessoa - foi dos temas pelos quais mais me interessei nos tempos de Psicologia na USP. Na época eu e meus colegas - mais amigos que colegas, diga-se de passagem, tive muita sorte com minha turma - fizemos parte de grupos de aconselhamento psicológico, coordenado pela professora Dra. Henriette Moratto. Em uma rápida busca na internet, vi que ela continua na Psico e que fez parte, em setembro passado, de um Congresso em comemoração aos 40 anos do SAP - Serviço de Aconselhamento Psicológico da USP.
Das chamadas "três forças" da Psicologia no século 20, eu consigo enxergar uma conexão com a tradição judaica em duas delas: a Psicanálise - Freud transborda judaísmo, exala Talmud, que o diga o psicanalista Renato Mezan, que escreveu "Psicanálise, Judaísmo: Ressonâncias". É uma ligação de fundo, de questionamento, de debate, talmúdico mesmo. Quanto à Psicologia Humanista Existencial, a conexão me parece ainda mais direta, mais para o dia a dia na atuação rabínica. A idéia de um ser humano que tende para o bem e que tem condições, dados os instrumentos e o ambiente social adequados, para se desenvolver, é judaico demais.
Nos tempos de USP do que mais me lembro de Aconselhamento Psicológico foi o atendimento breve que fizemos em uma instituição judiciária estatal; dos debates com os amigos/colegas (Rosa, Lili, Roger, Edi, Gus, Edu, Lígia, Marina... e tantos outros), e de um trabalhão que tivemos certa vez na casa da professora Henriette, preparando material para um congresso. Os três dias finais foram de exaustão, viramos dia e noite - e entregamos o trabalho nos correios no limite do tempo, ou melhor, depois do limite, à meia noite (uma agência ficou aberta apenas prá receber os trabalhos para o tal congresso). Inesquecível.
Então revisitar o pensamento de Rogers no contexto dos estudos rabínicos tem sido um triplo prazer: por retomar o contato com um modo de atuação com o qual me identifico no mundo psicológico; por atiçar a minha curiosidade de como será feita a ponte com textos da tradição judaica, em especial do Talmud, como se propõe o curso; e finalmente, como sempre, por conseguir ler os textos em hebraico cada vez de forma mais fácil e rápida. Sim, porque ainda me lembro do tempo que levava, há um ano, para ler uma página do que quer que fosse, por mais que tivesse antes uma boa base de hebraico.
Não pensei que fosse voltar a ler determinados textos, mas agora que voltamos, está ótimo!
E que bom ter no HUC esta oportunidade de estudar não só textos e práticas clássicas e modernas do judaísmo, mas a sua ligação com textos e práticas de outras áreas do conhecimento, como antropologia, sociologia, história, psicologia.
Uma boa semana a todos.

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