
A Laranja na Keará de Pessach
Há alguns dias realizei um workshop de Pessach para olim chadashim latinoamericanos no kibutz Gezer – gente que vive em Ramle. Peruanos, colombianos, panamenhos, chilenos. Ao mostrar a keará de Pessach, a rabina Miri Gold insistiu que eu explicasse o simbolismo da laranja na Keará.
Há alguns dias realizei um workshop de Pessach para olim chadashim latinoamericanos no kibutz Gezer – gente que vive em Ramle. Peruanos, colombianos, panamenhos, chilenos. Ao mostrar a keará de Pessach, a rabina Miri Gold insistiu que eu explicasse o simbolismo da laranja na Keará.
Da laranja??? Sim, da laranja.
Aí vai a história original, depois vocês verão como ela foi “suavizada” com o passar dos tempos, até chegar àquela que ouvi no Brasil de mulheres do movimento judaico reformista e conservador, e repetida já como “tradição”. Fiquei surpreso em descobrir a verdadeira história.Venceu o politicamente correto do politicamente correto, mas eis que surge Suzannah Heschel, filha do grande filósofo e teólogo Abraham Joschua Heschel, e conta como tudo começou.

Nos anos 1980, a Fundação Hillel, nos EUA, convidou a palestrante Suzannah Heschel para falar em um painel no Oberlin College. Ela então se deparou com uma Hagadá preparada por alunas com preocupações feministas. Ali havia uma casca de pão em solidariedade às judias lésbicas (em reação à afirmação de que “há tanto espaço para uma lésbica no judaísmo quanto de uma casca de pão na Keará do seder”).
No Pessach seguinte Suzannah Heschel colocou uma laranja na Keará do seder de Pessach de sua família – em solidariedade aos judeus gays e judias lésbicas, entre outros marginalizados dentro da comunidade judaica. Suzannah substituiu a casca de pão pela laranja primeiro porque não queria trazer chametz (algo fermentado) à mesa de Pessach, e segundo porque não queria passar a imagem de que ser gay ou lésbica fosse uma transgressão que violasse o judaísmo assim como o pão fermentado viola o Pessach.
Como a própria Suzannah relata, a história foi modificada e “suavizada” com o tempo. Passou a circular como tendo ocorrido de um HOMEM ter ido até ela durante a palestra e dito que uma mulher na bimá é tão judaico quanto uma laranja na keará do seder de Pessach – esta é a história que chegou até mim, principalmente por mulheres orgulhosas de seu feminismo.
Como afirma Suzannah Heschel, o fato de a idéia do protesto ter se originado entre mulheres foi distorcida, e o fato de lembrar que gays e lésbicas devem estar sentados conosco no seder foi “substituída” pelo protesto em favor do direito da mulher judia subir em um púlpito (e ler na Torá, ser parte do minián, etc.).
Por mais difícil que, em diversos meios, ainda seja falar de direitos iguais das mulheres na vida judaica, isso já é mais aceito e mais fácil do que falar no direito dos homossexuais na vida judaica, homens e mulheres. Seja bem vinda a laranja de Suzannah Heschel ao seder de Pessach, e que todo aquele que sinta necessidade, não importa sua orientação sexual, venha e coma conosco.
Afinal, se os dados da ciência moderna estiverem corretos e cerca de 10% da população mundial é gay, então pelo menos 60 mil homens que cruzaram o Mar Vermelho e saíram do Egito eram gays... para não falar nas lésbicas, viúvas, paraplégicos e portadores de doença mental que deixaram o Egito há mais de 3 mil anos. Que todos eles estejam conosco no Seder.
Chag Sameach!
PARABÉNS dignidade, respeito e empatia são características exclusivas do ser humano.
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