Compartilho com vocês esta história, transmitida por um de meus mestres prediletos, Reb Zalman Schachter-Shalomi, de abençoada memória. Conta-se que um carismático rabino conhecido como o Baal Shem Tov, foi até uma sinagoga, chegou até a porta, deu meia volta e voltou. Quando perguntado por que agira assim, ele respondeu: “Há muitas orações lá dentro”. “Mas Mestre”, perguntaram seus seguidores, “não é bom que a sinagoga esteja cheia de orações?” “Sim, é evidente”, respondeu o Baal Shem Tov, “o problema é que as orações estão presas lá dentro. Nenhuma delas chega ao céu.”
No entanto, a impressão que tenho é que, muitas vezes, as orações ficam presas às paredes dos templos. Se não chegam aos céus, no mínimo deveriam acompanhar as almas daqueles que os frequentam. Quando rezo na minha sinagoga, o que eu gostaria é de entrar de um jeito e sair com a alma mais elevada, pisando em nuvens. E gostaria de levar aqueles e aquelas que me acompanham a um novo estado de alma, mais elevado e ampliado. Nem sempre isso acontece.
Em hebraico, temos uma palavra para descrever o veículo que leva nossas orações até o céu: Kavaná. Significa orientar nossas orações para um caminho específico; significa estar plenamente concentrado na intenção da oração dita.
Meu desejo para você, leitor(a) é: seja qual for sua religião ou sua convicção no que for: em Deus, no seu trabalho, no seu amor, na sua arte – faça com kavaná. Ande com fé, como diz Gilberto Gil – mas determine, com kavaná, para onde sua fé andará: que seja para além dos muros dos templos.